imageR7MLeitura das Escrituras  mostra que esta idéia era aceita pelo Mestre Nazareno.

Quando Jesus ia passando, viu um homem cego de nascença. E os discípulos perguntaram: Mestre, quem pecou para este homem nascer cego, ele ou os seus pais? (João 9:1-2)

 

Os estudiosos da Bíblia têm de admitir que os verdadeiros autores do Novo Testamento são desconhecidos para a maioria. A coleção de textos que o compõe é só uma pequena parcela dos inúmeros manuscritos em circulação antes do Concílio de Nicéia (325 d.C.) arbitrariamente decidir quais escritos sagrados seriam incluídos. De maneira bastante semelhante ao Antigo Testamento, os quatro Evangelhos simplesmente são uma coletânea “autorizada” das palavras de um homem chamado Jesus, sobre quem, historicamente, pouco sabemos.

Se é verdade, como sugere Josefo, que os essênios acreditavam na reencarnação, eram pastores e carpinteiros, dedicados a servir ao Pai invisível, usavam cabelos compridos, vestindo-se com uma simples túnica tecida circularmente sem costuras e um manto escarlate, temos aí então uma descrição tradicionalmente aceita de Jesus.

Evidentemente que se tanto João Batista quanto Jesus foram membros desta seita, como acreditam vários estudiosos, eles deveriam conhecer os ensinamentos judaicos e orientais sobre reencarnação.

Com isso em mente, examinemos os diversos diálogos atribuídos ao Mestre sob outro ponto de vista:

Para começar, quando os discípulos de Jesus perguntaram sobre o homem que nasceu cego, não estavam longe das indagações dos antigos irmãos cabalistas.

É lógico que só quem já acredita na possibilidade de uma vida anterior é capaz de perguntar se uma criança nascida cega pecou nesta vida. Logo, ou ela cometeu algum pecado numa existência anterior ou nasceu cega por alguma transgressão dos pais, ou ambas.

Infelizmente a resposta de Jesus, pelo menos como aparece nos Evangelhos, não se refere ao renascimento. Ele simplesmente afirma que não foi nenhum dos casos. A criança nasceu cega, disse o Mestre, para que as obras de Deus fossem manifestadas nela.

O conhecido pesquisados bíblico James Pryse, em sua obra clássica (edição esgotada) Reincarnation in lhe New Testament, comenta:

“Considerando o assunto reencarnação pelos autores desses textos, é importante observar que, embora essa crença fosse praticamente universal na época de Jesus e uma doutrina essencial em todas as assim chamadas religiões pagãs, ela não é negada, discutida ou questionada em parte alguma do Novo Testamento. Quando o assunto vem à baila, como ocorre com freqüência, o fato da reencarnação é ou tacitamente aceito ou inequivocamente confirmado, como no caso de Elijah.”

Os judeus sempre esperaram a reencarnação de todos os seus grandes profetas. Acreditava-se que Moisés fora Abel, o filho de Adão; que Adão viera numa segunda vez como Davi e era aguardado que retornasse como o, há muito esperado, Messias.

Entretanto, antes da vinda do Messias, outro seria enviado como mensageiro, segundo a profecia encontrada em Malaquias 4:5, “Eis que vos envio o profeta Elijah, antes que venha o dia do Senhor”.

Como Elijah já havia morrido muito tempo antes, é evidente que essa profecia só poderia à chegada de alguém que nascera como Elijah em outra época e lugar, que no idioma grego era chamado de “Elias”.

Diante do exposto, observemos o relato de Mateus 17:10-13:

“E seus discípulos o interrogaram dizendo: Por que os escribas dizem que Elias deve vir primeiro?

“E Jesus respondeu: ele há de vir para restabelecer todas as coisas.

“Mas eu vos digo que Elias já veio e não o reconheceram, mas fizeram com ele o que quiseram. Do mesmo modo, também o Filho do Homem está para sofrer da parte deles.

“Então os discípulos compreenderam que Jesus tinha lhes falado a respeito de João Batista.”

Estas palavras de Jesus só fazem algum sentido se entendermos que João Batista foi Elias, ou Elijah, em uma vida anterior. Como o Mestre fala (no passado) que já fizeram o que queriam com João e que Seu destino seria o mesmo, esta conversa obviamente aconteceu depois que João já havia sido decapitado.

Temos de ter em mente que os diálogos de Jesus foram arbitrariamente organizados nos Evangelhos pelo autor ou autores que deles se lembravam, muitos anos após terem efetivamente ocorrido. A seqüência de eventos apresentada em um dos Evangelhos pode, portanto, ser diferente em outro.

Por analogia, até mesmo dentro de um Evangelho podem ser encontradas discrepâncias de detalhes em uma determinada história, assim como ocorre com as pessoas que, vendo um acidente acontecer, podem, dependendo das posições e dos pontos de vista, sugerir causas diferentes.

Ao descrevermos outra passagem de Jesus e seus discípulos, que também deve ter ocorrido após a morte de João Batista, encontramos:

“Quando Jesus chegou à região de Cesaréia de Felipe, perguntou aos discípulos: ‘O que dizem por ai que eu, o Filho do Homem, sou?’

“Responderam: ‘Uns dizem que é João Batista; outros que é Elias; outros, enfim, que é Jeremias ou algum dos profetas.’

“Então lhes perguntou: ‘E vós mesmos, quem dizeis que eu sou?’

Simão Pedro interveio e respondeu: ‘Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo.’

“Jesus retomou a palavra e declarou: ‘És feliz, Simão Barjona, pois não foram a carne e o sangue que te revelaram isso, mas meu Pai que está nos céus!’ (Mateus 16:1316.)

