Em 22 de Abril de 1500, naus com a cruz da Ordem de Cristo chegaram onde hoje é a Bahia. Foi o espírito dos cruzados que guiou a aventura das grandes navegações portuguesas.

A chegada de Pedro Álvares Cabral ao Brasil foi parte de uma cruzada conduzida pela Ordem de Cristo, que herdou a mística dos templários.

Lisboa, 08 de Março de 1500, um domingo. Terminada a missa campal, o rei D. Manuel I sobe ao altar, montado no cais da Torre de Belém, toma a bandeira da Ordem de Cristo e entrega-a a Pedro Álvares Cabral. O capitão vai içá-la na principal nave da frota que partirá daí a pouco para a Índia.

Era uma esquadra respeitável, a maior já montada em Portugal, com treze navios e 1500 homens. Além do tamanho, tinha outro detalhe incomum. O comandante não possuía a menor experiência como navegador. Cabral só estava no comando da esquadra porque era cavaleiro da Ordem de Cristo e, como tal, tinha duas missões: criar uma feitoria na Índia e, no caminho, tomar posse de uma terra já conhecida, o Brasil.

A Presença de Cabral à frente do empreendimento era indispensável, porque só a Ordem de Cristo, uma companhia religiosa-militar autônoma do Estado e herdeira da misteriosa Ordem dos Templários, tinha autorização papal para ocupar – tal como nas cruzadas – os territórios tomados aos infiéis (no caso brasileiro, os índios).

No dia 26 de Abril de 1500, quatro dias depois de avistar a costa brasileira, o cavaleiro Pedro Álvares Cabral cumpriu a primeira parte da sua tarefa. Levantou onde hoje é Porto Seguro a bandeira da Ordem e mandou rezar a primeira missa no novo território. O futuro país era formalmente incorporado nas propriedades da organização. O escrivão Pero Vaz de Caminha, que reparava em tudo, escreveu ao rei sobre a solenidade: «Ali estava com o capitão a bandeira da Ordem de Cristo, com a qual saíra de Belém, e que sempre esteve alta». Para o monarca português, a primazia da Ordem era conveniente. É que atrás das descobertas dos novos cruzados vinham as riquezas que faziam a grandeza e a glória do reino. A seguir perceberá como a Ordem de Cristo transformou a pequena nação ibérica num império espalhado pelos quatro cantos do planeta.

No início do século XV, Portugal era um reino pobre. A riqueza estava em Itália, na Alemanha e na Flandres (hoje parte da Bélgica e da Holanda). Nesse caso, porque é que foram os portugueses a encabeçar a expansão européia? A rica Ordem de Cristo foi o seu trunfo decisivo. Fundada por franceses em Jerusalém em 1119, com o nome de Ordem dos Templários, acabou por se transferir para Portugal em 1307, época em que o rei de França desencadeou contra ela uma das mais sanguinárias perseguições da História. Quando o Infante D. Henrique, terceiro filho de D. João I, se tornou grão mestre da Ordem, em 1416, a organização encontrou o apoio para colocar em prática um antigo e ousado projeto: circum-navegar a África e chegar à Índia, ligando o Ocidente ao Oriente sem a intermediação dos muçulmanos, que então controlavam os caminhos por terra entre esses dois cantos do mundo.

No momento em que o Infante, à frente da Ordem de Cristo, resolveu dar a volta ao continente africano, a ideia parecia uma loucura. Havia pouca tecnologia para navegar em oceano aberto (o Mediterrâneo, o mar até então mais navegado, é fechado) e nenhum conhecimento sobre como se orientar no Hemisfério Sul, porque só o céu do Norte estava cartografado. Mais ainda: acreditava-se que, ao sul, os mares estavam cheios de monstros terríveis. De onde teria vindo então a informação de que era possível encontrar um novo caminho para o Oriente? Possivelmente, dos templários, que durante as cruzadas, além de se especializarem no transporte marítimo de peregrinos para a Terra Santa, mantiveram intensos contatos com viajantes oriundos de toda a Ásia.

A proposta visionária recebeu o aval do papa Martinho V, em 1418, na bula Sane Charissimus, que deu caráter de cruzada ao empreendimento. As terras tomadas aos infiéis passariam para a Ordem de Cristo, que teria sobre elas tanto o poder temporal, de administração civil, como espiritual, isto é, o controlo religioso e a cobrança de impostos eclesiásticos.

