.

Por : Henrique José de Souza.

.

‘Desvendemos o que é falso para chegarmos ao que é verdadeiro’

(Ragon)
.

      Sobre o termo religião, diz o seguinte o eminente dr. Roso de Luna, na introdução de El simbolismo de Ias religiones del mundo:
“Ligo, ligas, ligare é atar ou ligar em latim, e religo, religas, religare, ligar duas vezes, a pura etimologia de nossa palavra religião. É, portanto, religioso tudo o que liga e irreligioso o que separa ou desliga. Por isso, ‘Brahmã’   não o suposto deus bramânico, mas o símbolo ário-hindu da criação, formação e crescimento, da raiz sânscrita ‘brig’, dilatar se ou estender se   é o simbolo religioso por excelência dos indostânicos; como irreligioso ou de maldade   valha a frase   é o simbolo destruidor e necromântico de Shiva; e, como tal, existe uma verdadeira religião debaixo de cada vinculo com que se ligam todos os homens, do mesmo modo que debaixo de cada manifestação do Amor, da Arte ou da Ciência, coisa prevista por Goethe quando disse que ‘quem possui uma arte, não mais necessita de outra religião senão a de sua própria arte’, e também por Wagner, em seu decantado e rebelde Cre¬do Artístico, que começa: ‘Creio em Deus Pai, em Mozart e Beethoven e em todos os seus discípulos e continuadores!’…”
 

Roso de Luna

E em outros dos seus incomparáveis estudos:

“Krishna, Buda, Jesus, etc., foram Seres Superiores que nos deram doutrinas eficazes, para que nós   com os nossos próprios esforços   nos redimíssemos. Nenhum deles fundou a religião que se lhes atribue. Quem, logo, fundou a foi o imperialismo de seus pretensos discípulos, os quais, escravos do inerte dogma que criavam, esqueceram que religião não é crença mas a dupla ligadura de fraternidade entre os homens, segundo a sua etimologia latina.”

No entanto, a Humanidade prefere sempre tudo quanto possa despender menos esforços e, por isso mesmo, não quer perder tempo com assuntos de tal natureza, embora sejam os únicos que resolvem os graves problemas da vida.

Há uma diferença muito sensível entre perceber e entender a verdade. Podemos percebê la com o coração e entendê la com o cérebro, ou melhor, podemos sentir a verdade intuitivamente e examiná la intelectualmente.

Se os que vivem neste século cultivassem a faculdade de perceber a verdade pelo coração, examinando depois por meio da inteligência o que sentiram, muito breve teríamos por toda parte uma condição melhor e mais feliz da sociedade. Porém, a desgraça de nossa época consiste em que as faculdades intelectuais foram levadas ao último extremo de seu poder de resistência, para as formas exteriores das coisas, sem perceber seu caráter espiritual por meio do poder da intuição.

Mas o que é intuição? Quem é capaz de defini Ia? No entanto, é uma realidade! Não se assemelha à inteligência porque discorre, analisa e busca a solução a todos os problemas; informa a consciência, abstrai, dispõe princípios generalizadores. A inteligência chega a sintetizar, vai do conhecido e, por argumentos, tenta invadir o desconhecido; a inteligência não se contenta com observar o meramente material, aventura se ainda no terreno do imaterial   o espiritual; vai até esquadrinhar o infinito, onde, como é natural, acaba perdendo-se em conjecturas. Nada disso é próprio da intuição.

A intuição tal como a entendemos, tem algo de instintivo, porém mais elevado. É uma percepção espiritual que nos prepara e, instintivamente, sem percebermos porque, nos faz agir “com conhecimento exato”. É uma simples inspiração que se assemelha exteriormente ao instinto sublimado; ambos têm de comum o não ser resultante da reflexão. Porém, a intuição não se limita ao material, estende se ao espiritual. Que é a fé senão uma verdadeira intuição? Claro é que na fé nem sempre se esteja certo; por isso mesmo, tampouco asseguramos que a intuição proporcione forçosamente idéia exata. Nem sempre o homem está em condições de poder interpretá la devidamente, do mesmo modo que nem sempre uma máquina obedece à intenção do mecânico. Não devemos esquecer que o homem é um ser material, embora nele habite o espírito.

