Pouco antes de sua morte, Sócrates lembrou-se de um débito que, segundo ele, contraíra para com o deus grego da medicina que havia cuidado dele durante a vida inteira. Referindo-se à tradição grega de recompensar o deus Asdépio por sua atenção.
Disse Sócrates: Devo um galo a Asdépio…
Ele estava observando o costume grego de honrar o enfoque restaurativo asclepiano da medicina, a versão antiga da moderna medicina biomecânica. A medicina ocidental continua a evoluir como o sistema mais poderoso e eficiente já concebido para lidar com tráumas e doenças, mas geralmente não consegue ser tão eficiente quanto a abordagem ao bem-estar elaborada por Hígia, filha de Asdépio, que é mais orientada pelo coração. A medicina higiniana reconhece que o corpo tem sua própria sabedoria natural, uma capacidade integrativa intuitiva que pouco depende de nosso pensamento e atua em todos os momentos danoso da vida, mesmo quando dormimos. Ela reconhece o campo de inteligência energético-informativa sutil que é nosso corpo e a oscilação natural entre saúde e doença como partes essenciais do mesmo continuum da vida. A medicina asclepiana atua sobre nós de maneira a nos restaurar a saúde, mas a medicina higiniana ajuda a cura acontecer dentro de nós, ao permitir que a natural energia vital – ou “V“ (como a denomino) – de nosso coração flua livremente.
O processo de curar com o coração começa com dez perguntas e respostas. As respostas do cérebro asclepiano e do coração higiniano a essas perguntas exemplificam suas diferentes abordagens.
1) Que significa curar?
O Cérebro: Curar é a modificação biomecânica dos sistemas orgânicos através de tentativas diretas de ajustar, corrigir e restaurar um sistema mecânico à sua versão de funcionamento “normal”. A moderna medicina asclepiana é o mais eficiente sistema de restauração do corpo em toda a história.
O Coração: Curar é deixar sadio, é unir novamente, é recuperar memórias moleculares que estimulam a recuperação da saúde; é ficar atento aos riscos ao nosso bem-estar, para evitar o desequilíbrio com a energia de todos os sistemas que nos rodeiam.
O psiquiatra David Benor fez um estudo detalhado das iniciativas do ato de curar e sua definição da ajusta-se à definição cardioenergética. Ele entende a cura como a influência intencional de uma ou mais pessoas sobre um organismo sem a utilização de meios de intervenção física conhecidos. Para o processo de curar cardioenergético, “influência” significa concentrar-se na sabedoria e na energia que emanam sutilmente do coração, e não apenas manipulações e técnicas inventadas pelo cérebro. Curar com o coração não é “tentar curar”, mas permitir que a natural energia sanativa do coração e todas as memórias de curas que já ocorreram ressoem dentro da pessoa; é permanecer sereno e calado “irrefletido” o suficiente para permitir ao coração que estabeleça com os corações uma coerência compartilhada na forma de prece solidária que transcende os limites das palavras.
2) Porque curar?
O Cérebro: Curamos para possibilitar às pessoas prosseguir, fazer mais, ter mais, viver mais tempo e obter o máximo de sua vida individual.
O Coração: Curamos a fim de ficarmos íntegros com os sistemas à nossa volta e para podermos cuidar de sanar e proteger esses sistemas, que incluem pessoas, plantas, animais e lugares.
3) Quem necessita de cura?
O Cérebro: Biossistemas doentes ou “fragmentados” necessitam de reparos porque estão desarranjados. Quem quer que não esteja “sadio”. e “normal” segundo a biociência necessita da intervenção desta.
O Coração: Todas as pessoas e todas as coisas em toda parte necessitam permanentemente de cura, pois a cura é o processo de manter a conexão de energia saudável fluindo dentro de todos os sistemas. São os sistemas e não os indivíduos que adoecem. Saúde e doença não são extremidades opostas de um continuum. Todos nós estamos sadios e doentes ao mesmo tempo permanentemente, porque somos sistemas energéticos caóticos em processo de autocorreção. Estabilidade não significa nunca mudar. A estabilidade sistêmica da cardoenergética é indicada pelos reajustes energéticos constantes de um sistema.
Em 1900, o fisiologista francês Charles Richet disse que “a instabilidade é a condição necessária para a estabilidade do organismo”. Em outras palavras, o caos significa doença para um seguidor de Asclépio, mas para um higiene é uma forma de saúde dinâmica. Entre os infinitos padrões de flocos de neve, não existe maneira certa de ser um floco de neve “sadio” ou “correto” O oceano, quando encapelado, não está “doente”. Não devemos desperdiçar a magia da conexão sanativo empregando-a apenas quando julguemos estar doentes. Existe uma misteriosa reciprocidade que atua no relacionamento entre doença e saúde, e o melhor modelo de equilíbrio saudável não é uma pessoa firmemente posicionada no chão, mas alguém andando numa corda esticada, segurando a barra de equilíbrio e incessantemente reajustando-se e adaptando-se.
