Biocampo: as energias que organizam a vida

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Nos séculos 19 e 20, a  medicina no Ocidente era território  cativo da perspectiva mecanicista   o que significa dizer que o ser humano é visto como uma máquina (por mais maravilhosa e surpreendente que ela seja). A saúde deriva do bom funcionamento dessa máquina e a doença nada mais é do que um defeito de uma ou mais peças. A medicina alopática reinava como representante inconteste dessa linha de pensamento, incumbida de “consertar” o corpo com tratamentos baseados em remédios que combinam substâncias químicas, além de radiações nucleares e cirurgias. 
 

 

As últimas décadas, porém, têm registrado um avanço de outras formas de terapia sobre as fronteiras antes inexpugnáveis da alopatia. No Brasil, o progresso recente mais notável nesse sentido foi feito pela acupuntura ¬ela atingiu tamanho grau de aceitação que já conseguiu ingressar na rede pública de saúde e faz parte do currículo de conceituadas faculdades de medicinas do Pais. Um estágio semelhante foi alcançado pela homeopatia, enraizada
por aqui desde o século 19.

Se evidências estatísticas apontam para o bom funcionamento dessas terapias   e de outras na mesma linha, como o shiatsu, a medicina tradicional chinesa e a quiropatia, é lógico supor que algum fundamento científico existe por trás delas. Até algum tempo atrás, porém, além da má vontade dos pesquisadores ortodoxos ao encarar esse assunto, faltavam também elementos em que se basear para fazer as devidas correlações. De forma algo indireta, porém, foi da própria ciência ortodoxa que vieram as descobertas preliminares nesse sentido: de acordo com seus estudos, os organismos vivos passaram a ser vistos como sistemas complexos, não lineares e auto organizados, que permutam constantemente energia e informações com sua vizinhança para sobreviver.
 

 

Com esses dados em mãos, cientistas que têm estudado o tema sem os preconceitos típicos dos ortodoxos já enxergam o ser humano sob um prisma mais abrangente: ele constitui um sistema vivo holistico, capaz de trocar energia e informação com o meio que o cerca, num processo dinâmico cuja finalidade primeira é mantê-lo vivo. Essa nova imagem, naturalmente, acarreta consequências para a saúde, a doença e a cura. Ao abordar a transferência de bioinformação via sinais de energias sutis (uma noção que rompe as fronteiras da transmissão de bioinformações apenas por meio de moléculas), ela toma os estudos sobre essa área muito mais complexos   mas, por outro lado, abre um território vastíssimo para pesquisar novas rotas de reequilibrio do corpo.

O conceito do biocampo aliado ao da energia vital já vinha desde os estudos do alemão Hans Driesch, no fim do século 19, e o primeiro cientista a considerá-lo um fator presente desde a formação do embrião foi o russo Alexander Gurwitsch, em 1944. Desde então, a idéia havia caído no esquecimento, pelas dificuldades experimentais que apresentava.
 

 

Há alguns anos, porém, uma nova leva de cientistas trouxe o biocampo de volta para o centro dos debates, definindo o como um fator básico para a vida. O biofísico chinês Chang Lin Zhang chama esse campo biológico de “corpo eletromagnético” e o classifica como um campo ultrafraco de ondas estacionarias que constituem a anatomia energética, incluindo-se aí os chacras e os meridianos de acupuntura.

O biofísico alemão Fritz Albert Popp e seus colegas sugerem a existência de estados dinâmicos na fisiologia dos organismos, por meio dos quais eles revelam um grau elevado de ordem e estabilidade e liberam ondas eletromagnéticas coerentes (ou seja, que partem de uma mesma fonte e, por isso, têm comprimento de onda, fase e plano de vibração iguais)   os biotótons. Para o médico e cientista americano William Tiller, as energias observadas nos seres humanos estariam enquadradas numa quinta força da natureza, ao lado das quatro já existentes. O pesquisador americano G. R. Welch leva o assunto mais adiante no território da física, ao sugerir a existência de estruturas de campos metabólicos no espaço tempo.
 

 

A chave da interação

As hipóteses sobre o tema também caminham no sentido de convergir com a sabedoria dos antigos. O engenheiro americano Savely Sawa considera que o biocampo vai além dos limites do eletromagnetismo, incorporando um componente mental não físico que leva a informação da intenção para o reino físico. A biofísica Beverly Rubik, por seu lado, propõe a existência de corpos sutis do ser humano além do corpo físico visível, os quais “envolvem domínios da mente, da alma e do espírito”.

