Eu me debrucei numa das pontas da lua crescente e vi na outra Aquele que Brilha.
Abaixo de nós estavam as montanhas e os vales e uma porção de pessoas.
Perguntei para Aquele que Brilha:
– Quem são essas pessoas?
– São os filhos e as filhas de Deus.
Prestei atenção e vi que as pessoas brigavam e espezinhavam-se umas às outras.
Perguntei: – São ‘mesmo’ filhos de Deus?
E Aquele que Brilha respondeu: – São.
Continuei observando e vi que as pessoas pareciam procurar alguma coisa freneticamente, empurrando-se e parecendo inumanas:
– O que elas procuram?
– Felicidade – disse Aquele que Brilha.
– Alguém já encontrou?
– Algumas vezes eles pensam que encontraram.
Vi uma mulher carregando um bebê e um homem passou brutalmente por ela, fazendo com que ela caísse e o bebê rolasse pelo chão; o homem parecia estar procurando a Felicidade. Meus olhos ficaram enevoados e indaguei:
– Será que eles encontrarão a Felicidade algum dia?
– Encontrarão.
Tornei a olhar o que as pessoas faziam entre as montanhas e os vales e correram lágrimas dos meus olhos, e perguntei:
– É da vontade de Deus ou do Demônio que os homens procurem a Felicidade?
– É da vontade de Deus.
– Mas parece uma coisa do Demônio.
Aquele que Brilha sorriu inescrutavelmente. Gritei:
– Por que eles tem que procurar a Felicidade e causar tanta desgraça uns aos outros?
– Eles estão aprendendo a Vida e o Amor.
Lá embaixo um homem maltratava cruelmente outro homem, mas de repente um vento forte arrancou-lhe as roupas e deixou-o nu entre desconhecidos e foi a usa vez de ser espezinhado. Bati palmas:
– Ótimo! Ótimo! Ele recebeu o que merecia!
Aquele que Brilha tornou a sorrir:
– Eles sempre recebem o que merecem. Recebem aquilo que lhes mostrará o verdadeiro caminho para a Felicidade.
Fiquei observando as pessoas maltratando-se e vendo que de vez em quando vinha um vento forte e jogavam-nas para algum lugar para continuarem a Procura.
– O vento forte sempre os atira nesses vales e montanhas?
– Nem sempre.
– Onde, então?
– Olhe para cima de você.
Acima de mim estava a Via Láctea e suas estrelas brilhantes. Suspirei: Ah…
– E o vento não se engana?
– Não se engana.
– O vento sempre os coloca em algum lugar para que eles recebam o que merecem?
– Sempre.
Então meu coração que estava esmagado iluminou-se e descobri que podia olhar as crueldades e ter pena dos cruéis. E quando mais eu olhava mais crescia a minha compaixão. Falei:
– Eles agem como pessoas atormentadas.
– Eles estão atormentados – respondeu Aquele que Brilha.
– O que os atormenta?
– O desejo.
Gritei passionalmente:
– O desejo é uma coisa má.
E Aquele que Brilha respondeu duramente:
– O desejo não é uma coisa má.
Tremi e fechei meu coração, até que tive forças de dizer:
– É o desejo que atormenta os homens para que eles aprendam as lições que Deus mandou?
– É o desejo.
– As lições da Vida e do Amor?
– Sim, as lições da Vida e do Amor.
Então não vi mais as pessoas como cruéis, vi apenas que elas estavam aprendendo. E olhei-as com profundo amor e compaixão, até que uma a uma o vento forte levou-as para longe.
Anna Maria da Costa Ribeiro