( Insiedln 1493- Salzburg 1541)
Estudou medicina em Ferrara e logo de inicio atacou a medicina praticada na época.
Foi um dos conferencistas mais famosos da Universidade de Basileia.
Por causa de seu incorformismo e seus pensamentos arrojados, foi duramente criticado pelos seus contemporâneos, principalmente pelos médicos e farmacêuticos.
Por mais de vinte anos ele viajou por toda Europa, buscando sempre novos conhecimentos e é bem possível que, nestas “peregrinações”, ele tenha penetrado na Ásia.
Em 1526, estabeleceu-se na Basileia como médico. Ocasião em que começa a atacar severamente os sistemas de cura em voga na época, enaltecendo a compreensão da natureza, a observação clínica, a patologia geral, o estudo dos remédios de acordo com a febre dos “sinais” ou das “assíniduras”, que é a base da homeopatia divulgada posteriormente por Hahnemann.
Considerado por muitos como chefe místico da Fraternidade Rosa Cruz, seus trabalhos influenciaram decisivamente os cabalistas, os neoplatônicos e as doutrinas naturais. Exerceu ainda uma grande influência na obra de Fludd e Van Helmont.
Como mago teve um papel decisivo na evolução da magia natural que terminou por transformar-se posteriormente naquilo que convencionou-se chamar de Ciência Experimental.
Empregou o imã em muitos de seus trabalhos de cura, sendo, por isto, considerado um dos precursores do Magnetismo Pessoal e do Mesmerismo.
Morreu em Salzburg, possivelmente assassinado e seu túmulo foi objeto de peregrinação quando a cólera assolou a cidade em 1830.
por Christine Mittelbach
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Personalidade controvertida em sua época, o médico suíço Paracelso é visto hoje em dia como o precursor da medicina holística.
A visão da saúde como o equilíbrio energético do corpo, a importância da fé na cura e a interrelação entre o homem e tudo o que o cerca são apenas alguns dos conceitos elaborados por ele há cerca de 5OO anos.
Uma das muitas biografias novas de Paracelso foi financiada em 1993 por uma conhecida indústria farmacêutica em Basel, Suíça. Uma tardia reabilitação, exatamente em seu 500° aniversário (ele teria nascido em dezembro de 1493) para o médico que há muito foi perseguido pela Justiça. Em seu 500° aniversário, sua cidade natal homenageou-o com um simpósio de quatro dias: “Simpósio Científico de Einsiedeln”, um congresso médico que prometeu levar os participantes a “uma ação coletiva” e deixar “aparecer Paracelso basicamente em momentos espontâneos”. O congresso se anunciou como uma “ciência prática e inovativa”, e o organizados cumprimentou os participantes, enfatizando especialmente a fogueira (feita por Paracelso em público) na qual aquele cientista queimou livros considerados acadêmicos em seu tempo…
Uma onda de artigos foi publicada em jornais e revistas durante todo ano de seu aniversário. Alguns elogiaram Paracelso como pioneiro da medicina total, outros como pioneiro farmacêutico, químico, alquimista, filósofo, astrólogo e mago. Ele é o padroeiro favorito de farmácias, clínicas e sociedades de vários tipos. Os títulos que recebeu vão desde “Pai da Medicina Naturalista”, “Trismegisto da Suíça”, até “Lutero da Medicina”. Personalidade atacada e perseguida durante toda a vida, hoje ele continua sendo muito criticado. Mas, então, o que esse homem tinha de tão inesquecível?
Paracelso nasceu em Einsiedeln, Suíça, como Theopèrastus Bombastus von Hohenheim, não sendo muito favorecido pela natureza: era baixinho, corcunda e gago. Depois de terminar a escola, trabalhar num laboratório e nas minas de Karnten, ele seguiu os passos de seu pai, começando a estudar medicina em Viena e terminando de promover-se em Ferrara, Itália. Desde então, viajou quase continuamente pela Europa. Tentou estabelecer-se como médico em Salzburgo, mas foi expulso porque simpatizou com os agricultores rebeldes. Em Estrasburgo recebeu o título de cidadão, mas partiu para Basel, logo depois, como médico. Ali, após muitos desentendimentos com colegas médicos, farmacêuticos e o próprio conselho da cidade, Paracelso recebeu uma ordem de prisão em 1528, forçando sua fuga da cidade. Ele viajou pelo país como uma espécie de médico-cigano, até voltar para Salzburgo em 1540, chamado pelo bispo daquele lugar. Faleceu logo depois, com apenas 48 anos.
