shapeimage_2-2O mistério da Esfinge e do enigma que a todos ela propõe atravessou os séculos e ainda hoje paira sobre os corações humanos como um perfume distante.

A resposta ao enigma da Esfinge repousa dentro de todos nós, arrebatando poetas, inspirando inteligências alimentando curiosidades e confirmando místicos, pois a nenhum lugar se chega sem decifrá-la e ela funciona como se o próprio Criador a tivesse plantado em nosso íntimo, à guisa de semente, desde a criação do primeiro homem para o objetivo básico de desvendar o seu mistério e, com ele, o do próprio universo.

De todas as esfinges conhecidas pelos homens a mais famosa é a de Giseh, a cujas graníticas feições a sabedoria egípcia acrescentou um sorriso semelhante ao da Mona Lisa e cujo olhar se perde na distância como se procurasse sondar alguma coisa que ultrapassa a beleza dos areais do Egito e repousa muito mais além do que sonha a nossa vã imaginação. Ela, realmente, tem profundas razões para sorrir, mas até o seu sorriso é enigmático para os homens. Não é um sorriso de deboche nem um sorriso de compaixão. Mais preciso seria dizer que é um sorriso semelhante àquele que vemos plantado no rosto dos seres superiores que se realizaram em Deus e, por isso mesmo, satisfeitos com o conhecimento antecipado de um porvir jamais percebido pelos que ainda estão nos primeiros degraus da escadaria do templo…

Em todas as esfinges se acha sintetizado o eterno jogo dos 4 ELEMENTOS (água, terra, fogo e ar), cada um deles simbolizado por um animal oriundo do nosso próprio planeta. Asas de águia, corpo de touro e patas de leão são o suporte de um rosto humano impassível e eternamente decidido a propor o desvendamento de um milenar mistério, cujos contornos apenas, até o momento, conseguimos entrever.

O corpo humano é formado por cada um dos 4 elementos da Esfinge, elementos esses que nossas mães extraem do solo para plasmar nosso soma. Dominar cada um desses elementos de modo a obter um equilíbrio interno robusto é um dos objetivos fundamentais do homem superior. Cada elemento domado fornece ao homem superior um determinado poder sobre os seus elementais respectivos, ou seja:

Água—- Ondinas, Náiades, Ninfas
Terra ——— Gnomos, Faunos, Duendes
Ar ———– Silfos, Fadas, Elfos
Fogo ——– Salamandras, Chamíneos

O domínio sobre os 4 elementos é a base de toda a MAGIA e é desse modo nada fácil que nos tornemos Obreiros Conscientes da Grande Obra. A Natureza se curva a nossos pés e passa a cooperar conosco de modo irrestrito. Ao invés de algoz ela se torna aliada e com ela podemos contar sempre através de cada um de seus representantes. Por isso, o mago autêntico e não o de circo inclui no seu instrumental mágico alguns objetos que simbolizam esses elementos domados, a saber:

Água —————– Taça
Terra —————– Pentáculo
Fogo————— Punhal  ou Espada
Ar —————– Bastão

O mago, assim, identifica-se com a Natureza e usa os seus símbolos básicos para exercer um poder que não pode se virar contra o seu próprio berço natural. Como parte da Natureza ele a protege, não infringe suas leis e dela recebe uma gratidão amorosa. A partir desse estágio ele passa a chamá-la de GAIA e a sente como um organismo vivo. Os antigos magos pagãos faziam isso eras antes do nascimento de Cristo, embora alguns deles se tenham degenerado, dando origem aos primeiros magos negros.

No entanto, em ambos os casos, o alicerce de toda essa Magia era a Esfinge desvendada, cujo desnudamento leva à consecução do verdadeiro ideal da Alquimia, ou seja, transformar o grosseiro chumbo humano em ouro divino. Em outras palavras, o homem consegue acordar o seu anjo interior e adormece seu irmão caído quando decifra o mistério da Esfinge.

Com sua espada flamejante ele expulsa do falso paraíso humano, como se fosse o anjo bíblico, a ingratidão do primeiro casal e mostra aos dois (Adão e Eva = Ida e Pingala) que para vencerem suas inferioridades ambos precisam enroscar-se, como sinais binários, em torno da sua espada de fogo, agora convertida em caduceu. Será assim que, no seu movimento ascendente, todos os chakras serão abertos e do coronário emanará a luz de todas as estrelas ali consubstanciadas na sua vitória sobre as ilusões da matéria e na sua entrada triunfal na sede do Governo Oculto do Mundo. Ele, então, ouvirá o chamado de SHAMBALLA na solidão do seu silêncio e poderá ter acesso à imponência da antiga Ilha Branca, hoje elevada ao Plano Etérico para só ser vista e visitada pelos dignos.

