O século XXI se descortina com um paradoxo: o Império Americano construído
com o que há de mais avançado em tecnologia é desafiado por um grupo
praticamente tribal. Independentemente deste fato ser verdadeiro ou
fabricado pelo stablishment, ele denota uma faceta evidente nesta nova
conjuntura mundial.
O tecnológico versus o arcaico, ou ainda o tecnológico aliado ao arcaico (e
dito primitivo).
Se avaliarmos em profundidade, os conflitos humanos continuam os mesmos em
todas as eras, é claro que na atualidade eles se revestem de uma aura de
modernidade. É facilmente observável o interesse pelas sociedades tribais,
uma vida mais próxima à natureza, e a busca pela liberdade presente em nossa
sociedade.
Assim, estes dois pontos da evolução humana se unem, e a tecnologia faz
retroagir o tempo. Por um lado, ela destrói as culturas e padroniza os
comportamentos, mas, por outro, ela possibilita a diversidade. Não mais
baseada em uma tradição hereditária cultural, mas em uma livre escolha. Onde
elementos hindus, zen-budistas, celtas se unem à cultura negra e esta ao
Islã, amalgamados com mais uma centena de influências produzindo uma
pluralidade de comportamentos e tendências. Imagine-se em uma festa
moderna ou ainda nas ruas de uma metrópole, você verá uma re-leitura de
todos esses elementos, somando-se a eles as influências musicais que em
muitos casos buscam sua inspiração em tradições pagãs e mágickas de outrora.
Tudo isso é norteado pela tecnologia, os celulares, a internet, os jogos de
RPG, etc. Somos ávidos consumidores de especiarias; se elas no passado foram
as responsáveis pelas grandes navegações e, consequentemente, a descoberta
das Américas, das rotas comerciais e o
intercâmbio com o Oriente, nos dias atuais elas produzem uma revolução na
maneira de ser e de viver. Esperamos que os efeitos no mundo sejam
diferentes dos das grandes navegações, saques, pilhagem, destruição de
culturas, escravidão dentre outros.
Quando nomenclaturo especiarias não me restrinjo às clássicas, açúcar, noz
moscada, pimenta, mas sim ao tempero da vida que é um dos grandes
diferenciais destes tempos, em que o consumo e a diversão têm um papel
preponderante.
As pessoas normalmente se valem de rótulos, conceitos, e definições, desta
forma catalogando e selecionando as informações do seu mundo. Mesmo que para
tal se perca a clareza e a objetividade, este comportamento gera uma zona de
conforto, em que as agruras das dúvidas e do desconhecido são banidos. Só
que juntamente com eles a criatividade, a inventividade, que andam de mãos
dadas com o risco.
O Universo brota da soma de vários universos, os quais são construídos pela
interação de milhares de fatores. Se pensarmos na realidade humana, ela é
formada pela língua, por condicionamentos sociais, religiosos e científicos
e da inter-relação desses com emoções, aspirações, traumas, etc. Isso apenas
para citar uma ínfima parte desta composição. Desta forma, é criado um
binóculo com várias lentes (cada uma sendo um destes fatores) e o real é
percebido por meio deste artefato. Olhar para o mundo é olhar para nossa
mente, ela está programada para nos dar todas as respostas (mesmo erradas)
com uma capacidade gigantesca de criação e autopreservação. Ao mesmo tempo
que realiza os nossos desejos, escraviza-nos a eles.
Assim, o que temos é uma grande mentira, nada é o que parece ser. E, sobre
esses alicerces, erigiu-se a sociedade humana.
O cérebro desse modo assimila apenas o que vai ao encontro das idéias de seu
proprietário. Um filtro edita e interpreta as informações. Caso as
programações internas sejam simplistas, condicionadas, baseadas no senso
comum e na religião de massa, dificilmente podemos dizer que a pessoa pense
por conta própria. Em verdade, ela é a retransmissora de comportamentos e
idéias das quais ela não faz a mínima idéia a que interesses servem e como
ou por que foram criadas. Um bom exemplo é não podermos andar nus. Por que é
um atentado? Não nascemos nus, o corpo não é o nosso lar? Dificilmente uma
pessoa mediana saberia os motivos dela se sentir envergonhada do próprio
corpo, ou se sentir ofendida pela visão de outros corpos nus, ao passo que a
televisão, o cinema e a internet nos bombardeiam com cenas de sangue e
violência. Não é ofensivo à moral e aos bons costumes a visão de um corpo,
desde que ele esteja morto, despedaçado, ensanguentado.
