imageEMRPor: Alex Alprim
.

A alquimia é vista como uma disciplina metafísica que se preocupa em compreender apenas o mundo espiritual. Contudo, a alquimia chinesa procura ordenar o mundo físico e harmonizar se com ele, analisando as formas como as energias se movimentam à sua volta. 

A alquimia ocidental sem pre foi ligada à idéia da transmutação da matéria densa em uma estrutura mais sutil, noção exposta nas lendas que tratam da transmutação da matéria comum ou do chumbo no ouro alquímico. O conceito continha a filosofia que fazia parte dos estudos não só dos alquimistas, mas dos filósofos e pensadores de várias épocas.

Esse pensamento colocava o mundo da matéria separado do mundo espiritual, ou ainda, colocava o
mundo material numa escala inferior na criação, necessitando que a matéria fosse purificada para assim se tornar superior.

Isso fica claro quando observamos a divisão dos elementos alquimicos tradicionais (ar, água, terra, fogo), divisão na qual os estudiosos e alquimistas separavam o mundo em uma bipolaridade, representada pelo Caminho Úmido e o Seco, pelos quais o alquimista caminharia para adquirir o seu conhecimento e, assim, ascender na escala evolutiva. 

Entretanto, com a chegada do século XIX e com os avanços das ciências físicas e biológicas, tal visão distanciou se da realidade, relegando as visões da alquimia tradicional ocidental ao plano metafísico.
 

 

A visão dos elementos na alquimia procurava classificar o mundo de acordo com qualidades rígidas (terra  =  fixo, fogo  =  volátil e assim por diante), que somente se alteravam segundo uma complexa estrutura de regras e leis herméticas e de difícil entendimento. Isso afastava a compreensão de tais forças para um mundo longínquo, desfazendo o contato da alquimia com a realidade concreta do dia-a dia.

Grande parte dos estudiosos e dos filósofos começou a seguir para longe da metafísica alquímica ocidental, aderindo à simplificação científica como saída para a compreensão do seu mundo. Tal situação não tirou o mérito da ciência alquímica ocidental como forma de aprimoramento do ser humano; da mesma forma, não são descabidas suas relações e correlações entre as matérias espiritual e física. O que lhe faltava na verdade era uma visão diferenciada, uma reestruturação que colocasse esse saber sob uma nova ótica e o reconduzisse como forma de saber válido.

Esse trabalho já havia sido feito pelos estudiosos chineses que tinham ido além nos estudos alquímicos tradicionais e criado uma teoria energética que não se opunha às novas descobertas e que poderia ser usada para compreendê las; e, cm alguns pontos, indo muito além do esperado.

A Teoria dos Cinco Elementos, ou Wu Hsing, surge numa data incerta, extremamente antiga. Os registros históricos da sua utilização foram encontrados em diversas descobertas arqueológicas, em tumbas e nos antigos castelos que foram construídos conforme as regras do Feng Shui da Escola da Forma, uma das mais antigas escolas de harmonização energética chinesa, com aproximadamente cinco mil anos de idade.

Portanto, podemos imaginar que por volta desse período toda a teoria das cinco energias já estava estabelecida e servia como base para o Feng Shui. Para tanto, já teria sido elaborada toda a teoria referente ao yin e yang, ao ch’i e sha, uma vez que os cinco estados ou movimentos da energia são resultado das relações entre essas quatro forças e estão diretamente ligados aos ciclos sazonais (às quatro estações do ano).
 

 

Os Cinco Movimentos

Para os chineses, os cinco elementos não representam os elementos físicos, mas sim propriedades da matéria. A tradução para ‘cinco elementos’ do termo “Wu Hsing” é equivocada e deu origem a varias especulações que se mostram hoje sem fundamento. Para os chineses, o que existe na verdade são cinco estados de movimento, resultado das interações entre o yin e yang, o ch’i e o sha.

Esses movimentos indicam as formas pelas quais as energias se organizam e interagem no meio ambiente e nos corpos humanos: todos os canais de acupuntura e toda a história da medicina chinesa estão diretamente ligados ã teoria dos cinco elementos. Isso porque, conforme o ch’i se movimenta no corpo, ele assume uma das cinco formas básicas em cada um dos órgãos correspondentes.

Essas energias, são assim classificadas:

  Fogo: 
Ligado ao verão, associado a todas as forças que têm tendência a subir (o fogo vai sempre na direção do céu), esta energia é representada pelas formas pontudas e triangulares. Ao fogo são ligadas todas as energias que tenham a força do esplendor e crescimento.
Cores: vermelha, dourada
Órgãos: coração/intestino delgado
Sabor: amargo
Planeta: Marte
Cereal: arroz

  Terra: 
É o centro do universo, a força geradora   o Tão; a volta da terra, todos os outros elementos atuam segundo as suas energias sazonais. Todavia, a terra não está fora do processo: sofre os efeitos de todos os outros elementos. Corresponde às formas geométricas que possuam quatro lados regulares (quadrados e retângulos), pois está envolta com os quatro ciclos sazonais.
Cores: azul, amarela, cor de rosa 
Órgãos: baço/estômago 
Sabor: doce 
Planeta: Saturno 
Cereal: milho

