Quando era um jovem clínico geral, Harold Koenig foi consultado sobre a paciente Rose Berrar (nome trocado para proteger a privacidade) hospitalizada havia um mês após cirurgia do quadril. O marido morrera de um derrame e, durante o funeral, a mulher escorregara no gelo, fraturando o quadril.
– Ela está emocionalmente vulnerável – preveniu o cirurgião.
– Não vejo como alguém possa enfrentar tudo isso – concordou Koenig.
Um “fato da vida” tão devastador pode muitas vezes deflagrar depressão clínica, que é prejudicial à recuperação.
Mas quando Koenig entrou no quarto, Rose o cumprimentou efusivamente.
-Em que posso ajudá-lo, doutor? O médico procurou os sinais mais óbvios de depressão: fadiga, olheiras ou olhos avermelhados de tanto chorar, dificuldade de concentração. Não encontrou nenhum. Ela reconheceu que atravessava um momento triste, mas não via a hora de voltar para o lado dos outros membros da família.
Koenig pensou que a paciente estava se recusando a aceitar a realidade. Entretanto, à medida que falava com ela, percebeu que Rose simplesmente vinha enfrentando bem a situação.
– Qual o seu segredo? – perguntou ele.
– Se desperto sozinha ou com medo, leio a Bíblia ou converso com Deus. Ele sempre está presente, mesmo na falta dos meus entes queridos. É isso, acima de tudo, que me faz seguir adiante.
Koenig ficou impressionado, mas foi apenas quando a paciente se restabeleceu com poucas complicações que ele começou a perceber o significado médico de uma fé tão profunda. Outros pacientes começaram a lhe contar como a religião os ajudara a enfrentar o infortúnio, acelerando assim a cura física.
Koenig, 46 anos, é pioneiro no estudo científico do potencial de cura da fé. Sua equipe reuniu provas convincentes de que a fé religiosa não apenas promove boa saúde geral, mas também ajuda na recuperação de doenças graves.
“Ao rezar a Deus”, observa Koenig, os pacientes religiosos “controlam indiretamente suas doenças.” Acreditam que não estão sozinhos na batalha e que Deus está pessoalmente cuidando deles. Tal crença os protege contra o isolamento psicológico que castiga tantos doentes graves.
Num estudo envolvendo 455 idosos hospitalizados, por exemplo, Koenig observou que a média de internação daqueles que freqüentavam a igreja mais de uma vez por semana era de quatro dias. Os que nunca ou quase nunca iam à igreja permaneciam hospitalizados de 10 a 12 dias.
Quando Koenig começou a revelar suas observações aos colegas, muitos se mostraram céticos. Consideravam a fé irrelevante para a medicina. Em anos recentes, entretanto, outros pesquisadores vêm relatando observações similares. Como resultado, um número cada vez maior de médicos começa a compreender o papel que a fé pode desempenhar no processo de cura.
Um estudo da Faculdade de Medicina de Dartinouth revelou que a probabilidade de pacientes cardíacos morrerem após a cirurgia era 14 vezes maior entre aqueles que não participavam de atividades de grupo nem encontravam conforto na religião. Num prazo de seis meses após a cirurgia, 21 pacientes morreram – mas entre os 37 que se declararam “profundamente religiosos” não ocorreu nenhuma morte.
Pesquisadores em Israel estudaram 3.900 pessoas vivendo em kibutzim durante um período de 16 anos. Seus achados: a taxa de mortalidade relacionada com doenças cardiovasculares e câncer era 40% mais baixa nos indivíduos religiosos do que em seus pares sem religião.
Um estudo da Universidade de Yale abrangendo 2.812 idosos revelou que aqueles que nunca ou raramente freqüentavam a igreja apresentavam uma taxa de acidente vascular cerebral quase duas vezes mais alta do que aqueles que freqüentavam a igreja semanalmente.
O Dr. Herbert Benson, professor adjunto da Faculdade de Medicina de Harvard, promoveu uma nova compreensão da fisiologia envolvida nessa fé capaz de curar. Ele observa que de 60% a 90% das consultas médicas envolvem doenças relacionadas com o estresse ? incluindo hipertensão, infertilidade, insônia e problemas cardiovasculares. O Dr. Benson, porém, demonstrou que o estado de relaxamento provocado pela oração e meditação reduz o impacto dos hormônios do estresse, tais como a noradrenalina e a adrenalina.
“Orações repetitivas desaceleram os batimentos cardíacos e o ritmo da respiração”, afirma ele. “Além disso, baixam a pressão sangüínea e até mesmo reduzem a velocidade das ondas cerebrais, tudo isso sem medicamento ou cirurgia.”
Técnicas não espirituais, como a meditação, produzem efeito semelhante, mas a maioria das pessoas prefere o conforto emocional mais acentuado da oração.
O estresse também prejudica o sistema imunológico ao fazê?lo produzir o agente inflamatório “interleucina-6”, associado a infecções crônicas, diabetes, câncer e doenças cardiovasculares. Koenig encontrou altos níveis sangüíneos de “interleucina-6” em pessoas que raramente iam à igreja. Freqüentadores assíduos apresentavam níveis de “interleucina-6” significativamente mais baixos, sugerindo que tais indivíduos enfrentavam melhor o estresse, como comprovavam seus sistemas imunológicos mais resistentes.