A fé é uma intuição. Certo que para desenvolvê la contribui a força persuasiva do pregador, porém, não criaria raizes se não estivesse auxiliada pela intuição do ouvinte. Essa intuição não se manifesta precisamente a tal ou qual crença, mas descobre na pessoa a idéia de Algo Superior, de uma futura existência ultraterrena e essa idéia vaga a relaciona com o que disse o pregador que deseja ensinar Ihe determinada crença.

A intuição é mais atrevida do que a própria inteligência, ela é algo assim como um farol que orienta o rumo da inteligência e, por isso mesmo, foi a voz interna que guiou a todos os descobridores, como Galileu, Newton, Colombo e outros tantos. 

 

Franz Hartmann

Voltemos à palavra religião e vejamos o que diz, por exemplo, o eminente teósofo Franz Hartmann:

“O verdadeiro fim de um sistema religioso deve ser, portanto, ensinar como pode uma pessoa desenvolver a potência de perceber a verdade. Pedir a alguém que acredite na opinião expressa por outro e que fique satisfeito com semelhante crença é o mesmo que desejar que ele continue na ignorância, confiando mais em outro do que em si mesmo. Uma pessoa sem conhecimento não pode ter convicção nem fé, e a sua opção por qualquer sistema depende das circunstâncias sob as quais se criou ou se viu rodeada. Acha se mais inclinada a adotar o sistema que seus pais ou parentes herdaram. E se troca de sistema, o faz geralmente por meros sentimentos egoístas, esperando conseguir algum proveito para si, por meio da troca. Considerada essa pessoa, espiritualmente, ver se á que nada lucrou com tal proceder, ficando nas mesmas condições de ignorância, porque para se aproximar da verdade todo homem terá que amar a verdade, e não pelas vantagens que dela possa usufruir. Considerado intelectualmente, pouco ganhará por haver trocado uma superstição por outra. A única maneira pela qual o homem chegará à verdade é amar a verdade pela própria verdade, livrando, ao mesmo tempo, a sua inteligência de todo preconceito e predileção para que a Luz que cintila esta verdade penetre em sua mente.”

Referindo se ao religionismo de hoje, diz ele:

“Que outra coisa é o religionismo de hoje mais do que uma religião de terror’! Os homens não querem evitar os vícios, mas querem evitar o castigo que lhes possa advir. Ensina lhes a experiência que as leis na Natureza não são mutáveis e, no entanto, seguem agindo contra a Lei Universal. Pretendem crer em um Deus que é imutável e, no entanto, rogam a esse Deus que lhes auxilie, quando desejam despedaçar a Sua própria Lei! Quando se elevarão até à verdadeira concepção de que o único Deus possível é aquele poder universal que age pela Lei, sendo ele próprio a Lei, e como tal, não podendo ser modificado? Quebrar a Lei é o mesmo que quebrar o Deus que esta dentro de nós, e o único meio de obter perdão, depois de assim haver procedido, é restituir a Lei, criando um novo Deus dentro de nós”.

De fato, o que existe é a Lei, e esta pertence a todos os homens, desde que estejam de acordo com ela, a começar pela própria Natureza, isto é, pelo aperteiçoamento humano por meio da união de seu espírito com a Vida Una.

É, portanto, dentro e não fora que o homem deve buscar a Deus. “Só a mente desenvolvida, bem dirigida e educada pode discernir com exatidão e penetrar nos mistérios ocultos da Natureza. Só os de coração puro podem ver a Deus.”

Aquele que alcançou semelhante grau não necessita buscar um adepto que o instrua, porque é ele o próprio adepto. Dai, dizerem os livros sagrados: “Quando o discípulo está preparado o Mestre aparece.” 