Vai até aqui a parte confiável da biografia desse homem que se chamou Paracelso até hoje não se sabe por quê. Queria ele dizer com isso que estava acima de Celso, famoso médico romano da Antigüidade? Não se sabe a data exata de seu nascimento. Hohenheim, como é freqüentemente chamado na literatura, deixou muitas dúvidas a seu próprio respeito, possibilitando numerosas especulações e lendas.
Seus escritos, originariamente com mais de 8 mil páginas, por um lado chegaram apenas parcialmente até nós; por outro, sua maneira misteriosa de expressar-se possibilita várias interpretações. Além disso, seu modo de comportar-se não era o mesmo do médico convencional, sem falar de suas opiniões, tão provocativas para aqueles tempos, tanto em se tratando de medicina, política ou filosofia. Existem até histórias de que ele era alcoólatra. Usava frequentemente palavrões e foi a primeira pessoa a dar conferencias em alemão – e não em latim, como era costume na Universidade de Basel.
Como já dissemos, Paracelso queimou em público vários livros de medicina tradicional. Ele acreditava em elementais, silfos, gnomos, fadas e na cabala; usava talismãs astrológicos, mágicos. Dizem que ele teria descoberto o “fogo vital”, o “magnetismo animal”, oficialmente descoberto por Franz-Anton Mesmer. E ele também sabia que existia uma aura…
Mesmo que Paracelso se ocupasse intensamente com astrologia, alquimia e magia, questões esotéricas, sociais e filosóficas ele era principalmente médico, e é nessa função que seu nome é conhecido hoje em dia. Na verdade, em seus escritos a medicina ocupa o primeiro lugar e ele a praticou e lecionou durante toda a sua vida. Em todo o caso, Paracelso não via o médico apenas como um profissional para eliminar os sintomas de uma doença, um modo completamente diferente do que era costume naquela época (e ainda é hoje).
Sua opinião sobre a doença fica muito mais próxima do conceito moderno, porque se baseia numa imagem “cósmica” do mundo e da humanidade, indo muito além da visão tradicional da sua época, que se baseava na doutrina dos fluidos de Hipócrates. Segundo o ponto de vista tradicional, a doença era cansada por mau funcionamento e mistura dos quatro fluidos do corpo: sangue, catarro, bílis preta e amarela. Paracelso modificou a opinião existente naqueles dias definindo a saúde como equilíbrio e doença com o desequilíbrio de todas as energias presentes.
A arte de curar, de acordo com Paracelso, apóia-se em quatro pilares: a filosofia, que significa, antes de mais nada, “abrir-se ao conjunto das forças naturais, observar essas forças invisíveis na penetração da realidade total e perceber o invisível no visível”. A astronomia, que nos ensina como as estrelas nos influenciam; a alquimia, útil principalmente na preparação dos remédios; e virtus, a honestidade do médico. De acordo com Paracelso, o médico é a imagem primordial de uma pessoa que está se aperfeiçoando. Mais do que qualquer um, o médico deve reconhecer a ação da natureza invisível no doente ou, em se tratando do remédio, como ela trabalha no visível.
Para podermos nos aproximar das idéias de Paracelso, é inevitável considerar determinadas imagens básicas, que normalmente são rejeitadas pelo médico convencional, porque se apóiam, acima de tudo, em opiniões “ocultas”. As duas palavras chave desse lado “secreto” de Paracelso são imaginação e magia. Na biografia “Paracelso, Alquimista, Químico, Pioneiro da Medicina”, o historiador efilósofo Lucien Braun, de Estrasburgo, dedica um extenso capítulo a esse aspecto para explicar o significado básico de tais idéias. De acordo com o prof. Braun, é muito difícil explicar a “imaginação” como “sem sujeito e sem imagens”. Porque Paracelso quer apenas possibilitar que a natureza apareça, “que a própria luz da natureza surja, mostrando-a. Mas ela apenas mostra a luz àquele que sabe ver sem imagens”.
