Entre Mundos  Paralelos

É possível um objeto sólido desmaterializar-se para em seguida se rematerializar no mesmo ou em outro lugar? Ou ainda passar através de outros objetos sem rompê-los? Extrapolando alguns princípios da física quântica, a resposta é positiva e aponta para a existência de uma cadeia de universos paralelos, formada por um número infinito de dimensões.
imageFMANa década de 70, um controvertido paranormal, Uri Geller, ficou conhecido em todo o mundo por entortar garfos, chaves e outros objetos de metal simplesmente esfregando-os com as pontas dos dedos. Ele também dizia ter a capacidade de produzir numerosos fenômenos de teletransporte (o desaparecimento da matéria seguido de seu reaparecimento no mesmo ou em outro lugar).

Uri Geller

    Conta-se, por exemplo, que Geller estava caminhando em Manhattan, Nova York, quando, de repente, apareceu na varanda da casa de seu amigo Andrija Puharich, em Ossining – uma jornada de no mínimo uma hora.

    Já a especialidade do místico hindu Sai Baba é materializar, além de pequenos objetos, um pó acinzentado conhecido como vibhuti, ou “cinza sagrada”.  

Sai Baba

    Aos parapsicólogos ocidentais que estiveram com Sai Baba jamais se permitiu realizar experimentos sob condições controladas. Contudo, Karlis Osis e Erlendur Haraldsson examinaram uma de suas roupas e não encontraram bolsos nem outros receptáculos ocultos. Também não identificaram traços de vibhuti sob suas mangas, o que seria de se esperar caso Baba costumasse sacudi-la para fazê-la cair em suas mãos.

    A esses fenômenos, também conhecidos como desmaterialização-rematerialização”, relacionam-se os da passagem de matéria através de matéria. Por exemplo, a passagem de um objeto para dentro ou para fora de um recipiente vedado ou ainda o fazer e desfazer de nós sem o uso de qualquer meio normal.

    Eventos desse gênero têm sido registrados em sessões espíritas, em experimentos com certos agentes psicocinéticos e em casos de poltergeist. Nestes últimos, pedras ou outros mísseis são arremessados não se sabe de onde, algumas vezes só se tornando visíveis ao colidir com outro objeto.

 Um caso famoso ocorreu em 1903 com o geólogo W. F. Grottendieck, que conduzia um estudo em Sumatra (Indonésia). Certa noite, ele dormia numa cabana coberta  com folhas largas quando foi despertado por pequenas pedras caindo em cima e ao redor dele. Muitos outros eventos similares ocorreram a partir de então, dando-lhe a chance de investigar sua origem. As pedras pareciam vir do teto, mas ele não conseguiu descobrir qualquer brecha na cobertura de folhas através da qual elas pudessem passar. Além disso, elas caíam com uma lentidão pouco natural e, toda vez que ele tentava pegá-las, mudavam de direção.

    A ação desses projéteis inteligentes, que se manifestam com certa assiduidade em casos de poltergeist, não se concilia com os princípios da física convencional e raras vezes foi observada em condições ideais, ou seja, com acompanhamento de parapsicólogos e controles experimentais completos. Por isso, mesmo os pesquisadores que se dispõem a aceitar fenômenos mais razoáveis, como os que envolvem PES (percepção extra-sensorial), juntam-se ao coro cépticos na rejeição desses relatos, considerando-os histórias para tolos.

    Vítima de zombarias e descrédito ( e por razões que parecem ter mais a ver com a natureza fantástica dos eventos que presenciou do que com qualquer imprecisão em seus relatos ou qualquer deficiência nas condições de observação), Johann Zõllner, professor de física e astronomia na Universidade de Leipzig (Alemanha), foi um dos precursores no estudo dos fenômenos de teletransporte.

