Foi uma coincidência
dessas que acontecem
num dia comum, numa hora qualquer,
sem lugar marcado
O AMOR estava no engarrafamento
e, como todo amor,
estava sem aborrecimento.
A PAIXÃO, enlouquecida e desesperada,
não podia se conter
E, no desgaste do tremer,
desmaiou nos braços do AMOR.
À partir daí,
como acontece por aqui,
o AMOR caiu, à primeira vista,
de amores pela PAIXÃO
E o AMOR, como todo amor,
era profundo e sincero.
Enquanto a PAIXÃO,
meio tonta do desmaio,
era fugaz e, de soslaio,
olhava o AMOR com certo ensaio.
E se casaram.
Mas logo a PAIXÃO abandonou o AMOR.
E como toda paixão,
que é avassaladora como um tufão,
deixou ainda dois filhos:
SOFRIMENTO e SAUDADE.
O AMOR quase morreu de tristeza.
E antes que caísse na bebedeira,
ou fizesse qualquer outra besteira,
o SOFRIMENTO, filho mais velho,
interveio na vida do pai.
E, como era obstinado,
ficou ao lado do pai um bom tempo
até que o AMOR recuperasse o sustento.
Aí a SAUDADE,
filha mais nova,
que vivia de cantar em seresta,
veio ficar com o pai.
E como filha é festa para todo pai,
o AMOR espantou a tristeza,
sacudiu a poeira
e deu a volta por cima.
E foi numa seresta da filha,
que o amor conheceu a ESPERANÇA.
E quando mais se conheciam,
mais descobriam
coincidências mirabolantes.
E foi num desses jantares dançantes
que o AMOR percebeu
que sua vida era feita de um esperar.
Enquanto a ESPERANÇA descobriu
que sua essência estava no amar.
E foi ao som da timbalada
que a cerimônia foi realizada.
AMOR e ESPERANÇA se casaram
e logo veio a pirralhada.
Tiveram três filhos lindos:
CONFIANÇA, RESPEITO,
E a caçulinha,
que era uma pestinha,
FELICIDADE.