A natureza é mais do que nossos olhos enxergam, “o invisível que pulsa através do visível”. O invisível nunca se apresenta como imagem, porque ele não e um objeto, é energia viva, criativa; uma energia não-dividida, que tira as coisas de seu interior, transformando-as no que são na realidade.
Braun acredita que foi Paracelso quem pela primeira vez expressou essa diferenciação histórica do pensamento ocidental. Hoje, pensando nos campos morfogenéticos do biólogo inglês Rupert Sheldrake, ela nos soa muito normal. Foi ela que inspirou Paracelso em relação a seus dizeres mais lindos: “O visível esconde o invisível, mas apesar disso conseguimos o invisível apenas através do visível.” Para o médico suíço, a natureza não é apenas aquilo que nossos olhos enxergam, nem somente o que existe num outro lugar, mas ambos ao mesmo tempo. Escreveu Braun: “Assim, não é de surpreender que foi Paracelso quem introduziu a descrição da ‘força de imaginação’, dando desse modo um nome à energia imanente, que fixa as coisas do interior para fora, cria, faz surgir e não pode ser imaginada de modo algum. Outros atributos dessa força: ela flui através de todas as coisas, ‘através de todo esse imenso mundo’, e é tão eterna como tudo que existe e não existe, tudo que ‘está sendo’.”
Segundo Paracelso, imaginação e magia estão intimamente ligadas. E nesse caso magia quer dizer ação direta sobre coisas, pessoas e todos os seres, sem ajuda da matéria. Ou, expresso de outro modo: o mago é capaz de causar efeitos físicos sem ajuda física. “Afinal”, salienta Braun sobre os pensamentos de Paracelso, “toda natureza invisível se movimenta através da imaginação. Se a imaginação fosse forte o suficiente, nada seria impossível, porque ela é a origem de toda magia, de toda ação através da qual o invisível (de um ou outro modo) deixa seu rastro no visível. A energia da verdadeira imaginação pode transformar nossos corpos, e até influenciar no paraíso…”
Paracelso reconheceu também que a fé fortalece a imaginação. Tudo isso inclui as curas milagrosas atribuídas a ele, que não podem ter sido somente o resultado dos remédios, em geral muito simples. É óbvio que eles serviram apenas para influenciar conscientemente a força da imaginação de um doente. As pílulas que o médico suíço levava consigo no botão do punho de sua famosa espada foram, acima de tudo, meios de ajuda a ação mágica.
Baseando-se nesse fundo filosófico, Paracelso ligou as características exteriores de um remédio com as de uma doença. Um remédio “se mostra pela sua assinatura”, porque o exterior da planta de que ele é extraído espelha sua função e atributos.
Assim, por exemplo, folhas em forma de coração foram recomendadas para doenças cardíacas. Mas também a época em que o remédio é tomado deve estar certa, pois a energia de uma planta só pode ser liberada durante determinadas constelações planetárias. Remédio, médico e doente formam um total ligadíssimo, de acordo com as leis da natureza. O conhecimento médico tem menos a ver com conhecimento intelectual do que com a intuição e a conhecida clarividência de Paracelso.
