“Tolerância é saber conviver com as diferenças dos outros!”

toleranceA maioria das pessoas, em diversos períodos de vida, são feixes de contradições. Prezamos nosso lado analítico, calmo e controlado, mas de súbito temos ataques de raiva. Ou então estabelecemos objetivos significativos e em seguida colocamos obstáculos em nosso próprio caminho. Desejamos boa sorte a um amigo em algum empreendimento, mas sentimos um pouco de prazer se ele fracassar. Queremos ser compreendidos, mas nos recusamos a entender a pessoa que não consegue nos compreender.

É o coração descontente, que procura satisfação, e que às vezes fica perturbado em frente à serenidade de um outro. É o procrastinador (aquele que fica adiando as coisas) que, não raro, se mostra intolerante com a procrastinação alheia.

Esta inconstância é normal, embora possa também ser perturbadora. Ela acontece porque nenhum de nós é perfeito, porque mesmo a pessoa bem-dotada de experiências não consegue agir com constância. E estas contradições acontecem quando insistimos em ser alguém que não conseguimos ser, quando não aceitamos plenamente tanto nossas imperfeições quanto as imperfeições dos outros.

Quando vivemos um período tranquilo, temos tendência a ser mais tolerantes em relação às imperfeições e diferenças. Mas quando estamos vivendo sob pressão, as imperfeições parecem intoleráveis, embora seja durante esses períodos que nossa capacidade de ser tolerantes se torna mais necessária.

O esforço constante feito para que alguém se modifique é inútil e pode ser contraproducente. Quando vejo duas pessoas engalfinhadas numa luta pelo poder, sei que, na verdade, não são as diferenças de opinião que as separam, mas sim os esforços constantes que cada uma faz para conseguir que a outra mude.

Para que uma pessoa possa, sinceramente, se modificar, ela precisa, em primeiro lugar, sentir-se afirmada e compreendida. Com frequência, o indivíduo se sente desvalorizado, e os esforços persistentes que faz para mudar fracassam quando em nenhum momento lhe é sinceramente comunicado: “Eu me importo com você. Eu o aceito e entendo seus temores acerca do que preciso que você faça.”

Há muitas coisas que não devem ser toleradas, tais como ofensa e crueldade. Aceitar alguém como é não significa que você tem que mostrar esta aceitação através de atos que possam ser prejudiciais. Lembre-se que a dádiva da tolerância não tem origem numa mentalidade tipo vale-tudo, mas leva em conta erros, perdão e a oportunidade de crescimento pessoal.

Sempre que você precisa que outra pessoa se modifique para que você se sinta feliz, sua tolerância aparece. Em relacionamentos tumultuados, os cônjuges insatisfeitos culpam um ao outro por sua infelicidade, tornando-se cada vez menos tolerantes ao modo de ser do parceiro. Mas ver o parceiro como “problema” é deixar de lado um aspecto crucial, que faz com que o problema persista. Na realidade, os casais frequentemente reforçam, em seus parceiros, o comportamento que eles consideram censurável.

Não pode haver um “estilo dominador” sem um “estilo submisso”. Sob esta perspectiva, a intolerância do outro é um sinal de responsabilidade inadequada consigo mesmo. Quanto menos cuida adequadamente de suas próprias necessidades, mais você exige que os outros as preencham, e se tornará mais intolerante quando os outros falharem ao preenchê-las. Como mostra o psicólogo Gus Napier em seu livro <The Fragile Bond> (O Elo Frágil), cônjuges (ou aqueles que vivem em alguma forma de parceria) são mais controlados por sua própria dependência do que pelo comportamento de seus parceiros.

boomers-building-tolerance-understanding-people-of-different-religionsDESLIGUE-SE: Desligar-se (mas não se retirar completamente) de uma luta emocionalmente intensa não parece ser a coisa sensata a fazer. Mas desligar-se do problema pode ser a coisa mais sábia a fazer, porque, quando voce se desliga, liberta-se de um empurra-empurra automático de uma relação disfuncional e se concentra mais em cuidar de si mesmo. Faça longos passeios, volte a frequentar a igreja, visite os amigos com mais assiduidade, esquente um romance que anda adormecido, envolva-se num projeto desafiador e satisfatório. Enfim: mude seus horizontes. Ao se desligar de sua briga com outra pessoa e canalizar maior dose de energia a áreas pessoais que gostaria de fortalecer, sua ansiedade diminuirá – ironicamente, você acabará aumentando as chances de que a outra pessoa se modifique. E mesmo quando a pessoa com quem guerreia o provocar (e ela certamente o fará), procure agir da maneira que um amigo meu aconselha: aprenda a deixar de ser um “missionário” e comece a ser um “antropólogo”. Esta abordagem, que é mais saudável, envolve tomar notas mentais e fazer observações a respeito do comportamento de seu parceiro, de forma que você possa se proteger, quando for necessário, em vez de tentar “convertê-lo”.