 

Gotama

Do mesmo modo, nos ensina Gotama, o Buda:

“A mente humana iluminada é maior do que um anjo e um Deus; a razão intuitiva esta acima do sacerdote e da revelação; o domínio de si mesmo é melhor do que o jejum, a mortificação e a prece: a caridade, maior do que o sacrifício e o culto”.

Seu lema era justiça e de seus ensinamentos se deriva, com maior clareza, a Lei do Carma ou de causa e efeito, ação e reação, distribuição e retribuição, através de encarnações da alma em diversos corpos humanos.
E ainda, estas elucidativas palavras do incomparável teósofo espanhol Roso de Luna, na sua magistral obra iniciática La Esfinge:
“Não deve esquecer o teósofo que devoção vem de devas e min, manu, o homem, vem do radical sânscrito manas, o pensamento, e, portanto, só exercitando a sua própria mente com o estudo, e não impetrando os favores de ninguém, por excelso que seja, poderá ele chegar a ser, em suma, um welsungo, um rebelde, um Prometeu.”

Se o nosso intento é, justamente, fazer luz sobre tudo quanto o povo desconhece, não podemos prosseguir sem dar alguns esclarecimentos sobre a palavra Prometeu.

Dizem alguns:
“Da haste de nartex   do pramanthos, que, pelo atrito contra um disco de vidoeiro, fazia chispar a chama com que o pastor ário do platô asiático acendia o fogo do seu lar   saiu o mito índico do Pramantha, o ser interiormente agitado e exteriormente agitante, que extraai o desconhecido do conhecido, o puro do viciado, o luminoso das trevas.” 

 

Prometeu

E assim acrescentam:

“Prometeu é, portanto, a eterna revolta do espírito contra o destino ignoto, a ânsia secular de liberdade que agita a espécie, a sua obstinada ambição de dominar a natureza. Prometeu é toda a energia humana, o esforço incessante que busca melhorar as condições da nossa vida, que cria as artes e as ciências, que funda a cidade e o templo, que estabelece a ordem social, que edita as leis, que vence o tempo e o espaço, põe ao seu serviço as forças cegas da natureza, faz, enfim, sobre a terra esta coisa que nenhum outro ser da criação realizou: a civilização. A lenda de Prometeu é, verdadeiramente, a epopéia da Humanidade.” 

 

H. P. Blavatsky

“O professor Kulm,   diz H. P. Blavatsky,   considera que o nome de Prometeu vem do sânscrito pramantha, o instrumento usado para acender o fogo, porque a raiz mand ou manth implica em movimento rotatório e a palavra manthami expressando o processo de acender o fogo, adquire assim o significado de arrebatar e daí, por sua vez, ptamantha roubo. Isso é muito engenhoso   continua ela   porém não é de todo exato, além disso há nele um elemento muito prosaico. Não há duvida de que na natureza fisica as formas mais elevadas se desenvolvem das inferiores. Porém, no mundo do pensamento acontece justamente o contrário. Uma origem mais poética é a da swástica. Seu protótipo é o Matarishvan ário, divina personagem relacionada com Agni, o deus do Fogo dos vedas. Matih em sânscrito é entendimento, sinónimo de manas e de maliat. Prometeu, pois, como filho de Fohat, também tem a sua história.”