4) Como curamos?
O Cérebro: O credo da medicina asclepiana, ou medicina orientada pelo cérebro, é: “Não fique parado ai. Faça alguma coisa.. Não há melhor sistema para fazer diagnósticos mais rápidos e para a tomada de ação rápida e imediata do que a biomedicina moderna, e muitos de nós já experimentaram seu poder salvador. É um sistema ideado para localizar falha numa parte biomecânica específica e, a seguir, corrigir e estabilizar o problema por meios químicos ou mecânicos.
O Coração: O credo da medicina higiniana, ou medicina orientada pelo coração, é: ‘Não faça nada. Fique parado ai”. Se você tomar um monte de remédios vendidos sem receita, seu resfriado provavelmente irá embora dentro de uns 14 dias. Se você não fizer absolutamente nada e não se preocupar, seu resfriado provavelmente se dissipará em mais ou menos duas semanas. No primeiro caso, você poderá se dar conta de que o estresse excessivo fez sua imunidade baixar e que você deveria estar dedicando mais tempo de seu cotidiano a fazer o que um forte resfriado freqüentemente nos força a fazer – ficar em casa sob um cobertor bem quente, tomando canja de galinha e lendo um bom livro. Um resfriado pode ser a manifestação do corpo expressando o grito do espírito de “querer ir para casa”. O processo de curar é intensificado quando nos lembramos de que aparentemente temos um ímpeto interior para a saúde e que a maioria dos problemas se corrige se permitirmos que a natural sabedoria sanativo do corpo faça seu trabalho A cura do coração pelo processo higiniano consiste em nos conscientizarmos de onde e como em nossas vidas perdemos a conexão ou o contato com o nosso estabilizador principal – o coração. A cura pelo coração exige que permitamos que ocorra por si uma reconexão energética, em vez de tentar fazer que ela ocorra.
O médico Larry Dossey fez referência ao valor daquilo que ele chama de “a grande esperas”. Embora existam ocasiões em que se faz necessária uma ação urgente para salvar urna vida, tais ocasiões são raras comparadas àquelas em que “deixar-se estar” é justamente o que deve ser feito. Com tranqüilidade e um ritual despreocupado e repetitivo, mais do que com ação e procedimentos imoderados, poderemos recuperar as memórias celulares deixadas por aqueles que nos antecederam. Memórias que nos ensinam a ser íntegros novamente e a fazer a conexão com a energia que compartilhamos com todos os sistemas.
Assim como os equilibristas que andam na corda esticada, se nos esforçarmos demais, nos preocuparmos demais e pensarmos demais, poderemos nos tomar insensíveis precisamente aos sinais que nos ajudam a nos reajustar e manter o estado de equilíbrio dinâmico, amiúde precário, mas adaptativo e mantenedor da vida.
5) Onde somos corados?
O Cérebro: Afastamo-nos da natureza e entramos no edifício mais moderno, tecnicamente avançado e hermético que pudermos encontrar, o qual é provido do corpo de pessoal mais inteligente, aprimorado; bem conhecido, objetivo e mais bem pago da ciência de curar. Despimos nossas roupas, vestimos um manto ritualista que permite aos outros fácil acesso ao nosso corpo (em especial por trás), deitamo-nos em uma cama alta que restringe qualquer fuga rápida, cedemos vários fluidos de nosso corpo, pemitimo-nos ser objeto de estudo de sacerdotes neófitos frequentemente extenuados pela exigência de ter de participar constantemente de uma cerimônia de trote, e entregamos nosso corpo aos sacerdotes e às donzelas asclepinianas para ser restaurado. Visitas podem trazer alguns ramos de flores e traços da natureza ao templo, mas o objetivo é restringir ao máximo possível o ingresso do mundo natural e de membros carinhosos da família de modo que a santidade, os códigos, os procedimentos, os programas, a hierarquia e a burocracia do templo de Asclépio não sejam subvertidos. Quanto mais máquinas houver e quanto mais novas forem, melhores serão nossas probabilidades de curar.