Esta conversa é muito interessante, pois apresenta vários elementos claramente sugestivos de que a doutrina da reencarnação era conhecida pelo público da época e principalmente pelos discípulos de Jesus.

Quando fez a pergunta “O que dizem por aí que eu, o Filho do Homem, sou?”, Jesus obviamente estava tentando descobrir quais eram os boatos locais a seu respeito. A resposta de Pedro foi clara e profunda. Incluía as absurdas possibilidades de Jesus ser a reencarnação de João Batista, morto recentemente, e do Messias ser a reencarnação de um dos profetas, uma crença antiga.

Pedro não teria motivos para incluir todas essas possibilidades se não fossem tema de conversas na cidade.

Observemos o novo nome – Barjona – que Jesus deu a Pedro. Em sírio, o prefixo Bar é traduzido como “o filho de”. Então, chamando Pedro de “o filho de Jonas” que, claro, ele não era -, Jesus diz aos outros discípulos que não apenas ele, mas também Pedro “viveram antes” como o profeta Jonas.

A tradução da mesma escritura por James Pryse, empregando outras fontes além do grego, assinala este ponto de maneira mais dramática: “Você é imortal, Simão, filho de Jonas! porque a carne e o sangue não lhe revelam (este segredo), mas meu Pai que está nos céus.”

No Evangelho de João encontramos outra declaração do Mestre sugerindo que já vivera antes. Quando lhe perguntaram se era o grande Abraão ou algum outro profeta falecido, respondeu:

“Abraão, vosso pai, alegrou-se intensamente com o pensamento de ver meu dia. Ele o viu e ficou alegre.” Os judeus lhe disseram: “Ainda não tens 50 anos e já viste Abraão?” Jesus respondeu: “Eu vos afirmo e esta é a verdade: antes que Abaão nascesse, Eu sou.” (João 8:56-58)

É lógico que somente após ter vivido na época de Abraão é que Jesus poderia dizer que Abraão ficou alegre com sua chegada; entretanto, para enfatizar mais sua preexistencia, Ele acrescenta que não viveu somente no tempo de Abraão, mas também antes dele.

Uma última escritura que precisa ser discutida é encontrada no Apocalipse de João 3:12: “Farei do vencedor uma coluna no templo do meu Deus, de onde nunca sairá, e escreverei sobre ele o nome do meu Deus e o nome da cidade do meu Deus, a nova Jerusalém, aquela que desce dos céus, vinda do meu Deus e também o meu nome novo.”

Temos aí a expressão de uma idéia que aparece inúmeras vezes em várias escrituras orientais: uma vez que se compreende a unidade com o cosmos, o renascimento se transforma em escolha, em vez de necessidade.

Não é preciso dizer que após a morte do Mestre os debates entre os antigos papas da Igreja sobre o que constituía a ortodoxia continuaram. Como muitos dos primeiros bispos eram convertidos das assim chamadas religiões pagãs, eles traziam consigo suas crenças originais, muitas das quais incluindo o conceito do renascimento.

Em 553 d.C. o imperador Justiniano, líder de todo o Império Oriental, declarou guerra a Orígenes (185-254 d.C.) e suas crenças, inclusive a do renascimento como extensão natural à crença na preexistência da alma.

Resolvido a destruir de uma vez por todas o que considerava heresia, Justiniano anunciou a sessão não oficial do Quinto Concilio Ecumênico, mais tarde chamado de Segundo Concilio de Constantinopla, excomungando Orígenes por suas doutrinas.

Embora estivesse em Roma naquela época, o papa Vigílio seqüestrado e mantido prisioneiro de Justiniano por oito anos, recusou-se a participar deste concilio quando Justiniano não assegurou o mesmo quórum de bispos representantes do leste e do oeste.

Uma vez convocado, o concilio só incluiu 165 bispos da cristandade em sua reunião final, dos quais 159 eram da Igreja oriental, garantindo a Justiniano todos os votos de que precisava.

Quem defendesse a “ prodigiosa preexistência das almas” ou “dissesse que Cristo tinha corpos diferentes e vários nomes” era declarado proscrito, o que significava “um castigo eclesiástico formal envolvendo excomunhão.”

Em conseqüência, com exceção de umas poucas seitas heréticas como a dos cátaros e a dos albigenses, que herdaram várias crenças gnósticas sobre o renascimento, o conceito aparentemente desapareceu da cristandade por aproximadamente 14 séculos.

Pode-se atualmente ser um cristão e ainda acreditar na reencarnação? A resposta, definitivamente, é sim, diz Hans Stefun Santessan:

“Se você acredita em reencarnação, considera o homem uma entidade espiritual imortal, nascido muitas vezes em corpos físicos no decorrer de sua longa jornada evolutiva para a perfeição. Na verdade, não existe conflito com os ensinamentos originais da Igreja!

“Lembremo-nos… de que os Evangelhos que conhecemos não são os que os Pais da Igreja sabiam, ensinavam e estavam prontos a defender com suas vidas. Nossas versões ortortodoxas” do Antigo e Novo Testamento, ignorando por instantes os erros e omissões (além dos pecados) de autoridades posteriores, remontam o sexto século.” (Reincarnation, pág. 105.)

Para concluir, as palavras de James M. Pryse, que talvez sejam as que melhor definam tudo:

“Já foi mostrado que a reencarnação, não somente no caso de um homem determinado, mas como lei da vida que se aplica a todos os homens, é ensinada de maneira diferente no Novo Testamento. Discutir este ponto é negar o que os autores daquela coletânea de textos queriam dizer em linguagem inconfundível. Rejeitar a reencarnação é impugnar seus ensinamentos.”

Do livro  “Reencarnação”,
 publicado no Brasil pela Editora  Nova Era.
Tradução: Roberto Arqus

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