image43TO uso da imaginação tem se mostrado fundamental na cura de muitas doenças. Exemplo disso são as técnicas xamânicas e as cirurgias psíquicas.    

Os cientistas sociais e do comportamento estudaram a imaginação de várias maneiras. Uma delas consiste em estudar a imagem e seu papel na cognição e na mudança do comportamento.
 
    Outra maneira é observar e interpretar o comportamento dos indivíduos em sistemas que usam a imaginação na cura. Esta última envolve trabalho de campo e análises realizadas por sociólogos, antropólogos, psicólogos e psiquiatras interessados em cura transcultural, enquanto a primeira é realizada normalmente em um laboratório ou em um ambiente clínico.

    Existem ainda outras abordagens, cuja aplicação e influência são crescentes, são apoiadas pelos comportamentalistas e cientistas sociais que realizam trabalho e pesquisa clínica na área da doença física e se interessam pelas interações entre mente e corpo. Eles relutam em segmentar o “mental” e o “físico”, tanto em etiologia quanto em intervenção, mas a maior parte deles trabalha com o modelo médico e a ele se submete. É provável encontrá-los exercendo sua profissão em unidades de reabilitação do coração, centros de tratamento do câncer, em programas de controle da dor, e em núcleos de pesquisa sobre a saúde. Embora a maior parte deles seja mais orientada para a pesquisa do que para a clínica, as ferramentas clínicas empregadas incluem aconselhamento e psicoterapia, estratégias cognitivas de tratamento, alterações do comportamento, biofeedback, hipnose, treinamento da paciência, técnica de meditação e relaxamento e imaginação. Seus interesses de pesquisa, de modo geral, abrangem itens como comportamentos ligados à saúde, etiologia psicológica e correlates da doença, estratégias de prevenção e intervenção e epidemiologia. A afiliação profissional desses indivíduos ficou conhecida como “medicina comportamental”, “psicologia da saúde” ou, em alguns setores, “medicina humanística”.

    A medicina holística foi deliberadamente omitida das categorias social e comportamental por várias razões. Em primeiro lugar, como é uma designação amorfa, que abrange indiscriminadamente curadores e métodos de cura de todos os tipos concebíveis, é impossível descrever tamanha diversidade. Em segundo lugar, embora aqueles que se consideram praticantes da medicina holística estejam abertos à cura pela imaginação (e, na verdade, apóiam-na imensamente), seu interesse dirigiu-se mais às aplicações clínicas do que à consolidação de uma base empírica. Com exceção da Associação Americana Médica e Holística e das Associações de Enfermagem Holística, a maioria dos grupos não tem a afiliação acadêmica ou profissional.

    Independentemente da eficácia ou do vigor de suas intervenções, a medicina holística ainda não deu uma contribuição específica aos esforços científicos nessa área.
 

O crescente interesse pela imagem

    Os cientistas do comportamento orientados para a pesquisa muito fizeram para analisar a imagem usando métodos da ciência. Durante as  últimas duas décadas, eles empregaram instrumentos estatísticos sofisticados e percepções clínicas engenhosas a fim de trazer a imaginação das fileiras dos temas votados ao ostracismo para a arena da aceitação. Artigos relatando pesquisas e revisões da literatura, publicadas em jornais e revistas, proliferaram em surpreendente quantidade. A maturidade da abordagem e o interesse pelo tema são evidenciados pelas facções que se formaram, apoiando um ou outro quadro teórico.

    Grupos profissionais com interesse clínico ou de pesquisa reúnem uma maioria de psicólogos, mas também médicos (sobretudo psiquiatras), arteterapeutas e musicoterapeutas, especialistas em educação, teólogos e antropólogos. Em psicologia, a imagem tem sido pesquisada da perspectiva do trabalho clínico e da psicopatologia, memória e aprendizagem, percepção e psicologia sensorial. Várias excelentes coletâneas foram publicadas recentemente tentando dar uma visão geral de literalmente milhares de artigos e opiniões sobre o tema.