Durante um congresso de especialistas, Thomas McKeen, médico-chefe de uma clínica antroposófica, fez comparações entre as opiniões de Paracelso e da antroposofia, incluindo a homeopatia. As duas praticam uma “maneira solta de fazer perguntas”, partindo de uma imagem de muitas camadas de homens e doenças. O dr. Lore Deggeller, homeopata em Kreuzlingen, Suíça, também confirma um efeito direto de Paracelso sobre a homeopatia. Sua “graduação” pode ser comparada com potencialização dos remédios, característica da homeopatia desenvolvida pelo seu descobridor, Samuel Hahnemann, de modo “Novo e espontâneo”, como também a preparação específica de substâncias naturais para remédios. Hahnemann, é claro, negou a influência de Paracelso e até falou com desprezo sobre ele. Rudolf Steiner, pai da antroposofia, escreve: “Entre Paracelso e Hahnemann existe uma grande diferença: até certo ponto o médico do século 16 ainda era clarividente, Hahnemann não. Ele conseguiu testar o efeito dos remédios pelos sentidos.” E o historiador da medicina Heinrich Schipperges chega à conclusão de que Paracelso, como médico de seu tempo, nem praticava medicina tradicional nem moderna – ou seja, ele não pode ser encaixado na medicina ortodoxa tampouco na medicina total. Sua medicina se apoiava muito mais num conceito claro e inconfundível, numa teoria da medicina que tinha suas raízes na filosofia que faz do homem um verdadeiro médico. No entanto, essa filosofia não confia apenas na natureza nem na mente; ela constrói da “luz da natureza” seu “cosmos anthropos”.
“O que podemos aprender de Paracelso é principalmente a necessidade de pensar sobre a medicina e o que ocorre durante o tratamento”, resume o dr. Edward Seidler, historiador da medicina, que iniciou algumas palestras sobre o médico naturalista na Universidade de Freiburgo (Alemanha): “Sua popularidade continua”, de acordo com ele, “porque Paracelso tem algo para cada um, médicos tradicionais, totais, filósofos, esotéricos, etc.” Ele conseguiu novidades no campo da química, da idéia de que, para cada doença, deve existir um remédio específico. Com respeito ao “remédio de Paracelso” ainda hoje existente, preparado de acordo com o método espagírico, não há provas de que ele realmente foi inventado pelo médico suíço.
O autor e teólogo Gerhard Wehr impressiona-se, acima de tudo, com as dicas para o futuro que os escritos de Paracelso contêm. Pensamentos cósmicos estavam bem mais perto dele do que de nós, mesmo se tal pensamento, hoje, já está começando novamente a ganhar terreno. Paracelso não era um místico, mas alguém que viu a matéria penetrada pelo espiritual. Suas conclusões têm valor até hoje porque nenhum médico naturalista pode comparar-se com ele, e o fato de ele ter sido muito criticado tornou-o ainda mais interessante. Porque Paracelso, afinal, não apenas escreveu livros, mas também teve suas próprias experiências e nunca teve medo de enfrentar as conseqüências negativas de seu pensamento não-conformista. Para ele serve o ditado: “Quem consegue ser ele mesmo não deve pertencer a um outro” tanto hoje como em qualquer outra época, em que cada um corre atrás de um outro guru. Gunhild Porksen, tradutora de textos de Paracelso durante anos, diz que as controvérsias a respeito dele são causadas por seu comportamento grosseiro, rude. Ela chegou à conclusão de que ele era um homem de “energias especiais”. Não existem provas de que ele mentiu a respeito, e, já que ele sempre conseguiu entusiasmar pessoas bem diferentes – como, por exemplo, Goethe em seu Fausto, como também em sua “lei das cores”, sua influência se conservou até hoje.
Os sucessos astrológicos de Paracelso são enfatizados pelo autor e astrólogo Bernd A. Mertz: “Paracelso, sem dúvida alguma, era um grande biólogo e um médico ‘total’, que entendeu muito do esoterismo. Era esotérico porque falou muito sobre o ‘interior’ do homem e também sobre a influência das estrelas sobre os seres humanos.”
O conhecido autor esotérico Hans-Dieter Leuenberger vê Paracelso como um homem que, como ninguém, “representava o esoterismo de sua época”. Da ciência à Renascença, que se entregava cada vez mais a um especialismo acentuado, ele enfatizou um “pensamento total”. “A natureza era sua professora, que, para ele, era perfeita porque trabalha de acordo com um grande plano divino.” E a idéia de Paracelso de que corpo e alma são uma unidade é, para Leuenberger, um pensamento totalmente moderno, também reconhecido, cada vez mais, como uma verdade pela medicina moderna.