O ser humano sempre teve uma necessidade insaciável de buscar respostas para aquilo que não compreende. Graças a esta curiosidade inquieta temos a ciência e obtivemos inúmeros avanços na história da humanidade. Mas como lidar com aquilo que se mantém inexplicável e que nem a religião consegue abranger?

Práticas ocultas acompanham as pessoas há milênios e se manifestam em diferentes localidades e culturas.

De maneira geral, ocultismo é uma categoria de crenças e práticas sobrenaturais que não se enquadram como religião ou ciência – sendo muitas vezes chamado de misticismo, espiritualidade ou magia. Também pode estar associado a ideias sobrenaturais, como experiências extra corporais e parapsicologia.

No século XVI, o termo “ciências ocultas” era usado na Europa para se referir a astrologia, alquimia e magia natural. Mas a palavra “ocultismo” e o significado como o conhecemos hoje surgiu na França do século XIX, associado aos grupos esotéricos franceses conectados a Éliphas Lévi e Papus. Em 1875 a palavra foi inserida na língua inglesa pela russa Helena Blavatsky, cofundadora da Sociedade Teosófica.

Hermetismo, primórdios do ocultismo e seus principais aspectos

O que tornou o ocultismo tão universal foi sua capacidade de se relacionar com aspectos comuns a praticamente todas as sociedades humanas, como adivinhação, magia, bruxaria e alquimia. A concepção que se tem de ocultismo no mundo ocidental subentende a existência de alguma filosofia secreta destinada às práticas ocultas.

Tal filosofia seria derivada primordialmente da magia e da alquimia helenística de um lado, e do misticismo judeu do outro. A principal fonte helenística vem do Corpus Hermeticum, textos associados a Hermes Trismegistos que abordam astrologia e outras ciências ocultas de restauração espiritual.

Do lado judeu, a principal contribuição foi a cabala, uma interpretação mística da Torá que ficou conhecida entre estudiosos europeus na Idade Média e que se tornou ligada aos textos herméticos durante a Renascença.

A união destas influências ficou conhecida como hermetismo, incorporando ao mesmo tempo a magia na teoria e na prática. 

A alquimia também acabou sendo incorporada ao hermetismo e tal laço foi estreitado no início do século XVII com o surgimento do movimento Rosacruz, uma sociedade supostamente secreta que utilizava símbolos alquimistas e ensinava conhecimentos secretos aos seus seguidores. Esta “alquimia espiritual” sobreviveu à ascensão das ciências empíricas e permitiu que o hermetismo passasse ileso pelo Iluminismo.

Templo Rosacruz

No século seguinte, o hermetismo foi estudado por alguns maçons entusiastas que não encontravam a filosofia oculta na maçonaria. Isso levou a crença a uma adaptação do ocultismo que se afastava um pouco do hermetismo, conectando-se mais ao espiritismo e à teosofia, que misturou as crenças ocidentais ao misticismo oriental.

Como o ocultismo se relaciona com a ciência.

Antigamente, quando havia muito menos descobertas e avanços científicos do que hoje, muitos fenômenos inexplicáveis eram considerados ocultismo. Na Idade Média, por exemplo, o magnetismo era considerado uma ciência oculta, já que as pessoas não tinham uma explicação racional para sua ocorrência. A própria teoria de Isaac Newton para a gravidade foi acusada de ocultismo.

Apesar de existir naquilo que a ciência não consegue explicar, as práticas ocultas não rejeitam o progresso científico. Antoine Faivre, um estudioso do esoterismo ocidental, defendia que em vez de simplesmente aceitar o triunfo da ciência, os ocultistas buscavam soluções alternativas, numa tentativa de integrar tais progressos e deixando o vazio do materialismo ainda mais aparente. Ou seja, o ocultismo ainda estaria ali para preencher o inexplicável vazio da alma.

O estudioso de hermetismo Wouter Hanegraaff destaca que o ocultismo se distancia do esoterismo antigo por aceitar a ideia de um mundo “desencantado”, que privilegia a razão e a ciência. Esta adaptação foi necessária principalmente após o Iluminismo, que substituiu a visão de um mundo guiado por forças sobrenaturais, abrindo espaço para o existencialismo e as responsabilidades individuais.

O distanciamento do cristianismo e a aproximação com outras crenças.

Outra característica que afastou o ocultismo do esoterismo tradicional foi o distanciamento de práticas cristãs – em alguns casos opondo-se completamente à religião. Ao rejeitar o cristianismo, muitos ocultistas voltaram-se a crenças mais antigas e distantes do que a religião de Cristo. 

Isso levou o ocultismo a se aproximar do paganismo e de religiões e filosofias asiáticas, como o hinduísmo e o budismo – vários praticantes acabaram se aproximando das duas possibilidades.

Estes ocultistas também deram ênfase à jornada espiritual de cada indivíduo, uma ideia que iria influenciar com bastante força o movimento New Age na metade do século XX. Tal busca foi encorajada pelas ciências ocultas europeias, como a alquimia e rituais de magia, e orientais, como o yoga.

Nem ciência, nem religião e nem mesmo oculto nos dias de hoje. O ocultismo pode até ter começado em círculos mais fechados, mas abraçou as mais diferentes crenças, filosofias e a busca pela espiritualidade. De horóscopos à yoga, há milênios ele se faz presente na vida das pessoas e as ajuda a procurar respostas para os dilemas mais íntimos do nosso ser.