– Um dia Zeus convidou Hermes para um passeio.
Numa montanha da terra da Frígia há um carvalho milenar e, perto dele, uma tília igualmente antiga; ambas as árvores são cercadas por uma mureta baixa. Não longe dali fica um lago raso e pantanoso. Onde antes havia terra habitada, agora esvoaçam garças e emas.
Uma vez, Zeus e Hermes, seu filho, este sem as sandálias aladas, levando apenas o seu bastão, vieram a essa região. Tomando a forma humana, queriam colocar à prova a hospitalidade dos seres humanos. Bateram, pois, em centenas de portas, pedindo abrigo por aquela noite. Mas a gente do lugar era dura e egoísta, e assim os deuses não foram recebidos em lugar nenhum.
Então chegaram a uma pequena choupana, baixa e pobre, coberta de palha e juncos, no final da aldeia.
Quando, encurvados, os dois deuses entraram pela porta baixa, o amigável casal cumprimentou-os com grande cordialidade. O velho preparou as cadeiras e pediu aos hóspedes que se sentassem para descansar. A velha mulher correu, diligente, para o fogão, revolveu as cinzas mornas, colocou sobre elas lenha e galhos secos e assoprou o fogo com seu fôlego fraco.
Enquanto isso, Filêmon colheu repolho na horta, que sua mulher havia preparado com cuidado. Em seguida ele pegou um pedaço de carne defumada, que pendia do telhado da cozinha. Era a carne que há muito era salva para uma data mais especial. O homem cortou a carne e jogou na água fervente. Para abreviar a espera, distraíram os hóspedes com uma conversa amigável. Além disso, encheram de água tinas de madeira, para que seus hóspedes pudessem refrescar-se. Sorrindo alegremente, os deuses aceitaram o que lhes era oferecido, e enquanto de deleitavam com os pés na água, os anfitriões lhes preparavam as camas.
Enquanto todos comiam, Filêmon percebeu que o jarro de vinho não se esvaziara. Foi, assim, com admiração e temor, que percebeu quem eram seus hóspedes. Temeroso, pediu aos deuses que tivessem misericórdia deles por aquela refeição tão simples e não se enfurecessem por causa da medíocre hospitalidade oferecida. O homem, então, correu lá fora e pegou um ganso, de onde tiravam os ovos, e preparou-se para sacrificá-lo. Mas o ganso escapou e terminou por refugiar-se atrás dos deuses, como que implorando a proteção dos imortais. E a sua proteção lhe foi dada.
-Estávamos querendo saber algo sobre a hospitalidade dos seres humanos, e por isso descemos à terra. Descobrimos que os seus vizinhos são avarentos, e eles não escaparão da punição. Mas quanto a vocês, deixem esta casa e sigam-nos até o alto da montanha a fim de que, inocentes que são, não sofram juntamente com os culpados.
Os dois obedeceram. Apoiados em suas bengalas, galgaram com esforço a montanha íngreme. Pouco antes de chegar ao pico, voltaram-se, temerosos, e viram que a planície fora transformada em lago. De todas as construções, só restava uma choupana.
Enquanto ainda olhavam, admirados, lamentando o destino dos outros, a pequena e humilde choupana foi transformada em um templo. Sustentado por colunas, seu teto dourado reluzia e o piso era coberto de mármore.
– Queremos ser vossos sacerdotes! Concedei-nos a guarda daquele templo! E como vivemos juntos há tanto tempo, concedam-nos também morrer na mesma hora.
Seu desejo foi realizado. Ambos zelaram pelo templo por muitos anos. Um dia, já velhos, Báucis viu Filêmon e Filêmon viu Báucis desaparecendo na relva verde. Tal foi o fim do honrado casal. Ele tornou-se o carvalho, ela a tília, e mesmo na morte continuam fielmente um ao lado do outro, tal como em vida.