Muito provavelmente há, no córtex cerebral, um local responsável pela tomada de consciência das emoções que sentimos e, consequentemente, com a consciência dessas emoções se processará em nosso organismo as alterações orgânicas compatíveis. Essas alterações orgânicas são as respostas do sistema nervoso autônomo (SNA) ou vegetativo às emoções, também chamadas de respostas autonômicas.

Para a ocorrência das respostas autonômicas (do SNA), sejam elas endócrinas, vegetativas (palpitação, sudorese, etc) ou motoras, há necessidade de um comando neurológico. Para tal, quem entra em ação são as porções subcorticais (abaixo do córtex) do sistema nervoso, tais como a Amígdala, o Hipotálamo e o tronco cerebral. Essas respostas são importantes, pois preparam o organismo para a ação necessária e comunica nossos estados emocionais ao ambiente e às outras pessoas.

Em meados do Século XX, os neurofisiologistas Walter Cannon e Philip Bard formularam teorias sobre a importância das estruturas subcorticais na mediação entre as emoções e o resto do organismo. Pesquisando em gatos, eles observaram respostas emocionais integradas mesmo quando o córtex cerebral desses animais era removido, entretanto, não ocorriam respostas quando o Hipotálamo, que é uma estrutura subcortical, era removido.

Finalmente, Cannon e Bard propuseram a ideia, até hoje aceita, da dupla função das estruturas subcorticais Hipotálamo e Tálamo; eram essas estruturas que forneciam os comandos orgânicos das respostas emocionais e, mais que isso fornecia ao córtex as informações necessárias para a consciência dessas emoções.

Portanto, mais recentemente, com Antônio Damasio e Stanley Schachter, completando as pesquisas de Cannon, Bard, James e Lange, se acredita que o comportamento emocional seja a interação entre o córtex cerebral, as estruturas subcorticais e a periferia orgânica.

Entende-se que o córtex cria uma resposta cognitiva (consciente) à informação periférica (dos sentidos), resposta esta compatível com as expectativas do indivíduo e de seu contexto social. Essas estruturas subcorticais assim envolvidas na emoção foram denominadas de Sistema Límbico.

Sistema Límbico

Sabe-se hoje que as áreas relacionadas com os processos emocionais ocupam distintos territórios do cérebro, destacando-se entre elas o Hipotálamo, a área Pré-Frontal e o Sistema Límbico.

Os mecanismos que controlam os níveis de atividade nas diferentes partes do encéfalo e as bases dos impulsos da motivação, principalmente a motivação para o processo de aprendizagem, bem como as sensações de prazer ou punição, são realizadas em grande parte pelas regiões basais do cérebro, as quais, em conjunto, são derivadas do Sistema Límbico.

Em 1878, o neurologista francês Paul Broca observou que, na superfície medial do cérebro dos mamíferos, logo abaixo do contes, existe uma região constituída por núcleos de células cinzentas (neurônios), a qual ele deu o nome de lobo límbico (do latim limbus, que traduz a ideia de círculo, anel, em torno de, etc), uma vez que ela forma uma espécie de borda ao redor do tronco encefálico (em outra parte desse texto escreveremos mais sobre esses núcleos).

Esse conjunto de estruturas, denominado mais tarde de Sistema Límbico, aparece na escala filogenética a partir dos mamíferos inferiores (mais antigos). É esse Sistema Límbico, o qual comanda certos comportamentos necessários à sobrevivência de todos os mamíferos, cria e modula funções mais específicas, as quais permitem ao animal distinguir entre o que lhe agrada ou desagrada. Aqui se desenvolvem funções afetivas, como aquela que induz as fêmeas a cuidarem atentamente de suas crias, ou a que promove a tendência desses animais a desenvolverem comportamentos lúdicos (gostar de brincar).

Emoções e sentimentos, como ira, pavor, paixão, amor, ódio, alegria e tristeza, são criações mamíferas, originadas no Sistema Límbico. Este Sistema Límbico é também responsável por alguns aspectos da identidade pessoal e por importantes funções ligadas à memória. A parte do Sistema Límbico relacionada às emoções e seus estereótipos comportamentais denomina-se circuito de Papez. Na década de 30, refletindo  sobre os trabalhos de Cannon e Bard, o neurofisiologista Papez propôs que os diversos componentes do Sistema Límbico mantinham numerosas e complexas conexões entre si. Assim, o neocórtex se comunica com o Hipotálamo através de conexões do Giro do Cíngulo, formando uma região chamada de Hipocampo. Pois bem. Essa região, o Hipocampo, processa as informações recebidas do córtex e as projeta para os corpos mamilares do Hipotálamo através de uma estrutura chamada Fórnix.

