Os portais para uma nova realidade.

Por: Márcia Maranhão Limongi
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imageISQVocê sabia que os pontos de vista estabelecidos pela física (clássica e moderna) acabam influenciando toda a sua vida, suas crenças e seu modo de pensar ? Conheça aqui como as teorias evoluíram e como a física quântica, com potencial para explicar várias áreas do conhecimento humano, aos poucos lança uma luz sobre os fenômenos até agora desprezados pela ciência.

PARTE 1 
DA FÍSICA CLÁSSICA À FÍSICA QUÂNTICA

A GRANDE EVOLUÇÃO

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A física, como ciência exata, sempre foi considerada o principal pilar onde se baseavam todas as outras ciências. Desde o século 18, a física clássica reinou absoluta em seus conceitos delineados por Newton, Descartes e Bacon, que defendiam a matéria como a base de tudo que existe e as relações de causa e efeito; a matéria era homogênea, composta de partículas sólidas, que obedeciam às leis imutáveis de forças de movimento. Segundo esses princípios, o universo teria uma visão mecanicista: tudo na natureza seguia leis exatas e mecânicas e havia uma perfeita organização entre o movimento do todo e suas partes. Ou seja, peças isoladas juntavam-se para formar o todo e da mesma forma teriam que ser investigadas separadamente para serem entendidas em suas interações. Nós, seres humanos, não passávamos de “máquinas vivas”, além de meros observadores, e em nada poderíamos influenciar na mecânica do universo.  O livre-arbítrio não existia, todas as coisas seguiam um movimento predeterminado e previsível. Esse princípio reducionista da realidade permeou todas as áreas do conhecimento humano até agora, como a política, a sociologia, a psicologia, a medicina e a economia.

No final do século 19, cientistas como Clerk Maxwell, com seus conceitos de eletrodinâmica, e Darwin, com a teoria da evolução, começaram a abalar os rígidos preceitos tomados como certos até então. Mas foi no início do nosso século, ao mergulhar na investigação dos fenômenos atômicos e deparando-se com a teoria da relatividade de Einstein e a teoria quântica desenvolvida anos mais tarde, é que a física clássica desmoronou em sua base newtoniano-cartesiana: a complexidade do universo que agora se apresentava não cabia mais em suas entranhas. 

Amit Goswami, Ph.D. em física pela Universidade de Calcutá e professor na Universidade de Oregon, Eugene, é autor da obra Quantum Machanics, de quatro volumes, que aborda o tema. Goswami é pioneiro da ciência idealista baseada na primazia da consciência e cujo conceito foi desenvolvido em seu livro The Self-Aware Universe – Science Within Consciousness, (publicado pelo Institute of Noetic Sciences), no qual aplica esse novo paradigma na integração das psicologias e na fundação de uma nova medicina e biologia integradas. 

O professor tem certeza de que essa ciência possui o potencial de abranger toda a cadeia do ser, estabelecendo assim um novo paralelismo biopsicofísico.

Esse novo paradigma da ciência pode explicar racionalmente a psicologia transpessoal (que estuda os diversos estados de consciência) e outros campos de conhecimento que estão surgindo atualmente. Para isso, uma das suas prioridades é a explicação do papel da consciência, a qual é fundamental no entendimento da mecânica quântica. Para compreendermos o quanto a consciência é importante, temos antes de entender um dos princípios básicos da física quântica que se opuseram literalmente à física clássica: se dividimos um objeto em pedaços cada vez menores e chegamos às unidades subatômicas (elétrons, prótons, etc), descobrimos que elas não são sólidas e não mantém mais as características desse objeto. E mais: essas unidades não tem dimensão e podem se manifestar tanto em forma de partícula como em forma de onda, dependendo da situação, embora não sejam nem uma nem outra. Sua natureza, na verdade, não é a de um objeto como o conhecemos. Essas manifestações eram chamadas de quanta (plural de quantum = partícula de onda, de onde veio a expressão “quântico”) e podem constituir a matéria-prima de todo o cosmo. A natureza “mutante” da matéria (também comum para a luz, os raios gama, raio X e ondas de rádio) foi uma pílula difícil de engolir pelos cientistas ortodoxos e os forçou a redimensionar teorias sobre o conceito da realidade da matéria.  Eles constataram que não podem afirmar com certeza a sua existência, só podem dizer que ela “tende a existir” e que os eventos atômicos não ocorrem no tempo e do modo esperados, mas possuem “tendência a ocorrer”, o que a física chama de probabilidades. 
 
 

 

PARTE 2 
A IMPORTÂNCIA DA CONSCIÊNCIA

O “DESPERTAR”

Veja como a consciência materializa a realidade à sua volta. Ela é a base de tudo. Ao perguntar a Goswami se a alma ia gradativamente se desenvolvendo até alcançar a realidade divina, ele disse: “Não. Ela já tem tudo, só que ainda não acordou para isso”. 

