por: Rafael José Kraisch

 

De acordo com os Mestres desta tradição,
toda a Criação nada mais é que uma personificação
da Consciência e Energia Supremas, 
chamadas de Shiva e Shakti.

 

“Nada existe que não seja Shiva”[1] – dizem-nos as Escrituras desta importante filosofia espiritual indiana conhecida como Shivaismo da Caxemira, filosofia não-dualista cujo ensinamento principal é o de que a Criação[2] inteira nada mais é que Energia Consciente e que tudo o mais é esta Consciência expressa em diferentes formas e nomes.

O termo “Shivaismo” deriva de Shiva, que é o nome dado à Realidade Última – conhecida como Brahman pelo Advaita-Vedanta de Shri Shankara. Portanto, não se deve confundir este Princípio chamado de Shiva com o deus mitológico que aparece em diversos Agamas e Puranas, bem como em diversas lendas populares e até mesmo com a terceira pessoa da trindade Hindu, responsável pela dissolução do Cosmos. Não se trata aqui de uma devoção a um deus pessoal, mas à percepção da Consciência Suprema que revela-se em inúmeras formas e nomes, que é simultaneamente transcendente e imanente.

Caxemira é um estado ao noroeste da Índia, onde foram revelados os Shiva-Sutras, na qual esta filosofia se baseia. Em seus ensinamentos principais há uma completa identificação entre a tríade de Shiva, Shakti e Nara, ou Consciência, Energia e Homem[3], e desta forma o Shivaismo da Caxemira é também conhecido como Shivaismo Trika, ou simplesmente Trika, “tríade”. 

Conta a tradição que por volta do século 9 da nossa era, um grande santo conhecido como Vasugupta que vivia em Caxemira teve um sonho no qual o próprio Shiva assumiu uma forma e lhe mostrou o caminho a uma grande rocha que continha uma série de ensinamentos gravados. Estes ensinamentos passaram então a serem chamados de Shiva-Sutras, os “aforismos de Shiva”, pois são Suas instruções diretas à humanidade. Vasugupta passou estes conhecimentos adiante para seus discípulos e eles os disseminaram por toda a Índia. 

 

CONCEITO PRINCIPAL

Ao contrário de algumas filosofias espirituais que em cujos ensinamentos afirmam que a Criação é uma ilusão criada pela mente, tendo por raiz uma Maya enganadora que não possui início e é indescritível, e de outras para as quais Deus é uma entidade separada e distante de tudo o mais, o Shivaismo Trika afirma que tudo é Deus, tudo é a Perfeição Suprema manifesta. Para poder explicar esta elevada percepção e experiência espiritual, os Mestres desta filosofia, conhecidos como Siddhas, “completos” ou “perfeitos”, valeram-se de outras duas importantes correntes filosóficas: o Samkhya de Ishvara Krishna[4] e o Advaita-Vedanta de Shankara.

De acordo com a filosofia Samkhya, toda a Criação provém de uma dualidade original conhecida como Purusha e Prakriti, ou Espírito e Matéria (tanto sutil quanto física – tudo aquilo que é manifesto) e tudo é formado pela interação destas duas fontes distintas. Não há um Ser Supremo que governa tudo, mas apenas um aglomerado de Purushas onipresentes que se interpenetram umas as outras e que, de uma forma não explicada, mantêm-se completamente distintas da Natureza criada. Assim, o sistema Samkhya passou a ser considerado um sistema ateísta, pois não crê num Deus Supremo. Já o Advaita-Vedanta vai mais além de uma dualidade simplória entre Espírito e Matéria, afirmando que há um Poder Absoluto que cria e rege todas essas multiplicidades de nomes e formas. Esse Espírito Supremo é conhecido como Brahman, que é sem-atributos (nirguna), sem-forma (nirakara), sem-características (nirvishesha) e não-agente (akarta). Para Shankaracharya somente Brahman é real, e todas as diferenças e pluralidades são ilusórias:

