Captura de Tela 2017-09-11 às 13.40.55Utilizada com desdém ou como forma de ironia, a frase “e eu com isso?” é um ícone do egoísmo que assola nosso mundo atual. Até as pessoas mais insensíveis conseguem fazer uma gigantesca lista de problemas da nossa sociedade, iniciando pela inconsciência ecológica do homem que não se enxerga como parte da natureza, passa pela injustiça social não enxergando seu semelhante necessitado como igual, e desagua na inversão de valores morais e sociais, que são relativizados de acordo com contextos e conveniências pessoais.

E eu com isso?

Paradoxalmente o problema não esta na pergunta, e sim na resposta. Quando empregada para se isentar da responsabilidade de ajudar o próximo diante de alguma questão, a pergunta gera uma resposta que serve como justificativa cômoda: Eu não tenho nada a ver com isso. Cada um com seus problemas.

Mas afinal, a que viemos fazer neste mundo?

Captura de Tela 2017-09-11 às 13.40.21O judaísmo responde esta questão com um conceito fundamental elaborado pelo rabino cabalista Isaac Luria no século 16, o Tikun Olam. Tikun vem do verbo letaken, que significa reparar ou consertar. Olam quer dizer mundo. Juntas criam um conceito maior que reparar o mundo, juntas significam melhorar o mundo preparando-o para entrar no estado supremo para o qual foi criado.

Esse conceito de mundo incompleto ou imperfeito é derivado do livro de Gênesis 2:3 “E abençoou Deus ao dia sétimo, e santificou-o, porque nele sessou toda sua obra, que criou Deus para fazer” Aqui vale uma observação, em muitas traduções do antigo testamento essa passagem é descrita como “Abençoou Deus o sétimo dia, e o santificou; porque nele descansou de toda a sua obra que criara e fizera”. O correto é a versão com o final “… que criou Deus para fazer”, pois demonstra a obra do Criador como inacabada, o que justifica todas as imperfeições deste mundo terreno e a missão da humanidade melhora-lo.  Mas como os homens que são seres imperfeitos, poderão aperfeiçoar a obra do Criador, que é perfeito em sua definição? Uma missão gigantesca para uma criatura tão aparentemente pequena se comparada com toda criação.

20160316111310a60937eba57758ed45b6d3e91e8659f3A resposta está assentada no tripé Tzedaká (Justiça Social), Chessed (Compaixão) e Shalom (Paz) estes são os instrumentos com os quais a humanidade poderá melhorar a obra do Criador. Qualquer melhoria neste mundo reverbera através de todo restante da criação, pois tudo faz parte do todo. Cada ação tem o potencial de mudar o mundo inteiro. A Mishná (transcrição da tradição oral judaica) ensina que cada pessoa é um mundo inteiro (não é à toa que o Talmud diz que quem salva uma vida salva o mundo), a melhoria e desenvolvimento pessoal, dentro de preceitos éticos, morais e cívicos é a maneira mais imediata de impactar na melhoria global.

13964642398061366723122915responsabilidade-socialO rabino Isaac Luria descreveu que tudo que existente e toda atividade possível de ser feita contém uma centelha divina, por exemplo: É possível fazer negócios apenas para acumular riqueza; mas é possível usar o mesmo negócio para destinar uma porcentagem de seus lucros para caridade. O próprio negócio poderia ser um veículo para o bem, criando cooperação entre partes que poderiam ser hostis, demonstrando as virtudes da honestidade e da integridade, e provendo muitas pessoas com uma fonte de renda digna. Isso também é Tikun Olam. Revelar o verdadeiro significado e elevado propósito de seu negócio e tudo conectado a ele. Na atualidade criou-se a expressão “Responsabilidade Social” para este velho conceito judaico.

TikkunOlamTikun Olam é uma convocação a ação, uma provocação constante para tirar o ser humano da espera inerte por uma solução divina. Quer um mundo melhor? Uma família melhor? Uma Irmandade melhor? Um trabalho melhor? Não reclame e não espere, faça! A energia positiva de cada pessoa poderá inspirar outras de modo que uma corrente de boas ações torne a nossa vida e de nossos semelhantes cada vez melhor. O Tikun Olam deve ser um movimento constante, incessante, sempre renovado e retroalimentando. Mãos a obra, não há tempo a perder.