imageA35Bárbara Ivanova nos deixou com saudades de seu bom coração, sua honestidade, seu empenho em nos servir e, principalmente, de sua falta de medo de possíveis consequências políticas. Nós a vimos pela última vez, certa tarde, quando tomamos chá juntos no Hotel Metrópole. Ela continuava sua vida de cigana, andava pelo interior onde dava palestras, ensinava e treinava os que se interessam no desenvolvimento de faculdades de cura.

“Estará em perigo?”, perguntamos a Adamenko. “Até certo ponto”, disse ele, “mas é pouco provável que lhe façam algo, devido a seu grande prestígio e à admiração que muitos cientistas de destaque e poderosos editores de jornais nutrem por ela.” E, prosseguiu, “respeitamos Ivanova. É uma fanática, mas que cientista não o é? Tem seus altos a baixos, mas sua contribuição à parapsicologia russa é o que importa, e é enorme”.

O que ela deve ter pensado de nossa reunião? Acreditamos não ser exagero dizer que se assemelhou a uma reunião de seres de outros planetas. Nos encontros anteriores notamos o que Adamenko sentia e percebemos uma certa tristeza nos olhares de Vinogradova, Sergeyev e Kirlian – um desejo velado. Mas eles mostravam, também, a satisfação de terem esbarrado, ainda que de leve, num outro mundo. Ivanova, contudo, foi diferente. Não deixou que seus sentimentos transparecessem. Chegou, conversou e se foi.

Mente estreita e autoritarismo impedem bom trabalho. Bárbara luta para que sua ciência seja tão considerada quanto os voos espaciais ou a divisão do átomo. Não é uma dissidente política por crença ou filosofia. Só quer que a Rússia amplie suas pesquisas no campo psíquico, por sentir que a força da mente poderá resolver muitos dos problemas que o mundo enfrenta. Foi isto, possivelmente, que a levou a preparar uma lista de “conselhos para nossos leitores”, onde ensina como desenvolver faculdades psíquicas e dons de cura. Sabia, por outros parapsicólogos, que seríamos bons mensageiros e levaríamos sua mensagem para o outro lado do globo. Só pudemos ler sua lista, dois dias após nosso último encontro. Vimos, então, o material que ela preparou com tanta dedicação.

Seus conselhos não são baseados apenas em suas próprias experiências psíquicas, mas também em seu tempo como chefe de um grupo experimental, organizado por Popov, que estudou a clarividência. Foi  o primeiro grupo deste tipo treinado na União Soviética. “Agora não perguntamos mais se as pessoas podem ser ensinadas a desenvolver faculdades psíquicas; sabemos que podem”, disse ela. “Quase todos têm esta faculdade. Já treinei jovens de dezoito anos a adultos de 75. Todos mostraram possuir faculdades precognitivas. O que se necessita é de força de vontade e de bons amigos que ajudem a levar adiante o desenvolvimento destas potencialidades inatas no homem.” Descreveu então, detalhadamente, suas descobertas.

Segundo disse, a personalidade influência os resultados. Há pessoas com características mais apropriadas que outras para trabalhos desta natureza. As positivas e expansivas são melhores. As tímidas e negativas não costumam ser bem sucedidas. Se observou que as que acreditam na existência de faculdades extra sensoriais e acham importante o desenvolvimento da pesquisa ESP obtêm melhores resultados que as que a veem apenas como um fenômeno interessante. As primeiras são incentivadas a conseguirem resultados positivos, pois a percepção da existência real de faculdades extra-sensoriais comprovará um potencial não realizado que nelas existe. A ideia, então, torna-se mais palpável.

O primeiro requisito para o desenvolvimento destas faculdades é o relaxamento, que deve ser feito sentado ou não, num lugar sossegado, pode ser ao ar livre, desde que não exista nada que possa incomodar. A musculatura deve ser relaxada, e a mente, esvaziada de pensamentos. Preocupações, como filhos na escola ou doenças na família, devem ser esquecidas. Uma das maneiras indicadas para se conseguir uma espécie de vácuo mental é a visualização de uma folha de papel em branco ou de um espaço vazio.

O passo seguinte consiste em pensar num símbolo familiar ou num objeto e examiná-lo mentalmente, de todos os ângulos, até conhecer em detalhes seu tamanho, sua forma, textura a cor. Depois, conscientemente, se deve retirar a imagem da mente a faze-la desaparecer. Neste ponto, o aluno estará em condições de receber informações precognitivas. Foi criado um vácuo perfeito, uma tela em branco que se encherá de imagens inesperadas, que trarão informações sobre o futuro. Para que os resultados sejam sempre melhores é preciso que a mente seja treinada, como um atleta prepara seus músculos para uma competição. Ao terminar a primeira etapa de exercícios, deve se pedir a uma pessoa amiga que crie situações simples, nas quais a escolha certa possa ser indicada por um “sim” ou “não”, “esquerda” ou “direita”, “branco” ou “preto”.