“Brahma satya, jagan mithya, jivo brahmaiva naparau”
.
“Brahman é real, o universo é irreal, a alma individual é idêntica a Brahman.”
Shankaracharya também ensina que a Criação é apenas relativamente real (vyavaharika-satta), sendo uma superimposição sobre Brahman tal qual uma miragem de água é vista sobre um monte de areia no deserto: a água não existe realmente, mas apenas na mente de quem o vê. Brahman é eterno e imóvel e é impossível que possa se transformar em alguma outra coisa. Ele continua explicando que a origem de tudo o que existe é Maya, a “ilusão”, o seu Poder Lúdico, que é tanto real quanto irreal, e é este Poder que faz com que uma Criação passe a existir. Contudo, ainda assim, Maya é diferente do Brahman. Portanto, baseando-se nesses argumentos, os Mestres do Shivaismo Trika afirmam que há ainda uma leve dualidade no Advaita-Vedantade Shankaracharya. 

O Shivaismo Trika constrói, por outro lado, um não-dualismo puro que assume uma singular Realidade chamada de Parama-Shiva[5] (ou Shiva Absoluto) que apresenta-se com dois aspectos (mais para fins didáticos), que são Prakasha (“luz”, o princípio de auto-iluminashão, também chamado de Shiva) e Vimarsha (“experiência”, o princípio de auto-percepção, também chamado de Shakti). Ambos são reais porque não pode haver algo separado e diferente uma fez que Deus é o Todo Absoluto. O Efeito não pode ser diferente da Causa. Desta maneira, Trika reconcilia o dualismo do Samkhya de Ishvara Krishna com o não-dualismo do Advaita-Vedanta de Shankaracharya. 

 

PARAMA-SHIVA
A NATUREZA DA REALIDADE SUPREMA

Como dito anteriormente, Parama-Shiva tem dois aspectos, Prakasha e Vimarsha. Estes dois aspectos não devem ser encarados como separados, mas constituindo uma unidade tal como o fogo e sua luz, a água e sua fluidez ou dos dois lados de uma mesma moeda. Prakasha é o Princípio original de automanifestação, o puro “Eu”, enquanto que Vimarsha é a percepção e conscientização deste puro “Eu”. Na língua Portuguesa, a atuação destes dois Princípios pode ser expressa pela expressão única e total de “Eu Sou”: é Deus manifestando-se e percebendo-se plenamente. E dentro da filosofia Trika, Vimarsha é o Princípio responsável pela manifestação, sustentação e reabsorção da Criação, recebendo assim, o nome de Para-Shakti, “Poder Supremo”. Assim, a Realidade Suprema ou Parama-Shiva não é apenas a Consciência Universal que Cria e rege tudo, mas é também o Poder Supremo que se revela e existe em toda a Criação. E por esta razão é dito que Deus é ao mesmo tempo Transcendente e Imanente.

Os Mestres do Shivaismo Trika também explicam que dentre todos os infinitos poderes e atributos de Parama-Shiva apenas cinco são fundamentais para nosso estudo e compreensão:

Cit-Shakti: “Poder da Consciência Suprema”. É outro nome para Prakasha. Também é chamado de Shiva[6]; 

Ananda-Shakti: “Poder do Êxtase Supremo”. É Vimarsha já discutido anteriormente. Também é chamado de Shakti [7]; 

Iccha-Shakti: “Poder da Vontade Suprema”. É Poder de livre decisão para Criar; 

Jnana-Shakti: “Poder do Conhecimento Supremo”. É a Onisciência do Absoluto; 

Kriya-Shakti: “Poder do Ato Divino”. É a habilidade do Ser Supremo de assumir e controlar toda e qualquer forma. 

Durante o processo de Criação, o próprio Parama-Shiva, por intermédio de sua Shakti Suprema e por seu Svatantrya, “livre vontade” ou “independência”, aceita reduzir-se a níveis cada vez mais inferiores e densos de Energia. Esse processo é conhecido como Parinama, “alteração”, “transformação”, e é realizado em 36 níveis diferentes conhecidos como Tattvas, “princípios”. E nesse processo de densificação todas essas cinco Shaktis acima citadas se convertem em poderes limitados em nosso interior, nos fazendo acreditar que somos um ego transitório ao invés de aceitarmos que somos a Presença Divina em plena ação.  