“O argumento da trilogia de Ésquilo,   segue HPB , da qual se perderam duas obras, é conhecido de todo homem culto. Prometeu, o semideus, rouba aos deuses (os elohim hebreus) o seu segredo relativo ao Fogo Criador. Por causa desse sacrilégio, Cronos, o Tempo, derruba o das alturas entregando o a Zeus, pai e criador da humanidade, a qual havia mantido cega intelectualmente, à maneira dos animais, porque não queria de modo algum admitir que ela se fizesse igual em inteligência aos seus próprios criadores. Assim, Prometeu, o divino dador do Fogo e da Luz, é condenado a sofrer espantosa tortura no cimo do Cáucaso, melhor dito, cárcere da vida. Porém, o triforme Destino ou Carma, cujos decretos até aos próprios deuses obrigam, ordena que tais torturas só durem até que nasça de Zeus um filho mais forte que ele e da estirpe de ló: ‘o Prometeu das Idades’ que, ao libertar Prometeu, liberte a Humanidade de suas dores ou como diz o texto: ‘este filho, o negro Epafos, precipitará finalmente de seu trono a Zeus, reduzindo a nada o seu poderio e cumprindo se assim a maldição que o próprio Cronos lançou a este deus do raio terrível, pois que tal poder não lhe evitará a queda fatal e ignominiosa…”

Em resumo, a lenda de Prometeu é a própria manifestação divina, inconsciente no começo e a sua volta consciente ao seio do Infinito. É a Humanidade que adquire experiência através de um extensíssimo período de lutas e sofrimentos sem conta, ou o próprio Prometeu acorrentado que se transforma em Epimeteu libertador. Sendo que, isoladamente, cada homem pode figurar essas duas simbólicas personagens da mitologia grega, desde que pelos seus próprios esforços se liberte “das ferreas cadeias da ignorância em que tem vivido”, provando com isso o dito de São Paulo: “Todo ser bom pode encontrar o Cristo em seu homem interno”, e até inúmeras passagens dos livros sagrados, inclusive a Voz do Silêncio quando diz: “Afasta te da ignorância e também da ilusão. Vira o rosto às decepções do mundo. Desconfia dos teus sentidos, eles mentem. Mas dentro de teu corpo, escrínio das tuas sensações, procura no impessoal o Homem Eterno e tendo o encontrado, olha para dentro: Tu és Buda”, ou o Cristo, se o quiserem.

Este é justamente o estado de consciência que a Humanidade há de alcançar um dia, para logo depois voltar ao ponto de onde partiu, ou aquele que o teósofo chamaria de Sétimo Principio ou Átmico.
Mas voltemos ao ponto de partida, ou seja, o referente ao termo religião.
“Religião, no verdadeiro sentido diz Franz Hartmann   é a ciência que examina o vinculo com que esta unido o homem à causa donde se origina, ou melhor, que trata da relação entre a Humanidade e o mundo das causas. A verdadeira religião é, por isso mesmo, uma ciência mais elevada do que outra qualquer. Religião e Ciência, em seu sentido mais profundo, são em realidade a mesma coisa. Por outro lado, uma religião que se prenda às ilusões e uma ciência ilusória são igualmente falsas e, quanto maior for a obstinação com que se prendam a essas ilusões, mais pernicioso será o efeito.”

Deve, portanto, haver uma distinção entre religião e religionismo, ciência e cientismo, mística e misticismo, e até mesmo, entre teosofia e teosofísmo.

O mais elevado aspecto da religião é, praticamente, a união da Humanidade com a Suprema Causa, da qual emanou sua essência desde o principio. Em seu aspecto secundário, ensina as relações existentes entre a Grande Causa Primeira e a Humanidade, em outras palavras, as relações entre o Macrocosmo e o Microcosmo. Em seu aspecto mais inferior, o religionismo consiste nos louvores às formas mortas, na adoração de ídolos, de orações vãs, para persuadir a alguma deidade imaginária que nos favoreça; em rogar a Deus para que modifique a sua opinião e para conseguir favores contrários à Justiça.

A ciência, em seu aspecto mais elevado, é a consciência das leis fundamentais da Natureza e, por conseguinte, é a ciência espiritual, baseada no conhecimento do espirito dentro de nós mesmos. Em seu aspecto inferior, é um conhecimento dos fenômenos e das causas secundárias ou superficiais que os produzem e que, erroneamente, por vezes, os cientistas julgam como causas finais. Em seu aspecto mais inferior, ainda, o cientismo é um sistema de observação e de classificação de fenômenos externos cujas causas não conhece.

