Quem foi Jesus? Onde viveu? Como era a sua época?
No primeiro século a Palestina foi varrida por desavenças dinásticas, conflitos destruidores e, ocasionalmente, guerras.
No segundo século a.C., um reino judaico mais ou menos unificado foi estabelecido transitoriamente, segundo os dois livros apócrifos dos Macabeus.
Por volta de 63 a.C., contudo, a terra estava novamente em turbulência, madura para a conquista.
Mais de um quarto de século antes do suposto nascimento de Jesus a Palestina caiu sob o exército de Pompeu, e a lei romana foi imposta. Mas Roma, na época, muito extensa e muito preocupada com seus próprios problemas, não estava em condições de ali instalar o aparelho administrativo necessário para um governo direto.
Assim, ele criou uma linha de reis marionetes – a dos herodianos – para governar sob seu controle. Não eram judeus, mas árabes. Herodes Antipater (63 a 37 a.C.); Heródes, o grande (37 a 4 a.C.); Herodes Antipas.
O povo do país podia manter sua própria religião e costumes. Mas a autoridade final era Roma e reforçada pelo exército romano. No ano 6 d.C. , o país foi dividido em duas províncias, Judeia e Galileia. Herodes Antipas tornou-se o rei da Galileia. Mas Judeia – a capital espiritual e secular -ficou sujeita a norma romana direta, administrada por um procurador romano baseado em Cesarea. O regime era brutal e autocrático. Ao assumir o controle direto da Judeia, mais de dois mil rebeldes foram crucificados. O templo foi saqueado e destruído. Impostos pesados foram criados.
Este estado de coisas foi melhorado por Poncio Pilatos, procurador da Judeia de 26 d.C. até 36 d. C. Os registros existentes indicam que Pilatos era um homem corrupto e cruel, e não só perpetuou, mas intensificou os abusos de seu predecessor. Pelo menos, à primeira vista, é surpreendente que os Evangelhos não contenham críticas a Roma, nem menções ao jugo romano.
Os judeus da Terra Santa, podiam ser divididos em várias seitas e subseitas. Havia, por exemplo, os Saduceus, uma classe de pequenos mas abastados proprietários que, para desprazer de seus compatriotas colaboravam de forma insidiosa com os romanos.
Havia os Fariseus, um grupo progressista que introduziu muitas reformas no judaísmo e que, apesar de seu retrato nos Evangelhos, se colocava em uma posição teimosa, embora passiva, a Roma. Havia os Essênios, uma seita austera, misticamente orientada, cujos ensinamentos eram mais prevalentes e influentes do que é geralmente admitido ou suposto.
Entre as seitas e subseitas menores havia os Nazoritas dos quais Sansão, séculos antes tinha sido membro; os Nazorianos ou Nazarenos, um termo que parece Ter sido aplicado a Jesus e seus seguidores, realmente, a versão original grega do NT se refere a “Jesus, o Nazareno”, expressão mal traduzida como “Jesus de Nazaré”.
Em 6 d.C., quando Roma assumiu o controle direto da Judeia, um fariseu rabino conhecido como Judas da Galileia tinha criado um grupo revolucionário altamente militante, conhecido como Zelote e composto, parece, de fasiseus e essênios. Os zelotes não eram propriamente uma seita. Eram um movimento com afiliados de várias seitas.
Muito tempo depois da crucificação, as atividades dos zelotes continuaram inalteradas. Por volta de 44 d.C. elas aumentaram. Em 66d.C. a luta irrompeu, toda a Judeia se levantando em revolta organizada contra Roma. Vinte mil judeus foram massacrados pelos romanos só em Cesarea.
Em quatro anos as legiões romanas ocuparam Jerusalém, arrasando a cidade, saqueando e destruindo templo. Entretanto a Fortaleza montanhosa de Masada resistiu por mais três anos, comandada por um descendente de Judas da Galileia. Depois da revolta houve um êxodo de judeus da Terra Santa.