    A adequação e o valor da imagem como estudo próprio às ciências do comportamento estão claramente firmados.

    Revendo essa monumental quantidade de trabalho, o maior desapontamento é que muito pouca coisa pode ser considerada diretamente relevante para uma metáfora científica da imaginação como curadora. Por outro lado, quando a definição da saúde inclui saúde mental em toda a complexidade, adaptação aos costumes culturais, aprendizado nos limites da própria capacidade, aumento da capacidade de apreciar a arte e desenvolvimento da criatividade, então ela se torna extremamente relevante.
 

A imaginação em um ambiente clínico

    O emprego da imaginação no ambiente psicoterapêutico tem uma história longa e rica, e continua em evidência. O trabalho foi amplamente revisto por Anees Sheikh e Charles Jordan, que citam 225 referências, dos primeiros escritos de Freud, Jung e das escolas européias às abordagens de terapeutas modernos. Esse artigo tão erudito merece ser lido integralmente.

    As condições tratadas com sucesso pelos comportamentalistas, por meio da imaginação, são aquelas cuja origem se acredita esteja no comportamento ou nos problemas cognitivos. Entre elas estão fobias e ansiedades (medos de cobra, do sexo oposto, de altura, de espaços abertos, de falar em público, de injeção); depressões; condições relativas a hábitos, como obesidade, fumo, álcool e abuso de drogas; insônia; impotência; e “sintomas psicossomáticos”.

    Como assinalam Sheikh e Jordan, os clínicos estão mais interessados em descrever as aplicações da imaginação do que em realizar um trabalho experimental sólido, para validar “os pressupostos essenciais que subjazem a tais procedimentos”.  Por outro lado, os terapeutas comportamentalistas fizeram muitas pesquisas, porém negligenciaram a formulação de uma base teórica. Além disso, mostraram uma tendência de colocar a imagem fora do indivíduo, pressupondo que ela opera sobre o comportamento oculto, como outros princípios operam sobre o comportamento manifesto. É necessário um modelo que possa ser testado e demonstre a validade dos pressupostos comportamentalistas ou defina o papel da imagem sobre o comportamento de outro modo.
 

A cura pela imaginação como fenômeno cultural

    Passamos agora a outra área em que a cura pela imaginação é descrita na linguagem do comportamento e no contexto dos sistemas sociais: ou seja, a ampla área das práticas não-médicas, culturais ou de cura popular. Os etnopsiquiatras têm se mostrado especialmente prolíficos ao delinear as razões pelas quais as práticas funcionam e freqüentemente estabelecem paralelos entre as técnicas do curador nativo e as suas próprias técnicas. Naturalmente, seu enfoque incide em aspectos mentais da doença e, como outros comportamentalistas, eles consideram a imaginação mais adequada às doenças imaginárias (não-físicas) ou como um mecanismo de tratamento. As “teorias psicanalíticas obsoletas e não-provadas… que introduziram tamanho obscurantismo nesta questão… serão cuidadosamente evitadas na discussão que se segue. (…)

    Tendo em vista nossos objetivos, classificarei como curadores populares os xamãs, os curandeiros, os chamados bruxos, os benzedores e os pajés índios, bem como curadores religiosos contemporâneos ou que atuam no sentido da fé. No entanto, em qualquer contexto cultural, os títulos podem designar diferentes níveis.

    O xamã é especialmente assinalado, ao longo da história, como possuidor da maior perícia em trabalhar com a imaginação.

    Ao observarem o mecanismo da cura, os cientistas comportamentalistas e sociais, habitualmente, não reconhecem a diferença entre os curadores, e suas observações são razoavelmente aplicáveis a quem quer que use rituais de cura considerados desprovidos de propriedades medicinais ativas.
 