O religionismo e o cientismo estão continuamente sujeitos à transformação. Criados com ilusões, morrem logo que acabam tais ilusões. A verdadeira ciência e a verdadeira religião são unas e se reunidas à prática formam a pirâmide trilátera cuja base está na terra e cujo cimo alcança o céu.

Mistica, em seu verdadeiro sentido, é o conhecimento espiritual, isto é, o entendimento das coisas espirituais e superiores aos sentidos obtido pelos poderes da percepção espiritual. Esses poderes estão contidos, germinalmente, em toda organização humana, porém são poucas as pessoas que os possuem suficientemente desenvolvidos para que sejam de interesse prático.

Misticismo é um desejo para as ilusões; um desejo de penetrar nos mistérios que se não podem compreender; um anelo para satisfazer apenas a nossa curiosidade em tudo quanto não tenhamos o poder de compreender. É o reino das fantasias, dos sonhos, o paraiso dos que vêem espectros e das tolices espirituais de toda classe.

Porém, qual a verdadeira religião e a verdadeira ciência? Não resta a menor dúvida de que existe uma relação entre a Humanidade e a causa que a chamou a existir e, portanto, uma verdadeira religião e uma verdadeira ciência hão de ser as que ensinem os verdadeiros termos daquela relação. Se olharmos superficialmente todos os sistemas religiosos do mundo, encontrá los emos aparentemente em contradição. Observaremos uma grande massa de superstições e absurdos, amontoados sobre algo que pode ser verdadeiro.

Admiramos a ética e as doutrinas morais de nosso sistema religioso favorito e aceitamos com isso todos os seus escombros teológicos, esquecendo que a ética de quase todas as religiões é essencialmente a mesma, e que os escombros que as rodeiam não formam uma religião verdadeira. É absurdo crer que qualquer sistema possa ser verdadeiro quando não encerre em si a Verdade. Porém, é igualmente evidente que uma coisa não pode ser verdadeira e falsa ao mesmo tempo. A Verdade não pode ser mais do que uma. A Verdade não se modifica, nós, sim, nos modificamos e, por isso, se modifica para nós o aspecto da Verdade.

Qualquer homem inteligente   excetuando os que são cegos voluntariamente   reconhece que todos os sistemas religiosos do mundo contém certas verdades que intuitivamente reconhecemos como tais, mas como não pode haver mais do que uma verdade fundamental, todas essas religiões são ramas da mesma árvore, embora as formas com as quais a verdade se manifeste não se assemelhem.

A mais elevada verdade, em sua plenitude, não é conhecida pelo indivíduo na forma mortal. Aqueles que chegaram a um estado perfeitamente consciente da verdade absoluta não necessitam forma que a contenha; pertencem a uma classe sem forma. Não poderiam estar em unidade com o princípio universal se estivessem ligados pelas cadeias de uma personalidade. Uma mente tão extensa que não possa ser contida pelo cárcere carnal não necessita mais daquela prisão.

E daí, a impossibilidade de se querer descrever a outro o que é o conhecimento de si mesmo. Só o que possuímos em relação conosco pode ter para nós uma existência verdadeira; o que não conhecemos não existe quanto ao que a nós se refere. Não se pode provar praticamente ao cego a existência da luz; do mesmo modo que é impossível dar se prova de conhecimentos transcendentes àqueles cuja capacidade não transponha a religião dos fenómenos externos.

Não há nada mais elevado do que a Verdade e, por isso mesmo, é que a sua aquisição é o mais elevado dos ideais humanos. O ideal mais elevado do Universo há de ser um ideal universal.

A constituição de todos os indivíduos formou se segundo uma só Lei Universal e, portanto, o ideal mais puno ou elevado tem que ser o mesmo ideal para todos e ao alcance de todos. E, ao adquiri lo, todos os individuos formarão uma só família ou unidade espiritual. Enquanto o homem não reconhecer o ideal mais elevado do Universo, para ele o seu ideal, seja qual for, será o superior. Porém, o fato de existir tal ideal em sua mente não implica que não exista um outro mais elevado. E a prova é que, na maioria dos casos, todos se cansam daquele ideal que chamavam de superior.

