O episódio que deu o nome de Carimbado à gruta que dizem levar a Machu Picchu, no Peru e também à serra de mesmo nome, se deve a um antigo morador que havia sido excomungado pelo pároco por desrespeito às cerimônias religiosas e procissões. Por ocasião de sua morte, o padre acreditando estar livre daquele ser ateu, mas ainda disposto a puni-lo mesmo depois de morto, determinou que se corpo fosse enterrado num canto do cemitério e ser coberto com saibro, já que mal havia terra nos arredores para enterrar dignamente os mortos.
Anos se passaram e a falta de terra já não era o principal preocupação, não haviam lugares no cemitério para enterrar os mortos. Foi então determinado que algumas ossadas fossem desenterradas e depositadas numa única cova, entre elas a daquele morador inconveniente que o padre tanto odiava.
Não demorou muito tempo quando o coveiro entrou gritando na Casa Paroquial para que o pároco fosse imediatamente à necrópole porque aconteceram imprevistos.
Para a surpresa do padre, o seu desafeto se encontrava inteiro, havia se transformado em uma espécie de múmia, mantendo ainda suas feições cadavéricas, com a pele seca e grossa como couro, cabelos e unhas enormes. Uma verdadeira aberração.
O religioso mandou imediatamente que retirassem e desaparecessem de uma vez com esse aquele cadáver seco e amaldiçoado.
Era sabido que no meio de um caminho sobre uma imensa laje de pedra no meio da descida da serra, não muito distante do vilarejo existiam pelo menos dois grandes e profundos buracos por onde as águas das chuvas eram levadas para as entranhas da terra.
Pensou bem o padre e se convenceu de que as águas se encarregariam de levar finalmente aquela “coisa” para os confins da terra para nunca mais voltar.
Dessa vez o padre conseguiu se livrar daquela esquisitice, mas dizem que acabou atormentado até seus últimos dias, porque isso fez com que ficasse com peso na consciência.
Diante de tanto desrespeito por parte do padre por ter mandado jogar o corpo às portas da escuridão passou a ser motivo de comentários. A mesma história podia ser ouvida dia após dia pelos quatro cantos do vilarejo.
Desde aqueles tempos então, a cavidade no solo passou a ficar conhecida como o “Buraco do Carimbado”.
Extraído do Livro Ilustrado: “Causos” & “Acausos” de São Tomé das Letras Ricardo Kayapó