As várias faces do amor.

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O ser humano experimenta, basicamente, três formas de amor, 
identificadas pelos antigos gregos como
eros, que esta centrado na dependência dos parceiros; 
filos, que se baseia na segurança; 
e ágape, o amor incondicional.

Por Mary Elizabeth Marloiw
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Quando somos bebês e estamos nos braços de nossa mãe, parece que esses braços pertencem a nós, não a ela. Para a criança, a mãe é uma extensão de seu próprio corpo. No útero, é essa a nossa experiência, e assim, muito naturalmente, durante o primeiro ou os dois primeiros anos de vida, exigimos, pedimos e esperamos que nossa mãe responda automaticamente a todas as nossas necessidades, como se fossem as dela. Ela sente o nosso medo, o nosso desconforto, a nossa raiva, o nosso sofrimento.

À medida que a criança cresce, ela luta para manter o controle do que considera ser seu. Utiliza-se de várias maneiras para manter o controle: choro, raiva, força física. Tudo isso é um esforço determinado para fazer com que a mãe se comporte como uma extensão da própria criança.
 

Nosso primeiro relacionamento é uma relação de concordância com o outro. Não sabemos nada sobre separação, não temos nenhuma ideia do que seja o “eu” separado da mãe. Assim, à medida que nossa experiência se desenvolve, o resultado é a separação. Muito cedo, percebemos o inevitável: “Eu sou eu, você é você, e nossas necessidades são diferentes.” Sem dúvida alguma, nossas necessidades como indivíduos vão se chocar num determinado ponto. E cada um de nós vai considerar necessário trabalhar arduamente para satisfazê-las, mesmo em detrimento de outras pessoas. Por isso, devido à necessidade de nos proteger e defender, criaremos uma barreira para o ego. Para isso, empregaremos a independência, a personalidade, o aspecto positivo e até mesmo a agressividade.

A ânsia de conhecer a nós mesmos como pessoas separadas continua à medida que crescemos, na adolescência. Nessa idade, tornamo-nos conscientes de nós mesmos como unidades distintas, separadas e apartadas de nossos pais. Reconhecemos que temos direitos sobre nós, incluindo o direito de nos expressar. Na maioria dos casos, a barreira do ego é muito bem estabelecida nesse período. O “garoto valentão”, o “Sr. Legal” e a garotinha sarcástica, “metidinha”, que você vê andando pelos corredores das escolas de ensino secundário são todos expressões desse instrumento precisamente projetado, criado para lidar com o relacionamento com os outros.

As barreiras do ego não são honestas. Elas não refletem o nosso verdadeiro eu. Em vez disso, expressam imagens que, acreditamos, vão garantir a aceitação por pane dos outros, vão atrair as pessoas para nós ou fazer com que elas nos admirem e queiram ser como nós. Desenvolvemos um conjunto de “jogos” que não são verdadeiros, mas que serve a nossos objetivos.

Então, eros nos fisga. Eros, “o deus de olhos vendados”, atinge-nos com sua flecha, e aquela flecha penetra através de todas as barreiras do ego e de mecanismos de defesa que criamos com tanto cuidado. Somos atingidos. Caímos “apaixonados”.
 

Isso se dá, surpreendentemente, de repente, razão pela qual nos referimos a isso como uma queda. Raramente, ou nunca, trata-se de uma escolha. Para nós, é como cair de um penhasco. Quase todas às vezes somos vítimas da experiência. Os relacionamentos eros acontecem ao acaso, geralmente com uma pessoa do sexo oposto, frequentemente sem relação com razão ou lógica.

Os relacionamentos de eros são intensos, física e emocionalmente. O amor de eros percorre os hormônios, as glândulas e os órgãos, afetando as emoções em formas excêntricas. Esse tipo de amor manipula campos áuricos, elétricos e magnéticos, às vezes resultando em sentimentos, pensamentos e atitudes até então desconhecidos. Chamamos a experiência de “amor” quando, na verdade, não tem nada que ver com amor em seu sentido verdadeiro ou ágape.

Tipicamente não “nos apaixonamos” realmente pela pessoa, mas por quem queremos que ela seja. O amor de eros tende a ser fictício. Projetamos e fantasiamos nossas expectativas com relação a nosso parceiro. Projetamos nossa própria masculinidade reprimida (ou, no caso de um homem, a feminilidade) no outro, e “amamos” aquela pessoa porque achamos que ela tem algo que não temos. Achamos que ela tem uma qualidade que somos incapazes de expressar; desse modo, queremos essa pessoa porque ela tem aquilo de que precisamos. Chegamos ao ponto de dizer: “Eu preciso de você; conseqüentemente, eu o amo.”

Mais tarde, acontece o inevitável. Começamos a perceber que as qualidades imaginadas nunca existiram. Começamos a ver o parceiro como ele realmente é, não mais como queremos que seja. O amor diminui gradualmente, e a experiência se torna dolorosa. Dói “desapaixonar-se”.
 

