A maior joia já encontrada no universo foi descoberta por astrônomos brasileiros. E não é só força de expressão. Trata-se de uma jóia mesmo: uma estrela-anã, com o tamanho da Terra e a massa do Sol, que esfriou e se cristalizou na forma de um gigantesco diamante. O fantástico objeto encontra-se a 17 anos-luz (40 quatrilhões de quilômetros) de nosso planeta, na constelação do Centauro. Seu descobridor é o astrônomo Kepler de Oliveira Filho, chefe do Departamento de Astronomia do Instituto de Física da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Kepler encontrou a estrela em 1991, e a batizou como BPM 37093. Naquela ocasião, o astrônomo foi auxiliado por seus alunos Antônio Kanaan e Odilon Giovannini, hoje professores em universidades gaúchas. Mas, só agora, confirmaram-se as extraordinárias características do objeto celeste, cuja descoberta projeta a astronomia brasileira no cenário internacional.
Essa confirmação foi obtida em observações realizadas entre 16 de abril e 4 de maio. E será encaminhada , neste mês de setembro, para publicação no Astrophisical Journal, da Universidade de Chicago, nos Estados Unidos.
Interior oculto
O gigantesco diamante é a forma final que uma estrela como o Sol adquire após passar por um longo ciclo evolutivo (veja o esquema ao lado). O carbono formado pelas reações nucleares do astro acumulam-se em sua região central. Compactado por uma pressão descomunal, o material organiza-se em rede cristalina, dando origem ao diamante. O astro é realmente uma joia de valor incalculável. Mas, para quem já está pensando em como chegar lá para obter um pedaço, fica aqui o alerta: apesar de ter-se resfriado muito, a estrela ainda é mais quente do que a superfície do Sol e sua extraordinária força gravitacional esmagaria qualquer objeto que se aproximasse demais dela.
A descoberta da estrela cristalizada comprovou uma teoria, apresentada na década de 60, por pesquisadores americanos e russos. “Eles afirmavam que, ao se resfriarem muito, as estrelas tendiam a cristalizar. Mas isso nunca havia sido confirmado até agora”, afirma Kepler. Baiano de nascimento, o pesquisador doutorou-se em astrofísica na Universidade do Texas, nos Estados Unidos, onde iniciou seus estudos das estrelas anãs brancas. Ao todo, ele já dedicou quase 20 de seus 42 anos à investigação desses astros. E, atualmente, preside o Whole Earth Telescope (Telescópio da Terra Inteira), entidade que reúne 60 pesquisadores, de 13 países. “A BPM 37093 é uma estrela de grande massa que, ao implodir, ficou confinada num volume muito pequeno. Por isso, sua densidade média é altíssima, cerca de 20 mil vezes maior do que a da platina, o elemento mais denso da Terra”, explica o astrônomo.
As anãs brancas são as estrelas mais antigas, de modo que os estudos sobre sua evolução podem fornecer dados muito importantes para determinação da idade das galáxias. Conhecimentos adquiridos em outros campos de pesquisa estão sendo usados na investigação do comportamento desses corpos celestes: cálculos de freqüência de terremotos terrestres servem de base para a determinação do período de pulsação das anãs brancas; e um fotômetro, ligado ao telescópio, possibilita medir a variação periódica de seu brilho. “Esse estudo das variações da luz emitida pelas anãs brancas permite analisar o seu interior, escondido pela atmosfera estelar”, resume Kepler.
Hemisfério Sul
ABPM 37093 só pode ser vista com telescópios de, no mínimo, um metro de diâmetro. Sua luz é bilhões de vezes menos intensa do que a do planeta Vênus, o objeto celeste mais brilhante, depois do Sol e da Lua. Pelo fato de o astro situar-se visualmente nas proximidades do Cruzeiro do Sul, as pesquisas que confirmaram sua cristalização mobilizaram astrônomos que trabalham em vários países do Hemisfério Sul (Brasil, Chile, Nova Zelândia, África do Sul e Austrália), além de usarem imagens obtidas fora da atmosfera pelo telescópio espacial Hubble. O resultado, altamente positivo, colocou o Brasil em evidência nas rodas da astronomia.
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