(e o gênio da lâmpada é a mente interior)
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Texto do Prof. José Hermógenes

“Sou um desastre! Comigo nada dá certo! Eu sou um azarado!”

Estas são expressões frequentes em pessoas que têm uma imagem negativa de si próprias. E quem pensa em fracassos, doenças, ou má sina – todos os dias em tudo o que faz – só vai confirmando e assumindo a personalidade doente e derrotada que cultiva.

Na minha opinião, isso acontece porque tais pessoas estão se deixando levar por uma mente desgovernada.

Mas o que seria governar a mente? Costuma-se confundir governar a mente com dominar a mente. E é cada vez maior o número de livros com títulos como Domine Sua Mente, Auto domínio, O Controle Mental, Como Vencer Sua Mente, pois os autores – sejam ou não psiquiatras – sabem que a mente desgovernada causa doenças, cria vícios e leva ao crime. No entanto, governar a mente não é dominá-la. Quem quer dominar, vencer, subjugar, controlar qualquer coisa, no caso a própria mente, por certo precisa lutar. Ora, quem luta provoca a resistência daquilo que pretende vencer. A tentativa de dominar é violência, e violência gera violência.

Em, outras palavras: quando queremos dominar a mente, continuamos trogloditas em relação ao problema: fazemos como o homem primitivo, que, para arrumar uma mulher, lhe dava uma paulada na cabeça, antes de arrastá-la para a caverna.

Governar a mente é, ao contrário, conquistá-la. A historinha de “Aladim e a lâmpada maravilhosa” é exemplo claro do que significa a conquista da mente.

A lâmpada de Aladim: 1 bilhão de watts

A mente, de maneira muito geral, é constituída pelo subconsciente e pelo superconsciente ou simplesmente consciente. De maneira mais específica e mais exata, a mente é apenas a nossa parte consciente, enquanto o subconsciente, embora poderoso, não passa de um servo da mente.

A nova ciência cibernética nos deu provas incontestáveis de que a denominada “mente subconsciente” não é de nenhum modo uma mente, mas um mecanismo – um servomecanismo – perseguidor de objetivos, constituído pelo cérebro e pelo sistema nervoso, e usado e dirigido pela mente. O conceito mais recente e prático é que o Homem não possui duas mentes, mas apenas uma: a consciência, que opera um mecanismo automático de busca de objetivos. Este funciona de maneira muito semelhante à dos servomecanismos eletrônicos, pelo menos quanto aos seus princípios básicos.

No computador a resposta certa é alcançada depois que a máquina, tendo vasculhado milhões de dados, encontra a “informação” que serve ao caso a ser solucionado. Para isso, é preciso fornecer ao computador uma grande quantidade de dados, que ele então compara com o que já possui no seu “arquivo-memória”.

O cérebro humano também tem seu gravador. Mas não devemos nos fascinar com isso a ponto de confundir o Homem com a máquina. Se o Homem tem em si uma máquina, não quer dizer que seja uma máquina.

O servomecanismo humano é muito mais maravilhoso e complexo do que qualquer computador concebido pelo Homem. Permanece um mistério como em tão exíguo espaço (o interior do crânio) podem se acumular tantos dados e tão múltiplas operações. Segundo o neurofísico W. Grey Walter, seriam necessários 100 bilhões de células eletrônicas para se conseguir um grosseiro arremedo do cérebro humano. Estas células deveriam por sua vez ocupar 150 mil metros cúbicos, ou seja: o equivalente a uma caixa de 50 metros de comprimento, por 50 de largura e 60 de altura; sem contar os milhares de metros cúbicos para a instalação dos fios (nervos); mais ainda, para acionar tal máquina, 1 bilhão de watts – o necessário para acender 10 milhões de lâmpadas comuns.

Pois bem, vamos ver como funciona o servomecanismo eletrônico no maravilhoso cérebro de Aladim. O menino Aladim, ao esfregar sua lâmpada mágica, fazia sair dela um gigante onipotente que cumpria com fidelidade todas as ordens. O gigante da lâmpada é o nosso servomecanismo, o subconsciente. Extremamente poderoso e maquinalmente serviçal, o subconsciente se atira a cumprir a ordem que nossa mente lhe dá, sem nenhuma consideração sobre a conveniência ou não da sua missão.

Neste instante em que você está lendo, processam-se milhões de operações fisiológicas, sem as quais sua vida não seria possível. Seu coração bate com certo ritmo; seus intestinos realizam movimentos peristálticos, impulsionando o que têm dentro numa certa direção; reações químicas as mais diversas ocorrem, desde aquelas no interior dos alvéolos pulmonares até as que se dão nos ínfimos laboratoriozinhos das glândulas de secreção interna; milhões de impulsos nervosos circulam numa ou noutra direção; seus cabelos e suas unhas estão crescendo; um número infinito de regulações neuro-hormonais estão se desenrolando.

