(por Orual Ojellav)
“Após determinado tempo de experiências terrenas, chegamos a algumas constatações que ora nos incentivam, ora nos desestimulam.
Devemos procurar a isenção e o desapego para não incorrer em situações vexatórias, ou, que possam inibir nosso semelhante.
Um sentimento de puro amor se instalou em meu íntimo e sofreu muitas derivações até chegar ao momento atual.
Sofro quando vejo ou sinto que minhas atitudes ou palavras surtiram um efeito oposto ao desejado.
Lamento profundamente as minhas imperfeições e acabo crivando meu Eu com críticas extenuantes.
Esse sentimento em mim faz com que a alegria seja extrema, mas o seu oposto cala profundamente em meu ser.
São lapsos de tempo onde reflito sobre os efeitos do que causo nas pessoas ao meu redor.
Isso acaba por exacerbar sentimentos de culpa, os quais luto para extirpar de meus pensamentos.
Não consigo ficar inerte quando presencio dor e penúria.
Fico doído com os infortúnios alheios, e o sentimento por justiça cresce dentro de mim.
Hoje tento e consigo controlar meus desejos de compensação e procuro manter serenidade nas contendas.
Mas seria isso uma derivação desse amor incutido?
Dizem que devemos por para fora tudo o que nos incomoda, mas nem sempre nossos semelhantes estão preparados ou tem o conhecimento necessário para discernir e compreender.
E aí vem as consequências que carregam os mal entendidos e nos levam à incompreensão e às separações.
Quando percebemos, palavras foram mal ditas e, por conseguinte, mal interpretadas. E…pode ser muito tarde!
Isso não quer dizer que não amemos. Muito pelo contrário mostra que somos seres amorosos por natureza.
Como dizem, amor e ódio são extremos de um mesmo sentimento: o amor.
Se tudo é amor, por que as pessoas se desentendem ou não se entendem?
Tudo depende do nível de consciência e bom senso de cada um.
Quanto maior é o conhecimento que temos de nós mesmos e do mundo que nos rodeia, maior é a consciência.
Decorre daí o nível de tolerância e do respeito e amor que emanamos de nosso íntimo.
Constatamos que somos apenas um grão ínfimo de areia dentro do Universo grandioso e infinito.
Já o amor por alguém pode ser como o vento, ora bate, ora passa.
É o que gostamos de nós e vemos no outro. Isso explica porque amamos ou não amamos.
O amor não pode ser enjaulado, assim como o vento não pode.
O ser correspondido, ou não, pode ser irrelevante, dependendo de como nos posicionamos em frente ao amor.
Antes de tudo devemos verificar se amamos a nós mesmos.
Se formos honestos e verdadeiros, esse sentimento crescerá em nós e em tudo e todos ao nosso redor.
Colhemos exatamente aquilo que plantamos, portanto cabe a cada um verificar se seu livre arbítrio está sendo executado com sabedoria e isenção.
Não coloquemos nos outros o peso de nossas próprias opções e responsabilidades.
Hoje, inspirado pelo “Tempus Fugit” do Rubem Alves, concluo que cheguei a ponto da “luxúria única” de não ter esperanças, citado por ele de um poema de Álvaro de Campos, que se inicia com a frase: “Estou cansado…”.
Talvez eu esteja cansado, será verdade?
Cansado de buscar o amor nos outros? Não importa.
Quando retiramos qualquer esperança que seja de nosso coração, aí sim descansamos.
É este o momento do entendimento…
É como tirar um peso dos ombros e seguir aliviado, na insustentável leveza do ser…
Outros horizontes se mostram, mais além e, além…
Terras não pisadas e mares não singrados.
Mas o importante é a paz do coração.
Ele parou de lutar pelo amor, pois constata que o amor não está lá fora, mas sim dentro de si mesmo.
Isso permite a entrada da serenidade e, consequentemente, abre o caminho para perceber que o ser feliz é um estado que só depende de onde colocamos a felicidade…
Está na hora de colocá-la onde nós estamos, aqui e agora…e não lá fora.
Eu estou feliz, pois estou em paz comigo mesmo e sei que tenho um amor imenso para transmitir a quem quer que seja, mas principalmente e antes de tudo para mim.
Um pouco de mim para mim mesmo, este é o tema…”
(Orual Ojellav – Série Reflexões – 03/07/2011)
Copyright © 1986–2023 Texto e Foto de Lauro Escobosa Vallejo™ All rights reserved.
Fotografia: Arraial do Cabo Set/2009