girafaAchamos que quando olhamos de perto é bem melhor. Vemos com mais clareza. Quem nunca aproximou mais seus olhos na página de um livro ou de um objeto qualquer ou de uma roupa colorida para ter a certeza da sua cor?

Será que na VIDA também funciona assim? Deixemos de lado questões de visão. Refiro-me à qualquer deficiência na vista. Esqueça disto. Não estou interessada se você tem glaucoma, astigmatismo ou se é míope. A questão aqui é outra!

Todos nós temos uma deficiência “no olhar”. Não adianta ficar bravo, mas temos! Veja bem, eu disse “no OLHAR e não nos OLHOS”. Deficiência esta que pode ser considerada comum mas que, não raro, sempre nos leva a vermos as situações de um modo distorcido, provocando inúmeras compreensões errôneas em nossa trajetória, quebrando laços, rompendo relações, causando mágoas, e o mais importante: mal entendidos.

Por que será? Porque estamos  acostumados a olharmos tudo de perto, até porque, na grande maioria das vezes, a situação que vemos nos envolve; então, como vê-la de longe? Estamos “contaminados” por esta situação!

Faça uma experiência: pegue um objeto que caiba na palma da sua mão. Pegou? Agora, estique seu braço por completo com o objeto em suas mãos. Fixe seu olhar nele. Vá, lentamente, trazendo sua mão para próximo de você, de seu olhar. Lento, bem lentamente! Continue com o olhar fixo. Vá aproximando-o cada vez mais perto de seus olhos, até chegar o mais perto possível.

Fez a experiência? Conte-me, ou responda: “Como você viu melhor o objeto: quando ele estava na palma da sua mão e seu braço totalmente esticado ou quando ele esteve quase colado em suas retinas?

Assim é na vida! Quando vemos uma situação, estando distante dela, a compreendemos melhor. Quando estamos nela envolvidos, vivemos tudo de maneira muito intensa e caótica, pois nossa retina também está colada nela. A situação fica embaçada, não compreendemos muito bem o que está acontecendo; você vê tudo  de forma gigante e talvez não seja tão gigante assim!

Portanto, a necessidade de nos afastarmos, digo, de olharmos diferente é primordial para uma vida mais tranquila, para uma compreensão mais adequada e justa do que estamos vendo ou vivendo! O afastamento permite com que nossos olhos vejam a situação por outros ângulos e também a veja inteira. Assim como acontece com a experiência que propus aqui.

Portanto, eu gostaria de lhe fazer um pedido: toda vez que estiver vivendo uma situação difícil, seja com você ou não, afaste-se dela. Dê um tempo. É preciso distância. Quanto mais longe você ficar, mais você verá; maior compreensão você terá dela. Acredite em mim. Sei que é paradoxal mas é assim que funciona e funciona muito bem!

Esta é uma rica possibilidade de aprendizados e de compreensões diferentes das que temos atualmente. Olhar de longe modifica nosso entendimento.

Você já subiu em um algum pico ou montanha? Não me diga que não porque ficarei triste! Tenho medo de altura mas gosto da visão que os picos e as montanhas nos proporcionam. É uma “visão ampla”, la´de cima conseguimos ver tudo ou quase tudo, porque estamos olhando de longe, lá…das alturas!

A Comunicação Não-Violenta – já ouviu falar? -, desenvolvida pelo psicólogo americano Marshall Rosenberg, é uma espécie não de teoria mas, acredito eu, de visão de vida, que visa proporcionar o desenvolvimento de relacionamentos saudáveis em todas as esferas. É também conhecida pela abreviação CNV.

Marshall teve uma ideia brilhante, quando fala da metáfora da girafa. Explicarei melhor: Se pudéssemos ver as coisas como a girafa vê, tudo seria diferente. Você imagina o por que? Porque a girafa é “gigante”! E seu olhar está sempre “acima” de todos os demais animais!

A girafa mede em torno de três metros e meio a quatro! Muito alta não? Imagine só “tudo o que ela consegue olhar lá de cima!” Que sorte a dela, nem precisa subir no alto de uma montanha! rs… Tem sempre uma visão ampla, vendo tudo de longe o que está ao seu redor!

Dizem também, que seu olhar é uma maravilhosa e perfeita câmera fotográfica. Imagino que seja mesmo, e que ela deve se beneficiar de lindas paisagens com esta altura toda!

Enfim, conhecendo mais a girafa, não foi à toa que Marshall utilizou esta metáfora na Comunicação-Não-Violenta. Se pudéssemos fazer o mesmo, era como estarmos todos os dias no ponto mais alto de uma montanha para enxergarmos tudo com outros olhos; ou melhor, para “ampliarmos nosso olhar.”

Quando este se amplia, amplia-se também a nossa compreensão de tudo o que se passa ao nosso redor. Porém, nosso redor é pequeno demais, por isso vimos tudo de forma distorcida. Lembre-se: é preciso distanciar-se!

Espero, verdadeiramente, que depois de ter lido este texto, faça mais vezes a experiência do objeto e que comece a treinar um olhar mais distante. Espero também, que você consiga visitar alguma montanha e saborear o olhar que terá lá do alto!

Olhar de longe e bem…. lá….de cima…. pode transformar muitas coisas em nossas vidas!

Já que não podemos ser girafas,  que tentemos, ao menos, compreender e colocar em prática a metáfora proposta por Marshall!

Bons olhares, boas alturas, boas compreensões e excelentes ampliações!
 

Ssmaia Abdul, Pessoa e Psicóloga Narrativa, Especialização Internacional em Práticas Colaborativas, Designer de Grupos Colaborativos, Nova Scribe, Escritora por Paixão,
Pós-Graduanda em Jornalismo Literário (2015), fã da Comunicação-Não-Violenta e que gosta de refletir sobre como enxergamos a vida e as situações que ela nos apresenta!