screen-capture-4Há poucos anos, em 1935, Kilton Stewart conheceu os senoi, uma tribo da península Malaya, que abriu um horizonte desconhecido para as teorias de então sobre os sonhos.
Os habitantes da tribo vivem em casas comunitárias, construídas com bambus e sustentadas por postes de madeira. Subsistem humildemente a partir de uma precária agricultura, da caça e da pesca. Sua forma de organização social indica que em épocas antigas, as decisões eram tomadas pelos membros mais velhos do clã, mas quando seus costumes foram melhor estudados, constatou-se que, na época do contato de Kilton com a tribo, o membro mais respeitado dentro da comunidade era o “psicólogo”, um personagem que reúne as funções de médico ou curandeiro e de educador, a quem os senoi chamavam de tohat.
A tribo não tinha registro, nos últimos trezentos anos, de crimes violentos ou conflitos ocorridos na comunidade. Eram gente pacífica e suas relações interpessoais haviam chegado a tal grau de elevação que os povos vizinhos chegavam a pensar que eram produto da magia negra. Os senoi caçoavam de tais crenças, mas nada faziam para desmenti-las, porque as consideravam muito úteis na manutenção da paz, tanto fora quanto no interior da comunidade.
O que os senoi dominavam e dominam até hoje é, na realidade, um profundo conhecimento sobre sonhos, aos quais atribuem valores decisivos.
Consideravam que o homem, em seu processo de adaptação, cria as imagens dos sonhos a partir do que vê no mundo exterior. Às vezes estas imagens o colocam em situações conflitivas com ele próprio e com o resto do mundo. Então, se for deixado que tais sonhos evoluam por si, terminarão por criar tensões e dissociações na personalidade do sonhador, o que lhe causaria angústia ou doença.
Por isso, os senoi pensam que todo ser humano, com a ajuda de outros seres humanos, pode e deve enfrentar, controlar e utilizar a seu favor todas as forças do universo dos sonhos. A cooperação entre todo o grupo social consegue penetrar no mundo dos sonhos, modificando-os de acordo com o interesse de todos.
O treinamento, obviamente, começa na infância. Quando uma criança relata aos adultos que sonhou estar caindo de uma grande altura, um dos sonhos mais temidos, o adulto responde: “Isso é maravilhoso! É um dos melhores sonhos! De onde você caiu? Descobriu alguma coisa? A criança responde que não sabe, porque teve muito medo. O adulto diz, então: “Não se rebele. O cair pode se transformar em voar se você relaxar, e você pode entrar em contato com o mundo dos espíritos. Pense que os espíritos da queda lhe querem bem e querem atrair você. Relaxe e tente chegar a um entendimento amistoso com eles, sem desespero. Quando você sonhar que está caindo ou morrendo, pense que está recebendo poderes que surgem de você mesmo e que, por isso, poderão ser controlados”.
Depois dessas instruções, que para os ocidentais parecem sem sentido, a criança começa a transformar, dia a dia, seus atemorizantes sonhos de queda em alegres e liberadores sonhos de voo.
Se o sonho é o de voar até um lugar estranho, a criança aprenderá que deve continuar sonhando até conhecer os habitantes daquele lugar, ouvir suas lendas e músicas e participar de suas danças.
Os sonhos de conteúdo sexual deverão prosseguir até o orgasmo. Depois dele, o sonhador deve pedir ao companheiro ou companheira que, durante o sonho, lhe ensine um poema ou uma canção. Algo que seja de utilidade espiritual para o grupo com o qual a experiência onírica será compartilhada no dia seguinte.

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