Não conseguimos aceitar nosso parceiro como ele é e não nos vemos como seres que podem ser aceitos. Não somos completos ainda, por isso procuramos por alguém que nos complete, que preencha os espaços vazios. Nos relacionamentos eros, atraímos parceiros que têm o que falta em nós. E, quando encontramos a peça que faltava, achamos que ela forma uma dupla!

As pessoas se apaixonam por causa da correspondência de vulnerabilidades e inseguranças, não por causa da correspondência de forças. Eros é extremamente poderoso. As barreiras do ego que mantínhamos de forma tão eficiente vêm abaixo e “nos apaixonamos”, apesar de não querermos ou pretendermos isso! Somos absolutamente impotentes.

Nesse tipo de paixão, a intensidade de eros é sempre temporária. É a mesma experiência feliz que se dá na infância com nossa mãe, representada novamente, a os resultados são os mesmos. Chega o momento em que acaba a lua-de-mel. Os problemas têm início quando, dolorosamente, começamos a reconhecer no nosso parceiro características que não são exatamente o que pensávamos. As defesas se erguem novamente à medida que os dois amantes começam, gradualmente, a reaprender que são pessoas diferentes, com identidades diferentes.

Às vezes, rapidamente saímos do relacionamento que fracassou e, como remédio, procuramos outra pessoa por quem nos apaixonar. Acalentamos a ideia de apaixonar-nos e viver felizes

Ou ainda você pode querer sentir-se culpado com relação aos seus sentimentos. A culpa é algo que criamos para evitar tomarmos uma decisão. Uma das dificuldades com o amor de eros é que fomos programados para pensar que sentimento e carinho profundos com relação a um membro do sexo oposto significa que temos de expressar aqueles sentimentos sendo íntimos fisicamente. Intimidade é um sentimento tão raro que, quando a alcançamos, não sabemos o que fazer com ela – exceto ir para a cama!
 

Quando um relacionamento é expresso sexualmente, a natureza dele muda de maneira automática. Não quer dizer que é melhor ou pior, mas mudam as coisas. Às vezes, não estamos dispostos a nos responsabilizar pelas nossas ações e protestamos pelo fato de as coisas “terem acontecido”. Essa é uma resposta conveniente e não é honesta. É importante estarmos cientes das conseqüências de nossos envolvimentos e discutir abertamente por que queremos aquele tipo de intimidade, quais são nossas expectativas e o que esse tipo de troca significa para nós. É melhor fazer tudo isso antes de qualquer envolvimento.

E sempre existem outras opções. Você pode lidar com a atração, à medida que questiona o tipo de energia que está exteriorizando e que explora a ligação entre você e a outra pessoa. Que parte de si mesmo é avivada na outra pessoa? Tome a decisão de desenvolver essa parte sem depender de ninguém para estimular esses sentimentos. Entenda a dinâmica da atração a veja a possibilidade de vocês serem apenas amigos. Essas atrações nos dão novas oportunidades de explorar o nosso eu!

Filos – Depois do caos inicial da atração de eros, um relacionamento que muda de forma e se torna um relacionamento de compromisso pode cair na monotonia e continuar no “piloto automático”. Em vez de separação, divórcio ou relações clandestinas, os dois parceiros se decidem por um relacionamento certo, seguro – e previsível. Isso define nosso amor como filos.

Filos que dizer: passamos pelo estágio da lua-de-mel e nos tornamos mais realistas no que diz respeito ao outro. Já nos “desapaixonamos” e começamos a nos reconhecer como indivíduos novamente. Começamos a reconhecer os valores do outro e nos comprometemos a partilhar a vida.
 

O amante do tipo filos sabe que é um ser separado da coisa que ama. A ênfase num relacionamento do tipo filos é geralmente material. A atenção está no próximo carro, numa casa maior, num emprego melhor, nos clubes mais agradáveis. O estilo de vida é importante. E o estilo de vida que conta é o que é considerado adequado e aceito pela norma. Isso implica algumas pressões e aceitação da família, da igreja, da sociedade, dos nossos.

O amor de filos é o tipo de amor que uma pessoa tem por um carro, por uma carreira ou por qualquer coisa pela qual ela tenha interesse, mas com a qual ela não se identifica, na medida em que quebra as barreiras do ego.

Num esforço para manter esse estilo de vida, frequentemente as partes mais profundas do eu são suprimidas ou negadas. Os sentimentos e pensamentos mais profundos são sacrificados. Se lida com as questões, mas num nível superficial. “Vamos manter tudo agradável, com flores, e fingir que tudo está bem.”

Frequentemente, há um comportamento passivo agressivo subjacente, enquanto na superfície há a tentativa de passar mecanicamente pelas emoções. Geralmente, há respeito e verdadeira compreensão, embora não haja um conhecimento profundo do outro. Com frequência, os parceiros vivem como estranhos, partilhando um espaço comum.

