Ar, fogo, água e terra…
Quando o ser humano teve seu início na terra ele valia pelo SER – se fosse esperto e rápido, sobrevivia. Se fosse mais lento, sucumbia. Tinha que sobreviver a outros seres mais fortes que ele.
O homem, além de sobreviver, conseguiu dominar espécies mais bem dotadas que ele. Como sendo tão dependente e desprovido realizou tal façanha?
Porque recebeu ou desenvolveu a “inteligência”, a capacidade de reter, unir informações e com elas resolver problemas.
A Lei do Forte, que sobrevive até hoje, diz que quem pode mais, manda mais. Porém, a força física animal foi sobrepujada pela força intelectual humana.
Como sempre acontece na história, todo feitiço um dia, se vira contra o feiticeiro. Esta mesma força que lhe deu vida, aos poucos está lhe preparando a morte. Que morte? Física? Não, esta está cada vez mais distante. A morte que lentamente está sendo preparada é a morte do planeta, da alegria de viver, da possibilidade de ser querido e amado simplesmente por existir, por Ser.
Com a sobre pujança intelectual, percebeu que poderia acumular muitas coisas se fosse mais esperto que os outros.
O sentido de sobrevivência, então, se aguçou. O medo da falta foi crescendo. Percebeu que quanto mais fazia, mais ganhava e mais “bens” podia proporcionar à família e a si próprio. Então… ele começou a valer pelo FAZER. Passou a fazer tanto, que não havia mais tempo para a família. Quanto mais fazia, mais era enaltecido e mais podia compensar sua ausência, dando todo o necessário e principalmente, o desnecessário.
O valor do homem agora era medido pelo TER.
Neste ponto o ser humano começou a reconhecer a expressão do amor não mais pelo contacto e carinho, mas pelo bem material que ganhava, assim, o amor passou a ser sinônimo de “presente” e desta maneira, a necessidade se instalou. Como “ter” passou a ser sinônimo de poder, a ganância chegou ao seu ponto máximo. Começou a desrespeitar seus antigos valores em prol deste poder que o “ter” acarretava. Aprendeu a ver o outro não como companheiro e sim como concorrente, um inimigo a ser vencido.
Numa cilada esperta de nossa mente, quando o homem não lograva ter o que julgava necessário e como possuía uma necessidade louca de ser reconhecido, ele descobriu a similaridade, podia fingir “ser” o que não era, “ter” o que não tinha, e então…
Começou a época do PARECER, daquele ser que não tem o relógio de marca que lhe confere poder, mas tem um simulacro que engana as pessoas ignorantes do assunto. Por este ato insano, percebemos a necessidade vital que o ser humano tem de atenção e de reconhecimento. Todas essas peças que a mente nos pregou, fez com que nos distanciássemos de nossa essência, de nossa natureza física, humana e divina.
Nossas percepções estão sendo subtraídas ou distorcidas. Nossos olhos não percebem mais o outro, só vêem o que desejam, a famosa “visão seletiva”. Enxergamos cada vez menos e com maiores distorções.
Temos dificuldade em sentir o mundo através de nossas mãos, o toque em nossa pele. Muitas vezes, chegamos a fugir do contacto físico por medo ou aversão.
Comemos sempre ‘fast-foods’ por falta de tempo ou necessidade e na maioria das vezes, não distinguimos e nem sentimos mais o sabor do alimento. Não mais escolhemos uma fragrância que nos agrade, usamos o perfume da moda. Os “cheiros” são cada vez mais disfarçados ou subtraídos.
Somos tão invadidos por sons que se impõe aos nossos ouvidos, tão desrespeitados com um barulho insuportável, que atrofiamos nossa audição para resistir à agressão contínua. Esse distanciamento mente-corpo ocasionou a necessidade da opinião alheia.
Se não me conheço mais, se não confio na percepção, no julgamento de meus sentidos, em minha capacidade de ver, perceber, compreender, avaliar e discernir, minha auto estima fica pequena e preciso que alguém me diga quem eu sou e o que devo fazer. Aí surge a importância que o julgamento alheio pode ter para mim. Eu preciso impressionar o outro para existir, se o outro não me vê não me percebe, então… eu não existo.
Só há um antídoto para essa doença “existência x dependência” = o auto conhecimento, a expansão da consciência.
Quando você confiar em seus sentidos; tiver certeza de que percebe o mundo externo de maneira correta e não distorcida; acreditar em sua capacidade de observar, perceber, discernir e escolher a melhor resposta – para você.
Quando souber julgar suas necessidades e vontades, não precisará que o outro lhe diga o que é melhor ou pior, o que deve vestir, comer ou como deve agir, porque… Você sabe!
Aí sim você será, finalmente, um SER livre.
Zelinda Orlandi Hypolito
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