Um Novo Caminho Para a Cura

POR ELSIE DUBUGRAS

Um problema de sua vida atual pode ser a manifestação de um episódio grave ocorrido em existências passadas.

Baseados nessa idéia, alguns psicólogos e psiquiatras
conduziram experiências com pacientes em transe,
à procura de fatos que explicassem seu estado no presente.

Os resultados, altamente estimulantes,
estão atraindo a atenção de um número cada vez maior de estudiosos.

 

Em suas crônicas, Gustavo Barroso, da Academia Brasileira de Letras, conta um fato curioso que ocorreu com um eminente estadista do Segundo império. Recebera como presente de aniversário uma indiazinha recém-nascida e, com a anuência de sua famílias registrou-a como filha. Nunca falaram à menina sobre suas origens e a criaram junto com os outros filhos.
Quando as crianças cresceram, foram levadas à França para terminar sua educação lá, como era costume entre as pessoas abastadas daquela época. Durante muito tempo a indiazinha mostrou-se feliz naquele ambiente, mas um dia tudo mudou. Ela amanheceu acabrunhada e recusava-se a sair do quarto. Como não explicava o que sentia, chamaram o médico, que nada de grave descobriu. Começaram, então, a pensar que seria um caso de amor frustrado; sua mãe, no entanto, conhecendo seu gênio alegre, inquietou-se e começou a interrogá-la. Por fim a mocinha confessou. Estava atormentada por um desejo irrefreável de comer um pedaço de carne humana!
Ela, que não sabia que era índia, pertencera a uma tribo antropófaga, e como indubitavelmente reencarnara diversas vezes naquele mesmo ambiente, acostumara-se àquela dieta e sentia falta dela.

 

Trazendo à tona outras existências
Agora que a reencarnação e o carma estão mais difundidos e melhor compreendidos, tanto na Europa como na América do Norte, alguns psicólogos e psiquiatras ocidentais começaram a cogitar da possibilidade dos problemas que enfrentamos nesta vida serem a conseqüência natural de atos praticados e/ou sofridos em vidas passadas e que ficaram arquivados no inconsciente. Sendo este o caso, pensaram eles, seria necessário rememorá-los, isto é, trazê-los ao consciente para depois serem analisados.
Como o transe hipnótico leva as pessoas a se recordarem de fatos esquecidos, os psicólogos lançaram mão deste método para trazer de volta, em seus pacientes, fatos ocorridos na infância, durante o período intra-uterino e até em vidas anteriores, muitas em passados longínquos. Os resultados foram surpreendentes, pois quando estes pacientes reconheciam que o problema atual tinha suas raízes no passado, o desligamento se processava e eles se reequilibravam. Os casos que citaremos a seguir mostrarão como isso ocorre.
Um detalhe interessante é que, para se obterem bons resultados, não é preciso que os pacientes acreditem na reencarnação. Outro é que os traumas e fobias que ocorrem nesta vida não têm raízes em existências felizes, pois a tranqüilidade e a paz não causam turbulência no inconsciente.

 

Uma psicóloga canadense que emprega essa terapia, diz que obteve excelentes resultados com os obesos que a procuraram. Ela observou que os regimes de emagrecimento deixavam os pacientes profundamente frustrados; uma vez suspenso o tratamento, eles sentiam-se impelidos a comer cada vez mais, tornando a engordar. Sentiu, então, que se conseguisse fazê-los regredir ao ponto de compreenderem o motivo de sua constante fome, eles conseguiriam controlar o apetite e, por conseguinte, seu peso. Foi o que fez.
Um paciente, que ela chama de Guilherme, sofria de obesidade aliada à alergia e à asma. A alergia relacionava-se a penas de galinha e a pêlos de animais domésticos. Nem as penas, nem os pêlos de criaturas selvagens o incomodavam.
Logo na primeira regressão, Guilherme falou de sua vida no mar. Era marujo numa caravela. Houve uma prolongada calmaria e, com a escassez de alimentos frescos, os marinheiros começaram a sofrer de fome e escorbuto. Durante a regressão, Guilherme lembrou-se de seu próprio nome, sobrenome e idade, do nome do navio e de seu pais de origem. Recordou depois que, impelido pela fome, entrou na copa dos oficiais e roubou uma galinha. Para poder cozinhá-la, foi preciso depená-la e tirar suas tripas, o que ele fez com muita repugnância. Depois cozinhou-a em cima da chama de uma lanterna. Enquanto cuidava do preparo de sua refeição, o gato do navio miava desesperadamente, e seu roubo foi descoberto. Guilherme foi açoitado com um chicote de nove tiras, que em inglês é conhecido como o cat o’nine tails (o gato de nove rabos). Após terminado o chicoteamento, jogaram água do mar em suas feridas, e os jatos frios o faziam perder a respiração.
Quando Guilherme reviveu a experiência na sua totalidade, ele compreendeu o motivo de sua constante fome, uma experiência indelevelmente marcada no inconsciente. A galinha roubada responde pela alergia às penas, e o gato é o “cat o’nine tails” com que foi açoitado, à sua alergia aos pêlos de animais caseiros.

