Casanova é um personagem que sempre que surge na tela torna-se logo um sucesso de bilheteria. O filme de Commencini conta sua infância tumultuada em Veneza, e o de Felini transforma-o num amante da sedução, que fascina todo o mundo ocidental de seu tempo.
No entanto, além de suas proezas sexuais, a sua faceta de ocultista, frequentemente esquecida, era o que mais o caracterizava.
Casanova não foi apenas um ginasta do sexo, como o apresenta Felini, porém muito mais um representante do Século das Luzes, época em que o culto do demônio, a magia, a feitiçaria e as ciências esotéricas apaixonavam as cortes européias. É, tendo em vista esse período histórico a que pertenceu, onde o enxofre tinha cheiro de heresia, que se deve colocar a fantástica vida deste homem.
Filho de atores de uma insignificante companhia de segunda classe, Giacomo Casanova nasceu em Veneza, em 1725, em uma sombria e pequena casa ao lado de um velho teatro.
Desde pequeno demonstrou viva inteligência, motivo pelo qual seus pais o destinaram ao sacerdócio, único caminho então existente para os intelectuais pobres. Mas ao mesmo tempo era dotado de uma enorme fraqueza pelo sexo oposto e pelos jogos de azar, o que tornava o sacerdócio incompatível com suas inclinações. Assim, ao entrar para o exército, tornou-se músico menor e entregou-se à sua verdadeira vocação: aventureiro e sedutor.
Casanova era muito jovem quando começou a ter relações com a magia. Por ser de natureza frágil e sofrer de hemorragia nasal, sua avó o levou um dia a uma feiticeira que o fechou num baú, onde foi iniciado através de estranhas divagações e encantamentos. Desde então ele se entregou aos estudos da cabala e da astrologia, mais para aprender truques que o tornassem atraente, do que em função de uma educação espiritual. De fato, ele se transformou num jovem robusto e saudável.
O mais astuto de seus truques foi aplicado na famosa marquesa de Urfé, mulher apaixonada pela magia negra e que aos 50 anos tinha a idéia fixa de querer se reencarnar em um homem. Em suas memórias ele escreveu hipocritamente: “Se eu acreditasse que era possível devolver a razão a madame Urfé, penso que talvez tivesse tentado isso. Mas estava convencido de que sua loucura era irremediável e considerei que o mais prudente era entusiasmá-la com suas próprias loucuras e tirar proveito disso”.
Em outra ocasião levou um rico dono de terras a acreditar que ele era capaz de descobrir tesouros com a ajuda de espíritos. Para isso pediu a presença de uma virgem que deveria se submeter a certos rituais de banhos. Desta vez, entretanto. depois de tudo preparado, Casanova ficou paralisado dentro de um círculo de giz durante duas horas. Parece que a virgindade da jovem estava protegida. . .
Em 1756 foi denunciado e preso. No entanto a incrível sorte que o acompanhava, mais uma vez tirou-o da prisão de uma maneira inédita.
A sorte de Casanova abandonou-o no final de sua vida, no momento em que seu êxito com as mulheres começava igualmente a declinar. Desde que a cortesã Chapillon resistiu a ser seduzida, Casanova começou a perder a imutável confiança que tinha em si mesmo. E, junto com a fé em si mesmo, o aventureiro perdeu também seus dons de mago.