O maior de todos os tesouros, procurado desde os primórdios.

por: Mário Roso de Lunas
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imageDB3Nos velhos livros iniciáticos que Platão consultou para escrever seu “Banquete”, está escrito em letras de fogo que os homens da Idade de Ouro alcançaram tal felicidade, tão imenso saber e um poder tão gigantesco, que os deuses sentiram inveja deles, temendo muito justificadamente, que lhes usurpassem algum dia, todo seu grandioso e secular poderio.

Certa vez os deuses tiveram ensejo de arrebatar dos mortais o Tesouro da Felicidade. Estes, ao perderem tamanha riqueza caíram em grande desolação. Todavia, os deuses não se aperceberam das graves consequências de seu ato, pois os homens, como bons rebeldes de nascimento, jamais se resignaram com a sua desgraça, tratando desde o primeiro dia de reconquistar o Tesouro perdido. Anteciparam-se com isso, à famosíssima empresa que, séculos depois, pretenderam os gregos de Jazão, quando foram em busca do áureo “Velocino” da Cólquide ou Calcídia.

Não há palavras humanas capazes de narrarem os inauditos esforços que, desde então, instante a instante, realizou a humanidade para reconquistar o que lhe fora roubado cruelmente. Assim os deuses logo concluíram que estariam perdidos se não escondessem convenientemente o “Tesouro da Felicidade” num local recôndito e bem oculto, para que os astutos mortais nunca lograssem encontrá-lo.

  Mas, onde está esse adequado lugar que sirva de esconderijo?  – perguntaram se os deuses cheios de preocupação.

  Nas entranhas mais profundas dos montes mais escarpados!  – disse um deles.

  Sim,um bom esconderijo!  – replicou outro ironicamente  – os “nibelungos” imediatamente viriam com suas picaretas e seus trabalhos de toupeira até arrancá-lo de novo à Luz…

  Submerjamo-lo, pois, no mais profundo oceano  – disse um terceiro.
De onde, um dia descobrirão com seus malditos mergulhadores, suas redes e seus submarinos –  contestou o anterior.

E assim, cada um dos deuses formulava sucessivamente a solução que lhe ditava a prudência, ora de ocultar o Tesouro nos picos nevados, ora no fundo dos vulcões, ora nas nuvens e altas camadas atmosféricas.

Porém, o espectro do esqui, do aeroplano, da radiotelegrafia etc., impunha-lhes a realidade de que, nem em tais lugares o Tesouro estaria seguro. Isto porque os homens também são deuses, apenas se esqueceram disso em virtude de haverem ingerido em demasia as soporíferas águas do Leteo, que os mantém dormindo desde então. Sabiam que um dia despertariam deste sono letárgico, deste torpor ou “encantamento”. Seria então a sua ruína porque soaria para eles a hora do ocaso; conforme nos afiança São Paulo, até os anjos, um dia, seriam julgados pelos homens, acertiva que Wagner corrobora magistralmente na última parte de seu drama musical “O Anel de Nibelungo”.

Desejando colocar um termo a tanta hesitação, o mais esperto dos deuses   não se sabe se Narada ou Mercúrio  forneceu aos seus companheiros este conselho prático, expedito, infalível:

  Néscios! Se quereis que jamais o homem encontre o que busca, escondei seu Tesouro em seu próprio coração . . . Pensai que, se por justiça o Tesouro lhe pertence, não poderá, logicamente, em nenhuma hipótese dele se apartar, pois as leis inexoráveis do Karma e da Justiça sujeitam homens e deuses. Consequentemente, enquanto de mil modos se esforce buscando fora o perdido “Velocino”, não se lhe ocorrerá uma só vez procurá-lo em seu próprio interior.

O conselho foi aceito por todos e seguido literalmente. O Tesouro, por arte mágica inexplicável para nossa mente obtusa, passou a residir no coração de todos os mortais, que, se bem notassem algo estranho em si próprios, nem remotamente atinaram que aquele “algo” era precisamente o que, com tão incansável afã, haviam procurado.

Desta maneira, enquanto buscavam infatigavelmente no mundo das formas, levavam no dentro de si mesmos a toda parte, sem disso terem consciência.
Passaram-se amargas eras, durante as quais, com grande zombaria e escárnio, os deuses, de suas alturas Olímpicas, observavam os entorpecidos mortais que, como feras, destroçavam-se uns aos outros, na perseguição do ilusório fantasma da felicidade.

Entretanto, os imortais não contavam com o que fatalmente viria a cumprir-se: chegou enfim a plenitude dos tempos anunciada pela profecia, o dia augusto em que o titã Prometeu, estendendo seu braço galhardo, acendeu a Tocha do Pensamento com o mesmo Fogo do Amor que alimenta o Sol e faz resplandecer os Céus.

Com a tocha mental assim acesa, o fogo primitivo foi despertado sucessivamente em todos os homens. À cintilação de semelhante Luz, puderam enfim ver no fundo de seus corações e viram brilhar ali, mais pura do que nunca, a “Chama Áurea”, o Tesouro da Felicidade Oculta!

A partir daí os homens se esforçaram cada vez mais em desenterrar novamente o Tesouro, para fazê-lo aflorar à superfície, tal como se encontrava outrora. Porém, para isto, faltava lhes um ponto de apoio, como a Arquimedes para levantar o mundo.

Decorreu multo tempo até que alguém inventou um artefato mental verdadeiramente prodigioso, sem similar, com o qual, desde então, os homens vêm explorando, sem que se extingua, a divina MINA . . .

A este artefato do pensamento, cuja mola propulsora é o sentimento e cuja pedra angular é a Verdade, a que ninguém nem nada pode destruir, se chamou FILOSOFIA.

E no frontispício do templo, onde é guardado tal artifício desde aquele dia feliz, oculto cuidadosamente das indiscrições profanas dos que são maus, por serem ignorantes, aparece escrito:

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