Florbela d’Alma da Conceição EspancaPoetisa Portuguesa
Nasceu: Alentejo Portugal, no dia 8 de dezembro de 1894
Faleceu: Matozinhos, Portugal, no dia 8 de dezembro de 1930
Florbela Espanca foi uma poetisa portuguesa, autora de sonetos e contos importantes na literatura de Portugal.
Foi também uma das primeiras feministas de Portugal. Sua poesia é conhecida por um estilo peculiar, com forte teor emocional, onde o sofrimento, a solidão, e o desencanto estão aliados ao desejo de ser feliz.
Florbela Espanca nasceu na vila de Viçosa, Alentejo Portugal, no dia 8 de dezembro de 1894. Filha de Antónia da Conceição Lobo, que faleceu em 1908.
Florbela é então educada pela madrasta Mariana e pelo pai, João Maria, que só a reconheceu como filha depois de sua morte. Estudou no Liceu, em Évora, concluindo o curso de Letras.
Colaborou no jornal Notícias de Évora e juntamente com Irene Lisboa (1892 – 1958) foi precursora do movimento de emancipação feminina português. Apesar da rigidez católica e das leis de Portugal, foi casada duas vezes e sua obra possui um acento erótico incomum aos padrões precedentes à emancipação feminina lusitana.
Realizou seus estudos de Letras em Évora até 1917 e em 1919 matriculou-se na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa.
Temperamento nostálgico e infinitamente triste, pelo resto da vida suportou a dor da morte do irmão, Apeles Demóstenes da Rocha Espanca, ocorrida em junho de 1927 num acidente aéreo, quando ela então começou a consumir estupefacientes.
Seu primeiro poema é escrito em 1903 “A Vida e a Morte”. Atuou como jornalista na publicação Modas & Bordados e na Voz Pública, um jornal de Évora.
Em 1913, casa-se com Alberto Moutinho, seu colega de escola. Nessa época conheceu outros poetas e participou de um grupo de mulheres escritoras. Em 1917, Florbela foi a primeira mulher a ingressar no curso de Direito da Universidade de Lisboa.
Em 1919, lançou “Livro de Mágoas”. Parte de sua inspiração veio de sua vida tumultuada, inquieta e sofrida pela rejeição do pai.
Nessa época começa a apresentar um desequilíbrio emocional. Sofre um aborto espontâneo, que a deixa doente por um longo período.
Em 1921, divorcia-se de Alberto e casa-se com o oficial de artilharia António Guimarães.
Em 1923 publica “Livro de Sóror Saudade”. Nesse mesmo ano, sofre novo aborto e separa-se do marido.
Em 1925, casa-se com o médico Mário Laje, em Matosinhos.
Em 1927, sua vida é marcada pela morte do irmão, em um acidente de avião, fato que a levou a tentar o suicídio. A morte precoce do irmão lhe inspirou a escrever “As Máscaras do Destino”.
Após uma sucessão de crises depressivas por diversas razões (matrimônios fracassados, morte do irmão, saúde frágil) passou a ficar cada vez mais dependente de Veronal, droga que tomava para dormir. Apeles, o irmão com quem mantinha uma relação quase incestuosa, morrera há três anos e a insônia a abatia ainda mais.
Ao completar 35 anos, na noite de seu aniversário não suportou mais e se suicidou às vésperas da publicação de sua obra prima “Charneca em Flor”, que só foi publicada em janeiro de 1931.
Ela já havia tentado o suicídio duas vezes poucos meses antes de lançar o seu Charneca em flor. O meio que encontrou para a morte ainda tem sido debatido entre seus biógrafos. Há quem ateste overdose de barbitúricos, outros que deixou-se morrer pelo edema pulmonar que a acometia; o certo é que pediu para não ser incomodada em seu quarto até o dia seguinte, quando foi encontrada morta.
Pouco antes de falecer, Florbela disse a sua amiga de infância (Milburges Ferreira): “Se passar do dia dos meus anos, morrerei de velha”. Talvez o anúncio de que resolveria por fim aos seus sofrimentos ainda naquela noite.
Postumamente, foram publicados sua correspondência e os livros de contos As máscaras do destino e Dominó.
Outras obras póstumas foram: “Charneca em Flor” (1931), “Juvenília” (1931), “Reliquiae” (1934), “O Dominó Preto” (1983), “Cartas de Florbela Espanca” (1949).
A poesia de Florbela Espanca é caracterizada por um forte teor confessional. A poetisa não se sentia atraída por causas sociais, preferindo exprimir em seus poemas os acontecimentos que diziam respeito à sua condição sentimental.
Não fez parte de nenhum movimento literário, embora seu estilo lembrasse muito os poetas românticos.
Florbela Espanca morreu em Matozinhos, Portugal, no dia 8 de dezembro de 1930.
VAIDADE
Sonho que sou a Poetisa eleita,
Aquela que diz tudo e tudo sabe,
Que tem a inspiração pura e perfeita,
Que reúne num verso a imensidade!
Sonho que um verso meu tem claridade
Para encher todo o mundo! E que deleita
Mesmo aqueles que morrem de saudade!
Mesmo os de alma profunda e insatisfeita!
Sonho que sou Alguém cá neste mundo…
Aquela de saber vasto e profundo,
Aos pés de quem a Terra anda curvada!
E quando mais no céu eu vou sonhando,
E quando mais no alto ando voando,
Acordo do meu sonho…E não sou nada!…
Florbela Espanca
FANATISMO
Minh’alma, de sonhar-te, anda perdida
Meus olhos andam cegos de te ver!
Não és sequer razão de meu viver,
Pois que tu és já toda a minha vida!
Não vejo nada assim enlouquecida…
Passo no mundo, meu Amor, a ler
No misterioso livro do teu ser
A mesma história tantas vezes lida!
Tudo no mundo é frágil, tudo passa…
Quando me dizem isto, toda a graça
Duma boca divina fala em mim!
E, olhos postos em ti, vivo de rastros:
“Ah! Podem voar mundos, morrer astros,
Que tu és como Deus: princípio e fim!…”
(Livro de Soror Saudade, 1923)
Florbela Espanca
SER POETA
Ser poeta é ser mais alto, é ser maior
Do que os homens! Morder como quem beija!
É ser mendigo e dar como quem seja
Rei do Reino de Aquém e de Além Dor!
É ter de mil desejos o esplendor
E não saber sequer que se deseja!
É ter cá dentro um astro que flameja,
É ter garras e asas de condor!
É ter fome, é ter sede de Infinito!
Por elmo, as manhãs de oiro e de cetim…
É condensar o mundo num só grito!
E é amar-te, assim perdidamente…
É seres alma, e sangue, e vida em mim
E dizê-lo cantando a toda a gente!
Florbela Espanca
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