Faze o que tu queres será o todo da Lei.
rr1Um assunto que volta e meia vem à baila, seja em reuniões de instrução ou em
grupos de discussão sobre ocultismo e magia, é a diferença entre invocações,
evocações, convocações e outros “ções” da vida. Pensando nisso achei que
escrever um pequeno artigo sobre isso poderia ajudar um pouco a quem tem
esse tipo de dúvida. É claro que estou longe de pretender uma resposta
definitiva a esse tipo de questão mas pelo menos dar um orientação sobre o
tema.

Antes de mais nada, vamos ver o que significa cada uma dessas palavras no
dicionário. Procurar o “pai dos burros” sempre é interessante antes de
começarmos esse tipo de coisa.

Invocação: do Lat. invocatione. s.f. Ato de invocar (do Lat. invocare – v.tr
– implorar a proteção de; rogar; suplicar; chamar; apresentar como prova a
autoridade ou testemunho de alguém); chamamento em auxílio, pedindo socorro;
alegação; rogo; proteção divina; (lit.) parte do poema em que o poeta pede o
auxílio de uma divindade ou das Musas.

Evocação: do Lat. evocatione. s.f. Ação de evocar (do Lat. evocare – v.tr. –
chamar a si; fazer aparecer por processos mágicos, esconjurar, recordar,
relembrar, transferir a causa de um tribunal para outro).

Conjuração: do Lat. conjuratione. s.f. Conspiração contra o governo ou
autoridade estabelecida; maquinação; conjura; exorcismo; ato de conjurar (do
Lat. conjurare – v.t. – ajuramentar; convocar para conjuração; planejar em
conjuração; fazer esconjuros, exorcizar – v.int. – conspirar; insurgir-se;
levantar-se – v.refl. – queixar-se; lamentar-se; coligar-se); esconjuro;
reunião de pessoas conjuradas.

E ajuda se dermos uma olhada também em…
Esconjuro: 1ª pess. sing. pres. ind. de esconjurar (v.tr. – fazer jurar;
tomar juramento a; exorcizar; amaldiçoar; dirigir imprecações – v.reflx. –
queixar-se; lamentar-se). s.m. Juramento com imprecações; maldição;
exorcismo; conjuração.

rr5Exorcismo: do Lat. exorcismu < Gr. exorkismós, ato de conjurar. s.m.
Cerimônia religiosa para esconjurar espíritos maus; esconjuro.
Tá bom… Tá bom… Parece que ficou mais confuso ainda. Mas não ficou, não.
Vamos analisar as informações acima.

O que tudo isso tem em comum? Veja que — descontando-se aspectos jurídicos,
políticos e literários, ainda que nem tanto nos literários — todas essas
operações remetem a alguma forma de comunicação entre o ser humano e o
espiritual. Todas estas são operações onde se pretende algum tipo de favor
ou comunicação com o divino. Em uns casos, o sujeito está enrolado com
alguma coisa e quer que o divino o ajude. Em outros casos ele está
“amaldiçoado” e precisa que a causa espiritual dessa maldição vá embora. Ou
seja, invocações, evocações ou seja lá o que for, são sempre uma forma de se
realizar uma espécie de “contrato espiritual”, seja lá para que finalidade,
seja por favores, proteção ou afastamento. No fim das contas, é um bate-papo
com o espiritual.

Só que, magicamente falando, existem diferenças mais significativas; além de
outros procedimentos importantes. Por isso, vamos ver cada caso em separado.

Invocação
Uma invocação é o chamado, ou súplica, como por vezes é definido, feito pelo
invocador — seja este um mago, um sacerdote, um feiticeiro ou o que for — a
algum tipo de entidade espiritual ou força arquetípica. Esse chamado é feito
buscando-se os objetivos que já falamos acima mas também pode ser feito,
como de fato é muitas vezes, para simples propósito de adoração. Em geral,
orações são formas de invocação bem como mantras e liturgias. As invocações
são muito usadas e têm uma importância enorme nas cerimônias religiosas.

As cerimônias de invocação podem tanto ser pré-definidas como saídas
quentinhas do forno do invocador. Podem ser altamente elaboradas (como as
vistas no Livro dos Mortos egípcio) ou tão simples quanto uma reza feita ali
na hora. Podem ser silenciosas ou barulhentas como uma chamada aos guias na
Umbanda. Em suma, têm para todos os gostos. A partir do momento em que se
têm alguém buscando o contato com o espiritual e chamando esse espiritual a
si, já é uma invocação.

Epa! Aqui chegamos a um ponto importante. Ainda que em termos religiosos
isso não faça muita diferença, na maioria das vezes, em termos mágicos, uma
invocação é o chamado desse aspecto do espiritual para si mesmo. É quase uma
questão de possessão (quase, eu disse quase). Em uma operação dessas, o
invocador chama a si esse aspeco espiritual e permite que ele se sobreponha
aos aspectos de sua própria personalidade, ainda que não permite que se
sobreponha à sua consciência, o que difere a invocação da possessão.

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Evocação
Já a evocação diferencia-se, magicamente falando, da invocação justamente
pelo destino pretendido para a energia trabalhada. Enquanto na invocação
esta é trazida para dentro, na evocação o receptáculo é externo ao invocador

As evocações começaram a ser efetuadas dentro da religiosidade antiga,
quando os as divindades tutelares de uma localidade eram chamadas a habitar
um receptáculo, geralmente um ídolo ou marco, de modo a protegerem aquela
comunidade. Em troca, recebiam a adoração de seus fiéis. Durante muito tempo
esse foi o principal uso dessa prática, basicamente até que na Idade Média,
com o desenvolvimento da magia ritualística, espíritos eram chamados a
trabalharem para os magos sendo evocados em círculos mágicos, bolas ou
espelhos de cristal ou outros receptáculos semelhantes. Aqui a idéia não era
mais a obtenção de proteção por parte daquela força espiritual mas o
controle da mesma e a obtenção de favores.