Um ambiente conhecido, alegre e descontraído favorece o treinamento. A escolha do encarregado da supervisão dos trabalhos é importante, pois a presença de pessoas autoritárias ou de mentalidade estreita pode alterar ou mesmo estragar os resultados. Suas vibrações negativas afetam os presentes, e por isso elas não devem participar deste tipo de trabalho e pesquisa. Tornam incertos os resultados.

Após a obtenção de resultados favoráveis nas respostas a estas questões simples, os testes devem se tornar mais complexos. Pode se, pôr exemplo, usar um baralho a conseguir respostas quanto a cor, figuras ou números. Deve se tentar dar, através da precognição,  duas características que identifiquem a carta escolhida, ou seja, se ela é preta ou vermelha, se tem números ou uma figura. Depois de quatro ou cinco vezes, é necessário que se arranje um outro tipo de teste, pois a monotonia prejudica os possuidores destes tipos de faculdades.

A partir daí, os testes se tornam mais sofisticados, e se introduzem três, quatro e até cinco fatores diferentes. O treinamento feito num ambiente de competição ajuda na obtenção de melhores resultados, pois, ao tentar ser o melhor, a pessoa fica mais atenta. Entretanto, este aspecto não deve ser exageradamente enfatizado, pois muitos perdem o interesse quando não conseguem vencer, e o objetivo principal é o desenvolvimento e a expansão da mente.

Faculdades psíquicas aparecem e desaparecem sem razão aparente, mas sempre voltam quando desenvolvidas e exercitadas com persistência e de forma correta. Ao alcançar resultados positivos em testes mais difíceis, o aluno demonstra ter atingido boa percepção extra sensorial. Logo verá o futuro e poderá descrevê-lo. Antes de tentar fazer isto, o aluno não deve se esquecer de descansar física e mentalmente. Os testes mostram que pessoas fatigadas não obtêm bons resultados. A concentração intensiva não deve ultrapassar 45 minutos. Nos principiantes, às vezes, surgem duas respostas por vez, quase simultaneamente. Nestes casos, a resposta certa é a primeira. Mas existem outros problemas: algumas vezes o sensitivo recebe informações por via indireta, ao visualizar um símbolo ou um objeto conhecido que é somente um indício que precisa ser interpretado com exatidão para que conduza à informação correta.
 
O principiante deve falar abertamente, sem se acanhar, sobre o que está vendo. Por isso é necessário se estar num bom ambiente, com amigos sérios, bem informados e de mente aberta. Deve se anotar todas as mensagens, mesmo as que não são facilmente compreendidas. 

Como saber se a mensagem psíquica é verdadeira? Há algumas regras que devem ser consultadas após o recebimento de uma impressão. Às vezes, pode ser uma transmissão telepática de outra pessoa. Os suicidas, por exemplo, emitem energia relacionada com o desejo que têm de se matar, e há possibilidade de que esta informação seja captada pelo sensitivo. Neste caso não há precognição, mas, sim, “telepatia automática”.

Barbara explicou que intuição é a certeza que se tem de que algo vai acontecer. A informação, porém, não é recebida por vias normais. Não se sabe como chegou, pois não foi vista nem ouvida. Existe abundância de casos de intuição nas profissões científicas e nos negócios. Um medico, às vezes, faz um diagnóstico sem ver sintomas exteriores e sem possuir dados considerados necessários. Um engenheiro descobre uma solução para determinado problema sem fazer pesquisas controladas. Ideias matemáticas, concepções físicas, construções filosóficas, aparecem num lampejo genial, como se uma luz fosse acesa no cérebro. A intuição aparece na arte, no gosto, no talento. Não podemos esquecer que os fenômenos de que falamos só acontecem após muito esforço e preparo para aceitação deste tipo de visão.

Os que têm faculdades psíquicas desenvolvidas poderão resolver problemas de âmbito mundial, mas só se tomados a sério e submetidos a perguntas sinceras. Bárbara crê que outras pessoas do tipo de Jeane Dixon poderiam desenvolver faculdades como as dela, se forem treinadas. Ela diz que a cura por intermédio da bioenergética foi usada na antiguidade porque o homem daquela época conhecia e valorizava as leis da natureza. Quando nos transformamos numa sociedade industrial perdemos estes valores e, com eles, a capacidade de curar. Devido à multiplicidade das distrações, existem poucos casos de cura espontânea no mundo moderno. O dom de curar é complexo e difícil de ser compreendido. Qualquer um pode curar, pintar ou tocar piano; a diferença é a maneira de faze-lo. Com treino e dedicação, qualquer um pode curar, ainda que não possua um grande dom.
A chave do sucesso está no controle de desejos e pensamentos e em sua consagração ao próximo. É sempre preciso estar em forma. O curador necessita de uma dieta adequada: pouca carne, peixe, e nada de bebidas alcoólicas. A meditação é importante, por ser uma das maneiras de melhorar o poder mental. Os alunos que realmente desejam ser bem sucedidos devem visualizar elos com forças da natureza. Esta é uma parte importante: antes de iniciar o tratamento, o aluno deve limpar sua mente e concentrar sua visão interior no milagre de uma flor, de uma árvore ou de um pássaro; meditar na razão de sua vida e na função do universo. Desta maneira, estimulará seus dons latentes, seu conhecimento da natureza e da cura, oculto nas profundezas de sua mente desde que se iniciou sua evolução há milhares de anos.

