– Presença de uma civilização bem mais avançada do que as ali existentes.
Frobenius dedicou se ao estudo da antropologia e arqueologia, voltando sua atenção para a África, continente que, em sua opinião, conservaria provas da existência daquela grande civilização desaparecida. Logo após concluir seu curso na Universidade de Berlim, aos 25 anos, ele escreveu seu primeiro livro, intitulado As Origens das Culturas Africanas.
Depois de estudar línguas antigas, como latim e grego, além do árabe, Frobenius buscou em diversas bibliotecas da Alemanha, França, Itália, Rússia e Áustria livros e manuscritos sobre as antigüidades africanas. Autores árabes medievais forneceram lhe um amplo cabedal de informações sobre ruínas e vestígios de culturas desaparecidas, fortalecendo a sua convicção de estar no caminho certo. Em 1904, ele finalmente considerou ter chegado a hora de partir para o continente negro e iniciar as pesquisas de campo.
Seu primeiro destino foi a colônia germânica do Togo, no Golfo da Guiné. De lá o pesquisador seguiu para o Congo, identificando diversas anomalias culturais entre os nativos, as quais comprovavam a influência de uma civilização externa nas tradições míticas das tribos.
Para o perfeito entendimento das lendas e mitos dos grupos culturais mais importantes da área escolhida, ele dedicou se a estudar os dialetos mais disseminados e, em seus contatos com xamãs e possíveis guardiães das antigas histórias tribais, constatou que muitos dos mitos faziam parte de uma herança comum a diversas tribos.
Após as pesquisas no Togo e no Congo, Frobenius visitou a colônia inglesa então denominada Costa do Ouro, onde existiam curiosas tradições sobre um antigo reino cuja capital nunca foi conquistada, embora os árabes tivessem realizado diversas tentativas a partir de 734 d.C., que duraram mais de 200 anos, segundo relata o geógrafo AIFazari numa obra sobre o chamado “Reino Dourado de Gana”.
Durante séculos, toda a região do Golfo da Guiné, incluindo Costa do Marfim, Costa do Ouro, Togo, Camarões e Nigéria, foi domínio de uma nação guerreira denominada ashanti. Essa nação enfrentara seguidas invasões, a começar pelos árabes e passando pelos portugueses, franceses, belgas e holandeses. Foi enfim conquistada, no século 19, pelos ingleses, que mantiveram várias “guerras ashanti” até conseguir tomar a capital, Kumasi ocasião em que saquearam o tesouro real, depois de pesadas perdas de ambos os lados.
Do tesouro real ashanti faziam parte centenas de objetos de ouro, inclusive uma excepcional máscara o objeto mais venerado entre os pertences do soberano ashanti Kofi Kalkalli. Entretanto, todos os nobres e príncipes interrogados pelos ingleses insistiram na informação de que grande parte do tesouro não fora confeccionada pelos ourives ashantis, mas sim recolhida nas ruínas de uma antiga cidade de pedra, situada próxima à área extrema do Saara.
A leitura dos relatórios oficiais da tomada de Kumasi, com a descrição das peças do tesouro real e a informação sobre a origem das peças principais, deixou o pesquisador germânico profundamente interessado em buscar novos dados sobre a cidade mencionada pelos ashantis. Cronistas árabes da Idade Média, notadamente Ibn Batuta e El Bekri, aludem à existência de vários reinos negros produtores de ouro, denominados Tekrur, Berissa, Dogudu, Melem, Galam e Bambuk. Alguns poderiam ser fantasias ou resultados de informações distorcidas, mas é certo que deveria haver algum fundo de verdade em tais histórias.
Ainda com base nas narrativas árabes, consta que o soberano do Reino de Gana, Cisse Tunkara, no intuito de evitar a tomada de sua capital, teria ordenado a seus súditos cobrir todos os ed’if’ícios com terra, de modo que ninguém suspeitasse de que ali existia uma cidade. Sabedor da aproximação dos árabes e da superioridade do inimigo em armas, Tunkara matou se, sendo acompanhado por suas mulheres, filhos e grande número de seguidores.