 

A PERCEPÇÃO DE DEUS NO MUNDO

O que é e como é a origem da Criação? De que forma tudo passou a existir?

O Samkhya responde isso dizendo que a Criação é o resultado da interação entre Purusha e Prakriti, ou Espírito e Matéria. Contudo em seus ensinamentos não é dada nenhuma razão que explique o “por quê” desta união. No Vedanta há a aceitação de que existe um Poder Superior, um Agente Inteligente que coordene todo o processo, mas igualmente não mostra aonde nem como o impulso original surge. 

No Shivaismo Trika há uma colocação muito importante sobre o “por quê” da Criação. Deus, ou no nosso caso, Parama-Shiva, é svatantra, “auto-independente”, “livre”. A Criação é vilasa, um “jogo”, uma “brincadeira” inocente d’Ele. Compreender que tudo é um jogo, é permanecer centrado na Vontade Divina. Em êxtase transcendental, Shiva e Shakti criam infinitos universos tal como uma criança que cria seus personagens pela própria felicidade que isto lhe dá.

Esse Poder Inicial decorrente de Sua svatantrya recebe o termo técnico dentro do Shivaismo Trika de Spanda, “vibração” “pulsação”. Os físicos de hoje já aceitam, por meio de suas descobertas científicas, que tudo o que há no Universo é vibração, porém, vibrando em diferentes níveis de freqüência, explicando que o que difere uma música de uma pedra são apenas os níveis vibratórios diferentes em que se encontram. Porém, o que muitos físicos ainda não entenderam é que esta Energia Onipresente que vibra em todas as coisas, é, além de Poder Infinito, também Consciência ou Inteligência Infinita. E isto se aproxima do que chamamos de Shakti, o Poder de Ação do Absoluto. Quando o Supremo resolve Criar, é Seu Poder, conhecido como Shakti, que se manifesta, então, em infinitas formas, aparecendo como diferentes Universos, deuses, homens, plantas, animais e tudo o que existe, dentro e fora de nós. E assim, o sistema Trika continua ensinando que Deus é ao mesmo tempo Transcendente e Imanente, pois tal como a chama de uma vela acende outra sem ser diminuída, o Absoluto mantém seu aspecto Puro e Imutável além de toda a Criação, enquanto que é Isto que se revela em todas as coisas, nomes e formas, pois o efeito não pode ser diferente de sua causa, ou, em outras palavras, o efeito não pode existir separado ou independente de sua causa. 

Um Mestre Siddha de nossos tempos, Swami Muktananda Paramahaàsa, descrevendo sua própria experiência ensinou: “O aspecto funcional de Citi[8], os raios da Luz da Consciência, estão presentes em todas as direções, em todo lugar… Para-Shiva[9] é a alma do Universo – supremamente puro, completamente cheio, o Ser consciente… Não existe nada separado de Shiva. Não existe outro além de Shiva. Tudo o que existe é Shiva. Estar ciente de Para-Shiva é ser destemido e livre no Ser. Não existe nada que não seja Shiva; não há lugar que não seja Shiva; não existe tempo que não seja Shiva; não há estado que não seja Shiva. Nem um simples pensamento pode surgir separado de Shiva. Estar ciente disso é estar ciente de Shiva. Aqui, lá, para tudo o que você olha, tudo o que você pensa, é Shiva…”. 

 

VOLTANDO PARA CASA – A LIBERTAÇÃO

Do ponto de vista da Realidade Suprema, não há nenhuma limitação ou imperfeição. Contudo, vimos que Deus, por livre vontade ou svatantrya, assume em Si próprio, limitações diversas, condensando e dissimulando Sua energia pura e perfeita, “quebrando” sua Unidade Suprema em inúmeras formas e nomes, gerando a consciência da dualidade, que afirma que somos seres separados, limitados e que, de uma forma ou outra, nos faz pensar que Deus está em algum lugar distante e separado de nós. Contudo, esse é seu vilasa, Seu passa-tempo. Ele reduz Sua Consciência Divina somente para ter que novamente reencontrá-la. Este processo de contração e expansão da Consciência Suprema é comparado ao piscar de olhos do Supremo, que é nimesha (fechar) e unmesha (abrir). Nimesha é o recolhimento da Consciência Divina e unmesha é a expansão para sua condição original. Ambos estes estados estão contidos em Shiva simultaneamente.

