por: Arsenio Hypolito Junior

.
brasinha[1]   Justiniano estava em sua sala, comodamente sentado em sua poltrona favorita, relendo pela centésima vez o Livro dos Espíritos de Kardec, quando a campainha da porta tocou. Ele abandonou o livro numa pequena banqueta que tinha a seus pés e foi ver que era.

      Ao abrir a porta deparou-se com dois homens, um bem alto o outro pequeno, ambos trajando ternos escuros, camisas com as golas gastas pelo tempo, segurando carinhosamente entre as mãos um livro preto de capa ensebada que ele logo reconheceu como sendo a Bíblia.   Eles em nome do Senhor, divulgavam a Sua palavra.

  “Somos pescadores do Senhor” – disseram – “viemos salvar a sua alma”. 

 Justiniano, olhando para aqueles homens, com muita paciência e compreensão, afinal  também se considerava um homem de Deus, os convidou para entrar.

     diabinho_04Não esperaram um segundo convite e com a mesma rapidez que entraram, desandaram a falar da Glória do Senhor, de como eram verdes os seus campos e tenebrosos os abismos do inferno. Diziam que o dia do Juízo estava próximo e que não havia escapatória para quem não aceitasse a Bíblia. 

      Justiniano disse que ele já tinha uma e mostrou-a aberta sobre uma cômoda. Mas aquela não servia, a única capaz de abrir as portas do Paraíso era aquela que tinham nas mãos.

     6915Pois foi bem nessa hora que os olhos do homem pequeno caíram sobre o livro que Justiniano deixara aberto sobre a banqueta. Empolgados que estavam por ter um ouvido paciente que os aceitasse não haviam percebido ele ali largado.

    “Meu Pai!… Mas, em nome do Senhor, o que é isto?” – disse ele horrorizado, apontando com o dedo trêmulo para o livro.

   “Meus irmãos, trata-se de…” – quis explicar Justiniano. Mas não pode falar, as vozes alteradas daqueles homens de Deus, não o deixaram.

    “Coisa do Diabo” – gritavam enojados. “Bem que eu senti algo estranho aqui, cheiro de enxofre.”

     standing_daemon“Casa de Satanás! Casa de Satanás!” – berrava descontrolado o baixinho.

    Levantaram-se e correram em direção da porta, exorcizando o caminho por onde passavam. Apavorados com aquela casa de perdição, fugiram para a rua.

    Justiniano, achando engraçada a cena pitoresca de que fora testemunha, foi até a porta para fechá-la. Quando voltou para a sala deparou-se com três pequenos diabretes sentados em sua poltrona. Diabretes clássicos, desses vermelhos, com chifrinhos, pés de bode, rabos cumpridos terminando em seta e tridente na mão.

  dert Justiniano sorriu para eles, fez uma oração e assim, aos poucos, eles foram se dissolvendo e desapareceram. Eram formas pensamento criadas pela crença cega e intolerante dos pregadores.

   Da mesma maneira, cada pensamento nosso cria formas no mundo astral por um processo chamado de ideoplastia. Somos responsáveis por cada pensamento que emitimos, pois eles geram anjos ou demônios, lindas ovelhas ou larvas malignas. 

     Esta é uma história verdadeira, passada há muitos anos com Justiniano, nessa época Reitor da Universidade Mackenzie.

filipeta

 

pm23