Nas palavras de Goswami, “as coisas não são coisas, na verdade as coisas são meras probabilidades, a despeito da dificuldade que vocês possam ter para crer nisso”. Ou seja, você é capaz de acreditar que a sala onde está poderia desaparecer se não estivesse nela ? A primeira dificuldade é crer que a possibilidade possa ser real. Assim, nossa noção de realidade precisa ser estendida. A física quântica diz que somos talvez até mais reais do que nós entendemos como um aspecto puramente sólido.  Na alegoria da caverna de Platão há uma noção similar, pois o que existe na realidade são formas arquetípicas e o mundo é um reflexo, sombras dessas formas. É o mesmo na cultura hindu, a qual afirma que o nome aparece antes da coisa (uma vez que existe a idéia da coisa a que se dá o nome). As culturas muçulmana e cristã referem-se a esse fenômeno como “objetos de Paraíso”, primeiro surgindo de uma forma mais abstrata para depois se materializarem. 

E como essa “materialização” acontece ? É aí que entra a consciência: os objetos são possibilidades de existência enquanto nós não os estamos observando. Só quando você passa a testemunhar um determinado objeto é que ele se torna uma entidade tangível e concreta.  Segundo o ponto de vista da física, quando você está testemunhando algum objeto, suas partículas têm uma posição fixa e definida; quando sua atenção se desvia, essas mesmas partículas podem estar em lugares e situações diferentes.  O objeto pode estar em mais de um lugar ao mesmo tempo porque ele também tem uma natureza de onda. Quando você observa, a onda entra em “colapso”, ou seja, ela se transforma em uma partícula. A materialização dessas ondas acontece instantaneamente, sem intervalo de tempo e sem local definido. Nesse ponto, o que passa pelas nossas cabeças é que esse fenômeno só comprova o conceito que “a mente atua sobre a matéria”, e aí ouvimos de Goswami um sonoro “não” – isso é um argumento dos materialistas. A consciência por natureza já possui a característica de materializar implícita nela mesma. Ela reconhece uma dessas possibilidades, e é essa a possibilidade que ela escolhe. 

 

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Para entender melhor o raciocínio, veja o desenho ao lado, que apresenta duas imagens diferentes, de uma moça ou de uma anciã. 
Quando vemos uma ou outra, estamos reconhecendo aquela versão, não estamos atuando sobre o desenho. Essa é uma demonstração de como a consciência opta por um tipo de colapso em termos de materialização de um determinado evento. Isso só é possível se encararmos a consciência como a base de tudo. A matéria, por sua vez, é uma das diversas probabilidades de manifestação da consciência.

Em resumo, a consciência tem as seguintes características: sua natureza é transcendente, está além do espaço-tempo; não é de natureza dualística; não é só uma possibilidade; ela converte a possibilidade em evento através do reconhecimento e escolha; e a mais importante, nós somos essa consciência. A natureza da consciência é uma questão amplamente discutida, mas alega-se que em organismos superiores, além da autoconsciência e da consciência individual, existe a consciência do coletivo (consciência coletiva, a que Jung se refere) e também níveis planetários e cósmicos de consciência, onde esta é vista como “realidade última”, ligada ao divino nas tradições místicas e espirituais. 

A física quântica apóia alguns conceitos espirituais e os da psicologia transpessoal na medida em que eles tentam dissolver o véu de condicionamentos e postulados antigos para a mente poder “acordar” e atingir outros níveis mais elevados de consciência. A meditação e a maioria das tecnologias do sagrado apresentam a mesma finalidade.
 

 

PARTE 3 
AS MANIFESTAÇÕES DA CONSCIÊNCIA 

A EVOLUÇÃO/ A REENCARNAÇÃO

Durante a entrevista, Goswami expôs o vasto alcance desta nova ciência, que abrange aspectos complementares à teoria da evolução, a integração das medicinas orientais e ocidentais, uma nova abordagem para compreender o fenômeno da kundalini( o “nervo da alma”, enroscada na base da espinha humana e o contato entre a energia criativa divina e a energia sexual física) e uma teoria de sobrevivência e reencarnação, explicados a seguir.

As tradições esotéricas sugerem que a consciência não tem só a possibilidade relacionada à parte material, mas possui outras alternativas inerentes. Nos Upanixades hindus e na cabala judaica, isso é expresso afirmando-se que a consciência é uma superposição de níveis de cinco corpos. O físico, o vital e o mental são corpos de natureza densa, de substância; acima deles, o corpo causal, que proporciona o contexto de movimento dos três corpos abaixo dele e contém todas as leis da física. Mas todos eles não são nada mais do que manifestações da consciência, o corpo cósmico, que pode transcender todos os demais. Os corpos vital e mental interagem com o físico intermediados pela consciência. Um exemplo disso é que ela também pode “colapsar” partículas simultaneamente em dois cérebros diferentes e transferir informação – o que constitui uma explicação para a telepatia, que utiliza também o corpo mental. O mental e o vital unem-se no corpo físico e dão-lhe significado. O físico pode ser experimentado com algo externo, fora de nós, e tem uma realidade micro e macro que pode ser compartilhada.

