334_3058-ets2[1]Em artigo recente para a newsletter da Livraria Cultura, o jornalista
Eduardo Martins (autor do Manual de Redação e Estilo de O Estado de S.
Paulo) comenta o distanciamento entre a linguagem cada vez mais
especializada do noticiário político e o português nosso do cotidiano.

Expressões comuns nas páginas de política, como “baixo clero” ou “base
aliada”, funcionam como uma espécie de chamada metafórica para as
notas de rodapé, evocando idéias ou conceitos mais elaborados. O
problema é que as tais notas de rodapé não estão no fim da página, e
sim na cabeça do leitor. Se não estiverem, se o leitor for um novato
no assunto, a falta de um contexto comum acaba sabotando o esforço de
comunicação.

Se a ausência de um contexto comum pode condenar ao fracasso uma
tentativa de comunicação entre dois falantes da mesma língua, membros
da mesma espécie, habitantes do mesmo país no mesmo planeta, o que
dizer de uma tentativa de comunicação com outras civilizações do
Universo?

Mesmo se um dia conseguirmos detectar sinais de rádio emitidos por
formas de vida inteligentes de fora da Terra, como poderemos saber o
que eles estão dizendo? A falta de um contexto comum mínimo faz com
que, em princípio, o abismo entre SETI (busca por inteligência
extraterrestre) e CETI (comunicação com inteligência extraterrestre)
parece intransponível.

A questão, no entanto, já foi estudada – um ótimo livro sobre o
assunto é Beyond Contact, de Brian McConnell – e não é tão
desesperadora assim. Um exame mais detalhado da situação mostra que
existem, de fato, dois pontos de contato entre nós e qualquer
civilização que venha a ser detectada por nossos radiotelescópios:
ambos vivemos no mesmo Universo, e ambos sabemos como construir e
operar um transmissor de rádio.

Conclui-se, portanto, que ambos entendemos alguma coisa de matemática
– cujas regras fundamentais são as mesmas em todo o Universo e sem a
qual é impossível construir uma antena parabólica capaz de transmitir
sinais de rádio a distâncias interestelares.

A idéia, portanto, é usar a matemática como ferramenta para
estabelecer um vocabulário comum. Esse vocabulário pode ser
apresentado a partir de uma série exaustiva de exemplos – como AZAYAA,
AZAZAYAAA, etcétera, etcétera, para tentar mostrar que “Z” corresponde
à adição e “Y”, ao conceito de igualdade. Claro que, em vez de letras,
os sinais da mensagem seriam dígitos binários, mas o espírito é esse.

A idéia geral foi expressada no livro LINCOS: Design of a Language for
Cosmic Intercourse (LINCOS: Projeto de uma Língua para Intercurso
Cósmico), do matemático Hans Freudenthal, publicado em 1960. “LINCOS”
é uma abreviação do latim “Lingua Cosmica”.

Até hoje, nós terráqueos não usamos nada parecido com LINCOS para
enviar mensagens ao espaço. Mas quem sabe? A idéia é lógica o
suficiente para que algo semelhante tenha ocorrido a uma outra
civilização que esteja querendo puxar conversa. O melhor que a maioria
de nós pode fazer, por enquanto, é manter o SETI@home rodando. E
esperar.

filipeta

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