A busca de locais que pudessem ocultar uma cidade resultou no descobrimento de um grande campo de ruínas pertencentes ao complexo Kintampo Ntereso. Tais ruínas eram anteriores à era cristã, mas pertencentes a um povo que já dominava a metalurgia do ferro. Séculos de saques haviam reduzido o sítio que, após escavações, revelou provas da existência de uma cultura avançada, numa época em que se julgava ser a região habitada por selvagens caçadores e coletores, possivelmente antropófagos. Era uma revolução frente aos padrões estabelecidos para a África.
Outra fonte importante de conhecimento das tradições antigas da Costa do Ouro é constituída por narrativas de cronistas portugueses dos séculos 15 e 16, que relatam a destruição de um edifício muito antigo no local onde, em 1470, foi erguido o Castelo de Elmina; esta fortaleza, destinada a conter invasores marítimos e incursões de guerreiros negros, existe até hoje. Os portugueses também relataram as informações correntes sobre a existência de cidades em ruínas no interior.
Graças às buscas realizadas por Frobenius, foi possível a organização de uma primeira serialização das culturas negras da região atlântica da África. Ao longo de 12 grandes viagens, efetuadas para as mais diversas regiões do continente, ele identificou uma longa sequência que tinha seu início séculos antes de nossa era, sempre trazendo em seu bojo detalhes de refinamento e tecnologia que demonstravam uma origem cultural muito avançada. Na sua opinião, as peças de ouro das Costas do Marfim e do Ouro, feitas com o emprego da técnica de “cera perdida”, são muito mais antigas do que se pensou quando descobertas, sendo atribuídas ao século 4 d.C., aproximadamente. Quanto aos bronzes de Ifé e Benin, sua técnica somente poderia ter tomado tal forma se houvesse uma continuidade de séculos, ou mesmo de milênios.
Um dos pontos mais intrigantes nas representações antigas da África é a persistência de figuras com barbas, o que não coincide com o tipo humano negróide, de barba rala ou ausente. A citada cabeça de ouro do tesouro real ashanti mostra o personagem com uma barba, evidentemente postiça, que lembra representações egípcias de faraós com adornos similares. Por outro lado, certas peças fundidas com a técnica de cera perdida lembram muito as peças peruanas e colombianas de culturas anteriores a Colombo, feitas pelo mesmo método de fundição.
Estes traços de culturas antigas dos dois lados do oceano serviram de elementos para os defensores da teoria atlante. Porém, já na década de 1920, Frobenius arrefeceu sua postura de atlantólogo, limitando-se ao rigor da informação científica frente aos ataques de cientistas que jamais saíram de seus gabinetes.
No decorrer de suas pesquisas, o arqueólogo alemão penetrou em áreas de difícil acesso da região saariana e em várias ocasiões recolheu peças e copiou desenhos de rochas que comprovavam ter sido o Saara uma região fértil, em condições de manter uma grande civilização.
O acervo recolhido nas 12 expedições que efetuou à África resultou na criação do Instituto Frobenius, em Frankfurt, que reúne mais de 5 mil objetos, além de decalques de gravações rupestres e fotografias de ruínas. Recentemente, o governo de Gana solicitou o auxílio do instituto para identificar um sítio altamente promissor, denominado Kumbi Saleh, nas bordas do deserto.
O continuador do trabalho de Frobenius foi o conde húngaro Almasy, que percorréu vastas regiões dos desertos da Libia e do Sudão. Posteriormente, por ocasião da II Guerra Mundial ele alistou se no África Korps alemão, servindo como oficial de ligação e perito em operações no deserto.
Frobenius morreu em 1938, sem qualquer ligação política com o nazismo, embora seu nome tenha sido banido por muitos anos pelos cientistas ocidentais devido ao “crime” de ter sido alemão. Somente a admiração de líderes africanos como o falecido presidente senegalês Leopold Senghor permitiu que seu nome ressurgisse nos últimos anos do século passado. O que não o livrou de ser maldito para determinados cientistas que o acusam de três crimes terríveis: ser atlantólogo, ser alemão contemporâneo de Hitler e defender a existência de grandes civilizações na África, com elementos negros.
Quanto ao fato de AImasy ter servido como oficial no exército alemão, isto é algo que jamais será esquecido. Em meio a muitas discriminações, os estudiosos do passado da África estão sendo esquecidos pelos pesquisadores atuais, que ganhariam tempo se lessem os relatórios e artigos destes homens injustiçados.