O Coração: Para curar devemos encontrar um local energeticamente amistoso que nos permita estabelecer uma conexão mais intensa com os aspectos naturais de nosso viver. Além disso, devemos imergir na energia que emana das plantas, dos animais e das pessoas que nos amam e que estão à nossa volta. Somos parte integrante de todos eles. Um oceano ou uma floresta são bons lugares para efetuar curas, pois estão em ressonância direta com nosso centro sanativo, o coração.
6) Por quem somos curados?
O Cérebro: Somos separados de nossa família e curados por uma procissão de desconhecidos expeditos que observam traçados e aproximações simbólicas do funcionamento de nosso corpo e que, a seguir, prescrevem o procedimento a adotar e o que deve ser feito “a nós” por eles ou por suas aproximações medicamentosas de substâncias naturais. Se formos “complacentes”, poderemos sarar. Caso contrário, os sacerdotes do templo poderão considerar-nos como pacientes que “não responderam ao tratamento”.
O Coração: Não somos curados “por”, mas “com”. Somos curados com a presença de corações sanativos à nossa volta que se unem ao nosso coração e não simplesmente fazem coisas “a ele.. Pesquisas mostram que a necessidade de se efetuar o ato cirúrgico mais comum nos Estados Unidos, o parto cesariano, pode ser reduzida em mais de 50% quando a mãe tem a presença continua de uma mulher que lhe dê amparo durante o trabalho de parto e a parturição.
A cardioenergética sugere que chequemos o coração e não apenas os diplomas de nosso médico e que escolhamos um clínico que nosso coração indique “tem bom coração” e que emita “energias sanativa satisfatória”.
7) Quando sabemos que estamos corados?
O Cérebro: Sabemos que estamos curados quando os números de determinadas máquinas nos informam que estamos “nova mente dentro dos limites anormais”, nosso médico nos diz que saramos, ou quando nosso seguro-saúde nos comunica que o prazo de internação ou de tratamento a que temos direito se esgotou. Estamos curados quando conseguimos adiar a morte ou estamos aptos a voltar à mesma vida frenética e confusa que, afinal de contas, provocou nossa doença.
O Coração: Quer estejamos restabelecidos ou não, estamos curados quando nos sentimos íntegros, quando os outros dizem que se sentem mais ligados a nós, quando algo em nosso coração nos faz sentir novamente o encanto do mundo e nos liga a ele energeticamente mais uma vez. Estamos curados quando aprendemos a celebrar a vida em vez de apenas lutar para prolongá-la e quitada aprendemos a nos tomar mais conscientes da sutil instabilidade oscilante que se encontra logo abaixo daquilo que podemos experimental como “saúde estável”.
8) Como ocorre a cura?
O Cérebro: Uma vez que encontramos a parte do sistema mecânico que está desarranjada e a restauremos, a cura ocorreu, pois recuperamos nosso “funcionamento normal. Recuperar a saúde nada tem de “vitalista”, energético ou espiritual. Trata-se apenas do restabelecimento de uma função biomecaânica.
O Coração: A cura ocorre quando sentimos novamente dentro de nós o fluir de uma energia afetuosa e quando a sutil energia “V. da vida, nossos ancestrais, as árvores, os pássaros, as flores, os animais e o sistema da vida nos dizem, através de nossas memórias celulares, que abrimos suficientemente o coração para deixar a energia fluir novamente. A cura ocorre quando o campo da inteligência energética que existe no interior do organismo exercita seus poderes intuitivos para restabelecer um equilíbrio mais adaptativo entre nós e nosso mundo.
9) Que acontece depois que saramos?
O Cérebro: Depois de sermos curados, voltamos à nossa faina cotidiana. Poderemos ficar mais atentos a outro desarranjo num órgão qualquer e mudar alguns de nossos comportamentos, a fim de diminuir a possibilidade de recidiva ou recaída, mas a cura geralmente nos permite retomar mais do que mudar nossa vida de antes. Pelo menos temporariamente, até que o cérebro retome suas pressões urgentes e se esqueça de nosso sofrimento anterior, podemos nos tornar um membro do grupo dos sãos que se preocupam em praticar medicina “preventiva”.
O Coração: Não existe o “depois” de sarar, pois estamos constantemente conscientes de estar Íntegros, em boa relação com os outros, enviando e recebendo energia de todos os sistemas à nossa volta. Tanto a doença como a saúde fazem parte da vida, de forma que, quando sofremos a dor da doença, aprendemos a nos dedicar mais a uma maneira de viver segundo o enfoque sanativo. Também podemos aprender com as outras pessoas, quando sofrem, que, ajudando-as a curar-se, energizamos nosso próprio processo sanativo. Em vez de praticar medicina auto-orientada e “preventiva”, praticamos um processo de cura mais intenso com todos os sistemas.
