“Os mayas acreditavam que o ser humano encarna repetidas vezes, em vidas e corpos distintos, em tempos e lugares diferentes. Que é um ser espiritual vivendo a experiência humana. A vida existe para que o homem viva mais experiências, mais possibilidades de ser e sentir. Algumas existências são afortunadas, para aprender a administrar a abundância. Outras, difíceis, para experimentar a escassez e a pobreza. E, assim, entender que a vida em si é o que importa.
Os mayas consideravam tudo o que existe como outra parte de si mesmo. Este é o seu conceito mais importante. Ao sentir que, como único ser vivo UNO com tudo o que foi criado ao seu redor, o Espírito produz um estado de sensibilidade em relação a tudo, um respeito e um cuidado que só pode conduzir ao bem comum. Isto aumenta a intuição, facilita a conexão telepática de uns com os outros, e aparição da Mente Coletiva e a harmonia, que é o propósito do Universo com as mudanças que se avizinham.
O ser humano pode facilitar o processo de mudança e renovação, que começamos a viver. Pode diminuir o seu impacto e evitar os acontecimentos de destruição, desde que veja e sinta tudo o que vive ao seu redor, como parte de si mesmo.
Para os mayas, Hunab-Ku, é um organismo gigantesco, a enorme Mente que contém todos os seres humanos, e onde tudo vive. Onde tudo está conectado e é parte integral de cada um. Hunab-Ku é a Fonte da energia e informação total do Universo. Ouve e transmite a informação que coordena tudo, irradiando eternamente desde o Centro da galáxia, como o coração que, ao palpitar, coordena todo o corpo humano.
Acreditavam que Hunab-Ku se manifesta em forma de onda: ondas de informação, ondas de luz, de energia, ondas de som, de pensamento, ondas de Amor. Acreditavam que este Ser Vivo, que contém tudo, estava crescendo, desdobrando-se e, ao fazer isso, dava nascimento a sóis, a estrelas, a planetas, a seres vivos que sentem e pensam. Que homens, mulheres e crianças, são nem mais nem menos que seres de luz, estrelas, futuros sóis. Seres vivos em escalas distintas, uns maiores, outros menores. Uns contém os outros e estes contêm outros ainda menores, e assim sucessivamente. Todos seres vivos e conectados entre si.
O homem maya se sincronizava em diferentes escalas com os ciclos da natureza. Assim ele aproveitava o Sol para aumentar sua energia vital, e produzir estados de unidade de consciência. A primeira escala é muito íntima e próxima. É sentida como o pulsar do coração, que muda de ritmo, dependendo de quando estamos acordados ou dormindo. A quantidade de energia que recebemos do Sol produz o ciclo básico do ser humano. Durante o dia, recebemos diretamente em abundância. À noite nos chega muito pouca, só a que é refletida pela Lua.
A palavra maya para dia é kin. Era sua unidade de medida básica para o passar do tempo: a ela se referia todas as demais unidades de medida. Descobriram que um número e um dia são a mesma coisa; representa a unidade básica de medida relativa ao Sol, o kin, o dia. Os mayas viram também que, dependendo da energia que se recebe do Sol, cada dia era diferente dos demais. A energia se move de maneira diferente; produz uma sensação distinta: distintos estados de ânimo, distintos estados de mente e do espírito.
O que diferencia fundamentalmente um dia dos outros, é a localização do Sol e da Lua. E a quantidade de energia que enviam para a Terra, produz uma frequência de vibração e distintos acontecimentos naturais. Desse modo, cada kin, cada dia, soa de modo distinto, convertendo-se na base de uma canção, que produz todo o Universo. Quando o ser humano percebe essa melodia, ele se sincroniza com ela, com tudo o que existe e encontra sua felicidade.
Os vinte nomes mayas dos dias são vibrações diferentes que se repetem em infinitos ciclos. É a primeira harmonia produzida pelos dias, quando a Terra se move ao redor do Sol (*); e a harmonia que a comunidade escuta, quando sente o ritmo da Terra”.
(*) Nota: Lembra a alegoria hindu de Shiva Nataraja, ‘O Senhor da Dança Cósmica’. Na sua destra tem um pequeno tambor na forma de ampulheta, com que marca o ritmo do tempo, morte e renascimento; o tique do tempo exclui o conhecimento da eternidade. “Mas na outra mão uma chama queima o véu do tempo e abre nossas mentes para a eternidade”…
O Poder do Mito’, p.236. Joseph Campbell.Edit.Palas Athena