Entre o lançamento oficial da empreitada e a conquista do objetivo final decorreria muito tempo, precisamente oitenta anos. Só em 1498 o cavaleiro Vasco da Gama conseguiria chegar à Índia. Morto em 1460, o Infante D. Henrique não assistiu ao triunfo da sua cruzada. Mas chegou a ver como, no seu rastro, Portugal se iria tornar a maior potência marítima da Terra.

Pedro Álvares Cabral não tinha experiência náutica antes de partir na sua viagem, mas era um cruzado de grande valor militar. Quando chegou à Índia, bombardeou o porto de Calecute durante quinze dias.

O castelo medieval e o convento de Cristo, em Tomar, ainda se mantêm de pé. Ali funcionou a sede da Ordem de Cristo, entre 1307 e 1550, e foi ali que foram guardados os segredos das grandes navegações.

O Infante D. Henrique sagrou-se cavaleiro em 1415, na batalha de Ceuta, em Marrocos, em que os portugueses expulsaram os muçulmanos da cidade. No ano seguinte, o príncipe tornou-se comandante da Ordem. Como a sucessão do trono caberia ao seu irmão mais velho, D. Duarte, Henrique assumiu o cargo de governador do Algarve. Solteiro e casto, dividia o seu tempo entre o convento de Cristo, a sede da Ordem, e a vila de Lagos, no Algarve. Em Tomar, cuidava das finanças, da diplomacia e da carreira dos pilotos iniciados nos segredos do empreendimento cruzado. O convento era um cofre de recursos e informações secretas. Lagos era a base naval e uma corte aberta. Vinham viajantes de todo o mundo, de «desvairadas nações de gentes tão afastadas de nosso uso», como escreveu o cronista Gomes Eanes de Zurara na crónica da Tomada da Guiné. As personagens desse livro revelam um pouco do cosmopolitanismo do porto de Lagos: havia gente das Canárias, caravaneiros do Saara, mercadores de Timbuctu (hoje Mali), monges de Jerusalém, navegadores venezianos, alemães e dinamarqueses, cartógrafos italianos, e astrônomos judeus. Uma das regras de ouro da diplomacia era dar presentes. assim, o príncipe juntou uma biblioteca preciosa. Entre os mapas, plantas e tabelas, havia um exemplar manuscrito das Viagens de Marco Polo. Não por acaso, a primeira edição impressa dessa obra foi feita não em latim ou em italiano, mas em português, em 1534.

A escola de Sagres foi uma lenda criada pelos poetas românticos portugueses do século XIX. Na verdade, foi do porto de Lagos que a Ordem de Cristo, liderada pelo Infante D. Henrique, comandou a expansão marítima do século XV.

O Infante D. Henrique (1394-1460) era um articulador discreto. Raramente ia à corte, em Lisboa. O seu tempo era passado entre o convento de Tomar, sede da Ordem, e a base naval de Lagos.

Águas fervilhantes, ares envenenados, animais fantásticos e canibais monstruosos povoavam a imaginação dos que desciam o Atlântico em direção ao Sul.

Quando o navegador da Ordem de Cristo Gil Eanes passou o Cabo Bojador, um pouco ao sul das Canárias, em 1434, mais do que realizar um avanço náutico, estava a desmontar uma mitologia milenar. Acreditava-se que depois do cabo, localizado no que é hoje o Saara Ocidental, começava o Mar Tenebroso, onde a água fumegaria sob o sol, imensas serpentes comeriam os desgraçados que caíssem ao oceano, o ar seria envenenado, os brancos ficariam pretos, haveria cobras com rostos humanos, gigantes, dragões e canibais com a cabeça embutida no ventre. O estrondo das ondas nos penhascos do litoral, que poderia ser ouvido a quilômetros de distância, as correntes fortíssimas e as névoas de areia reforçavam o pânico dos pilotos. Quando finalmente reuniu coragem e viu que do outro lado não haveria nada de especial, Eanes abriu o caminho para Sul.

O rei de França, Filipe IV, o Belo, devia dinheiro à Ordem dos Templários. Os templários franceses eram os mais poderosos da Europa. Controlavam feudos e construções no interior e em Paris. Entre eles, o Templo, um conjunto de igrejas e oficinas que foi reformado em 1319 e se tornou a prisão da Bastilha, mais tarde destruída, durante a Revolução Francesa.

As derrotas no Médio Oriente alimentaram uma onda de calúnias segundo as quais os cavaleiros teriam feito acordos com os muçulmanos, fugindo de campos de batalha e traído os cristãos. Aproveitando o clima favorável, em 13 de Outubro (Sexta-feira) de 1307, Filipe invadiu, de surpresa, as sedes templárias em toda a França. Só em Paris foram detidos 500 cavaleiros, e muitos deles degolados.

