carruaNa Índia, desde épocas remotas, tem havido a tradição dos templos, nas vilas e cidades, realizarem os Festivais de Carruagem. Durante estas festividades, o ídolo da deidade instalado nesse templo é levado em procissão. Primeiramente, uma enorme carruagem é construída para esta finalidade. Então, a carruagem é primorosamente decorada e um belo assento é providenciado para a deidade. No dia auspicioso, a deidade é transferida do templo à carruagem com os rituais e cânticos apropriados. A carruagem é então levada pelas ruas numa procissão colorida puxada por devotos e precedida por grupos de dançarinos, músicos e cantores. Ao longo da procissão, muitas pessoas oferecem adoração à deidade, acendendo lâmpadas sagradas e as oscilando conforme a carruagem vai passando.
Durante estes festivais, milhares de pessoas vindas de todas as comunidades vizinhas se reúnem. Para o festival, vêm três tipos de pessoas. O primeiro tipo, que constitui a massa das pessoas presentes, concentra toda a atenção na carruagem e na aparência externa desta. Há, então, outro tipo que se concentra mais nos sentimentos sagrados gerados pela procissão; tal como a ardente devoção daqueles que estão puxando a carruagem, a alegria cheia de êxtase dos dançarinos e cantores, e a reverência dos sacerdotes e dos devotos que estão oferecendo adoração. Em terceiro, há uns poucos que reconhecem o verdadeiro propósito para o qual este festival foi organizado. Apenas esta pequena quantidade de pessoas tem o interesse de ter uma visão do morador interno, a pessoa sagrada que está sentada na carruagem.
Obviamente, o festival está sendo celebrado com a finalidade de se instalar a imagem de Deus na carruagem. Sem a representação de Deus, o festival não teria significado algum. Esta figura sagrada dentro da carruagem representa o morador interno, que é o próprio Deus. Mas apenas raros indivíduos irão voltar sua total atenção a essa divindade. A maioria das pessoas verá apenas a aparência física da carruagem, suas decorações e outras coisas: como o fino vestuário colocado na imagem sagrada, os trajes usados pelos dançarinos e músicos, e todo o som e as cores da festividade. O maior número irá se concentrar apenas nestas coisas externas. No entanto, haverá também algumas pessoas que irão concentrar a atenção nos rituais de adoração e nas oferendas que estão sendo feitas como quebrar cocos, acenar lâmpadas e incenso e na devoção expressada por meio destes rituais. O número de pessoas com este tipo de visão e interesse será muito menor do que o número daqueles que se concentram nas decorações, nas danças, dramas e em toda a parafernália externa associada ao festival.
Mas a pessoa divina que foi instalada nesta carruagem, que a está dirigindo e que é o residente desta, será vista somente por um número muito pequeno de pessoas intensamente devotadas que anseiam por ter a sagrada visão da divindade. Na imensa multidão reunida para o festival, tais pessoas podem ser contadas nos dedos de uma mão. Para elas, toda a pompa externa, todo som e agitação da procissão só irá atrapalhar que elas tenham uma real visão de Deus. Tudo o que elas esperam é ver e estar com o seu belo Senhor, cuja representação está sentada na carruagem.

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A Carruagem do Corpo Humano
Qual é o significado mais profundo desta carruagem? Quantas carruagens existem? A carruagem de que se está falando aqui é o corpo humano. Assim, não há apenas uma carruagem, mas sim milhões e milhões de carruagens. Todos os dias, estas carruagens se movem de rua em rua, de casa em casa, levando o residente interno em procissão. Você tem desenvolvido a sua visão de maneira a ver somente o corpo e as suas características externas, ou as expressões que surgem dos vários sentimentos e estados emocionais; mas você não aprendeu a desenvolver a sua visão interna, a visão que percebe a pessoa que reside nesta carruagem que é o corpo e que entende quem ela realmente é. Raríssimas pessoas tentam olhar profundamente, além do aspecto externo e superficial do corpo e além dos traços emocionais e mentais do indivíduo, a fim de tentar descobrir o sagrado princípio divino que está lá dentro.
Os corpos dos seres humanos não são as únicas carruagens. Os corpos dos animais como cães, tigres ou elefantes também são carruagens. De fato, o corpo de cada ser é uma carruagem. Por exemplo, o Senhor Shiva é descrito montando em Nandi, o touro. O boi é a carruagem de Shiva. Ainda assim, ao ver um boi, você não pensa no Senhor Shiva; não obstante, Ele estará sentado lá. Ao ver um rato, você não estará pensando em Ganesha, o deus elefante que representa os aspectos de proteção e sabedoria presentes na divindade. O Senhor Ganesha estará lá, montando esse rato. O rato é o seu veículo; assim, este animal também é uma carruagem onde Deus está instalado. Da mesma forma, leões, corvos, cães, serpentes, águias e muitos outros animais e pássaros são usados como veículos para os mais variados aspectos de Deus. Na verdade, cada ser vivo é uma carruagem que leva Deus em procissão.
Hoje em dia, você está desenvolvendo a visão que percebe apenas a carruagem. Você está focalizando toda a sua atenção nas decorações externas. Nesta era, quase todo o seu tempo é usado para adornar a carruagem e cuidar dos confortos e prazeres do corpo. Como resultado, você está prestando atenção somente às diferenças externas e não está usando tempo algum para tentar perceber o morador interno.
“Portanto, Arjuna,” disse Krishna, “saiba que todas estas pessoas pelas quais você está tão preocupado são apenas carruagens. Eles podem ser avôs, irmãos, primos; quem quer que sejam, eles são apenas carruagens. Na verdade, você está vendo apenas carruagens na forma destes vários parentes e mestres. Você tem mantido a sua visão anuviada vendo apenas o corpo. No entanto, uma pessoa sagrada como você não deve se importar tanto com exterioridades. Você deve concentrar a sua mente no morador interno que está estabelecido em cada corpo humano. Somente então, a sua visão irá se tornar sagrada. Só esta visão sagrada pode fornecer a base para a sua vitória.
“Somente uma pessoa que possui a visão sagrada pode obter sucesso em grandes empreendimentos. Arjuna, as pessoas estão dando o mesmo valor tanto à sombra como àquele que a está produzindo; elas dão ao reflexo o mesmo valor que dão àquele cujo o reflexo elas estão vendo. Contudo, isso não é correto. O princípio sagrado e imutável que causou todas estas sombras e reflexos é o ser eterno. É o atma. Seu valor é ilimitado e está além de qualquer avaliação. Por outro lado, todas as belezas externas destes corpos, todos os pensamentos, sentimentos e comportamentos que estão se manifestando neles são apenas imagens. Estes são apenas sombras ou reflexos sem qualquer substância real ou valor duradouro.”
Ao dar tanto valor a meros reflexos, Arjuna estava demonstrando sua ignorância. A ignorância dele não era relacionada ao mundo, mas relacionada ao espírito. Arjuna não tinha desenvolvido a visão interna. Ele ainda não podia discriminar entre aquilo que é real e aquilo que é irreal. A fim salvá-lo de toda a confusão e enganos que iriam surgir inevitavelmente por falta de visão interna, Krishna incumbiu-se de ensinar a Arjuna o sagrado conhecimento do ser eterno. Krishna instruiu Arjuna sobre os exercícios espirituais que deveriam ser praticados para se alcançar esta elevada sabedoria.

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