Todos esses pesquisadores aceitam a idéia de que o biocampo é um campo organizador da vida global. Sua maneira de funcionar tem pontos de semelhança com a holografia: enquanto uma placa holográfica transmite informações por todo um holograma, o biocampo envia informações por todo o corpo. Além de controlar a bioquímica e a fisiologia do organismo, ele tem um papel crucial na sua integração. Mas os estudiosos ainda não chegaram a um consenso sobre a constituição desse campo biológico: é certeza que ele envolve eletromagnetismo, mas pode incluir também campos adicionais, ainda não caracterizados.
 

 

No artigo “The Biofield Hypothesis: Its Biophysical Basis and Role in Medicine”, publicado em 2002 no Journal of Alternative and Complementary Medicíne, Beverly Rubik define o biocampo   “parcialmente”, ela sublinha como o complexo campo eletromagnético dinâmico que resulta da superposição de componentes de campos eletromagnéticos do organismo e está relacionado à sua regulação. Esses componentes, ela esclarece, são os campos eletromagnéticos constituídos por uma partícula (ou conjunto de partículas) do organismo que se move e está eletricamente carregado   por exemplo, íon, molécula, célula ou tecido.

Segundo Beverly, esse conceito de biocampo já se mostra operacional no sentido de explicar como o organismo interage com objetos ou campos   incluindo aí os produzidos por terapias alternativas ou complementares. Cada objeto, lembra ela, irradia frequências ressonantes eletromagnéticas de uma forma particular, única. Se um objeto (digamos, um medicamento homeopático ou alopático) ou um campo eletromagnético aplicada externamente (por exemplo, aquele produzido por um aparelho eletromagnético terapêutico) é trazido para perto ou para dentro de um organismo, ocorre uma interação entre suas frequências e as do campo biológico desse organismo.
 

 

Dados colhidos em pesquisas com bioeletromagnetismo já demonstram a existência de efeitos biológicos nos casos de campos eletromagnéticos de fraca intensidade aplicados a organismos   sejam eles pequenos ou grandes. Essas experiências já deram origem até a uma nova tecnologia terapêutica   a medicina bioeletromagnética, que aplica campos eletromagnéticos específicos para estimular a cura natural.

A aplicação de certos campos eletromagnéticos tem trazido resultados positivos, como a regeneração de tecidos mais delicados, a formação de tecido ósseo, o fortalecimento do sistema imunológico e melhoras psicofisiológicas. A técnica parece promissora também no tratamento do mal de Parkinson.
 

 

Uma aplicação usada há mais de duas décadas nos Estados Unidos, na qual a estimulação magnética pulsa na freqüência de 7 Hz, mostrou um dado inesperado: como a quantidade de energia do sinal aplicado é ainda menor do que a energia aleatória do movimento comum das moléculas do corpo, e um efeito curativo ocorre, o elemento modificador relacionado à aplicação não está na energia, mas na informação que ela carrega. Os campos que conduzem essa informação importante do ponto de vista biológico recebem o nome de bioinformação eletromagnética.

Segundo Beverly, as terapias relacionadas à aplicação de sinais eletromagnéticos de fraquíssima intensidade podem propiciar a bioinformação eletromagnética. Isso aconteceria graças à ressonância ou à sintonia desses sinais com freqüências específicas presentes no biocampo. Pelo menos alguns desses campos usados na medicina bioeletromagnética têm freqüência e intensidade similares aos dos componentes do biocampo. Beverly observa que muitas freqüências naturais são emitidas pelo cérebro e pelo coração, e campos aplicados externamente nessas freqüências podem acarretar alterações fisiológicas, psicológicas e comportamentais.
 

 

Essa idéia leva a uma alteração importante em relação ao conceito de “informação” no que se refere a seres vivos, que o distancia cada vez mais da visão mecanicista. Enquanto as máquinas possuem apenas algumas interconexões críticas, os organismos apresentam uma infinidade delas, montadas numa rede que é influenciada por fatores como hereditariedade, história, hábitos e comportamento. Nessa rede também não se observa uma hierarquia clara no fluxo de informações   elas tanto vão de cima para baixo como no sentido contrário. E, pelo que se observa, a informação, em sua essência, não pode ser classificada como energia nem como matéria. Estas são simplesmente suas transportadoras.

Tais características levam Beverly Rubik a assinalar a dificuldade de estudar o biocampo. Ela mesma lembra, porém, que a física moderna também estuda aspectos da natureza cuja percepção ocorre apenas por seus efeitos   e nem por isso essa disciplina deixou de evoluir. Mas o caminho está aberto, e parece extremamente promissor em termos de unificar os conhecimentos ocidentais e orientais sobre o ser humano e deixá-lo cada vez mais tempo saudável.

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Por Eduardo Araia
Revista Planeta 
número 404
Maio de 2006
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