 Um dos vários experimentos que conduziu aconteceu na manhã de 6 de maio de 1878. Numa sala especialmente construída para isso, Zõllner segurou as mãos do médium americano Henry Slade entre as suas sobre uma mesa de jogo, ao redor da qual eles se sentaram. Cerca de um minuto depois, uma pequena mesa circular de madeira, a poucos centímetros de distância, começou a balançar para lá e para cá. Deslizou, então, vagarosamente até a mesa de jogo, tombou para trás e escorregou para baixo dela. No minuto seguinte nada pareceu acontecer. Slade estava prestes a consultar seu mentor espiritual a respeito do que se sucederia quando Zõllner, relanceando os olhos para baixo da mesa de jogo, a fim de verificar a posição precisa da mesa circular, não a encontrou. Ela havia desaparecido. Os dois homens deram uma busca pelo quarto, mas não acharam nem sinal dela.

    Zõllner e Slade retornaram, então, a seus lugares, com as mãos unidas sobre a mesa de jogo e as pernas tocando-se – assim Slade não poderia fazer qualquer movimento sem que Zóllner detectasse. Após cinco minutos de expectativa, Slade viu luzes no ar – como sempre via quando qualquer coisa paranormal estava para acontecer em sua presença. Mesmo sem enxergar as luzes, Zõliner seguiu a trajetória traçada pelo olhar fixo do médium. Ao virar a cabeça para o teto às suas costas, viu a até aquele momento invisível mesa, com as pernas viradas para cima, a uma altura de cerca de 1,5m. Rapidamente ela flutuou para baixo, em direção à tampa da mesa de jogo. A mesa flutuante não era uma simples alucinação. Ao descer, desferiu um doloroso golpe na cabeça dos dois homens.

    Movimentos de objetos supostamente “impossíveis” foram produzidos em outras sessões com Slade, sob a supervisão de Zõllner. Em muitas ocasiões, nós eram feitos em pedaços de barbante ou tiras de couro e outros materiais, enquanto Zõllner segurava-os ou, de alguma maneira, mantinha-os sob seu controle. Numa reunião realizada com o intuito de ligar dois aros de madeira entre si, os anéis acabaram se encaixando no suporte central da mesa circular cujo teletransporte foi descrito acima. A mesa estava totalmente fora do alcance de Slade quando o evento aconteceu, e seria impossível para qualquer agente humano colocar os aros no suporte da mesa sem desmontá-la e remontá-la em seguida. Os estudos de Zóllner ocupam numerosos volumes, mas apenas uma parte deles está disponível em inglês. Trata-se de um trabalho sério e meticuloso que merece ser retomado.

    Uma tentativa nesse sentido, aparentemente bem-sucedida, veio a público no verão de 1932 através da revista da American Society for Psychical Research (Sociedade Americana para Pesquisa Psíquica). O relato foi escrito por William Button, presidente da entidade, que participou das oito sessões mencionadas e que havia algum tempo acompanhava de perto o desempenho mediúnico de Margery Crandon.  

Nas experiências, o espírito de Walter, irmão falecido de Margery, movimentava ostensivamente pequenos objetos para dentro e para fora de diversos tipos de recipientes, como caixas de papelão vedadas com fita adesiva e caixas de metal. Margery foi atada a uma cadeira pelos pulsos e tornozelos com várias voltas de fita adesiva. A fita foi ainda marcada à caneta com linhas que denunciariam sua eventual retirada e recolocação. A verificação da ocorrência de desmaterialização e rematerialização era feita balançando-se o recipiente e ouvindo-se se emitia algum som, sem jamais abri-lo.

    No final dos anos 30, um outro pesquisador, que se tornou popular graças a seus inúmeros livros sobre temas psíquicos, publicou um artigo na mesma revista da Sociedade Americana para Pesquisa Psíquica, apresentando três casos bem documentados de teletransporte. Um deles, reproduzido por Scott Rogo em Além da Realidade (Ed. Ibrasa), narra o seguinte:

    “A senhorita K, uma enfermeira e pessoa muito metódica, tinha o hábito de colocar, sempre que entrava no apartamento, seu molho de chaves sobre a mesa da sala de jantar. Um dia fez isso, como de costume (foi o que declarou), e pouco tempo depois procurou-o, ao se preparar para sair de casa. O molho de chaves havia desaparecido. Ela o procurou em toda a parte, sem encontrá-lo.

