“Oh, meu senhor, tua mão, que segura o tambor sagrado, colocou o céu, a Terra, outros mundos e incontáveis almas no lugar correto. Tua mão erguida protege tanto a ordem consciente da criação como a inconsciente. Todos estes mundos são transformados pela mão que leva o fogo. Tua mão esquerda dá abrigo às almas sofridas e cansadas. Teu pé erguido garante a eterna bem-aventurança a todos aqueles que se aproximam de ti.”
(Ananda Coomaraswarny, The Dance of Shiva, p. 71)
A física moderna mostra que o movimento e os ritmos são propriedades essenciais da matéria, que toda matéria – tanto na Terra como no espaço – está envolvida numa dança cósmica. Os mestres orientais possuem uma visão dinâmica do universo semelhante aos dos físicos. Para eles, quando o ritmo da dança se modifica, o som produzido também se modifica. Cada átomo canta incessantemente sua canção, e a cada momento, cria formas densas e sutis.
Na Índia, o som é associado com o éter, o primeiro dos cinco elementos. A manifestação penetrante da substância divina, da qual se desenvolveram os outros elementos, tais como o ar, a água, o fogo e a terra.
A semelhança desta concepção e a da Física Moderna torna-se particularmente notável. A metáfora da dança cósmica encontrou sua expressão mais bela e profunda no hinduísmo, na imagem de Shiva – O Rei dos Dançarinos, um dos mais antigos e populares deuses indianos.
Segundo o hinduísmo, todas as coisas são parte de um grande processo rítmico de criação e destruição, de morte e renascimento, e a dança de Shiva simboliza esse eterno ritmo de vida e morte que se desdobra em ciclos intermináveis. Na plenitude do tempo, Ele destrói todas as formas pelo fogo e lhes concede novo repouso. Isto é poesia e, contudo, também é ciência.
Shiva aparece em magníficas estátuas com quatro braços, cujos gestos equilibrados expressam o ritmo e a unidade da vida. A mão direita superior do Deus segura um tambor que simboliza o som primordial da criação; a mão esquerda superior sustenta uma língua de chama, o elemento da destruição. O equilíbrio das duas mãos representa a harmonia dinâmica do universo, acentuado ainda mais pela face calma e indiferente do Dançarino no centro, onde a polaridade é dissolvida e transcendida. A segunda mão direita ergue-se num gesto que significa “não tenha medo”, expressando manutenção, proteção e paz. Por sua vez, a mão esquerda remanescente aponta para o pé erguido, que simboliza a libertação da fascinação de Maya. O Deus é representado dançando sobre o corpo de um demônio, símbolo da ignorância do homem e que deve ser conquistado antes que seja alcançada a iluminação.
Quando dança, Shiva representa a verdade cósmica, o fluxo incessante de energia que permeia uma variedade infinita de padrões que se fundem. Os físicos modernos mostraram que o ritmo da criação e destruição não se acha manifesto apenas na sucessão das estações e no nascimento e morte de todas as criaturas vivas, mas também na essência da matéria inorgânica.
Mais do que isso, a dança de criação e destruição é baseada na própria existência da matéria, uma vez que todas as partículas materiais “auto-interagem” pela emissão e reabsorção de partículas virtuais. A física moderna revelou, pois, que cada partícula subatômica não apenas executa uma dança de energia, mas também é uma dança de energia. O mundo subatômico é um mundo de ritmo, movimento e mudança contínua.
A dança de Shiva é a dança da matéria subatômica e como na mitologia hindu, trata-se de uma contínua dança de criação e evolução, destruição e renascimento, envolvendo a totalidade do cosmos e constituindo a base de todos os fenômenos naturais.
A mensagem não poderia ser mais clara: tudo aquilo que é criado, um dia morrerá, para poder renascer e seguir o fluxo evolutivo. No entanto, nada no universo morre realmente, só há mudança de plano e padrão vibracional. A energia não nasce e nem morre, só é transformada.
Referência:
O Tao da Física de Fritjof Capra
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