 

Os erros nunca corrigidos
Joaquim sofria de insônia e os tranqüilizantes que tomava prejudicavam sua saúde, pois logo perdiam seu efeito e ele era forçado, aumentar as doses. Resolveu então submeter-se à terapia das vida passadas para verificar se existia outras formas de combater a sue falta de sono.
Com o tratamento, ele descobriu que fora um mineiro e esta à procura de ouro nas montanha quando ele e seus companheiros viram um bando de índios, na maioria composto de mulhes. Joaquim apontou sua arma e matou uma índia. Seus companheiros também abriram fogo e acertaram outros. Foram em seguida atacados, e as hostilidades só cessaram à noite. Então resolveram que se separariam para que os índios tivessem dificuldade em encontrá-los. Não dormiam, pois tinham de serem medo de serem descobertos e mortos; andavam o tempo todo, por vezes ouvindo os gritos dos companheiros que os índios tinham apanhado. O medo de dormir tornou-se uma fobia.
Daquela vida, Joaquim passou para outras. Foram todas igualmente acidentadas, sendo que todas as experiências ele tinha que exercer extrema cautela para não ser apanhado, especialmente quanto dormia, pois o sono significaria morte certa.

 

Depois que compreendeu a razão por que não dormira naquelas existências, entendeu que a experiência o marcara a ponto de não conseguir conciliar o sono nesta vida. Também com Joaquim a compreensão do problema trouxe a cura.
Um caso bastante curioso ocor-reu com um professor universi-tário que padecia de indecisão e fortes enxaquecas. Não conseguia chegar a soluções satisfatórias,
mesmo quando os problemas eram relativamente simples.
Quando procurou a psicóloga, esta o colocou em transe hipnó-tico e ele imediatamente regrediu à Idade Média. Fora um cavaleiro, e por indecisão quanto à
arma que deveria usar foi morto pelo seu opositor. Na segunda re-gressão, ainda com armadura, ele tornou a tomar uma decisão er-rada, que novamente lhe custou a
vida. Em todas as regressões subsequentes via-se um homem indeciso e com pouco discernimento. Escolhia mal seus companheiros, era traído e assassinado. Mas a experiência mais contundente ocorreu quando ele aceitou – isso ainda em outra existência – a tarefa de guiar alguns alpinistas que queriam escalar uma montanha coberta de neve. A certa altura, ele teve que optar se o grupo deveria retornar ou tentar outra subida depois de atravessar uma ponte de gelo que, na sua opinião, não oferecia segurança. Levado pelo entusiasmo de alguns alpinistas inexperientes, ele cedeu e liderou o grupo na travessia da ponte. Esta, de fato, não suportou o peso e ele foi lançado ao abismo, morrendo. O horror que sentiu pelo fato de ter vacilado naquele instante ficou profundamente gravado e reaparecia constantemente em outras situações. Numa, por exemplo, ele se deixou torturar para não trair os companheiros. Mas, apesar deste gesto nobre, outro o traiu e ele morreu decapitado.
Depois de reviver estas experiências, o professor conseguiu relacioná-las ao que ocorria nesta existência. Aos poucos conseguiu abandonar suas atitudes indecisas e a enxaqueca desapareceu. Segundo sua família, a transformação que se operou nele foi das mais benéficas.

 

Uma carga indesejável
Os psicólogos dizem que os acontecimentos que ocorrerão na vida do indivíduo são predeterminados pelo que ocorreu em vidas pretéritas, mas que a disposição ordenada é implantada durante a vida intra-uterina. Os doutores Netherton e Shifirin, que compilaram uma expressiva obra sobre a terapia das vidas passadas (Past Lives Therapy), acham que uma parte importante do tratamento consiste em fazer o paciente regredir para aquele período pré-natal, quando, ainda em estado fetal, a criança sente os problemas da mãe, a rejeição, o inconformismo com a gravidez, as brigas com o companheiro, as dificuldades familiares, etc. Durante aquele período não existe uma mente consciente. Essa só surge no momento do nascimento, cerrando as portas que dão acesso ao inconsciente.
Os acidentes ocorridos durante o parto também são significativos para o nascimento e para sua mãe. As regressões têm mostrado que a criança grava no seu inconsciente o uso de fórceps, a sensação de solidão que sentiu quando nasceu, o impacto da luz nos olhos, até mesmo as expressões usadas pelos médicos e demais pessoas presentes ao parto.

 

Assim como o nascimento pode ser uma experiência traumática, se não tivermos resolvido as dificuldades que apareceram nesta existência, a morte também poderá ser traumática, pois carregamos no inconsciente a carga das experiências dolorosas causada por estes problemas não solucionados. Um exemplo típico é o caso de uma paciente que, sofrendo de câncer generalizado, procurou a psicóloga.

 

Durante a regressão, evidenciou-se que a moça sofria, obsessivamente, por ser estéril e devido ao câncer que havia se iniciado no seu útero. Daí, partiram para outras vidas e, em uma delas, a paciente disse que havia contraído uma grave doença venérea, brutalmente tratada sem anestesia por meio de cauterização do útero com um ferro em brasa. Aquela terrível dor jamais cessou, levando-a, por fim, à morte. Mas a dolorosa experiência infelizmente não cessou aí. Trasladou-se para outras vidas, e em todas elas a paciente sofria de dores no útero e doenças do aparelho genital. Assistindo à constante repetição do problema, a psicóloga compreendeu o que acontecera com sua paciente. Levou-a, então, a entendê-lo, e assim libertou-a.

Assim, quando compreendermos que esta não é a primeira nem será a nossa última existência na Terra e aceitarmos o fato de que o que passamos agora é o resultado direto do que fizemos ou sofremos em outras vidas, gozaremos mais saúde, nos relacionaremos melhor com os que nos cercam. Enfim, seremos mais felizes.

 

 

Fonte: Revista Planeta 125-B