Dois processos foram abertos: um dirigido pelo rei contra os presos, o outro conduzido pelo papa Clemente V contra a Ordem. O papa era francês, vivia em Avignon e era aliado do rei. Torturas brutais e confissões arrancadas pela Inquisição tornaram-se peças difamatórias escandalosas. O sigilo da Ordem foi usado contra ela e as etapas dos rituais de iniciação foram convertidas em monstruosidades. Os santos guerreiros foram acusados de cuspir na cruz, adorarem o diabo, render culto a Maomé, manter práticas homossexuais e queimar crianças. Todos os seus bens foram confiscados. Esperava-se uma fortuna, mas, como pouco foi efetivamente recolhido, criou-se a lenda de os tesouros teriam sido transferidos em segurança para outro país.

Para muitos investigadores, esse país teria sido Portugal. O rei D. Dinis (1261-1325) decidiu garantir a permanência da Ordem em terras portuguesas: sugeriu uma doação formal dos seus bens à Coroa, mas nomeou um administrador templário para cuidar deles. Nem o processo papal nem a execução do grão-mestre Jacques de Molay, em 1314, o intimidaram. em 1317, reiterando que os templários não tinham cometido crimes em Portugal, D. Dinis transferiu todo o patrimônio dos cruzados para uma nova organização recém-fundada: a Ordem de Cristo. Assim Portugal tornou-se um refúgio para perseguidos de toda a Europa. De vários países chegavam fugitivos, trazendo o que podiam. O convento de Tomar transformou-se na caixa-forte dos segredos que a Inquisição não conseguiu arrancar. Dois anos depois, em 1319, um novo papa, João XXII, reconheceu a Ordem de Cristo. Começava para os cavaleiros uma nova era, com uma nova missão

Nas primeiras décadas da existência Ordem de Cristo, os ex-templários estabeleceram estaleiros em Lisboa, fizeram contratos de manutenção de navios e dedicaram-se à tecnologia náutica, aproveitando o conhecimento adquirido no transporte de peregrinos entre a Europa e o Médio Oriente durante as cruzadas. Ao mesmo tempo, preparavam planos para voltar à ação, contornando a África por mar e, aliando-se a cristãos orientais, expulsar os mouros do comércio de especiarias.

Em 1416, quando assumiu o cargo de grão-mestre, o infante D. Henrique lançou-se à diplomacia. Tinham passado cem anos sobre a condenação dos templários nos processos de Paris, e o Vaticano estava preocupado com a pressão muçulmana sobre a Europa, que aumentara muito no século XIV. Com isso, em 1418, o infante consegue do papa um aval ao projeto expansionista. Daí em diante, cada avanço para o Sul e Oeste será seguido da negociação de novos direitos. Num século, os papas emitiram onze bulas privilegiando a Ordem com monopólios da navegação para África, posse de terras, isenção de impostos eclesiásticos e autonomia para organizar a ação da igreja nos locais a descobrir.

Até meados do século XV, os cavaleiros tomavam a iniciativa, sem esperar pelo Estado português. Uma vez iniciada a colonização, eventualmente doavam à família real o domínio material dos territórios, mantendo o controlo espiritual. À corte, interessada em promover o desenvolvimento da produção de riquezas e do comércio, cabia então consolidar a posse do que tinha sido descoberto.

Em Marrocos, os novos cruzados atacaram Tânger, em 1437, e Alcácer-Ceguer, em 1458. O ímpeto guerreiro preponderou sobre o mercantilismo real até 1461, ano em que o cavaleiro Pedro Sintra encontrou ouro na Guiné. Aí, a pressão comercial da monarquia começou a aumentar. Mesmo assim, ainda houve expedições contra os mouros marroquinos em Asilah e Tânger, de novo, em 1471. Mas à medida que foi sendo consolidado o comércio na rota das Índias, a partir da sua descoberta em 1498, a coroa foi absorvendo gradualmente os poderes da Ordem. Até que em 1550 o rei D. João III fez o papa Júlio III fundir as duas instituições. Com isso, o grão-mestre passava a ser sempre o rei de Portugal, e o seu filho tinha o direito de lhe suceder também no comando dos cruzados.

O rei D. João II, que governou entre 1481 e 1495, estimulou a atividade mercantil e a colonização dos territórios africanos, contendo o ímpeto guerreiro dos cruzados da Ordem de Cristo. Um Símbolo milenar

Os cruzados adotaram como emblema uma das cruzes mais antigas da cristandade:

Cruz Copta

No século II, uma dissidência cristã, chamada copta, adotou esta cruz.