Contudo, como se desenvolve este processo de Contração? Isto é feito por intermédio de Sua Shakti, Seu Poder Supremo, que se manifesta como Maya, “magia”[10]. Por meio desta Maya, o Poder e Inteligência Infinitos são reduzidos a meras frações, surgindo o ser individual, a alma limitada, presa ao karma, à dualidade e às leis materiais. Deve-se saber que, para o Trika, ignorância não significa falta de conhecimento, mas conhecimento limitado ou incompleto, pois conhecimento é um atributo da consciência. A questão é, como desenvolver o conhecimento correto e a purificação de todos os aglomerados mentais adquiridos na jornada de evolução de volta à Pureza original.

De acordo com o sistema Trika há três meios pelos quais uma alma limitada, ou jiva, pode alcançar Moksha, a “libertação” espiritual, que no Shivaismo Trika, é sinônimo de completa perfeição espiritual, beatitude ininterrupta, amor absoluto e percepção contínua da unidade entre todas as coisas e Shiva. Para um ser liberado, um Siddha, toda a Criação é o pulsar da Consciência Divina. Para onde quer que olhe, vê apenas Shiva. Os sábios contam que até mesmo a conversa mais casual de um ser assim, produz mais benefícios do que as palavras dos Vedas e são mais poderosas que qualquer mantra, pois provêm diretamente da fonte mais íntima: o Ser interior. Para ele, a experiência de unidade com Deus não é mais sentida apenas na meditação silenciosa com os olhos fechados, mas também em suas atividades diárias, enquanto é um chefe de família, professor ou aluno. A antiga experiência de Papo’ham deho’ham, “sou pecador, sou um corpo limitado” foi definitivamente substituída por Purno’ham Shivo’ham, “sou perfeito, sou Shiva”.

Estes três caminhos ou upayas são aparentemente divididos porque referem-se a níveis diferentes de preparação espiritual de cada praticante. O primeiro e mais elevado é shambhavopaya. O segundo, para praticantes de nível médio é shaktopaya. O terceiro, tido como inferior, é anavopaya. 

Anavopaya é o início da jornada, indicado para aqueles que ainda têm um forte desejo pelos prazeres mundanos ou são fortemente ligados à ilusão de dualidade. Aqui incluem-se a grande maioria das práticas espirituais conhecidas, como controle da respiração, focalização em determinadas áreas do corpo ou em determinados objetos, contemplações diversas, vocalização de mantras e textos, rituais, adoração de ídolos, e afins. Tem como finalidade preparar o corpo e purificar a mente para os níveis mais avançados. Aqui desenvolve-se o amor a Deus e nutre-se o anseio pela realização espiritual. Com o passar da prática, o aspirante já está mais livre de seus sentimentos e desejos inferiores e passa a ter uma clara percepção de que Deus realmente habita o seu interior. Práticas como rituais e adoração de ídolos, embora não sejam desvalorizadas, são postas de lado e passa-se a compreender que o verdadeiro ídolo a ser adorado habita em seu coração e que estudos de livros e até mesmo das escrituras servem apenas para indicar, mas não para dar a experiência. Então, o aspirante passa para o segundo nível, que é Shaktopaya.

