Como seria o mundo hoje se a traição não houvesse ocorrido?
Certamente as escrituras (profecias) não se cumpririam, e todos estaríamos perdidos em termos de salvação eterna.
O salvacionismo cristão decorre em razão da morte sacrificial de Jesus Cristo. Não seria possível a redenção pretendida, caso Jesus não se predispusesse ao martírio do calvário. O Antigo Testamento prefigura os acontecimentos com justificações devidas, enquanto o Novo narra razões e fatos que todas igrejas cristãs pregam.
Sendo predita e necessária o martírio de Jesus para salvação de toda humanidade, também é certo que para fiel cumprimento das Escrituras, ou dessa obra redentorista, alguém haveria de trair o Mestre, conforme evangelho segundo João 13:18, com pré-figuração no livro dos Salmos 41:9. Não se pode pensar aqui numa ação isolada (uma sem a outra), caso assim tudo aquilo que foi e é para a salvação eterna, simplesmente não mais seria.
Se a grande missão de Jesus foi ter o Cristo em si, isto é, o espírito predestinado para a maior de todas as ações divinas, tão bem expressa no evangelho de João 3:16, o drama maior de Judas foi entregar seu Mestre à morte, ato do qual não poderia furtar-se sob pena do não cumprimento das Escrituras, pondo a fracassar toda pretensão divina de salvar a humanidade de seus pecados.
Jesus, por Mateus 26:36 ao 46, angustia-se e clama a Deus para que este o libere de tão dolorida missão, numa oração insistente que evidencia sua natureza humana, temerosa e frágil, diante das circunstâncias que, na qualidade de homem-deus, sabia ser necessário suportar. Mas enquanto Jesus titubeava lá com suas razões, Judas (João 13:30) partia resoluto para aquela terrível missão que, até instantes antes não sabia ser ele o executor, ou o determinado a cumprir tão importante profecia.
Judas, como os demais apóstolos, quando Jesus predisse que alguém o haveria de trair (para que se cumprisse as Escrituras), também perguntou igualmente ao Mestre: “porventura sou eu Senhor?”; o veredicto caiu-lhe como uma bomba: “Tu o disseste”
(Mateus 26:20-25).
Não se pode afirmar pela teologia, nem há fundamento bíblico para isso, que exatamente Judas fosse o predestinado – também não lhe coube direito de escolha (livre arbítrio) – àquele ato de traição, todavia pode-se afirmar com toda segurança bíblica, que o ato da traição esse sim era predestinado e caberia alguém executá-lo,
logo e bem.
Nenhum dos apóstolos sabia quem seria o traidor, já o dissemos, poderia ser qualquer um deles, preocupação muito bem descrita no evangelho segundo Lucas (22:23): “E começaram a perguntar entre si qual deles seria o que havia de fazer isto”, o que significa dizer, fosse quem fosse dentre eles, que Jesus viesse indicar (1), sem dúvidas essa pessoa cumpriria a ordem inquestionavelmente, pois que em tal designação, tão somente nela, centrava-se todo o messianismo descrito em Isaías 53.
Na cruz, no alto do Gólgota, Jesus ainda se lastimava aos gritos: “Deus meu, Deus meu, porque me desamparaste?” (Mateus 27:46 e referências), enquanto no galho forte de uma figueira à beira de um abismo, Judas enforcava-se, certamente atônito e tomado de remorsos com o papel que o ingrato destino lhe reservara na história da humanidade. (2)
De uma maneira ou outra tanto Jesus quanto Judas, morreram conscientes do dever cumprido, naquilo que se propuseram, ambos sabedores que um sem o outro nada poderia fazer para o fiel cumprimento das Escrituras.
1. Os versículos que informam sobre o preço da traição, não antecedem o quadro exposto, conforme se vê nas versões bíblicas atuais, tratando-se portanto de justaposições e acréscimos posteriores, para justificar a humilhante morte de Jesus, e fazer hediondo o ato atribuído a Judas.
2. Os escritos acham-se conforme descrições bíblicas, lendas e tradições, unificadas pelo autor com Atos 1:18, que descreve Judas a despencar-se ribanceira abaixo e arrebentadas suas entranhas.
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