Cruz Templária

Em 1119, a Ordem dos Templários criou um distintivo derivado da cruz copta.

Com a ideia de reconquistar Jerusalém, os portugueses passaram décadas à procura do lendário reino do Preste João, que seria um núcleo cristão remanescente em terras orientais. Por fim, em 1492, encontraram, na Etiópia, uma monarquia cristã.

Em 1541, os cristãos etíopes pediram ajuda a Portugal contra os Turcos. O rei português mandou uma expedição de 400 soldados, liderada por Cristovão Gama. Gama morreu, mas os cristãos venceram. Os portugueses foram recompensados e muitos deles ficaram na Etiópia. Em 1544, o rei etíope, Galawdewos, escreveu a D. João III a carta ao lado, agradecendo a ajuda.

A Ordem de Cristo controlou o conhecimento das rotas e o acesso às tecnologias de navegação enquanto pôde. Mas com o ouro descoberto na Guiné, em 1461, o monopólio da pilotagem passou a ser cada vez mais desafiado. A partir de então, multiplicaram-se os contratos com comerciantes e as cessões de domínio ao rei para exploração das regiões descobertas. Aos poucos, a sabedoria secreta guardada em Tomar foi sendo passada para mercadores de Lisboa, da Flandres e de Espanha. Naquela época, Portugal fervilhava de espiões, especialmente espanhóis e italianos, que procuravam os preciosos mapas ocultados pelos cruzados.

Enquanto o tesouro de dados marítimos esteve sob a sua guarda, a estrutura secreta da Ordem garantiu a exclusividade dos portugueses. Em Tomar e em Lagos, os navegadores só progrediam na hierarquia depois de a sua lealdade ter sido comprovada, se possível em batalha. Só então podiam ler os relatórios reservados de pilotos que já tinham percorrido regiões desconhecidas e ver preciosidades como as tábuas de declinação magnética, que permitiam calcular a diferença entre o Polo Norte verdadeiro e o magnético que aparecia nas bússolas. E, à medida que as conquistas avançavam no Atlântico, eram feitos novos mapas de navegação astronômica, que forneciam orientação pelas estrelas do Hemisfério Sul, a que também só os iniciados tinham acesso.

Mas o sucesso atraía a competição. A Espanha, tradicional adversária, também fazia política no Vaticano para minar os monopólios da Ordem, numa ação combinada com o seu crescente poderio militar. Em 1480, depois de vencer Portugal numa guerra de fronteira que durou dois anos, os reis Fernando, de Leão, e Isabel, de Castela, começaram-se a interessar-se pelas terras de além-mar. Com a viagem vitoriosa de Colombo à América, em 1492, o papa Alexandre VI, um espanhol de Valência, reconheceu em duas bulas, as inter Caetera, o direito de posse dos espanhóis sobre o que o navegante genovês tinha descoberto, e rejeitou as reclamações de D. João II de que as novas terras pertenciam a Portugal. O rei não se conformou e ameaçou com outra guerra. A controvérsia induziu os dois países a negociarem, frente a frente, em Espanha, no ano de 1494, um tratado para dividir o vasto Novo Mundo que todos pressentiam: O Tratado de Tordesilhas.

Mapa do Tratado de Tordesilhas

No regresso da viagem à América, em 1493, Cristovão Colombo fez uma escala em Lisboa para visitar o rei de Portugal, D. João II. Um gesto corajoso. O soberano estava dividido entre dois conselhos: prender o genovês ou reclamar ao papa direitos sobre as terras descobertas. Para sorte de Colombo, decidiu-se pela segunda alternativa. Como a reivindicação não foi atendida, acabou por ser obrigado a enviar os melhores cartógrafos e navegadores da Ordem de Cristo, liderados pelo experiente Duarte Pacheco Pereira, a Tordesilhas, em Espanha, para tentar um tratado definitivo, mediado pelo Vaticano, com os espanhóis. Apesar de toda a contestação, a Santa Sé ainda era o único poder transnacional na Europa do século XV. Só ela podia mediar e legitimar negociações entre países.

O cronista espanhol das negociações, frei Bartolomeu de las Casas, invejou a competência da missão portuguesa. No livro História de las Indias, escreveu: «Ao que julguei, tinham os portugueses mais perícia e mais experiência daquelas artes, ao menos das coisas do mar, que as nossas gentes». Sem a menor dúvida. Era a vantagem dada pela estrutura secreta da Ordem de Cristo.

Não havia outra hipótese. Portugal saiu-se bem no acordo. Pelas bulas Inter Caetera, os espanhóis tinham direito às terras situadas mais de 100 léguas a Oeste e a Sul das ilhas dos Açores e de Cabo Verde.