DÊ CARINHO: Não abandone nem rejeite a outra pessoa, mas estabeleça limites. Você não demonstra carinho ao fazer qualquer ofensa que acaba por reduzir a capacidade que tem de cuidar de si mesmo. O desligamento eficiente não recomenda que se evite aquela pessoa, nem é uma outra forma de expressar raiva, e, ao desligar-se, você continua a dar carinho àquela pessoa. Quando você se desliga e se reduz sua necessidade da relação, pode ter certeza de que a outra pessoa se tornará mais ansiosa e desorientada durante algum tempo.

Faça a si mesmo a seguinte pergunta a respeito de qualquer relação cronicamente insatisfatória na qual você esteja envolvido: você está mais preocupado com a modificação de uma pessoa do que ela mesma está? Se a resposta for afirmativa, diminua seu grau de envolvimento emocional e reinvista sua energia em áreas de crescimento mais pessoais (em você mesmo).

  Você também precisa aprender a tolerar níveis mais altos da dor de um ente querido, se realmente estiver a fim de ajudá-lo quando ele precisar de você. À primeira vista, este comportamento pode parecer um tanto frio e insensível, mas lembre-se que, quando corre para apagar o fogo da dor alheia, você pode, às vezes, impedir que o outro desenvolva sua própria capacidade de enfrentar o sofrimento. Tolerar níveis mais altos da dor de um ente querido não significa indiferença; ao contrário, demonstra boa vontade de sofrer com ele, ao invés de tira-lo do sofrimento. Dizer a entes queridos que não fiquem tristes quando estão tristes, ou para agirem com mais força quando eles não a tem (num esforço para ajudá-los – e a você – a se sentirem melhor) não é grande coisa, em termos de ajuda ou consolo. Agindo assim, você pode levá-los a se sentirem culpados por serem incapazes de reagir da forma que você gostaria que reagissem. Se você conseguir tolerar a dor deles, estará capacitado a ouvi-los melhor, e eles se sentirão mais compreendidos e cuidados. E se lhe pedirem ainda mais ajuda, você provavelmente estará muito mais capacitado a dar o que for necessário, depois de tê-los ouvido com tanta atenção.

TOLERÂNCIA é virar, às vezes, a outra face, mas a tolerância nunca é um fracasso quando se é sincero com seu eu mais profundo e verdadeiro.

TOLERÂNCIA é frequentemente, um sofrimento silencioso, uma disposição de romper com algo difícil, sabendo que os outros poderão não apreciar plenamente o nível de seu sacrifício.

TOLERÂNCIA não é para todos os momentos, todas as circunstâncias; mas pode ser perfeita para este momento, esta circunstância.

TOLERÂNCIA é fornecer, sempre, uma perspectiva que você jamais teria imaginado, se fosse impaciente e intolerante.

TOLERÂNCIA é permitir a aceitação do outro, pois se a tolerância é a lição, os outros devem ser seus professores.

TOLERÂNCIA é em sua forma mais pura, uma demonstração de amor.

diversityDo mesmo modo que acontece com o amor, o perdão, a honestidade e todas as grandes dádivas do espírito humano, a tolerância exige que você corra um risco. A tolerância se fundamenta na fé, e a fé, por definição, se fundamenta na crença. Sendo assim, as pessoas tolerantes – da mesma forma que as amorosas ou clementes – devem agir por fé, sabendo que, mais cedo ou mais tarde, esta mesma tolerância poderá lhes causar sofrimento. Nem todos os atos de amor, perdão ou tolerância são recompensados, e você sabe muito bem que, depois de mostrar tolerância, poderá ser rejeitado. Mas será que isto significa que você deve recuar? E será que a tolerância só é significativa quando você se arrisca a ter que sofrer? O mal não deveria ser tolerado, mas como reconhecê-lo? As respostas a estas perguntas não são fáceis, e enquanto a sociedade civilizada tem padrões que segue, a moralidade parece transformar-se em sinuosidades políticas. Hoje em dia, não temos mais certeza do que é correto ou do que devemos tolerar, e algumas coisas que no momento atual são toleráveis foram intoleráveis no futuro. Alguns chamam isto de progresso; outros, de um sinal de declínio da civilização. E você, o que escolhe tolerar num mundo em que terroristas são chamados soldados da liberdade, alguns assassinatos são vistos como misericordiosos (eutanásia) e algumas guerras são consideradas santas?

A dádiva da tolerância é preciosa e frágil. E, como todas as dádivas, deve ser tratada com muito cuidado.

Jorge Carlos Costa

filipeta

 

 

imagicklan pro1f542fb2wv8nh2ny4