O princípio de Rumpelstiltskin: diagnóstico

    Em comum com o médico contemporâneo, o curador não-médico tem o privilégio do diagnóstico. E. Fuller Torrey expõe a importância dessa tarefa, denominando-a o “princípio de Rumpelstiltskin”, de acordo com o antigo conto de fadas em que a magia surgia quando a palavra correta era pronunciada. De acordo com Torrey, o próprio ato
de nomear é terapêutico, transmitindo a confiança de que alguém está entendendo o que acontece. A crença comum é que, se o problema pode ser compreendido ou até nomeado, poderá ser curado. O paciente sente alívio e pode enfrentar o que virá com calma. Só aqueles que estão em posição de grande respeito em qualquer cultura podem realizar a nomeação com eficácia. Devem ter uma determinada visão de mundo em comum com o paciente, e o diagnóstico deve ser relevante para essa visão, para que seja eficaz (como diz Torrey, isso coloca um problema significativo no caso de qualquer tentativa transcultural em psicoterapia; é presumível que isso também se aplique a qualquer tentativa no campo da medicina transcultural).

    O princípio de Rumpelstiltskin é vital em qualquer contexto da saúde. Os pacientes anseiam por um diagnóstico que possam aceitar, independentemente do fato de ele não importar nem um pouco para o tratamento.
 

Fomentando esperança,
auto-estima e reintegração cultural

    Os temas mais predominantes na literatura e os mais relevantes para a metáfora que estamos examinando são que o curador popular é bem-sucedido por causa de sua habilidade para dar esperança, reforçar a auto-estima e ajudar o indivíduo desajustado a encontrar uma aceitação satisfatória da comunidade.

    Essas qualidades são assinaladas como a falha significativa nas práticas médicas cosmopolitas e como razões de emulação dos comportamentos do curador popular. Há também um pressuposto de que esses esforços. conduzirão a sentimentos de bem-estar, quando não a transformações reais no corpo físico, isto é, eles farão com que a enfermidade melhore, quando não a doença. Outros escritores descrevem o potencial para uma mudança positiva da doença e da enfermidade.

    Ness e Wintrob afirmam que a eficácia dos curadores populares está em sua capacidade de capitalizar sentimentos de dependência do paciente, de auto-estima reduzida e ansiedade, quando fazem promessas de recuperação. O ritual terapêutico propõe um plano a ser seguido por toda a comunidade, e todos que participam passam a experimentar um sentimento de controle e propósito. A auto-estima do paciente é aumentada, na medida em que a atividade nele se concentra. E de acordo com esses escritores, quando o curador invoca as forças sobrenaturais, o paciente recebe uma confirmação ainda maior de que ele é digno de ser contemplado com aquele tipo de ajuda.

    Weatherhead caracteriza a confirmação da cura pela fé (e, portanto, a imaginação) como uma condição da “confiança expectante”. Os curadores populares têm a capacidade de reforçar essa confiança se forem figuras carismáticas ou se sua reputação de pessoas com dotes especiais for do conhecimento do paciente. Quando a confiança volta, o paciente sente-se menos deprimido, mais forte e mais vigoroso – acredita-se que esses fatores estejam associados a uma cura acelerada ou, pelo menos, a uma melhoria da doença.

    Torrey cita vários fatores característicos que servem para gerar confiança em todos os tipos de curadores: a jornada ou peregrinação para ir até o curador (neste caso, a distância parece ser importante); a impressão causada pela construção ou edifício e por tudo aquilo que eles contêm; o porte e a conduta do curador, tão característicos; suas credenciais como pessoa experiente; um ar difuso de poder e mistério e até medo.  A estima do paciente aumenta pelo simples fato de estar na presença e receber atenção personalizada de uma pessoa tão impressionante e importante. Os temores e ansiedades dos parentes, que podem ajudar a alimentar no paciente o papel de doente, também se reduzem quando ficam sabendo que a ajuda é iminente.