Difícil de entender?

Nada mais elementar! O homem precisa ir se livrando gradualmente das suas inferioridades e principalmente dos seus apegos. Precisa convencer-se, de uma vez por todas, que nada neste mundo é nosso e que tudo à nossa volta é transitório. Sabendo que nada é para sempre e que tudo tem os seus dias contados esse homem superior começará automaticamente a aprender a lição do desapego e metabolizará, sem dificuldade, a noção de que é um peregrino cósmico, um passageiro da chuva ou um irmão do vento. E caminhará, sem mesmo sentir, para o EIXO DA RODA DA REENCARNAÇÃO, escapando de muitas outras vidas em carne pela completa desnecessidade delas…

FRANCISCO DE ASSIS, um gigante da espiritualidade, conseguiu tudo isso e desvendou sua Esfinge pela adoção de uma simples MAGIA DE AMOR. Por isso, ele se sentia irmão do sol, da lua, dos passarinhos, dos animais e de toda a Natureza. Ela e ele eram UM. E a lição do seu desprendimento ele nos legou na simplicidade da sua oração que hoje repetimos sem mesmo compreender a extensão da profundidade que ela encerra.

Com isso, queremos dizer que não é preciso ser mago para decifrar o enigma da Esfinge. Todas as boas magias começam e terminam no coração, nada existindo superior a esse amor incondicional por tudo e por todas as coisas…

Decifrada a Esfinge ela responderá dentro do seu peito dizendo quem você é, de onde veio e para onde poderá ir de acordo com o seu merecimento pessoal. A Esfinge não se curva a nenhum suborno nem concede qualquer privilégio. Seu olhar penetrante sabe quem já esteve frente a frente com o Guardião do Umbral, tendo sido por ele aprovado, e quem dali voltou espavorido com a revelação desse primeiro e solene mistério.

Os iniciados autênticos conhecem o segredo da Esfinge, porque, por esforço próprio, desvendaram o seu enigma. A ameaça de devorar todos aqueles a quem a Esfinge propuser seus enigmas é, apenas, uma forma simbólica de dizer ao caminhante que teimar em prosseguir o seu caminho sem esse conhecimento tem toda a probabilidade de permitir que ele seja tragado pelos espectros que espreitam nas sombras ou enganado pelas potentes ilusões terrenas criadas por MAYA.

Desde o episódio alegórico da criação do homem/mulher e de sua expulsão do seu simbólico Paraíso o Criador espera que seus filhos retornem à Casa do Pai depois de atravessarem todos os desertos da vida e de resolverem todos os enigmas de todas as esfinges. Tarefa hercúlea? Nem tanto…

Às vezes, não é preciso ir em busca do segredo da Esfinge porque ele mesmo vem ao encontro de quem fez por onde conseguir esse prodígio. Quando isso acontece, a Esfinge revela-se por inteiro e sai das areias da alma não mais para propor enigmas, mas para revelá-los ao novo adepto do seu templo. De seus lábios antes cerrados desce uma soberba escadaria de alabastro, composta por 33 degraus, que convidam o caminhante a subir e entrar no templo. Vencidos esses degraus, cujo simbolismo nos lembra a duração da vida de Cristo na Terra, os 33 graus da Maçonaria e as 33 vértebras da espinha dorsal o iniciado pode perceber a importância do conhecimento conquistado e o quanto ele precisa fazer para ajudar os que ainda estão emaranhados nas teias da ilusão. Vencida a etapa do CONHECIMENTO ele tem de passar para a etapa do SERVIÇO, onde mil e uma oportunidades de trabalho surgirão para que todos nele reconheçam um prolongamento do próprio Deus. Afinal, tudo aquilo tinha sido feito – agora ele sabe! – para AMAR SERVINDO e SERVIR AMANDO.

Por isto, todos os peregrinos que vão ao encontro da Esfinge e por ela são convidados a entrar no templo precisam passar pelo BATISMO DE FOGO, onde serão queimadas todas as suas impurezas e purificados todos os seus veículos. Há uma fogueira redentora em cada degrau da escadaria e em cada um deles há profundas provas ocultas. Jamais, em tempo algum, o Mestre aparecerá para o discípulo, senão ao cabo dessa penosa jornada. Não antes de ter lavado os próprios pés no sangue do coração…

Sem a ultrapassagem dessas importantes etapas ele nunca ouvirá o apelo de Shamballa e, portanto, jamais vislumbrará seus portais de mármore branco. E jamais chegará, tampouco, à SEDE DOS SETE RAIOS, cuja mistura, em alta vibração mística, é o somatório de todas as cores do arco-íris.