Os grimórios medievais são um verdadeiro livro de receitas de rituais de
evocação de tudo o que se possa imaginar: anjos, demônios, elementais, o
papagaio da vizinha… Tudo o que se pudesse evocar era evocado com um bocado
de entusiasmo. E normalmente era uma confusão dos diabos realizar um ritual
desse. Toda uma parafernália era necessária, recitação de fórmulas imensas,
desenhos mais complexos que imposto de renda, dias e horários precisos… Hoje
em dia considera-se que esses procedimentos, ainda que auxiliem no processo
de evocação, não são realmente necessários; apenas atuam como focos de
concentração e disciplina da mente do evocador. O resultado final era a
presença da força espiritual no seu receptáculo (geralmente o evocador
estando protegido dentro de um círculo mágico) e o uso de um vidente para
interagir com ela. Vide o trabalho de Dee e Kelly com o enoquiano.

Até hoje, os processos de evocação são utilizados primordialmente como forma
de controle ou comunicação direta com alguma força ou entidade espiritual,
com vários testes sendo feitos para confirmar a identidade da mesma, por
meio de sistemas ainda muito semelhantes aos descritos nos grimórios
medievais, ainda que de forma muitas vezes mais simplificada.

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Conjuração
Depois de complicar um bocado, aqui a coisa fica mais simples… Uma
conjuração pode ser vista — novamente, em termos de magia — simplesmente
como uma operação de invocação ou de evocação. Uma espécie de
nome-para-toda-obra. Aliás, normalmente, toda forma de operação mágica pode
ser chamada, de forma genérica, como uma conjuração, posto que normalmente
algum tipo de força espiritual (seja interna ou externa, seja por invocação
ou evocação) está sendo colocada em movimento. De forma geral, pode-se dizer
que uma conjuração é uma operação mágica sendo feita de forma ritualística,
não religiosa.

Exorcismos & Banimentos
O contrário de se chamar alguém é mandar embora. Quando isso é feito
magicamente temos ou um exorcismo ou um banimento. Tá… Qual a diferença
entre eles?

O propósito de um exorcismo é a expulsão de uma força espiritual (geralmente
tida como maléfica) de algo ou alguém, externo ao exorcista. Através das
operações mágicas ou religiosas apropriadas, espera-se que aquela energia
seja expulsa de seu receptáculo e pare de encher o saco de quem quer que
seja. É basicamente uma operação de comando daquela força que, através da
invocação dos poderes de uma força ainda maior, deve obedecer ao exorcista.

Já o banimento, mais uma prática mágica do que religiosa, destina-se a
eliminar de uma pessoa, objeto ou área qualquer influência que possa
interferir na operação que irá ser realizada em seguida. Segundo Crowley,
mesmo as energias que serão trabalhadas devem ser banidas pois, “essas
forças, tal como estão na natureza, são geralmente impuras”. Originalmente
visto como uma espécie de “limpeza espiritual” pela magia cerimonial
clássica, os banimentos são atualmente mais vistos como ferramentas de
equilíbrio tanto do que é externo ao praticante quanto do ambiente interno a
ele. Por conta disso, muitos ocultistas têm o hábito de realizar seus
rituais de banimento diariamente.

CHAKRA FIRE MAGICIAN
Forma Deus
Uma operação de invocação particular muito interessante é o que se chama de
assunção de forma deus. Nesse tipo de operação mágica o que se busca é
estabelecer um forte elo entre o praticante e a divindade selecionada. Aqui
o processo de invocação da energia divina busca o trabalho de algum
determinado aspecto dessa energia, como a força de Marte ou a sabedoria de
Thoth.

Para tanto, não bastam cânticos ou orações. É necessário um profundo
conhecimento da mitologia, da simbologia e da imagem representada daquela
divindade. Cada aspecto das histórias contadas deve ser conhecido e, mais
importante, compreendido. As posturas físicas devem ser imitadas, os
ornamentos relativos devem ser utilizados. O processo deve desenrolar-se até
que surja uma total identificação entre o praticante e o deus ou deusa.
“Ah, então eu vou ser possuído pela energia da divindade?”

Calma lá… Não é bem por aí. O que você está operando dentro de você não é um
aspecto externo e sim interno. Você não está invocando uma energia fora de
si mesmo mas trazendo essa energia de dentro de seu próprio ser, utilizando
as características de um determinado deus ou deusa para isso. No final, o
que está acontecendo é que o praticante se torna a divindade mas não deixa
de ser ele mesmo. É uma questão de símbolos e não de possessão. Você não vai
comandar ou adorar aquela energia, como em um processo normal de invocação
ou evocação, vai trabalhá-la e o resultado da operação mágica não virá de
fora mas sim de você.

Angel198
Invocação do Sagrado Anjo Guardião
Este pode ser considerado um caso específica da assunção de forma deus, uma
vez que a divindade sendo trabalhada não é senão o aspecto divino do próprio
indivíduo. Mais ainda, é uma união que se espera durar por toda a vida e não
apenas pela duração de uma cerimônia.

Amor é a lei, amor sob vontade.

Extraído de Palavras de Hierakonpolis

filipeta

livrao