    O desamparo pode ser literalmente letal ou significativamente prejudicial à saúde e ao bem-estar do indivíduo. Mudanças de comportamento muito definidas foram observadas em várias espécies quando confrontadas com uma situação sobre a qual não tinham o menor controle. No plano antropomórfico, essas mudanças poderiam ser descritas com “desistência” e são acompanhadas por evidências de deterioração física. Nos seres humanos, o desamparo está normalmente associado à depressão profunda, apatia e perda de energia, que ocorrem até mesmo antes da manifestação da doença. O ponto essencial do trabalho dos curadores populares é que, quando a esperança ou o controle voltam, são acompanhados por uma melhoria física e no comportamento. Nesse contexto, ao fomentar a esperança, estão oferecendo o dom da cura.
 

Cura transpessoal/espiritual

    Os cientistas comportamentalistas e sociais, habitualmente, ignoram o componente transpessoal ou espiritual da cura popular. Ocasionalmente, os rituais a ela associados serão descritos como fatores que intervêm na melhoria das perspectivas psicológicas do paciente. As observações de Jerome Franck sobre esse tema são características, e a maior parte das fontes consultadas citam-no ou apresentam uma permutação do mesmo pensamento, como, por exemplo: “Os métodos da cura primitiva envolvem um interjogo entre o paciente e o curador, o grupo e o mundo sobrenatural; isso serve para aumentar a expectativa de cura do paciente, ajuda-o a harmonizar seus conflitos interiores, reintegra-o ao seu grupo e ao mundo espiritual, propicia um quadro conceitual que o ajuda neste sentido e o incita emocionalmente”. Franck prossegue, afirmando que a função de todo o processo é combater a desmoralização e fortalecer o senso de auto-estima do paciente.

    O aspecto espiritual, transpessoal do trabalho com a imaginação é visto de modo um tanto diferente por Guenter Risse, especialista em história da medicina. Ele acredita que uma “rede elaborada” de relações espirituais que são criadas pela sociedade em que tais curas se dão constitui, na verdade, uma válvula de escape que permite aos seres humanos transcender “um aparente determinismo imposto pelos componentes sobrenaturais do cosmos”. Risse menciona que até hoje as pessoas são atraídas pelo oculto, para transcender as amarras do determinismo científico. Os rituais, os procedimentos divinatórios e as ações terapêuticas derivam, segundo ele, de uma visão de mundo mágico-religiosa. “Elas apelam para os componentes emocionais irracionais da psique, trazem satisfação às nossas necessidades e produtos metafísicos da imaginação.”

    As crenças religiosas também podem ser abordadas como um aspecto da teoria da aprendizagem. Isto é, são classificadas como comportamentos supersticiosos e definidas como instâncias que podem ter sido poderosamente reforçadas por eventos coincidentes, ocorridos no passado próximo ou distante da tribo. O surgimento de um reforço intermitente tem a conhecida e intensa capacidade de confirmar o comportamento humano. De acordo com esses princípios, eventos de cura que, na verdade, eram “remissões espontâneas” ou componentes de distúrbios autolimitados podem ter ficado associados “acidentalmente” às súplicas ao sobrenatural e às atividades mágico-religiosas dos curadores. Os comportamentos supersticiosos também têm o efeito de reduzir a ansiedade e gerar esperança no período entre a doença e a recuperação. Em situações experimentais os comportamentos supersticiosos foram descritos como algo que preenche o período entre o estímulo e o reforço, ou como uma cadeia de comportamentos intermediários entre os acontecimentos.
 

Os rituais

    A essência da cura popular está no ritual, e não naquilo que normalmente é concebido como medicina. Em consequência, os observadores comportamentalistas e sociais têm tentado descrever e/ou explicar quaisquer efeitos curadores em termos daquilo que os rituais poderiam significar, caso se realizassem em circunstâncias mais modernas.