Entretanto, um numero suficiente permaneceu para fomentar outra rebelião cerca de 60 anos mais tarde, em 132 d.C. Finalmente, em 135 d.C. o imperador Hadrians decretou que todos os judeus deviam ser expulsos da Judeia por lei, e Jerusalém tornou-se uma cidade essencialmente Romana, sendo rebatizada com o nome de Aelia Capitolina.
A vida de Jesus se passou nos primeiros 35 anos de um turbilhão e se estendeu por 140 anos. Gerou expectativas inevitáveis ao povo judeu e uma delas era a esperança de um Messias que libertasse o seu povo do Jugo romano.
Para os contemporâneos de Jesus, nenhum Messias seria jamais considerado divino. Na realidade a própria idéia de um Messias seria extravagante. A palavra grega para Messias é Christ ou Christos. O termo – em hebreu ou grego – significa “abençoado” e se refere geralmente a um rei.
E quando Davi foi abençoado rei no Velho testamento, ele se tornou um Messias ou um Christ. E todos os reis judeus subsequentes, da casa de Davi, eram conhecidos pelo mesmo nome. Mesmo durante a ocupação romana da Judeia, o alto sacerdote nomeado por Roma era conhecido como sacerdote, Messias ou rei-sacerdote.
(Maccoby, Revolution in Judaea, p.99)
Todavia, para os Zelotes e para outros oponentes de Roma, este sacerdote marionete era, necessariamente, um falso Messias. Para eles, o verdadeiro Messias significava algo muito diferente – o legítimo rei perdido, o descendente desconhecido da casa de Davi, que libertaria seu povo da tirania romana.
Durante a vida de Jesus essa espera era enorme e continuou após sua morte. Realmente, a revolta de Masada em 66 d.C. foi instigada pela propaganda feita pelos Zelotes em nome de um Messias, cujo advento seria iminente.
O termo Messias significava “um rei abençoado” e, na mentalidade popular, veio a significar também libertador.
Em um termo de conotação política, algo bem diferente da idéia cristã posterior de um “filho de Deus”. Esse termo, essencialmente mundano, foi usado para Jesus, chamado “O Messias” ou – traduzido para o grego – “Jesus , o Cristo” e mais tarde “Jesus Cristo” que se distorceu para o nome próprio.
A HISTÓRIA DOS EVANGELHO
O massacre de Masada extinguiu as aspirações de liberdade do povo judeu.
Então essas aspirações foram perpetuadas pelos Evangelhos sob forma religiosa.
Os estudiosos modernos são unânimes em dizer que os Evangelhos datam, em sua maior parte, do período entre as duas principais revoltas na Judeia – 66 a 74 d.C. e 132 a 135 d.C. – sendo baseadas em narrativas anteriores e tradições orais.
Algumas exageradas, recebidas de segundas, terceiras e quartas mãos. Outras, contudo, podem Ter derivado de pessoas que viveram na época de Jesus e podem tê-lo conhecido pessoalmente. Um homem que fosse jovem no tempo da crucificação pode Ter vivido também na época em que os Evangelhos foram escritos.
OS EVANGELHOS
MARCOS (66 A 74 D.C.) – ATÉ O CAPÍTULO 16:4
Parece ter vindo de Jerusalém e companheiro de Paulo. Se Marcos quisesse que seu Evangelho sobrevivesse, não podia apresentar Jesus como um anti-romano e teria que aliviar os romanos de toda culpa pela morte de Jesus. Esse artifício foi adaptado não somente pelos autores dos outros Evangelhos, mas também pela antiga igreja cristã. Sem tal artifício, nem os Evangelhos, nem a igreja teriam sobrevivido.
LUCAS (+/- 80 D.C.)
Médico grego que compôs seu trabalho para um oficial romano de alto escalão em Cesarea, a capital romana da Palestina.
MATEUS (+/- 85 D.C)
Deriva diretamente do de Marcos, embora este tenha sido composto originalmente em grego e reflita características especificamente gregas. O autor parece ter sido um judeu, possivelmente refugiado da Palestina. Não deve ser confundido com o discípulo Mateus.