    “Finalmente, foi obrigada a mandar fazer novas chaves. Alguns dias depois, ela precisava pegar uma tampa de vidro de remédio. As tampas estavam guardadas na caixa de metal, na gaveta inferior de um armário na despensa. Ela não costumava abrir essa gaveta (é o que dizia) mais do que três ou quatro vezes por ano. E ali, na caixa de metal, estava seu molho de chaves! A senhorita K declara que não abriu a gaveta no dia em questão, nem depois, até resolver pegar a tampa de vidro. Entretanto, suas chaves estavam lá, repousando tranquilamente na caixa de metal.”  

    Muitos eventos autenticados de teletransporte poderiam ainda ser citados. Há até um relato de alguém que realmente viu um objeto desvanecer-se. Isso ocorreu com a Senhora Kogelnik, em Londres, em 1922. A casa dos Kogelnik havia experimentado distúrbios de poltergeist durante meses, aparentemente centrados em uma empregada. Nessa ocasião, a Senhora Kogelnik estava trabalhando no sótão da casa. Seu marido conta: “Quando minha mulher viu um machado desaparecer diante de seus olhos, saiu do quarto. Isso aconteceu entre 10 e 12 horas, e a luz era suficientemente boa para a visualização.”

    Na verdade, apesar de a maioria dos estudiosos da paranormalidade continuar ignorando a ocorrência dessa espécie de fenômeno, há hoje evidências acumulativas de que pessoas absolutamente comuns podem experimentá-los, e com uma freqüência muito maior do que se imagina. Tanto que a Britain’s Society for Psychical Research (Sociedade Britânica para Pesquisa Psíquica) lançou o Projeto Jott (Just One of Those Things, ou “exatamente uma daquelas coisas”) para tentar reunir uma seleção representativa de casos.

    Mas, se, de fato, esses fenômenos ocorrem, como explicá-los?

    Com relação à passagem de matéria através de matéria, alguns sugerem que os átomos se deslocariam um a um para depois voltarem a se reunir. Ou que os átomos componentes de um objeto poderiam de algum modo se tornar passivos e não-coesivos, de modo a não interagir uns com os outros e permitir a passagem de outro objeto.

    Um processo que apresenta analogia com esse fenômeno é o do “túnel quântico”, no qual uma partícula atômica atravessa uma barreira de energia alta demais para ser transposta, cavando como que um túnel em seu caminho. Neste caso, duas questões intrigantes surgem de imediato: como o efeito do túnel quântico, registrado apenas em distâncias atômicas, poderia ser intensificado a ponto de resultar nas distâncias estimadas nos relatos paranormais? E como os bilhões de átomos que constituem objetos de tamanho normal se coordenariam para abrir o túnel simultaneamente no mesmo lugar?

    Quanto à desmaterialização-rematerialização de objetos, uma das explicações mais habituais é a alucinação, que, já de saída, não pode ser contabilizada nos eventos em que se verificam mudanças estruturais permanentes – como os nós nos pedaços de barbante de Zõllner, por exemplo. Outra teoria propõe que os objetos se tornariam invisíveis temporariamente. Consistente em certos casos, esta teoria não esclarece, entretanto, a passagem de objetos para fora de caixas vedadas. Uma terceira hipótese, mais plausível, é a de que o espaço tem uma outra dimensão, ou mesmo mais. Assim, ao aparecer e desaparecer em nosso mundo, os objetos estariam na verdade se movendo para uma dessas outras dimensões, que existiriam em número infinito, formando uma cadeira de universos paralelos. Por mais fantástica que possa parecer, esta perspectiva é um conceito familiar aos cientistas que trabalham com física quântica, e os estudos na área psíquica poderiam contribuir na sua elucidação.

    Para isso bastaria que os parapsicólogos, superando velhos preconceitos, conduzissem pesquisas sérias, selecionando pessoas capazes de realizar teletransportes, treinando-as para produzir efeitos sob controle ideal, catalogando as experiências de pessoas normais que também tenham participado de eventos semelhantes e empregando a moderna tecnologia eletrônica para explorar tais fenômenos.               imageNM1

Por Anna Clara Alves
Publicado Revista Planeta
Novembro de 1995

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