Carl Gustav Jung
(Kesswil, Suíça, 1875 – 6 de junho de 1961)
É, certamente, um dos mais famosos psiquiatras que a história humana registrou.
No começo de sua carreira foi um fiel discípulo Freud, de quem posteriormente divergiu, fundando uma nova escola psicológica, onde introduziu o velho conceito esotérico de inconsciente coletivo (akasha: local onde está todo o conhecimento da humanidade, onde se localizam os arquétipos herdados nos quais se reflete a evolução espiritual e social da humanidade).
Dedicou a sua vida à exploração da mente, efetuando, neste sentido, inúmeras pesquisas metapsíquicas, sem temer as opiniões ortodoxas e preconceituosas de seus colegas.
Como base de seu doutoramento usou conceitos que adquiriu durante sessões mediúnicas que organizou entre 1899 e 1900 (ele voltou ao tema, anos mais tarde, 1919, publicando um livro onde dá uma visão psicológica para os fenômenos espíritas e ocultistas).
Em 1920, utilizando os famosos médiuns R. Schneider e O. Schel, realizou experiências, controladas cientificamente, sobre fenômenos de telekinésia e ectoplasmia.
Porém, até então, todas as suas pesquisas tinham como objetivo encontrar explicações psicológicas para os fenômenos que observava. Mas, foram elas mesmas, auxiliadas pelo rigor com que as realizava e a sua mente sempre aberta para os fatos, que o levaram a perder o natural ceticismo científico pelos fenômenos “ocultos” e a considerar que havia “algo mais” envolvido em tido aquilo.
Foi assim que desenvolveu o princípio da sincronicidade, pois, acompanhando o pensamento esotérico, achou que num mundo como o nosso, regido por leis invioláveis, não há lugar para casualidades.
Jung aceitou e aderiu totalmente ao pensamento místico. Ele mandou construir, em Bollingen, uma alta torre, para expressar em pedra o ideal de seu sistema psicológico e para onde sistematicamente se retirava, com o intuito de realizar rituais mágicos. Nas paredes internas desta torre estavam gravadas mandalas e símbolos esotéricos, bem como frases alquímicas e gnósticas.
Em 1925 publicou um livro chamado “VII Sermones ad Mortuos”. Os especialistas acham que trata-se de uma obra escrita automaticamente segundo um ditado de um arquétipo ou mestre que ele chamou de Filemon.
Jung escreveu as introduções das traduções dos mais famosos livros esotéricos orientais: “I Ching”, “Livro dos Mortos do Tibet”, “O Livro da Grande Mudança”…
Sua presença e obra é fundamental para dar força e respaldo a todo estudo atual (e que se considera sério) sobre assuntos que tratam dos sentidos supra-humanos, dos fenômenos “ocultistas” e das pesquisas sobre tudo aquilo que é chamado vulgarmente de esoterismo (falta um nome melhor).
O IMAGICK recomenda que você leia o livro “Memórias, Sonhos e Reflexões”. Trata-se de uma compilação de conversas que o mestre teve com sua discípula Aniela Jaffé e onde ele conta as suas pesquisas, a sua luta, a razão básica de sua vida…
“O LIVRO VERMELHO” (trecho)
Por Carl Gustav Jung
O diabo é a soma da escuridão da natureza humana.
Aquele que vive na luz se esforça para ser a imagem de Deus; aquele que vive na escuridão se esforça para ser a imagem do diabo.
Pelo fato de eu querer viver na luz, o sol desapareceu para mim quando eu toquei as profundezas. Era escuro e aquilo parecia uma serpente.
Uni-me com aquilo e não o subjuguei. Tomei pra mim a parte da humilhação e subjugação, e assim incorporei a natureza da serpente. Se eu não tivesse me tornado com a serpente, o diabo, a quintessência de tudo que é ‘serpenticice’, teria mantido esse poder sobre mim. Isso teria dado ao diabo meu pulso e ele teria me forçado a fazer um pacto com ele, da mesma maneira como ele astuciosamente enganou Fausto. Mas me antecipei a ele me unido com a serpente, assim como um homem se une a uma mulher.
Então tirei do diabo a possibilidade da influência, que só pode passar através da própria ‘serpenticidade’ de nós mesmos, e que nós frequentemente relegamos ao diabo ao invés do próprio Mefistófeles ser Satã, tomado com minha ‘serpenticidade’. O Satã é a própria quintessência do mal, nu e por isso sem sedução, sem nem mesmo esperteza, mas pura negação sem força de convencimento. Assim eu resisti à sua influência destrutiva, peguei-o e segurei-o firme. Seus descendentes me serviram e eu os sacrifiquei com a espada.
E assim construí uma estrutura firme. Através dela ganhei estabilidade e longevidade e pude suportar as flutuações do pessoal. E então o imortal em mim está salvo. Atraindo a escuridão do meu outro mundo para dentro do dia, esvaziei meu outro mundo. Assim as exigências dos mortos desapareceram, assim que foram sendo satisfeitas.
Não sou mais ameaçado pelos mortos, desde que aceitei suas exigências e assim aceitei a serpente. Mas por causa disso também botei algo dos mortos no meu dia. Mas foi necessário, uma vez que a morte é a coisa mais duradoura de todas, aquilo que não pode nunca ser cancelado. A morte me dá durabilidade e solidez. Todo o tempo que quis satisfazer somente minhas próprias vontades, eu era pessoal e por isso vivia no senso do mundo. Mas quando reconheci as exigências dos mortos em mim e as satisfiz, entreguei meus esforços pessoais anteriores e o mundo teve que me aceitar como um homem morto. Um enorme frio vem para aqueles que no excesso de seus esforços pessoais reconheceram as exigências dos mortos e buscam satisfazê-las.
Enquanto ele se sente como se um veneno misterioso tivesse paralisado a qualidade de vida de suas relações pessoais, as vozes dos mortos permanecem silenciosas no seu outro mundo; a ameaça, o medo, e a ansiedade cessam. Tudo o que anteriormente aparecia faminto nele não mais vivia nele no seu dia. Sua vida é maravilhosa e rica, já que ele é ele mesmo. Mas aquele que sempre só quer a graça dos outros é feio, porque ele mutila a si mesmo. Um assassino é aquele que quer forçar os outros à bem-aventurança, uma vez que ele mata seu próprio crescimento. Um tolo é aquele que extermina seu amor por causa do amor. Esse é pessoal para o outro. Seu outro mundo é cinza e impessoal. Ele se força sobre os outros, e por isso é amaldiçoado a forçar ele mesmo sobre ele mesmo em um nada frio. Aquele que reconheceu as exigências dos mortos baniram sua feiúra do outro mundo. Ele não se impõe forçosamente sobre ninguém, e vive sozinho na beleza e fala com os mortos. Mas chega o dia quando as demandas dos mortos também são satisfeitas.
Se então perseveramos na solidão, a beleza se apaga para dentro do outro mundo e a terra perdida aparece nesse lado. Uma fase negra aparece depois da branca, e Paraíso e Inferno estão pra sempre lá.”