Mais precisamente, as emoções e memórias fluem da Amígdala e Hipocampo para os corpos mamilares através de fórnix). Do fórnix seguem para o núcleo anterior do Tálamo, via fascículo mamilotalâmico, e do Tálamo para o Giro Cingulado, irradiando-se para o neocórtex, colorindo emocionalmente a experiência cognitiva. Do neocórtex esses estímulos voltam novamente para o Giro Cingulado, retornando à Amígdala e Hipocampo. Deste modo é modulada a resposta emocional. Este circuito também está envolvido na formação dos sonhos e da experiência inconsciente. De fato, a mente inconsciente não é nenhuma realidade abstrata ou conceitual, mas fisiologicamente, é a elaboração da vida ou dos estímulos que ela oferece organizados no Sistema Límbico-Hipotalâmico.

Com a chegada dos mamíferos superiores na escala evolutiva, desenvolveu-se, finalmente, a terceira unidade cerebral: o neopálio ou cérebro racional, uma rede complexa de células nervosas altamente diferenciadas, capazes de produzirem uma linguagem simbólica, assim permitindo ao homem desempenhar tarefas intelectuais como leitura, escrita e cálculo matemático. O neopálio é o gerador de ideias ou, como diz Paul MacLean – “ele é a mãe da invenção e o pai do pensamento abstrato”.

Assim sendo, o Hipocampo funciona como um grande banco de dados. Nele, são armazenados registros de todos os fatos e eventos, e essas informações ali guardadas servem para regular a atividade de várias outras áreas do cérebro. A região conhecida como Amígdala também trabalha na seleção de dados e ainda dispara sinais de alerta quando reconhece um perigo ou situação de ameaça.

O Hipotálamo informa ao Giro do Cíngulo através de uma via dos corpos mamilares para os núcleos talâmicos anteriores (trato Mamilo Talâmico) e dos Núcleos Talâmicos anteriores para o giro cingulado. Papez acreditava como hoje já se sabe, que o córtex na região límbica está seriamente envolvido nas emoções. É por isso que as lesões ou tumores nessas áreas corticais límbicas podem gerar distúrbios emocionais. Concluindo, no Circuito de Papez, o Hipotálamo governa a expressão das emoções.

O Hipotálamo

Um importante centro coordenador das funções cerebrais é o chamado Diencéfalo, uma região formada pelo Tálamo e pelo Hipotálamo. O primeiro consiste em uma massa cinzenta que processa a maior parte das informações destinadas aos hemisférios cerebrais. É uma grande estação de elaboração dos sentidos.

O Hipotálamo, por sua vez, regula a função de abastecimento do sistema endócrino e processa inúmeras informações necessárias à constância do meio-interno corporal (homeostasia). Coordena, por exemplo, a pressão arterial, a sensação de fome e o desejo sexual.

A importância do Hipotálamo pode-se dizer, é inversamente proporcional ao seu tamanho. Ocupando menos de 1% do volume total do cérebro humano, o Hipotálamo contém muitos circuitos neuronais que regulam aquelas funções vitais que variam com os estados emocionais, como por exemplo, a temperatura, os batimentos cardíacos, a pressão sanguínea, a sensação de sede e de fome, etc. O Hipotálamo controla também todo sistema endócrino através de uma glândula localizada em seu assoalho, a Hipófise. Desse modo, o Hipotálamo é um dos grandes responsáveis pelo equilíbrio orgânico interno (a homeostasia). O Hipotálamo está, pois, intimamente relacionado ao Sistema Nervoso Autônomo (SNA) e o SNA é, primariamente, o sistema de controle de todas as vísceras (músculo cardíaco, sistema digestivo, glândulas endócrinas, etc). Esse SNA possui duas divisões principais: o sistema simpático e o sistema parassimpático.