Não é cômodo você almoçar e depois ficar inteiramente despreocupado sobre como seus órgãos vão fazer para que resulte daí a nutrição e bem-estar? Não é bom saber que um gigante toma conta de todas as funções orgânicas? Não é admirável que um único “gênio” trabalhe incessantemente em seu proveito e faça isso da maneira mais exata e mais sábia?

O gigante faz tudo por nós

O gigante – nosso servomecanismo – não tem repouso e, em cada segundo, ocupa-se em cumprir bilhões de afazeres. Sua eficácia é total, e é por isso que temos tanta fé nesse onipotente, onisciente e onipresente gigante. Qualquer errinho que surja no corpo, ele corrige, com seus incontáveis instrumentos de correção. Não há médico que saiba tanto. Não há engenheiro igual. Não há operário mais eficiente. Não há sábio com tanta sabedoria.

A memória do seu gigante não é, entretanto, apenas arquivo de suas experiências pessoais. Também não é formada simplesmente com os dados que você lhe tem fornecido nesta vida.

As impressões que temos recebido (alguns dizem que desde o momento da concepção) vão se infiltrando pelos nossos órgãos sensoriais e se incorporando à memória. Assim, o gigante sabe tudo o que ainda não sabemos e sabe inclusive o que sabíamos mas nos esquecemos. Qualquer coisa que você queira saber. O gigante do subconsciente vai buscar onde esteja, e não há nenhuma indagação cuja resposta já não preexista.

Os gênios governam o próprio gênio

Poetas, inventores, cientistas, estadistas, profetas, sábios, de todas as idades e de todas as partes, conseguiram tirar proveito da eficiência do gigante. Não há invenção, obra prima ou grande descoberta neste mundo que não tenha sido obra do gênio da lâmpada. Maltz conta que Schubert, o grande compositor, confessou a um amigo que seus processos criadores consistiam em “recordar-se de uma melodia na qual nem ele nem ninguém havia pensado antes”.

Uma historinha infantil conta que certo sapateiro, antes de ir para a cama, cortava os pedaços de couro e sola e, cheio de fé, deixava por conta de duendes amigos, que, durante a noite, confeccionavam lindos sapatos.

Como toda historinha de fada, esta também representa uma verdade. “Não faz mal, terei amanhã o que quero, às 7 horas da manhã”, costumava dizer o escritor Valter Scott, cada vez que se defrontava com um problema embaraçoso. V. Bechterev afirmou: “Aconteceu muitas vezes, quando me concentrava de noite num assunto que eu desejava colocar em linguagem poética, que de manhã bastava eu pegar na caneta e as palavras fluíam espontaneamente”. Édison, quando em dificuldade, deitava-se um pouco em sua oficina de Menlo, e, semidormindo, captava a idéia solucionadora. O escritor Robert Louis Stevenson era outro que confiava no trabalho de seus misteriosos duendes amigos. Esses exemplos são inúmeros. Não só entre as pessoas célebres, mas com você mesmo isso acontece muitas vezes, sem que dê atenção ao fato.

Inúmeras experiências, seja por instinto de defesa ou por outras razões, escondemos de nós mesmos. Mas do nosso subconsciente elas não escapam. Lá estão em seu arquivo ilimitado. Ilimitado sim, pois, como dizia o filósofo Emerson, existe uma mente que é comum a todos os homens. Édison costumava dizer que “as idéias estão no ar”, e o que ele fazia era apenas captá-las. Rhine, autoridade em parapsicologia, demonstrou por experiência que o Homem alcança conhecimentos muito além de sua memória individual. Psi ou fator extra-sensorial é uma faculdade ou poder do subconsciente.

Estudiosos da moderna cibernética afirmam ter “redescoberto” muitas teses, que podemos identificar com as que já foram ensinadas pelos rishis, mestres da ioga milenar. Se a psicocibernética alcançou esta clara e fecunda diagnose do Homem, quanto ao mecanismo do subconsciente, ela o fez por redescoberta. Há uma memória na natureza que os estudantes de ioga chamam de arquivo akáshico ou indeléveis do plano akasha, onde se encontram clichês de todos os eventos ocorridos no quadro da evolução, desde a origem da criação até hoje. Os que têm suficiente habilidade, conseguem fazer funcionar o servomecanismo buscador de respostas e tornam-se herdeiros de sabedoria sem par.

Quando começar a dar ordens ao génio? Já!

Podemos dizer que o gigante subconsciente é onisciente, onipotente e servil ao máximo. Cumpre à risca as ordens de Aladim. Se Aladim quer tornar-se um Homem vitorioso e saudável, o gênio cuidará disto e o atenderá com exatidão. Se ao contrário quiser se destruir, destruir alguém ou algo, ele obedece fielmente. Aladim é quem escolhe. O gênio executa. Seja o bem ou o mal, indiferente eticamente, ele cumpre o que lhe é determinado.