Para o homem assim realizado nosso planeta passa a ser visto dentro de uma nova ótica. Não mais o ruído, mas o silêncio. Não mais a solidão, mas o
recolhimento santo. Não mais o desejo tolo disso ou daquilo, mas apenas uma saudade indistinta a nos empurrar para a poeira das últimas estrelas. É o retorno gradual e definitivo às muitas moradas do universo, onde velhos amigos e almas gêmeas nos esperam e de onde, afinal de contas, viemos há tanto tempo para cumprir um longo e penoso exílio.

Todo espiritualista autêntico sabe medir o valor do sofrimento e nunca ficará resmungando pelos cantos a queixar-se da vida. Quando adequadamente esclarecido, ou seja, com a sua Esfinge desvendada, ele sabe que não existe nem Bem nem Mal, mas apenas uma melancólica ignorância a repetir-se nos homens comuns que, por isso, nada mais costumam ser do que contumazes reincidentes a praticar os mesmos delitos vida após vida, era após era. Sabe, também, que vive o seu PASSADO dentro do ETERNO PRESENTE e que desse fictício PRESENTE depende o seu FUTURO com todas as suas novas roupagens. Vive aquém e além do TEMPO, onde reconhece, apenas, portos de escala infinitos rumo a um aperfeiçoamento cada vez maior.

Você não precisa, leitor(a), atravessar as areias escaldantes do Deserto de Gobi para tentar entrever a leste a alva silhueta da Ilha Branca (Shamballa) donde entram e saem todos os Mestres. Essa viagem você pode fazer sem sair de casa, o mesmo valendo para a busca da sua Esfinge. Assim como não é obrigatório trilhar em corpo físico o Caminho de Santiago, em terras espanholas, do mesmo modo essa viagem pode ser interior e absolutamente silenciosa. Com um pouco de treino e muita perseverança você poderá conseguir isso sem tirar passaporte nem deslocar-se no espaço. Pode fazer isso dentro do seu próprio quarto e nos limites do seu mundo secreto. Ninguém saberá e você nunca ouvirá aplausos.
Surdo(a) aos ruídos do mundo, viajando em seus âmagos secretos, você visitará planos de existência jamais imaginados e ouvirá sons nunca ouvidos nem pela mais prodigiosa orquestra.

Mas… guarde segredo! Não diga nunca a ninguém o que viu ou ouviu porque a experiência mística é sumamente individual e, por isso, nem todos vêem ou ouvem da mesma forma. Cada um ouvirá e verá o que tiver merecimento de ver e ouvir…

O bom espiritualista não é um informante nem um delator. Ele pede ou sugere, mas nunca ordena. Aponta, mas não exige. Não tem pena porque cultiva na alma a Sagrada Compreensão que o coloca a uma profilática distância do temível verbo TOLERAR. Sabe que todos os aprendizados, inclusive o dele, são feitos por etapas ou, se quiser, por sucessivos degraus. Como parte da Natureza, pois controla seus 4 elementos, ele sabe que ela não dá saltos e que o homem perfeito de hoje é o resultado da lenta evolução do mostrengo de ontem.

O Livro da Vida tem muitos capítulos e você escreve cada um deles com o suor do seu rosto e com o sangue das suas veias. Ao longo dessa caminhada infinita, até que sua Esfinge seja desvendada, seu coração sangrará muitas vezes e muitas vezes você se verá sofrendo na mais completa solidão. Não faz mal! Reaja! Torne-se amigo da sua solidão e dela tire seus mais doces frutos. Se não tiver com quem dialogar dialogue com seus tempos de infância e remexa seus mais secretos e inimaginados tesouros. Eles sempre estarão lá entre bonecas, balões e bolas de gude. Só seu corpo cresceu, porque, no fundo, você ainda é aquele menino ou aquela menina que falava com o mundo invisível para espanto dos adultos. Não foi você quem cresceu. Seu corpo é que se desgastou e se prepara lentamente para a desagregação quando chegar a hora do repouso do guerreiro.
Mas o guerreiro continuará vida após vida, nome após nome, berço após berço para continuar essa missão infinita chamada AMOR. E você amará muitas vezes ainda após cada descanso no delicado colo do vento. E nunca ninguém perceberá que é sempre VOCÊ quem volta para cantar o estribilho de Deus na eterna Canção Universal.

Sheik Al-Kaparra

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