Pessoas com corações bondosos, mentes abertas a atitudes positivas com relação ao ser humano e aos animais são bons pacientes e ainda melhores curadores. Os que são fechados não deixam nem a informação nem a energia penetrarem e não podem, portanto, ser curados. Barbara diz que os novatos não devem se desiludir quando encontrarem pacientes deste feitio. Não é possível romper a couraça com que se vestem, pois eles, normalmente, não acreditam neste tipo de cura e não desejam ser curados. Têm medo dos curadores. A não ser que se esteja disposto a gastar longo tempo e grandes quantidades de energia é preferível dizer, logo de início, que não há possibilidade de cura.

Os raios de bioenergia emanam de todos. O trabalho consiste em dirigi los aos órgãos lesados. Isto é feito conscientemente, como se se emitisse um jato de luz. Eles se projetam das mãos do curador e são mais eficientes quando estão de 7 a 10 centímetros do corpo do paciente, não sendo preciso tocá lo. Os testes feitos por Barbara com fotos kirlian indicaram que os raios saem das mãos como tiros de metralhadora e se espalham por todos os lados, mesmo quando dirigidos a determinado órgão. A maioria dos pacientes sente calor nas partes lesadas, mas alguns têm a impressão de um leve choque elétrico, ou, mesmo, a sensação de um contato com uma rajada de ar fresco.

Se descobriu que as dores podem desaparecer de uma área para surgir noutra. Isto é normal. Em casos desta natureza, ela pode voltar após alguns meses, e para ser bem sucedido o curador deverá tratar destes pacientes regularmente, até que eles se sintam bem. Com a prática, os raios se tornam cada vez mais eficientes.

Durante o treinamento, o futuro curador passa por cinco estágios: primeiro, sente as dores dos pacientes que estão por perto, mas não consegue ajudá-los. Depois, transfere as dores para seu próprio corpo. Isto o faz sofrer, mas apenas temporariamente, e, por isso, ele deve ser cauteloso e nunca começar a tratar casos graves. Apesar de a dor ser temporária, a experiência é desagradável. Quanto maior o número de tratamentos, mais depressa se chega ao terceiro estágio e, então, ele deixa de sentir dores mas passa a ser afetado pelo stress, resultante das muitas curas. Fica enjoado e com dores estranhas no centro da coluna. Torna se nervoso, cansado, a sente dificuldades para dormir. Bárbara diz ter sentido isto após ter tratado seis pacientes seguidos. Ressalta, entretanto, que cada um tem seu próprio nível. Com o passar do tempo, ela chegou a tratar de 45 pessoas numa só noite, sem se sentir mal. Cada um deve descobrir seu numero de curas.

Chega se, então, ao quarto estágio, quando se deve procurar curar ate o limite. Somente assim o curador poderá saber se é capaz de curar cinco, dez, ou mais pessoas. O quinto é o mais difícil de ser atingido. O curador neste estágio é quase perfeito e pode curar qualquer quantidade de paciente, desde que saiba, de antemão, quantos virão, para que a pessoa possa, assim, armazenar a energia necessária.

Algumas vezes, uma simples conversa com o curador alivia o paciente. Alguns se acanham em pedir um tratamento individual. Bárbara disse que muitos tentaram tocá-la e afirmam que isto já os faz mais calmos a felizes, além de aliviar dores e Ihes dar energia. Outros sentem o mesmo quando entram em seu apartamento. Ela explicou que um verdadeiro curador irradia bioenergia que é absorvida pelos que estão perto. As pessoas que se aproximam de um curador, ou mesmo de alguém que esteja sob tratamento, se beneficiam; especialmente as que acreditam neste tipo de cura. Certos objetos ficam saturados de energia e são capazes de aliviar dores de quem os carrega.

No fim de seu relato, ela deixou o seguinte conselho: “O que mais se necessita para o desenvolvimento deste potencial é trabalho e dedicação. Os que não conseguirem resultados positivos logo de início não devem se preocupar. O dom está presente, e é seu dever desenvolvê-lo para ajudar a humanidade”.

Temos certeza de que ela ficará feliz se um único leitor do mundo ocidental disser: “Graças a Barbara Ivanova, curei alguém”. Mas nos perguntamos: “Onde está ela, para que isto lhe possa ser relatado?” Tentamos contactá la em fins de 1977, mas não o conseguimos. Desaparecera. “Há meses não temos notícias suas”, disse nos Adamenko, “mas não se aflijam. Ao menos, por enquanto.”

Observação do Imagick:
O presente texto foi extraído do livro: “Novas experiências psíquicas na União Soviética”, datado de 1979. Tempo em que Ivanova vivia sob o regime comunista russo, separado do Ocidente pela chamada Cortina de Ferro. Com a queda do regime comunista e abertura de suas fronteiras, Ivanova ressurgiu e inclusive esteve no Brasil fazendo conferências e até mesmo encontrando-se com Chico Xavier.

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