Em seu livro, Medicina espiritual, o Dr. Benson comenta que as pessoas estão “preparadas para Deus”. Como somos a única espécie consciente da própria mortalidade, teoriza ele, apresentamos uma “ânsia orgânica” pelo eterno.
No princípio da década de 80, o Dr. Dale A. Matthews, então um jovem clínico geral, conheceu um enérgico homem de meia?idade que mudaria sua vida. Antes de permitir que o Dr. Matthews tratasse sua cardiopatia, o homem disse:
– Sou cristão devoto. Se vai ser meu médico, quero que reze comigo.
O Dr. Matthews jamais compartilhara sua fé com um paciente. Com certa relutância, deu as mãos ao homem. Para seu horror, a voz retumbante do paciente trovejou pela sala de exame. O médico esperava que ninguém os ouvisse, receoso de que seus superiores considerassem aquela atitude contrária à ciência. Mas o Dr. Matthews naquele dia compreendeu algo vital: seu paciente era uma pessoa integral, não uma combinação de sintomas e exames formando um “caso”.
Hoje ele busca atentamente sinais da importância da religião para o paciente. Se alguém diz: “Queira Deus que os exames não revelem nada de mau”, o médico responde: “Fale?me sobre o que pensa de Deus.”
Mas o Dr. Matthews, professor adjunto de Medicina em Georgetown e autor de The Faith Factor O Fator Fé), previne que “a oração não é uma panacéia que possa suplantar os medicamentos”. Em vez disso, revela que sua abordagem é “oração e Prozac: fé e medicina, como médico e paciente julgarem necessário’.
A profissão médica começa gradualmente a concordar com pioneiros como Koenig, Benson e Matthews. Hoje, por exemplo, exige-se que todos os programas de residência para psiquiatras incluam no currículo questões religiosas e espirituais. Na Faculdade de Medicina Johns Hopkins, o clínico geral e pediatra Dr. Thomas A. Corson e seus colegas vêm ministrando nos últimos três anos um curso sobre fé e medicina. Ele prevê que tais cursos logo se tornarão corriqueiros nas faculdades médicas.
O Dr. Dean Ornish prega os benefícios da meditação religiosa. Em seu recente best seller, “Amor e Sobrevivência”, Ornish afirma que alcançar a tranqüilidade emocional através de meios espirituais poderia ser a “mais completa experiência de cura”. Esse uso da oração, diz ele, não é um modismo da Nova Era, mas representa “idéias muito antigas que estamos redescobrindo”.
As igrejas americanas também estão proporcionando maior atenção espiritual aos paroquianos doentes e hospitalizados: centenas de paróquias dispõem atualmente de enfermeiras em cargos remunerados. Sue Mooney é enfermeira da Igreja Presbiteriana Overbrook, em Ohio. Ela visita diariamente membros da comunidade religiosa hospitalizados e intercede pessoalmente por eles junto ao sistema de saúde. Sue também costuma rezar com seus pacientes.
– É muito confortador saber que seu tratamento está sendo monitorado de perto por uma enfermeira da paróquia – diz ela. – Mas os pacientes também acham que o contato pessoal e as orações em comum trazem igual conforto.
Esse renovado interesse pelos benefícios à saúde promovidos pela fé não se limita aos cristãos. Rabinos e profissionais da área de saúde, como a enfermeira Ellen Winer, que chefia o Centro Judáico de Cura em Metivta, Los Angeles, visitam regularmente os doentes.
A Dra. Iris Keys, 54 anos, clínica geral no Centro de Enfermagem do Coppin State College de Baltimore, é ministra ordenada da Igreja Episcopal Metodista Africana. Embora a Dra. Iris nunca imponha sua religião, está sempre atenta às “conversas de igreja” entre seus pacientes, muitos dos quais são mulheres negras e idosas, com pressão arterial muito alta.
Ao longo dos anos, aprendeu que as pacientes religiosas seguem mais estritamente a medicação, a dieta e os programas de exercícios quando ela combina a medicina com orações confortadoras.
Há pouco, a Dra. Iris tratou uma vítima de ataque cardíaco de 54 anos. Embora a paciente soubesse que devia se exercitar para fortalecer o sistema cardiovascular, estava apavorada com a possibilidade de que o esforço deflagrasse novo ataque.
Os exames revelaram que não havia nenhuma evidência de nova doença coronária, mas, com a agitação do trabalho durante o dia e noites de insônia carregadas de ansiedade, ela se encontrava sob a investida incessante dos hormônios do estresse. A Dra. Iris percebeu que o espírito da mulher estava mais doente do que o corpo.
– Vamos rezar um pouco? – sugeriu.
Deram?se as mãos, curvaram a cabeça e rezaram.
– Senhor – finalizou a Dra. Iris -, como sabemos que a cura está entre suas atribuições, pedimos-Lhe que alivie a pesada carga sobre nossa irmã.
Nas semanas seguintes, cada exame era iniciado com uma breve oração. Hoje a paciente está praticamente livre de sintomas e a caminho da recuperação.
Seria um milagre ou uma abordagem psicológica criativa para lidar com um paciente? Para a Dra. Iris, esse é um ponto de controvérsia.
– A vida humana é um milagre de Deus – afirma ela com convicção.
– E Ele cura através das mãos dos médicos.
Por: Malcolm McConnel
Revista: Reader’s Digest
Março de 1999
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