O homem só tem um inimigo: ele mesmo.
Dentro de si está oculto o seu caráter, suas tendências, suas fraquezas e pontos vulneráveis.
Uns mais, outros menos, todos são seus próprios verdugos, seus próprios devedores e lutam inconscientemente consigo mesmos para liquidarem seus débitos.
E, em contato com seus semelhantes, todos, igualmente, se buscam, tentando libertar-se do jugo de si mesmos.
Estabelece-se então o choque: emoções contraditórias se encontram, instintos selvagens se digladiam, mas, no fundo, bem no fundo de si mesmo, o homem é um pequeno Deus.
No âmago do seu ser oculta-se a chispa divina, a partícula do Todo.
E após longa caminhada, lutas tremendas, após ferir-se com suas próprias armas, ele, pela mão amiga da dor e da desilusão, dirige-se submisso e reverente para o seu verdadeiro ser.
Então começa a sua ascensão, a sua subida triunfal sem o cortejo de inferioridades com que antes se identificava, sem o saber.
Agora leva o mesmo cortejo, porém transmutado “nada se perde; tudo se transforma”.
A dor, amiga que surge advertindo o incauto, e as desilusões, como outras facetas de dor, o reconduzem ao aprisco; e ele depara, enfim com o Bom Pastor.
O mercenário que existia nele foi superado pela consciência da divina presença; e ele pôde, finalmente, encontrar-se consigo mesmo e fazer as pazes com o seu único inimigo: ele mesmo.
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