Há de haver um estado de perfeição que esteja ao alcance de todos e além do qual ninguém poderá adiantar, enquanto a totalidade do mundo não o tiver alcançado. Todos os indivíduos têm o mesmo direito de alcançar o mais elevado; porém, nem todos possuem o mesmo poder desenvolvido: uns podem alcançá lo com maior rapidez; outros, retardar no caminho e acontece, também, que a maioria cai e tem que recomeçar a subir a escada evolutiva. Outro não é o significado da Parábola do bom semeador, atribuída a Jesus. 

 

Jesus

A Humanidade, embora imperfeitamente desenvolvida, reconhece intuitivamente o que é verdadeiro, nessa ânsia incontida de evoluir cada vez mais.

O cientista que raciocina segundo o plano das percepções dos sentidos é o que está mais afastado do reconhecimento da verdade, porque toma as ilusões produzidas pelos sentidos como realidades e repele as revelações de sua própria intuição. O filósofo, incapaz de ver a verdade, procura adquiri Ia por meio de sua inteligência e pode aproximar se da mesma até certo ponto, porém, aquele em quem a verdade adquiriu a condição consciente reconhece a verdade por percepção direta, por isso mesmo, a ela essa unido e não pode enganar se.

Essa condição é incompreensível para a maioria dos indivíduos, tanto para os cientistas e filósofos como para os ignorantes. E, no entanto, existiram e existem homens que alcançaram aquele estado; são os verdadeiros teósofos, porquanto nem todos que se dizem teósofos o são, como tampouco os que se dizem cristãos são um Cristo. O verdadeiro teósofo e o verdadeiro cristão e até mesmo budista ou mahatma, são um só, porque são formas humanas em que a Alma Espiritual Universal chegou a ser consciente.

E é por isso que o eminente teósofo Franz Hartmann diz:
“Um verdadeiro cristão é inteiramente diverso do meramente externo. Os primeiros cristãos formaram uma organização secreta, uma escola de ocultistas que adotaram certos símbolos e sinais a fim de representarem as verdades que compreenderam e, dessa maneira, poder comunicá las entre si, ocultando as dos ignorantes. Do mesmo modo, um teósofo verdadeiro não é um sonhador, senão uma pessoa muito prática. Por sua pureza de vida lhe vem o poder de receber verdades elevadas que não podem receber os indivíduos vulgares.”

“A verdade é uma só, embora os homens lhe deem nomes diferentes”, diz o Rig Veda.

Os homens de todas as partes do mundo que chegaram a perceber a Verdade tiveram a mesma percepção. Isso vem explicar porque razão as revelações de todos os profetas são idênticas uma às outras, quando alcançaram o mesmo grau de poder. Só os termos diferem.

Se a ciência e a religião   a natureza e a moral, o Universo e o homem forem dois termos irredutíveis e sem principio superior, serão fatalmente falsos: uma ilusão e nada mais. A ciência abstrata é um verbo inanimado: ela isola e dispersa. Porém, a Sabedoria, que é a Ciência do Amor aplicada à alma e à Humanidade, une e concentra: ela é o Verbo vivo.
Mas, não podemos deixar de fazer justiça à ciência moderna   filha de Bacon e de Descartes justamente por se ter estabelecido sobre a rocha da experiência e da razão, pois se até agora só lhe foi possível medir os pés da grande Ísis, há de chegar o dia em que se elevará até o coração e a cabeça da deusa.
 
  

Henrique Jose de Souza
Fundador da Sociedade Brasileira de Eubiose
http://www.vidhya-virtual.com/vidhya5/pequenabiografia.htm

Artigo extraído da revista: O Luzeiro, 
edição de dezembro de 1953.