Pelo acordo de Tordesilhas, a linha divisória imaginária, que ia do Polo Norte ao Polo Sul, foi esticada para 370 léguas, reservando tudo o que estivesse a Leste desse limite para os portugueses, incluindo o Brasil. Trabalhando em silêncio

Graças à Ordem e à sua política de sigilo, os portugueses sabiam da existência das terras onde hoje está o Brasil sete anos antes da viagem de Pedro Álvares Cabral. E, trinta anos antes da viagem de Colombo, todos os mapas nacionais mostravam ilhas com o nome de «Antílias», a Oeste de Cabo Verde. O mais famoso cartógrafo italiano da época, Paolo Toscanelli, escreveu a um amigo português, em 1474, falando da «Ilha de Antília, que vós conheceis».

Nesse ano, também há notícia de que o navegador cruzado João Vaz da Corte Real explorou as Caraíbas e foi até à Terra Nova (Canadá). Mas os documentos comprovativos da viagem, como quase tudo da Ordem, nunca foram encontrados.

A linha do Tratado de Tordesilhas ia do Polo Norte ao Polo Sul, passando 370 léguas a Oeste das ilhas de Cabo Verde. Para a sua esquerda, era tudo de Espanha; para a direita, de Portugal.

Em 1494, Portugal e Espanha, com a mediação do Vaticano, assinaram o Tratado de Tordesilhas. Duarte Pacheco Pereira foi o principal negociador português.

Diz a tradição que o nome «Brasil» vem do pau-brasil, madeira cor-de-rosa. Mas a tradição é insuficiente quando se sabe que desde 1339 que o nome «Brasil» aparece em mapas. No século XIV, os planisférios dos cartógrafos Mediceu, Solleri, Pinelli e Branco mostravam uma ilha Brasil, sempre a Oeste dos Açores. O historiador brasileiro Sérgio Buarque de Holanda acreditava que a origem do nome é uma lenda céltica que fala de uma «terra de delícias», vista entre as nuvens.

A primeira carta geográfica onde aparecem referências seguras ao Brasil real é o mapa de Cantino. Nele podem ver-se papagaios, florestas e o contorno do litoral a Norte e a Sueste.

O trabalho foi encomendado pelo espião italiano Alberto Cantino, em 1502, a um cartógrafo de Lisboa e enviado ao seu senhor, o duque de Ferrara. A forma como foi feito é um mistério. Afinal, as únicas viagens oficiais de espanhóis e portugueses ao Brasil até 1502 foram as de Vicente Pinzón, ao estuário do Amazonas, e de Pedro Álvares Cabral, até onde hoje é a Bahia. Como explicar, então, a presença, na carta, do desenho do litoral?

Fruto provável de um suborno do cartógrafo, a avaliar pela conta choruda apresentada por Cantino ao duque, o mapa torna claro que já havia conhecimento profundo das terras a Oeste do Atlântico. Além de 4000 quilômetros de litoral brasileiro, aparecem no mapa a Florida, a Terra Nova (hoje Canadá) e a Groenlândia. Historiadores portugueses modernos, como Jorge Couto e Luciano Pereira da Silva, acham que Duarte Pacheco Pereira, o navegador que negociou Tordesilhas e autor do livro Esmeraldo de Situ Orbius, sobre as navegações portuguesas, escrito em 1505, deixou indicações de que esteve no Brasil. Teria visitado a costa do Maranhão e a Foz do Amazonas, em 1498, quatro anos depois de Tordesilhas. Mesmo assim, há questões não respondidas a respeito do mapa de Cantino. A única certeza é que entre a versão oficial e os fatos reais agiam em sigilo os cavaleiros da Ordem de Cristo, cuja documentação nunca foi encontrada.

Desde 1339 que o nome do Brasil aparece em mapas e planisférios. Os portugueses sabiam muito mais sobre as terras situadas a Oeste do que reconheciam publicamente. O continente sul-americano não foi descoberto por acaso. Os navegadores da Ordem de Cristo já lá tinham estado antes de 1500.

Mapa de 1482, feito pelo cartógrafo Gracioso Benincasa, em Ancona, em Itália, indicando: 1-costa portuguesa; 2-costa africana; 3-«Isola de Bracill»; 4-«Antília».

Referências: A Missão Templária nos Descobrimentos. Rainer Daehnhardt, Nova Acrópole, Lisboa, 1993. Colombo, a Cabala e o Delírio. Luiz de Lencastre e Távora, Quentzal Editores, Lisboa, 1999.

(*) Jair Duarte, M.: I.:

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