Por causa dessa múltipla função, Cannon propôs que o Hipotálamo determinava não só a regulação da homeostasia do organismo, como a regulação do comportamento emocional. O SNA sofre influencia de diversas regiões do cérebro, em particular do córtex, da Amígdala e da formação reticular. Mas, todas essas estruturas exercem suas ações sobre o SNA através do Hipotálamo, o qual integra as informações em uma resposta coerente.

O Hipotálamo controla a atividade das vísceras, ou seja, controla o SNA, através do Tronco Cerebral. Isso é realizado de duas formas:

Primeiramente, ele se projeta para três importantes regiões do Tronco Cerebral e da Medula Espinhal.

1 – projeta-se para o núcleo do trato solitário, o principal recipiente dos influxos sensoriais provenientes das vísceras;

2- projeta-se para regiões do Tronco Cerebral no Bulbo Ventral Rostral, que controla a saída (pré-glangionar) importante do SNA simpático;

3- projeta-se diretamente para o fluxo de saída autonômica da medula espinhal (Fonte).

Sobre o Sistema Endócrino o Hipotálamo exerce sua influência direta e indiretamente. Diretamente essa influência se dá através da secreção de produtos neuroendócrinos direto na circulação sanguínea a partir da porção posterior da glândula Hipófise. Indiretamente a influência se dá pela secreção dos chamados hormônios reguladores, os quais atuam liberando ou inibindo outras glândulas do organismo, tais como as supra- renais, tireóide, para-tireóides e sexuais.

A Área Pré-Frontal (CÓRTEX)

O Córtex Cerebral é a camada mais alta e externa do encéfalo, ou seja, dos dois hemisférios. Trata-se de uma capa de substância cinzenta de mais ou manos 0,3 centímetros de espessura. Os sulcos e fissuras do Córtex Cerebral é que definem suas regiões em, por exemplo, Lobo Frontal, Lobo Temporal, Parietal e Occipital. O Lobo Frontal é um lugar onde se concentra ali enorme variedade de importantes funções, incluindo o controle de movimentos e de comportamentos necessários à vida social, como a compreensão dos padrões éticos e morais e a capacidade de prever as consequências de uma atitude.

O Lobo Parietal recebe e se processam as informações dos sentidos, enviadas pelo lado oposto do corpo. O Lobo Temporal está permanentemente envolvido em processos ligados a audição e memorização, enquanto o Lobo Occipital é o centro que analisa as informações captadas pelos olhos e as interpreta mediante um intrincado processo de comparação, seleção e integração.

O Córtex Pré-Frontal, considerado uma formação recente na evolução das espécies e a sede da personalidade e da vida intelectiva, modula a energia límbica e tem a possibilidade de criar comportamentos adaptativos adequados ao tomar consciência das emoções.

Na ausência desta parte do Córtex, as emoções ficam fora de controle, são exageradas e persistem após cessar o estímulo que as provocou, até que se esgote a energia nervosa. Por outro lado, o Sistema Límbico através do Hipotálamo, pode exercer um efeito supressor ou inibidor sobre o neocórtex, inibindo momentaneamente a cognição e até o tônus muscular tônico, como se observa nas fortes excitações emocionais.

O relacionamento concreto entre regiões corticais e as emoções ocorreu em 1939. Nesse ano os pesquisadores Heinrich Klüver e Paul Bucy observaram uma síndrome comportamental dramática em macacos depois de submeterem os animais a uma lobotomia temporal bilateral. Os macacos, apesar de muito selvagens e agressivos, tornaram-se mansos e demonstravam um apagamento das emoções.

Esse embotamento de emoções se manifestava, inclusive, como uma espécie de cegueira emocional; os animais não se mobilizavam com objetos familiares nem com os próprios familiares. Ao mesmo tempo eles apresentaram uma contundente tendência oral, levando à boca todos objetos.

A Área Pré-Frontal se desenvolveu bastante, na escala filogenética, com o aparecimento dos mamíferos, sendo particularmente desenvolvida no ser humano e, curiosamente, em algumas espécies de golfinhos. Entre os seres humanos essa região do cérebro começa a adquiri maturidade suficiente entre os 4 e 6 anos de idade.