10) Que é uma pessoa que cura?
O Cérebro: Uma pessoa que cura é alguém que aprendeu tudo sobre o funcionamento dos sistemas orgânicos e durante vários anos sacrificou grande parte de sua própria saúde mental e física a fim de conseguir aprovação nos exames exigidos para ser legalmente declarado apto a tentar curar seus semelhantes e trabalhar nos templos de cura. A pessoa que cura é objetiva, emocionalmente distante, mecanicista, cética e descrente de qualquer coisa que não possa ser vista ou tocada.
O Coração: Todos nós somos pessoas que curam, mas alguns de nós têm maior capacidade de curar do que a maioria, porque uma grave doença os fez passar por uma transformação e, consequentemente, são mais cardiossensíveis (isto é, sensíveis à energia “V”) do que aqueles que ainda não se confrontaram com sua própria condição de mortais. Os cardiossensíveis sabem que a solicitude por si mesmo começa com a solicitude para com os outros e com a compreensão de que nenhum de nós é de fato emocionalmente distante ou totalmente objetivo.
Dois critérios nos indicam que uma pessoa que cura é mais cardiossensível: 1) ela aprendeu algo com uma crise; 2) em parte, devido a essa crise, ela desenvolveu profunda solidariedade pela energia do próprio e dos corações dos outros.
A cardioenergética é de opinião que, em última análise, o ato de curar é um assunto do coração, e não do cérebro. É uma escolha para harmonizar-se com outra esfera situada além daquela com a qual o cérebro se sente mais à vontade; é o domínio da sutil energia “V” que dança entre todos os sistemas. É compreender o que minha mãe me disse quando eu era menino. Quando meu avô morreu e todos nós estávamos chorando, perguntei à minha mãe se todas as pessoas tinham de envelhecer. Disse ela: “O corpo envelhece, mas sua mente nunca. Ainda que o cérebro pareça falhar e o corpo enfraqueça, o coração permanece forte e sua energia é eterna. No centro de cada coração há uma câmara que registra e transmite; enquanto você cuidar para que seu coração não deixe de enviar sinais de afeto a outros corações, mesmo quando você estiver triste, ele receberá sinais de afeto em resposta. Se o que você transmitir for belo, animador, esperançoso e solicito, é isso que seu coração receberá inevitavelmente e, não importa o que aconteça ao seu cérebro e ao seu corpo, aquilo que você é e foi para com os outros fará com que você seja sempre jovem no coração.”
Desde o primeiro milagre do começo da vida ao milagre final da transcendência além da vida, você tem sua câmara de registo espiritual vibrando no centro do seu ser. Cada batida de seu coração molda as memórias que serão seu legado, os ecos infinitos da alma que continuarão a ressoar por muito tempo depois que seu corpo e seu cérebro tiverem deixado de servir às necessidades da alma. Se você puser-se à vontade, ficar bastante tranqüilo e calado, não tomar conhecimento dos apelos insistentes do cérebro para levantar-se e agir, e despender todo o tempo que for necessário para sentir o código sutil batendo de leve em seu coração e nos outros corações à sua volta, terá o extraordinário privilégio de ser um observador participante da formação de sua alma.
CONSIDERAÇÕES DO IMAGICK :
Existem algumas considerações que gostaríamos de fazer sobre este magnífico texto:
Primeiro, nós do Imagick, acreditamos que, onde o texto diz coração, fala da nossa mente interior (mente automática – funciona como um computador: você aperta uma tecla e ele cumpre uma função). Teoricamente ela deveria ser perfeita, porém, todo computador está sujeito a vírus. É preciso deixá-lo funcionar, mas ficar atento aos resultados e respostas.
Entendemos o coração como um órgão cuja função é bombear energia. A energia é algo puro, não é boa, não é ruim, é força e poder. Assim ele é um canhão poderoso, mas depende da munição com o alimentamos.
Finalmente, nunca devemos ser radicais. A única pessoa capaz de saber se você está curado é o médico. A natureza é sábia, mas, lembre-se que quando o homem da caverna vivia apenas dela, bebendo água na fonte, comendo sem agrotóxico, curando-se com ervas, respirando ar puro, seu prognóstico de vida não ia além dos 30 anos. Achamos que não devemos nos entupir de remédios e drogas químicas, pensamos mesmo que devemos deixar o corpo se recuperar livremente (dar tempo ao tempo), mas vírus são vírus, infecções são infecções e precisam ser tratadas com os recursos que dispomos.
Assim, recomendamos bom senso nas questões de saúde. Aja da maneira mais natural possível, mas não se esqueça que picada de cobra é bem natural mas mata.