273bc885ee22794d748ff5f96595bad5O mito de Édipo é o mais humano de todos, uma síntese da visão grega antiga diante da miséria e tragédia humana.

Édipo nasce rei, portador de uma maldição que herdara do pai. Afastado da mãe, ele cresce criado por outra família de reis.

Bonito, viril e inteligente, seu mito foge dos heróis tradicionais, como Aquiles, que têm a força guerreira como essência da virilidade e das aventuras épicas.

Édipo tem a inteligência como aliada, que o faz justo, decifrador dos enigmas humanos e dos deuses, tornando-o, através da sabedoria, líder e vencedor do seu povo.


Mas justamente o maior enigma, o que rege a sua própria vida, será o ponto de busca de Édipo.

Preso ao emaranhado das suas verdades, Édipo mata o próprio pai Laio, e casa-se com a mãe, a bela Jocasta. Torna-se um rei poderoso, reinando com justiça e sabedoria sobre Tebas. Mas Édipo, inocente nos atos que praticou, é culpado pelo assassino do pai e pelo incesto com a mãe.

Edipo e Antigona-Peter Krafft Johann-1809O Destino decidira a sua tragédia, os deuses induziram-no aos crimes, para que se concretizasse a maldição que a ele estava legado.


Uma das características das religiões politeístas é de que o homem nasce e vive já com a determinação do Destino, entidade maior e soberana aos deuses.

Os monoteístas afirmam que o homem é quem, através do livre arbítrio, determina o seu destino.

O mito de Édipo alinhava as contradições, pois mesmo inocente, ele é culpado por herdar a maldição lançada sobre as gerações da sua família; assim como o Adão do cristianismo católico lança a maldição da morte sobre a sua geração humana.


edipoÉdipo é o mais humano e trágico dos mitos. A vitória sobre a esfinge, a vontade de triunfar sobre a maldição dos deuses, o assassino do pai, o casamento com a própria mãe, e a necessidade inquietante de descobrir as verdades da alma humana, fazem de Édipo o mais vulnerável dos homens diante do espelho, assim como é a humanidade diante das suas próprias verdades.

Édipo é a chave para o eterno amor involuntário entre mãe e filho, entre a verdade e a mentira. Ao descobrir quem é, não suporta a imagem do mundo e de si mesmo, furando os próprios olhos. Édipo, dentro da sua tragédia, é a mais perfeita concepção humana da criação mitológica, a visão que foge do herói e dos deuses, esboçando o retrato universal da psicologia da mente do homem e da sua eterna luta contra os deuses criados para justificar a solidão da alma.

Extraído de: Vamos Falar de História

Édipo ReilA cegueira e o conhecimento são dois termos que pontuam inúmeros mitos. Ao invés de se anularem, esses dois termos se potencializam. Édipo, por exemplo, na tragédia  Rei Édipo de Sófocles, nos dá dois elementos importantes para esta análise. Primeiro a peça se inicia descrevendo, a exemplo do mito mongol, o misterioso flagelo, “a pavorosa peste” que se abateu sobre a cidade. Em segundo lugar, um dos pontos altos da tragédia é quando ao “ver” que possuiu a própria mãe depois de ter matado o pai, Édipo cega-se assombrosamente. Dir-se-ia que cegou-se para não ver. Mas numa interpretação ultra-sofisticada de Heidegger, Édipo é aquele que se cegou para melhor ver a sua patética situação.

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