Neste nível, indicado para praticantes de nível médio, a atividade mental é o principal fator. Deve-se meditar e contemplar idéias como “eu sou Shiva”, “tudo é Shiva”, etc., pelo qual o praticante adquire firmeza mental e clareza para compreender sua Identidade verdadeira. Durante suas práticas tais como japa ou adoração mental, deve-se ter em mente que na Realidade não há diferença entre aquele que adora e aquele que é adorado, bem como o próprio ritual da adoração, pois tudo é Shiva. Gradualmente o senso de dualidade do buscador vai sendo vencido e passa então a entrar num sentimento maior de Unidade com Shiva, subindo então para o terceiro e mais elevado caminho, chamado de SHambhavopaya, que é somente para os aspirantes mais adiantados. Este termo refere-se a Shambhu, que é outro nome para Shiva e significa “benevolente”, “prazeroso”. Este é o nível no qual o aspirante não usa técnicas tidas como inferiores e dualistas, como visualizações, mantras, praëayamas, etc. Não que estas técnicas não sejam boas, mas que neste nível a mente do praticante deve ser tão pura que permaneça apenas consciente de Sua natureza mais íntima, além de pensamentos, no estado de nirvikalpa (sem formas). Este caminho envolve a prática de manter a constante consciência de que o universo nada mais é que Shiva. Deve haver apenas a consciência do puro Eu que está em todas as coisas, num estado de mente completamente serena mas ativa, seja em silêncio ou durante as atividades rotineiras do mundo. Neste estágio, o praticante já é quase considerado um ser liberado.

E finalmente, quando a mente e o espírito deste praticante estão completamente limpos, surge um quarto caminho, tido como secreto e que é chamado de anupaya. Em essência, este não é mais um caminho, pois como o próprio nome indica ele é “isento de meios” (o prefixo an indica negação). Quando a alma deste praticante alcança anupaya, ele já está completamente liberto, sem karmas, completamente livre da dualidade e de todo o mal que isto cria. Aqui ele reconhece que toda a Criação é permeada pela Sua Consciência. Este é o estado dos liberados em Deus, preenchidos com a realização de que nunca foram ignorantes e inexplicavelmente nunca foram liberados. Eles sabem que nada foi abandonado e nada foi ganho. Tudo o que há para se dizer é que são Shiva e a Criação é seu próprio parque de diversões. 

 

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NOTAS
[1] “Na shivam vidyate kvacit” – Svacchanda Tantra.
[2] Por Criação ou Natureza quer-se dizer tudo aquilo que é manifestado, desde o nosso nível ou plano tridimensional em que vivemos até aqueles em que estamos habituados a chamar de “sutis” ou “espirituais”, como os planos demoníacos, os planos dos antepassados bem como os dos deuses e almas elevadas, incluindo o nível do deus Brahma, o Criador (não confundir com Brahman, o Absoluto). Todas as almas que estão em qualquer um desses níveis ainda estão presas ao ciclo migratório da reencarnação (como o próprio Brahmä). Somente os seres que alcançaram a Perfeição Espiritual conhecida como Moksha estão livres e situam-se, por falta de outra palavra, no “centro” de Brahman.
[3] No sentido “alma e matéria”.
[4] Não confundir com o Deus Krishna da Bhagavad-Gita.
[5] Parama-Shiva é indicado como masculino, porém a Realidade Suprema não é nem masculina ou feminina, estando além das dualidades.
[6] Não se refere à deidade e sim a um Princípio.
[7] Não se refere à deidade e sim a um Princípio.
[8] Um outro nome para Shakti. 
[9] O mesmo que Parama-Shiva.
[10] Uma das traduções para Maya é “magia”. A intenção é mostrar que Shiva é o mágico e Maya é seu ato divino de ludibriar e esconder. Embora utilizem o mesmo termo, o significado dado pelo Shivaismo Trika é muito diferente do utilizado pelo Advaita Vedanta, pois para este último, Maya é considerada simultaneamente idêntica e separada do Absoluto, ou estando dentro e fora do Absoluto. Ela é irreal, não possuindo base em si mesma. Para o Vedanta, o mundo é Maya, uma ilusão, uma mentira. A Criação é na verdade uma miragem. Por outro lado, o Trika não aceita este ponto de vista, pois não pode haver um Ser Absoluto e algo que está separado Dele e é irreal. Neste sentido, Maya torna-se apenas um agente limitador de percepção, pois a Criação é Real e idêntica a Shiva, sendo Maya apenas a falta desta percepção. Não pode haver efeito separado de sua causa.
 

Rafael José Kraisch 
é professor de Ashtanga Vinyasa 
em Joinville, Santa Catarina.
www.yogabhumi.pro.br