  Metal: 
Ligado ao outono, é o momento de introspecção, contração e reflexão, quando nos voltamos para o interior. O movimento é também de distanciamento e retração. Corresponde às formas circulares e circunferências (os metais, quando derretidos, assumem a forma de uma bolha).
Cores: branca, cinza e tons pastéis 
Órgãos: pulmões/intestino grosso 
Sabor: picante 
Planeta: Vênus 
Cereal: aveia

 Água: 
É o inverno, quando tudo cessa e ocorre um recolhimento profundo e natural; a passividade e as profundezas do ser pertencem ao elemento água, porque ela se adapta ao recipiente que a contém, sem contudo deixar de ser água. Sua forma é ondulada.
Cores: preta e tonalidades escuras (no inverno a luz é pouca, e as águas, ao contrário da crença geral, são escuras quando em grande quantidade).
Órgãos: rins/bexiga 
Sabor: salgado 
Planeta: Mercúrio 
Cereal: soja

 Madeira: Primavera é a germinação da vida, é o crescimento (não só para cima, mas o crescimento que resulta do amadurecimento também). A forma da madeira é o cilindro, que contém em si a semente de todas as outras formas elemento (a força para o céu do fogo, o círculo do metal, a forma concentradora da terra e o movimento da água). 
A madeira é o quinto elemento, que reúne em si todos os outros e produz o fenômeno da vida.
Cores: verde, rosa choque 
Órgãos: fígado/vesícula biliar 
Sabor: ácido 
Planeta: Júpiter 
Cereal: trigo

Podemos observar que cada um dos elementos possui   além das formas e cores associadas e que já existiam na alquimia tradicional   uma série de outros atributos que permitem ampliar a sua aplicação e torná la uma ciência prática.
 

 

Na Prática

Até esse momento, a alquimia chinesa ainda está próxima da alquimia ocidental, com seus elementos, características e planetas relacionados, mas a distância entre ambas surge quando seus conhecimentos são colocados sob a ótica da filosofia oriental.

Esta pode parecer ao ouvinte desatento uma forma de pensamento abstrato, sem conotação prática, mas na verdade, quando se estuda a fundo as suas conseqüências, emerge dessa filosofia uma ordem sem precedentes: tudo fica claro, e todas as relações entre os cinco se tornam límpidas e diretas, bastando para isso entender os ciclos de criação e destruição entre os elementos.

Ocorre que, ao contrário dos quatro elementos ocidentais, as forças dos cinco elementos interagem, criando e se destruindo mutuamente. Sendo assim, é impossível criar algo sem que os cinco elementos estejam presentes. Para a filosofia oriental, toda a criação vive em eterna mutação, criando se e aniquilando se a cada instante, como um grande jogo energético em que não há perdas. apenas transformações.

  Ciclo de Criação

Fogo: cria a Terra (queimando o elemento madeira. Assim, podemos imaginar a terra como as cinzas da madeira);

Terra: cria o Metal (na terra se efetuam transmutações pelo fogo interno, que transforma a terra em metal);

Metal: cria a Água (pela condensação, isto é, a água evaporada se concentra no elemento metal);

Água: cria a Madeira (alimentando a com as forças de todos os outros elementos);

Madeira: cria o Fogo (pela queima).
 

  Ciclo de Destruição

Água: destrói o Fogo (apagando o);

Fogo: destrói o Metal (derretendo o);

Metal: destrói a Madeira (cortando a);

Madeira: destrói a Terra (consumindo a);

Terra: destrói a Água (represando a e absorvendo a).

Por meio desses ciclos podemos compreender que todas as forças são necessárias, não havendo duas vias (a Úmida e a Seca) como na alquimia tradicional, mas sim um único caminho (Tao, o Caminho do Meio), onde todas as formas energia interagem para manter o mundo vivo e num eterno movimento de mutação.

Indo além, podemos classificar todas as formas e coisas à nossa volta como sendo configurações desses cinco elementos, independente da linha de pensamento que utilizemos. Nossos móveis, as pessoas à nossa volta (isso já faz parte da Astrologia das Nove Estrelas), tudo pode ser incluído nesse sistema, que não é estático: mostra nos como podemos harmonizar as energias evitando os excessos que as tornariam sha.

A alquimia chinesa não se fixa na aparência, tampouco no material do qual são produzidas as matérias à nossa volta, mas sim nas formas de que são feitas. Por exemplo, uma mesa de metal e redonda é de Metal mesmo; porém, se essa mesma mesa tiver a forma quadrada, ela será de Terra e não do elemento Metal, embora seja feita dele. A forma energética que ela possui é ligada ao elemento Terra (as formas quadradas são de Terra). Será difícil encontrarmos uma mesa feita de água, ou de fogo, no entanto poderíamos encontrar mesas feitas nas formas desses elementos e, assim, harmonizarmo nos com essas energias.

Por meio dessa harmonização, podemos atingir estados em que matéria está em tal sintonia com nossa estrutura espiritual que se encontra a Semente de Ouro, também conhecida como Lótus Dourada, Pedra Filosofal ocidental, mas sem as dicotomias ou divisões maniqueístas entre espírito e matéria. Algo sólido, prático e holístico.

filipeta

 

pruo