Aladim é o próprio Homem que precisa saber do amoralismo eficiente de seu gigante subserviente, pare escolher as ordens a dar. A grande realização de Aladim é aprender a esfregar a sua lâmpada para fazer o gênio agir a favor de objetivos sadios, grandiosos, libertadores, divinizantes.

Toda a raja-ioga é um processa psicoterápico para nos libertarmos de nossa auto-imagem negativa ou dos chamados kleshas (imperfeições, aflições, angústias, medos, neuroses) de nossa mente. Ela oferece para isso não o domínio da mente mas a sua conquista sem violência. Em ioga só há vitória quando não há vencido. Só o ahimsa (não-violência) das almas mansas conquista a vitória verdadeira. Sem lutas, sem ressentimentos, resistências sufocadas, sem recalques, ódios ou medos. No Sermão da Montanha, Cristo anunciou:

“Os mansos herdarão a terra”.

Parodiando, o iogue diz que os mansos conquistarão a mente. Para isso, em vez de fugir dos maus pensamentos, é preciso alimentar-se de bons pensamentos, pois a presença do positivo dissolverá o negativo. Se a mente está cheia de pensamentos divinos, não há lugar para os pensamentos deprimentes.

Agora, neste momento, você já pode começar a dar ordens para o seu gênio, começando por acabar com a imagem negativa que tem de si. Em vez de viver desarvorado, solicitando o seu subconsciente para comportamentos conflitivos e portanto confundindo-o, você pode fazer alguns exercícios de ioga.

Para que obtenha o máximo de eficácia de seu gênio, é preciso que:

1. Evite ficar ansioso pelos resultados;

2. Não se perturbe se desconhece os meios ocultos como ele opera;

3. Não tente forçá-lo a agir, mas apenas deixe-o agir (ele é automático);

4. Designe com clareza o objetivo;

5. Aprenda a confiar inteiramente nele;

6. Não lhe dê ordens contraditórias (observe se uma ordem não contraria a outra);

7. Mesmo diante de eventuais falhas, não retire sua fé, pois no fim, sem que você perceba, ele triunfará, pois automaticamente corrige as falhas que comete.

Sabendo que o gigante do subconsciente é tão poderoso que também pode destruir, é conveniente observar constantemente o preceito evangélico:

“Orai e vigiai”.

Buda disse:

“Sabe guardar-te a ti mesmo, como a fortaleza bem guardada por dentro e por fora. Não abandones um só momento a defensiva. Os que de tal coisa se esquecem, por um minuto que seja, sofrem as penas do inferno”.

Esta é uma auto-imagem que convido você a cultivar:

“Eu sou um ser perfeito, feito à imagem e semelhança de Deus”.
 

filipeta
 
hermonovoProf. José Hermógenes
Nascido em 1922, em Natal, Rio Grande do Norte, José Hermógenes de Andrade Filho é considerado o pioneiro em medicina holística no Brasil, com mais de 41 anos de prática e ensino de yoga. Filósofo, poeta, escritor e terapeuta, o professor Hermógenes costuma dizer que se sente mais jovem hoje, aos 81 anos, do que se sentia aos 35. Doutor em yogaterapia, título concedido pelo World Development Parliament, da Índia, é o criador do treinamento anti-stress. No entanto, se não fosse por causa de uma série de problemas de saúde vividos por Hermógenes na década de 60, o professor jamais teria se tornado o mestre em Hatha yoga, assunto sobre o qual escreveu o livro “Autoperfeição com Hatha Yoga”, ainda hoje seu maior sucesso editorial. A esse livro seguiram-se outros 30, alguns editados no exterior, além da tradução de seis volumes de cunho filosófico e espiritualista. Publicou, entre outros, “Saúde na Terceira Idade” e “Yoga para Nervosos”. O professor começou escrevendo livros didáticos, em 1955. Já perdeu a conta de seminários, aulas e palestras que fez no Brasil, em Portugal e na Argentina, onde, aliás, goza de um prestígio que julga maior do que em nosso país. Casado pela segunda vez, tem duas filhas do primeiro casamento. O professor Hermógenes recebeu a Medalha de Integração Nacional de Ciências da Saúde e o Diploma d’Onore no IX Congresso Internacional de Parapsicologia, Psicotrônica e Psiquiatria (Milão, 1977). Escolhido o Cidadão da Paz do Rio de Janeiro, em 1988, Professor Hermógenes recebeu a Medalha Tiradentes em 8 de maio de 2000. A premiação foi conferida pela Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro, pelo bem-estar e benefícios à saúde que as obras de José Hermógenes de Andrade Filho trouxeram para os brasileiros. O professor divide seu tempo entre a publicação de livros, a produção de artigos para a imprensa e teses para congressos científicos, e suas aulas, seja na forma de cursos ou seminários.
Mais informações: http://www.cris.bigardi.nom.br/yoga/index.html

filipeta

 

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