imageE6FPor: Gabriel Meissner

 Gostaria de fazer um comentário sobre uma frase muito comum no meio da magia, que diz: “Quando o discípulo está pronto o mestre aparece.”

Essa costuma ser uma das primeiras coisas que aprendemos quando resolvemos trilhar um caminho mágico. Como em geral a interpretamos?

Imaginamos que começaremos a estudar, fazer algumas práticas simples, conhecer gente do meio, ir aprendendo lentamente, ainda dentro do nosso pouco conhecimento e então, um dia, quando estivermos preparados para aprender algo elevado, conheceremos um pessoa, um mestre, que nos “adotará” como seu discípulo e nos ensinará todos os mistérios da magia, fazendo com que nos tornemos, igualmente, mestres da Arte.

Esta interpretação da frase – tão comum – encerra alguma verdade, mas é um tanto romântica e, portanto, pode nos levar a algumas ilusões.

Primeiro, nenhum mestre nos ensinará todos os mistérios da magia. Mistérios não são dados, mas conquistas. Portanto seremos nós que aprenderemos por nós mesmos, por esforço e merecimento. Mestres podem apenas indicar um caminho, mas somos nós mesmos que o trilhamos. Assim, nenhum mestre fará de nós também um mestre. Nenhum ritual de iniciação faz isso. Pois a maestria não é um título, mas um estado de ser, alcançado depois de muito trabalho pessoal árduo.

A segunda ilusão a qual essa interpretação pode nos levar é bem mais sutil e – na minha opinião – muito mais importante, pois sacar isso pode nos despertar a incontáveis oportunidades de aprendizado que em geral ignoramos.

Esta grande ilusão é a de ficar esperando por um mestre e idealizá-lo. Nisto, há dois problemas. Um é o da atitude passiva, de ficar “esperando” que um dia o Divino nos envie um mestre para nos ensinar tudo o que sabe. Magia é um caminho de ação, um caminho ativo e não combina com a atitude de esperar que alguém – sejam pessoas, sejam deuses – façam algo por nós. A responsabilidade é inteira nossa, sempre. Portanto, não devemos aguardar conhecer alguém que nos ensine. Devemos procurar este alguém, devemos procurar cada oportunidade de aprender com quem possa nos ensinar.

Outro problema é o de idealizar a figura de um grande sábio – ou uma grande sábia – que sabe tudo o que queremos saber, todos os mistérios do universo, e que está disposta a ensinar tudo isto a nós. Por vários motivos, isto não existe. Primeiro que ninguém sabe tudo. Segundo que, por mais que uma pessoa saiba, por mais experiência que tenha, pode ser não saiba tudo aquilo que precisamos aprender. Cada mestre pode nos orientar somente em parte daquilo que queremos saber. Um pode lhe instruir em um aspecto da magia e outro mestre em outro aspecto. Mas nenhum nunca saberá lhe orientar em tudo o que você busca, pois ninguém sabe tudo. Além disso, sempre haverá aquelas coisas que você quer saber e que ninguém no mundo saberá lhe explicar e então você terá de aprender por si mesmo.

Terceiro – e ainda mais importante do que tudo – devemos sempre lembrar que todas as pessoas são mestres em alguma coisa. Nossos pais, nossos amigos, namoradas(os), conhecidos, estranhos com quem topamos num dia e depois nunca mais tornamos a ver, crianças, idosos, jovens, adultos, negros, brancos, orientais, índios, enfim, todas as pessoas são mestres! Quer saibam disto ou não.

Pois não precisamos estar conscientes de sermos capazes de ensinar alguma coisa para realmente poder ensinar. Em verdade, estamos ensinando o tempo inteiro, com nossas palavras e ações. E as pessoas que encontramos na vida também.

Acredito que com todas as pessoas já aconteceu de ouvirem alguém falar alguma coisa, ou fazerem algum ato, que tocou em algum ponto nevrálgico seu e fez com que entendesse um fato importante da sua vida. Para a pessoa que falou ou agiu pode ser até mesmo algo banal, sem importância. Mas para você pode ter sido crucial.

