Entre os povos primitivos, muitas espécies de árvores – como o carvalho e o pinheiro – eram consideradas sagradas. Por serem associadas aos deuses ou acreditar-se que eram dotadas de alma e poderes especiais; tais espécies recebiam homenagens e até mesmo sacrifícios de sangue dignos de verdadeiras divindades…
Ao nos depararmos com certas espécies de árvores, ficamos surpresos com sua beleza a aspecto grandioso. Essa superioridade, que as distancia de muitas outras, levou os povos de antigas civilizações a acreditar que elas eram divinas ou habitadas por deuses. Os gregos e romanos, por exemplo, diziam que o carvalho era a árvore de Júpiter; Vênus, a deusa do amor, habitava na murta; a oliveira era a variedade escolhida por Minerva, a deusa da sabedoria; e o álamo foi identificado com Hércules, que bem cedo mostrou ser poderoso a forte.
Por motivos óbvios, essas e outras árvores eram tratadas com especial deferência e, em muitos lugares, homenageadas com sacrifícios de sangue. Em algumas regiões da União Soviética, os camponeses matavam vacas a na Estônia, touros. Depois de oferecer os sacrifícios às divindades, as raízes das árvores eram regadas com o sangue dos animais abatidos. Os rituais tinham por finalidade conseguir a proteção dos deuses para os rebanhos a assegurar a multiplicação dos animais.
O carvalho era venerado em diversas partes da Europa. Na Finlândia, as pessoas plantavam mudas da árvore ao lado de suas casas para se proteger dos demônios. Na Grã Bretanha, contudo, os druidas, sacrificavam seres humanos ao pé de um carvalho a fim de obter inspiração para seu trabalho divinatório. Os pinheiros, que crescem na Europa Central, eram reverenciados pelos germânicos e graças a isso, não foram abatidos e hoje formam a famosa Floresta Negra.
No outro lado do mundo, os mexicanos adoravam o cipreste; o povo da Nova Zelândia também cultuava o pinheiro, e os australianos, o eucalipto.
Na China a no Japão, o povo ainda hoje acredita na influência benéfica e protetora dos pessegueiros, e coloca pequenos galhos sobre as portas para impedir a penetração dos demônios em seus lares. Além disso, a fim de desejar boa sorte aos noivos, é costume presenteá los com objetos de cerâmica pintados com flores dessa árvore. Por outro lado, camponeses do norte da Inglaterra acreditam que, quando o pessegueiro deixa cair suas folhas, o gado fica com gafeira (doença que afeta os olhos dos bois). Isso, dizem eles, ocorre em virtude da má influência dos espíritos que habitam os pessegueiros.
Muitos povos antigos acreditavam que as plantas em geral eram dotadas de alma e, portanto, de sensibilidade e sexo diferenciado. Em “O Ramo de Ouro” (Editora Guanabara), o antropólogo James Frazer afirma que, sabendo distinguir entre a tamareira macho e fêmea, os antigos fertilizavam a espécie artificialmente, espalhando na primavera o pólen do tamareiro macho sobre as flores da árvore fêmea.
Segundo Frazer, nas Ilhas Molucas (atuais Filipinas), quando o craveiro da índia está em flor, a árvore deve receber o mesmo tratamento que uma grávida: não deve ser assustada e, por isso, ninguém faz barulho perto dela. Todos descobrem a cabeça quando passam por perto e, à noite, é proibido andar na sua vizinhança com luzes ou fogo. A finalidade de tais cuidados é evitar que, por causa de um susto, o craveiro deixe de dar frutos ou que estes caiam cedo demais.
A laranjeira é o emblema da. fertilidade. Segundo as lendas, ela foi dada a Juno pelo deus Júpiter e simboliza a pureza e o amor eterno, mas as histórias sobre a laranja variam. Na Inglaterra, por exemplo, até pouco mais de um século atrás, acreditava se que ela era de grande utilidade quando alguém queria prejudicar um inimigo. Para tanto, bastava escrever o nome da vítima num pedaço de papel, prendê to à laranja com o maior número possível de alfinetes a jogar a fruta pela chaminé da pessoa que se desejava atingir. O feitiço era infalível e o inimigo tinha um triste fim.
A ameixeira, por sua vez, é venerada pelos chineses, pois segundo a tradição, ela teria nascido do sangue de um dragão ferido. Essa árvore simboliza a vida eterna a faz parte do trio das “três amigas” que inclui ainda o pinheiro e o bambu, sendo sempre plantadas em grupo, tanto na China coma no Japão.
Além de servir como habitação dos deuses, na antiguidade as árvores eram também usadas para a disposição de cadáveres. Como em certas partes do mundo o solo é muito duro a seco e não havia na época ferramentas adequadas para cavá lo, colocava se o corpo dos mortos nos galhos das árvores, só se retirando os esqueletos depois que os insetos a as aves de rapina houvessem devorado os tecidos e deixado os ossos limpos. Essa forma de dispor dos mortos era praticada no norte da Austrália pelos aborígines que escondiam os ossos debaixo de pequenos montes de terra e areia.
Em certas regiões do Tibet, esse costume restringia se às pessoas ricas: na morte seus tecidos serviriam de alimento aos pássaros. Já nas Filipinas, o povo negrito depositava o cadáver de seus xamãs nos galhos mais altos das árvores para que, sem perda de tempo, eles pudessem encontrar o caminho para a Terra dos Mortos.
Depois que os tecidos houvessem desaparecido, os esqueletos eram sempre retirados das árvores e usados para diferentes propósitos: na Tailândia e na Malásia, os ossos serviam como amuletos: onde se observava o culto dos ancestrais, os crânios eram conservados e usados em determinadas cerimônias. Os druidas, por sua vez, pregavam as cabeças daqueles que haviam sido sacrificados ritualmente nas portas de suas casas.
Esse costume de colocar o morto nas árvores era também praticado por certas tribos de índios venezuelanos. Nesse caso, porém, primeiro assava se o cadáver, que depois era embrulhado em cascas de árvores e colocado dentro de uma pequena casa construída em seus galhos.
Entre diversos povos foi também encontrada a ideia de uma “árvore universal” ou “árvore da vida”, que muitos acreditavam ser o freixo venerável espécie que teria nascido no centro da Terra, a cujas raízes atingiam o local onde está armazenada toda a sabedoria a todos os conhecimentos do mundo. Seus galhos e folhagens, segundo essa crença, alcançavam imensas alturas, sustentavam a abóbada do céu e davam sombra à Terra. Os caldeus, por sua vez, acreditavam que a árvore da vida era o cedro “revelador dos oráculos da Terra e dos Céus”. Nem mesmo a Bíblia deixou de falar dela, como, vemos em Gênese, capitulo 9: “E o Senhor fez brotar da terra toda a árvore agradável à vista, e boa para a comida; e a árvore da vida no meio do jardim, e a árvore da ciência do bem a do mal.”
Elsie Dubugras
Escritora e reporter
Extraído da Revista Planeta
Edição 220 de Janeiro de 1991
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