Da mesma forma que o corpo físico tem vida, há mapas de vida no corpo vital – o vital e o mental são corpos quânticos, a mente não tem divisão micro e macro, e diferem do físico porque obedecem ao princípio da incerteza no que tange à sua posição e velocidade. Isso se traduz no fato de não detectarmos a energia vital de alguém e o pensamento felizmente não ser compartilhado com outras pessoas, pois ocorre instantaneamente.
O corpo vital é igualmente atuante em certos pontos da evolução, que também podem ser encarados como processos quânticos. Embora a evolução contínua esteja bem explicada pela teoria darwinista, alguns biólogos convencionais acreditam que a possibilidade de mutação se transforma em mutação real automaticamente. Mas Goswami afirma que essa possibilidade não se torna realidade até o momento em que a consciência observa e escolhe aquela possibilidade como a que vai vingar – e é através dessa observação e escolha que a consciência introduz propósitos criativos no mundo. 

O cientista inglês Rupert Sheldrake desenvolveu a teoria de Campo Morfogenético, que seria a matriz de toda a forma e evolução constantes nos programas do corpo vital e que são mapeados no físico através do fenômeno de ressonância mórfica. A física quântica desenvolveu o conceito de que é pela ressonância mórfica que a consciência escolhe a atualidade proposital dentre todas as possibilidades que a mutação pode criar. Essa abordagem nos permite agora entender a cura corpo-mente, onde não pode ser descartado o papel preponderante da energia vital. O corpo físico mapeia o corpo vital, mas esse mapeamento pode ficar desconexo – o que não deveria ser um problema, na medida em que temos acesso ao corpo vital, pois o registro inicial está lá e com esse acesso poderemos fazer mapas mais criativos. Os chacras são pontos onde o corpo físico e vital se convergem e nos dão uma idéia de como a energia vital (prana) mantém seu fluxo: os românticos sabem o que é sentir “uma angústia no peito”, e os nervosos, uma sensação desagradável na altura do estômago – são movimentos condicionados do prana. 

Na kundalini ioga, uma das mais importantes tecnologias do sagrado, a pessoa busca mudar esses movimentos condicionados para movimentos novos do prana. Ativar a kundalini significa a conquista do poder interno, da sabedoria e da iluminação. Elevar a kundalini significa ter mais acesso ao corpo vital e fazer novos mapas, pois é a criatividade do corpo 
trabalhando uma energia que antes não estava sendo usada e mapeada no físico. Se você ingressa nisso com um tipo de idéia criativa, o resultado vem de forma muito acelerada. A criatividade pode ser vista como “um salto quântico”, o que na verdade significa que o pensamento pode “pular” de um lugar para outro sem percorrer a distância que os separa. A onda desta forma “colapsa”, mudando a consciência, trazendo um conhecimento súbito, uma idéia, uma intuição. 

Do ponto de vista cosmológico, a evolução se dá de maneira mais complexa. Os materialistas vêem seu início a partir do Big Bang, e daí o universo evolui dentro de uma forma determinística, não existindo espaço para uma consciência causal.  Já na visão esotérica, as coisas iniciam-se a partir da consciência, que quer enxergar-se separada de si própria: ela guia o corpo causal (onde estão registradas as leis e regras), o qual vai reunir todos os demais corpos, iniciando um processo gradual de auto-esquecimento que vai do corpo mental e vital até o físico. Mas a estrutura física continua evoluindo e chega a um ponto em que está pronta para receber um determinado mapeamento do vital para o físico – isso é o que chamamos de evolução da vida. Numa fase posterior, o mapeamento do mental no vital pode ser feito – isso nós chamamos de evolução mental, a grande evolução que estamos vendo à nossa frente. 

O vital e o mental sobrevivem ao corpo físico, e as experiências de reencarnação são prova direta disso. Com base num conceito denominado “memória quântica”, criou-se um modelo que “toma” para si mesmo os padrões de carma de um corpo encarnado para outro que encarnará no futuro. Alguns aspectos da consciência são imperecíveis e a consciência precisa existir, pois em ela a natureza quântica simplesmente não seria o que é. 

“Estamos enfim desenvolvendo uma física da alma. Chegou a hora”, frisa Goswami.

 

marciaPor: Márcia Maranhão Limongi 
Psicóloga atuante nas áreas:
Clínica – Diretora do Instituto Parágono;
Escolar – Consultora, ministra cursos para professores, 
diretores e mantenedores em sindicatos, escolas e universidades;
Industrial – consultora de Treinamento e Desenvolvimento para Chefias e Executivos;
Consultoria em psicologia para editoras, com mais de 300 artigos publicados em várias revistas.Para eventuais contatos com a autora:
mmlimongi@terra.com.brArtigo já publicado na Revista “Planeta”
Edição 291

 

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