Em geral, lembramos de poucos momentos assim na nossa vida. Por que? Porque não desenvolvemos em nós uma capacidade básica e necessária para qualquer um que busco o conhecimento: a Atenção! A Atenção, estar sempre desperto, consciente, aberto para captar as mensagens incessantes que o mundo nos envia a todo momento, sem nunca parar.

Para quem trilha o caminho mágico, o caminho do conhecimento e da realização de si mesmo, desenvolver a Atenção é fundamental para realmente aprender algo de útil. Ao desenvolvermos a Atenção estes momentos tornam-se cada vez mais frequentes e o nosso aprendizado torna-se muito acelerado. Ou, para ser mais exato, é somente aí que o nosso aprendizado realmente começa.

Um bom primeiro passo para desenvolver a Atenção é considerar a tudo e a todos como mestres em potencial, tomarmos uma íntima e forte disposição de estarmos abertos para o que as pessoas têm a nos ensinar. Somente isto já começa a nos tornar mais perceptivos a receber as mensagens que o mudo nos envia incessantemente.

Aí podemos também pensar: o que meus pais me ensinam? E meus irmãos, avós, tios e tias etc? Meus amigos e amigos? Namoradas(os) sérios(as) e casos corriqueiros que tive? Estranhos com quem topei num dia e depois nunca mais vi? Pensar nisto também resgata memórias que estão em nós, memórias de coisas que tentaram nos ensinar, mas que não captamos na hora. Mas estes são ensinamentos que nunca estão perdidos. Basta esforçar-se em lembrar deles!

Nisto, há também algo a se dizer daquilo que é conhecido na magia como o “Oráculo de Hermes”. O Oráculo de Hermes consiste em pedir aos seus deuses que lhe ensinem algo que você precisa aprender e então esperar que a resposta venha da boca de alguma pessoa que você não espera. Como o Destino gosta de nos pregar peças, quando utilizamos o Oráculo de Hermes muitas vezes as respostas vêm através daqueles que desprezamos, que odiamos ou que simplesmente consideramos ignorantes. E receber uma resposta tão importante de alguém que não levamos em consideração nos obriga a sermos humildes, a percebemos que algo que pode ser indecifrável para a gente pode ser óbvio a alguém que menosprezamos. Humildade é outro elemento essencial para o caminho mágico, pois sem ela nunca nos abrimos para o aprendizado, nunca desenvolvemos a nossa Atenção.

Mais uma coisa deve ser dita sobre este tema. É a noção de todo mestre permanece conosco somente durante o tempo em que ele tem algo a nos ensinar. Depois que nos ensinou – quer tenhamos conseguido aprender ou não – ele vai embora e não o vemos mais. Isso é verdade tanto para um Iniciado quanto para qualquer outra pessoa que conheçamos na nossa vida. Parentes que morreram, amigos que “sumiram do mapa” e resolveram se excluir do nosso círculo de amizades, namorados(as) que romperam conosco, todos estes o fizeram porque aquilo que tinham já ensinaram o que tinham para ensinar e a sua presenção não é mais necessária.

É comum lamentarmos por não vermos mais aqueles antigos amigos de quem gostávamos tanto – e até sentirmos raiva porque eles não sentem vontade em nos reencontrar – lamentarmos por parentes que morreram e, principalmente, por namorados(as) que romperam conosco. Ora, esta lamentação é apego, mais um elemento que nos impede de estar aberto para as mensagens que o mundo nos envia incessantemente. Ao invés de nos apegar à memória de quem já não está conosco e nos lamentar, mais importante e sábio é tentar entender porque estas pessoas já não estão mais conosco. É aí que sacamos que mensagem ela nos passou e aprendemos com isso.

Por este motivo que não apenas é verdade que quando o discípulo está pronto o mestre aparece, mas também é igualmente verdade que “quando o discípulo está pronto o mestre desaparece!” (Aleister Crowley).

 

 

                                                                                                                foto: Arsenio Hypollito Junior

  Texto editado pelo: Projeto Hecate
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