O mundo moderno é fruto de nossas mentes, tudo a nossa volta nasceu dela, da
bateria do seu relógio de pulso à nossa língua, à moral, à filosofia e à
ciência.
Não vemos o mundo como ele é, mas sim como os nossos sentidos o captam.
Como diria Aleister Crowley, o Universo é um espelho, o que vemos é o
nosso reflexo. De posse deste conhecimento, podemos ser editores do real, da
nossa realidade que é de todas a mais significativa, já que é aquela em que
estamos imersos. Editando-a, livramo-nos dos condicionamentos impostos e
das verdades de outrem. Assim é criado nosso Universo, que será mais livre,
menos dogmático e extremamente fértil.
Estas informações geram conceitos e filosofias de vida que são baseadas
muitas vezes em premissas errôneas. Uma delas é encarar a verdade como sendo
algo único e imutável. A física quântica* vem em nosso auxílio e demonstra
que o contrário de uma verdade não é necessariamente uma mentira, pode ser
outra verdade.
Medos, rancores, recalques, etc. são mascarados como as leis Deus e, desta
forma, ganham autoridade para salvar ou condenar.
A física quântica teve um papel proeminente na descoberta do DNA e,
consequentemente, do código genético, descrevendo as inter-relações dos
sistemas biológicos.
Tudo leva a crer que o cérebro é um processador quântico. Pesquisas levadas
a cabo por matemáticos, neurofisiologistas, físicos e mais dezenas de outros
especialistas atestam este tipo de funcionamento.
O cérebro captaria inúmeras frequências dimensionais, faria a leitura e as
rearranjaria para criar a realidade. Assim, elementos além do tempo e do
espaço são integrados. Um universo holográfico apreendido por uma mente
holográfica.
O holograma (usando uma descrição bastante simplificada) é uma fotografia
tridimensional conseguida com a utilização de radiação refletida. Ao se
expor algo à luz, surge a imagem tridimensional. O importante para nós é
lembrar que qualquer parte do holograma contém sua própria imagem inteira.
Por sua vez, podemos nos considerar um holograma do Cosmos, e, como tal,
quanto mais nos compreendermos mais compreenderemos o holograma que nos deu
origem.
O cérebro age tanto de forma analítica (digital) como holográfica
(analógica); os dois complementam-se gerando um todo de funcionamento
holístico.
A consciência não está em um lugar específico do cérebro, mas ela se
espalharia por todo o córtex cerebral, sendo criada a partir das
inter-relações computacionais dos neurônios. O sentido de eu individual,
liberdade de escolha, intuição, etc., criado por essas inter-relações, é
atributo quântico.
A física quântica atesta a nossa importância como co-criadores do Universo.
O observador de um experimento é ele mesmo uma das variáveis.
Então, de qualquer forma, as descobertas da ciência são em última instância
descobertas de nossas relações para com elas. Quando apurarmos o ouvido para
escutar o Criador, ouviremos o nosso próprio eco reverberando nos confins do
Universo. Não esquecendo o fato de que respostas definitivas são em sua
maioria impossíveis, teremos modelos substituídos por outros e, por sua vez,
a cada novo horizonte alcançado, outros mais são vislumbrados. Como dizia
Sócrates: Só sei que nada sei.
Os horizontes abertos pela física quântica são infinitos, tanto ao que tange
à sua aplicação prática como às suas teorias, muitas vezes mais fantásticas
que os sonhos dos ocultistas e alquimistas.
Lugares incógnitos, multidimensões, viagens no tempo, alteração do passado
são, em teoria, todas possíveis.
Marcos Torrigo
Ckick na imagem