Mas a Área Pré-Frontal não faz parte do Sistema Límbico. Entretanto, as intensas conexões que mantém com o Tálamo, Amígdala e outras estruturas subcorticais límbicas, justificam seu importante papel na expressão dos estados emocionais.

Assim como ocorreu na experiência de Heinrich Klüver e Paul Bucy em relação ao Lobo Temporal, quando o Córtex Pré-Frontal é lesado, há severo prejuízo das responsabilidades sociais, bem como da capacidade de concentração e de abstração, apesar de se manterem intactas a consciência e a linguagem.

Em 1935, foi realizada a primeira Lobotomia Pré-Frontal em seres humanos. Foram seccionadas as conexões límbicas, isolando o Córtex Pré-Frontal, em sua área orbito frontal, na tentativa de tratar alterações emocionais graves decorrentes de doença mental. A principio houve redução da ansiedade desses pacientes, mas complicações como o desenvolvimento de epilepsia e alterações anormais da personalidade, como a falta de inibição ou de iniciativa ou de motivação impediram a continuidade desse tipo de tratamento. Da mesma forma como os macacos de Heinrich Klüver e Paul Bucy tinham prejuízo emocional após retirada do Lobo Temporal, a Lobotomia Pré-Frontal realizada em seres humanos para tratamento de certos distúrbios psiquiátricos, resultava igualmente num certo empobrecimento afetivo. Nessas pessoas não aparecia mais quaisquer sinais de alegria, tristeza, esperança ou desesperança.

A Área Pré-Frontal do córtex corresponde a parte anterior não motora do lobo frontal. Ela mantém conexões com o Sistema Límbico (visto acima) e com o Núcleo Dorsomedial doTálamo. Ela é responsável pela escolha das opções e estratégias comportamentais, pela manutenção da atenção e pelo controle do comportamento emocional. A mais importante função associativa do Lobo Pré-Frontal parece ser, efetivamente, integrar informações sensitivas externas e internas, pesar as consequências de ações futuras para efetuar o planejamento motor de acordo com as conclusões.

Características do Córtex Cerebral

A localização das diversas funções em áreas específicas do córtex não implica que uma determinada função seja mediada exclusivamente por uma única região cerebral, mas sim que as áreas de associação cortical, que são as áreas Pré-Frontal, Parieto-Têmporo-Occipital e Límbicas, integram as informações somáticas com o planejamento do movimento.

Características do Córtex Cerebral

A localização das diversas funções em áreas específicas do córtex não implica que uma determinada função seja mediada exclusivamente por uma única região cerebral, mas sim que as áreas de associação cortical, que são as áreas Pré-Frontal, Parieto-Têmporo-Occipital e Límbicas, integram as informações somáticas com o planejamento do movimento. Suas funções prioritárias são:

Córtex Pré-Frontal: planejamento e execução das ações motoras complexas

Córtex Parieto Têmporo Occipital: integração das funções sensoriais com a linguagem

Área Límbica: integração da memória com aspectos comportamentais relacionados à memória e motivação

Córtex Pré-Motor: início da ação

O Córtex ParietoTêmporo Occipital recebe projeções de áreas somáticas superiores visuais e auditivas, processando a informação sensitiva envolvida com a percepção e a linguagem

O Córtex Límbico recebe projeções de áreas sensitivas superiores e projeta para outras regiões corticais, dentre elas o córtex pré-frontal.No cérebro normal, dotado de inúmeras e quase infinitas interconexões, a interação entre os dois hemisférios é tão integrada que não se pode dissociar claramente suas funções específicas. Ambos se auxiliam na efetuação de tarefas várias. Nenhuma parte do sistema nervoso funciona isoladamente, de tal forma que o cérebro pode fazer com que as funções das áreas lesadas sejam assumidas por outras áreas sadias. É importante sabermos com que idade se desenvolve mais satisfatoriamente na pessoa, seus lobos frontais e pré-frontais (depois dos 12 anos, veja adiante). O Córtex Pré-Frontal do hemisfério esquerdo é muito mais relacionado à cognição e consciência, ou seja, intelectual, que o seu homólogo do lado direito. Os argumentos racionais das terapias cognitivas procuram fazer a pessoa reaprenderem a lidar com suas emoções através da cognição, como uma alternativa racional das exigências da angústia detonada, seja pelo córtex frontal direito ou Sistema Límbico.