Físicos ‘des-medem’ partícula e ela retorna à vida.
As partículas quânticas – também chamadas de partículas sub-atômicas – têm comprovadamente comportamentos que parecem ser absolutamente impensáveis. Como elas podem se comportar tanto como partículas quanto como ondas, elas podem, por exemplo, estar em vários lugares ao mesmo tempo.
Como é que algo assim tão contra-intuitivo pode ser a base para a construção do nosso mundo ‘clássico,’ onde as coisas se comportam como estamos acostumados, é uma questão ainda a ser respondida pela ciência.
Medindo objetos quânticos
A teoria atualmente aceita afirma que um objeto quântico pode estar em qualquer lugar dentre as possibilidades descritas por sua função de onda.
Desfazendo medições quânticas
E, para demonstrar que o mundo quântico pode ser ainda mais estranho, os físicos Andrew Jordan e Alexander Korotkov propuseram, em 2006, que seria possível ‘des-medir’ – desfazer a medição – a onda/partícula, fazendo-a voltar ao seu exato estado quântico anterior, como se a medição não tivesse acontecido e, portanto, a partícula não tivesse sofrido qualquer alteração.
Agora, uma equipe da Universidade da Califórnia em Santa Barbara, nos Estados Unidos, conseguiu fazer esse experimento e comprovou a teoria.
Fronteira difusa entre mundos clássico e quântico
A nova teoria sugere que a fronteira entre o mundo quântico e o mundo clássico não é uma linha clara e bem definida como se pensava até agora. Em vez disso, os dados parecem demonstrar que essa fronteira é na verdade uma zona cinzenta, com uma amplitude ainda não conhecida, mas cujo tempo para ser cruzada é maior do que zero.
Reencarnação quântica
O pesquisador Nadav Katz e seus colegas, em um artigo que acaba de ser publicado no repositório “arXiv”, explicam como foram capazes até mesmo de ‘enfraquecer’ a medição de uma partícula quântica, forçando apenas um colapso parcial – algo como um ‘estado de coma’ de uma partícula quântica.
Computadores quânticos
Esse mecanismo é de extremo interesse para os cientistas que tentam construir computadores quânticos. Os bits quânticos – qubits – desses computadores futurísticos aproveitam justamente o fato de que uma partícula pode estar em vários lugares ao mesmo tempo para armazenar inúmeros dados simultaneamente, em apenas de um 0 ou um 1, como nos computadores clássicos.
Ressuscitando o gato de Schrodinger
No campo da física teórica, a nova descoberta coloca uma pitada adicional de ‘estranhice’ no famoso ‘experimento’ conhecido como gato de Schrodinger – um gato fechado em uma caixa contendo um frasco de veneno que estará aberto se uma partícula quântica estiver em um estado, e fechado se a partícula estiver em outro.
Agora que foi demonstrado que é possível reverter o estado da partícula, isso equivale a dizer que, estando o gato morto, poderá ser possível refazer o estado original da partícula e trazer de volta o gato à vida.
Criando realidades
Vários cientistas afirmam que, como a simples medição de uma partícula quântica afeta seu comportamento, de certa forma nós criamos a realidade à medida que interferimos com ela.
Interpretações do mundo quântico
‘Começar de novo’ é uma questão que interessa a inúmeros teóricos – sem falar em todo um campo de literatura não-científica que floresce ao redor da ‘interpretação’ das teorias do mundo quântico, tentando utilizá-las para descrever o mundo clássico.
Os físicos, contudo, continuam trabalhando na busca do entendimento das diferenças entre o mundo quântico e o mundo clássico, e de como um dá origem ao outro, sem transcendentalismos, mas com muita especulação bem fundamentada.
Andrew Jordan, por exemplo, um dos que propuseram a teoria que agora foi comprovada, acredita que a explicação poderá ser encontrada nas pesquisas de uma nova área chamada nanofísica, que estuda problemas físicos fundamentais que ocorrem em dimensões que estão em um meio-termo entre os dois mundos.