Os Evangelhos de Marcos, Lucas e Mateus são conhecidos como “Sinópticos” significando que eles veem “olho no olho” – o que, é claro, não fazem.
JOÃO (+/- 100 D.C)
Composto nas vizinhanças de Éfeso, na Turquia – por um homem chamado João. É geralmente aceita como uma tradução posterior. Não há nele, a cena de natal, nenhuma descrição do nascimento de Jesus, e a introdução é quase gnóstica. O texto é decididamente de natureza mais mística e o conteúdo também difere.
Contém episódios que não figuram nos outros evangelhos: o casamento de Canaâ, Nicodemus, José de Arimatéia, Cura de Lázaro (embora esse último tenha sido incluído no Evangelho de Marcos). Com base em tais fatores, estudiosos modernos tem sugerido que o Evangelho de João, a despeito de sua composição tardia, pode ser o mais fidedigno e historicamente acurado dos quatro. Mais do que os outros, ele parece originar-se de traduções correntes entre contemporâneos de Jesus, bem como de outros materiais inacessíveis a Marco, Lucas, Mateus.
Um estudioso moderno observa que o texto reflete um conhecimento topográfico aparentemente de primeira mão da Jerusalém de antes da revolta de 66 d.C. o mesmo autor conclui: Por trás do quarto Evangelho existe uma velha tradição independente dos outros Evangelhos.
(Brandon, Jesus and Zealots, p.16)
Embora tenha sofrido adulterações, era o mais fidedigno dos quatro.
Seria Jesus casado?
Segundo o costume judaico da época, não era só usual, mas quase obrigatório que um homem fosse casado. Com exceção de certos essênios de algumas comunidades, o celibato era vigorosamente condenado. Se Jesus fosse celibatário, certamente haveria uma forte reação e teria deixado algum traço.
A falta de comentários sobre o casamento de Jesus nos Evangelhos é um forte argumento, não contra, mas a favor da hipótese de casamento, porque qualquer prática ou defesa do celibato voluntário, no contexto judeu da época, teria sido tão estranha que teria atraído muita atenção e comentários.
A hipótese de casamento é reforçada pelo título de Rabino e a lei judia é explícita; ” Um homem não casado não pode ser professor”.
As bodas de Canaã sugere que o casamento tenha sido a do próprio Jesus.
É de se estranhar o fato de Jesus e sua mãe estarem lá; ele ainda não havia iniciado seu ministério; e Maria lhe ordena que reponha o vinho. Comporta-se como se fosse a anfitriã (João 2:3-4)
“…e faltando o vinho, a mãe de Jesus lhe disse: eles não têm vinho. E Jesus respondeu: Mulher que importa isso a mim e a vós? Ainda não é chegada a minha hora. Mas Maria, completamente à vontade ignora o protesto do filho (João 2:5). Disse a mãe de Jesus aos que serviam: fazei tudo o que eles vos disser. E os servos prontamente obedeceram, como se estivessem acostumados a receber ordens de Maria e de Jesus.”
No que concerne aos Evangelhos, ele ainda não tinha ainda demonstrado seus poderes; e não havia razão para que Maria assumisse que ele os possuía. Mas mesmo que houvesse, porque deveriam tais dons, singulares e sagrados, serem empregados com um propósito tão banal?
Por que deveria Maria fazer tal pedido à seu filho? Por que deveriam dois convidados a um casamento tomar sobre si a responsabilidade de servir; uma responsabilidade que, por costume, seria reservada ao anfitrião? A menos, é claro, que o casamento em Canaâ fosse o próprio casamento de Jesus. Nesse caso seria responsabilidade sua servir o vinho.
Outra evidência está em João 2:9-10 “O que governava a mesa chamou o noivo e disse-lhe: todo homem põe primeiro o bom vinho: e quando os convidados já os têm bebido bem, então lhes apresenta o inferior. Tu , ao contrário, tiveste o bom vinho guardado até agora”. Uma conclusão óbvia é que Jesus e o noivo são a mesma pessoa.