O consenso é que o valor do ritual se apoia no seguinte:

1) os demorados preparativos habitualmente necessários antes do ritual de cura dão aos parentes algo para que eles possam demonstrar preocupação;

2) os preparativos e a participação ritual são um modo de paciente e comunidade sentirem que controlam aquilo que parecia ser uma situação sem esperança;

3) as relações dentro da comunidade são cimentadas e a solidariedade grupal é intensificada;

4) o enredo e a estética do ritual são reconfortantes e distraem;

5) as características do ritual consolidam os laços entre o paciente e o grupo, do qual ele pode ter se sentido alienado;

6) o paciente pode sentir alívio, na crença de que a harmonia entre ele e o mundo dos espíritos foi estabelecida;

7) os rituais e símbolos servem para interpretar o significado da doença e o papel do paciente em um contexto cultural;

8) o paciente é excitado emocionalmente pela intensidade do ritual, e isso aumenta ainda mais a esperança ou uma confiança, carregada de expectativas, de que algo importante irá acontecer;

9) o custo dos rituais de cura é considerável, na maior parte das culturas (inclusive a medicina ocidental), e pode acarretar o preparo de alimentos mais apreciados e nutritivos, intensificando mais uma vez a auto-estima, a esperança e o orgulho do paciente;

1O) quando há preparados psicoativos ou quando se entra em estados de consciência alterados ou dissociativos, em conseqüência do ritual, o poder do curador é validado por essas experiências tão inusitadas, e elas reforçam o sistema de crenças espirituais.

    Ness e Wintrob relatam observações interessantes sobre as razões pelas quais podem ser eficazes os estados dissociativos em que entram o paciente e o curador. Eles afirmam que a experiência torna o paciente mais suscetível às sugestões feitas pelo curador e que o estado dissociativo pode ser catártico, se ao paciente for dada permissão para comportar-se de modo socialmente inaceitável em outros contextos.

    O valor psicoterapêutico do ritual foi bem expresso por Wolfgang Jilek, psiquiatra e antropólogo, que fez pesquisa de campo na África Oriental, Haiti, América do Sul, Tailândia, Papua Nova Guiné e com os índios da região ocidental do Canadá. Embora as observações a seguir se refiram à dança dos espíritos dos índios salish do litoral, elas são aplicáveis a quase todos os rituais de cura. Jilek identificou componentes de atividade ou terapia ocupacional e notou que a terapia de grupo é relevante, e a solidariedade grupal e a coesão se expressam freqüentemente. O ritual dá oportunidade de uma abreação catártica, que, segundo acredita, libera das tensões emocionais acumuladas, na medida em que as situações são revividas. O psicodrama ou a dramatização é um traço notável de muitos rituais de cura. No moderno ambiente terapêutico, o psicodrama tem como objetivo permitir à pessoa expressar seus problemas ou exteriorizar em um ambiente controlado, que dê apoio. Jilek nota, enfim, o efeito psico-higiênico de uma intensa atividade física. Com efeito, tanto as pesquisas recentes quanto a tradição antiga sugerem que a atividade física pode combater a depressão, além de melhorar a condição física. O trabalho ritual pode incluir invocações, dança e canto por dias a fio, ou, no caso dos que dançam incorporando os espíritos, pode durar meses.

    Outros pontos foram levantados por Robert Bergman, psiquiatra que estudou em uma “escola de curadores” navajo e praticou a psiquiatria entre esses índios por vários anos. Ele observa que durante as demoradas cerimônias ou “cantos” navajo, a prolongada e intensa natureza do contato torna inevitável a revelação dos conflitos e, caso sejam abordados com perícia, poderão ser resolvidos. Também vê os rituais como um momento de moratória e como um ponto de mutação.

Por Jeanne Achterberg

Texto extraído do livro:
 

“Ciência Social e do Comportamento: Imaginação como Psiciterapia”
Summus Editorial
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