Às vezes, há um sentimento de resignação, ressentimento e tédio nos relacionamentos filos. Vocês falam, mas nunca conversam, olham um para o outro, mas não se veem. Frequentemente, você pode observar filos em ação em restaurantes, onde o casal fica de frente um para o outro, à mesa, e conversa muito pouco ou nada, simplesmente fazendo a refeição junto, passando o tempo. Mil pensamentos podem passar pela cabeça:
“Poderia ter sido diferente…”
“Se ele fosse diferente,”
“Se eu não tivesse renunciado à minha carreira,”
“Se nós não tivéssemos tido filhos tão cedo…”
 

Há o sonho do “que poderia ter sido” em sua mente, acompanhado de sentimentos de amargura ou culpa com relação ao parceiro dela, por não ser o homem que ela acreditava que fosse quando se casaram.
Geralmente, o que está faltando no relacionamento não é uma disposição para mudar ou para ser aberto, mas saber como fazer isso. O que se aceita é muito menos do que se poderia ter.

Às vexes, as razões para se manter um relacionamento são baseadas na necessidade. Precisamos manter a aprovação da família, da comunidade, da igreja, etc. Mesmo que o relacionamento possa não ser totalmente satisfatório, satisfaz em muitos níveis e talvez seja melhor do que ficar sozinho.

Por outro lado, um relacionamento filos pode ser vivido de formas diferentes. O compromisso de um relacionamento pode vir da firmeza. Pode haver uma firme determinação de fazer o melhor possível para manter a família unida e para proporcionar um ambiente familiar seguro a estável.

Uma vez firmado esse compromisso, não há necessidade de se concentrar no que está “errado” com a outra pessoa; basta tomar a decisão para operar a mudança positiva dentro de si mesmo. Dessa maneira, aprendemos a nos tornar responsáveis pela nossa própria felicidade, não fazendo com que os outros sejam responsáveis por nós. Sabemos que nossa decisão de estar com nosso parceiro é uma escolha. Sempre há poder na escolha.
 

Ágape não é algo que nos “acontece”. É escolher amar, é uma decisão que tomamos com relação a uma pessoa, a várias pessoas ou a uma situação. Não é o fenômeno de se apaixonar, encontrado em eros, nem resignação com respeito a uma situação que acreditamos ser insatisfatória e imutável, como em filos. Ágape é amor incondicional, a forma mais rara de amar.

Ágape é maravilhosamente expresso na história bíblica de Rute, quando ela diz à sua sogra viúva e sem lar: ” Para onde tu, fores, irei também eu. O teu Deus será o meu Deus.”

Nós o encontramos novamente no amor de Davi a Jônatas. Os dois homens estavam dispostos a desafiar seu rei (e pai de Jônatas) pelo amor e para proteger um ao outro. Ágape ecoa na poesia de Safo, que escreveu versos apaixonados sobre a amizade pelas meninas de sua escola. Vemos ágape entre irmãs que partilham suas experiências e se dão umas às outras. Esse amor é evidenciado na devoção da mãe pelo filho e no animal que renuncia à sua vida em favor de seu dono.

Esse amor é demonstrado quando alguém renuncia aos próprios interesses em consideração ao ser amado. É voltar se para os outros.

Voltarmo-nos para os outros significa estarmos dispostos a fazer coisas que não são necessariamente de nosso interesse pessoal. Significa cuidar e fazer mais do que foi pedido, não porque temos de agir assim, mas porque escolhemos agir assim, mesmo quando é inconveniente. Um aspecto importante para se observar: no amor ágape, o ato de dar não é visto como sacrifício, mas como uma escolha voluntária do coração. Esse nível de amor só pode se manifestar quando aquele que dá conhece e ama a si mesmo; desse modo, não dá amor para receber.

Num relacionamento, o amor de ágape diz respeito a duas pessoas íntegras que ficam lado a lado, partilhando um ideal comum. O amor, então, se expande a pode atingir muitas outras pessoas.
 

Vem me em mente um casal, em particular, como exemplo de relacionamento de amor ágape. Durante muitos anos, a mulher cuidou da família enquanto o marido seguia sua carreira como oficial nas forças armadas de seu país. Quando ele se aposentou, ela começou sua carreira como médica. Desde que se aposentou como militar, ele a ajuda a organizar sua ocupada agenda de trabalho e de professora. Os dois trabalham como um time, ajudando, juntos, as pessoas. Seu amor não é exclusivo, mas seu relacionamento é único. Os dois se tornam um por meio de ideais a objetivos comuns.

Quando nos elevamos para uma experiência de amor do tipo ágape com outra pessoa, somos capazes de partilhar a vida em condições de igualdade. “Os dois se tornam um” não quer dizer que criamos uma proteção à nossa volta para manter as outras pessoas do lado de fora. Ao contrário, criamos uma aventura de cooperação e de apoio mútuo ao expressar e explorar o amor ilimitado.

 

Do Livro: Você é Aquilo que Você Pensa
de James Allen e Ricardo S. Marques
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