Nunca devemos cometer o erro de imaginarmos que o invólucro que envergamos, como um fato, é o nosso verdadeiro “eu”.
Vamos, então, conversar sobre este assunto.
– Porque são invisíveis para a maioria das pessoas os mundos espirituais?
– A grande maioria dos seres humanos tem adormecidas as suas faculdades espirituais de percepção do que se passa nos mundos invisíveis ou do espírito. Por isso desconhece tais mundos e o que neles se passa.
– E, pelo facto de a grande maioria dos seres humanos não ter ainda em atividade os sentidos de percepção espiritual, pode se concluir, com justiça e verdade, que os mundos espirituais não existem?
– Não! Porque também os cegos estão privados de ver a luz e a cor, assim como tudo quanto os cerca, e nem por isso podem negar a sua existência.
– De que podemos, então, ter a certeza?
– De que, se os cegos pudessem obter a vista, veriam a luz, a cor e tudo quanto os rodeia. De igual modo, se os sentidos superiores de percepção espiritual dos que se acham cegos para os mundos espirituais despertassem (e isto é possível seguindo métodos apropriados), poderiam ver esses mundos agora invisíveis.
– Quando se consegue esta visão pode-se conhecer tudo quanto existe nos outros mundos?
– Não! Sucede o mesmo que aconteceria ao cego a quem foi restituída a visão: não pode, no mesmo instante, conhece tudo quanto existe neste mundo. Terá que exercitar-se gradualmente para obter o conhecimento. Por isso as pessoas que possam ter a rara felicidade que resulta do despertamento da visão espiritual, terão de exercitar-se para o conhecimento do que constitui os mundos espirituais, invisíveis aos instrumentos de visão física.
– É possível o erro ao apreciar o que vemos nesses mundos ocultos à visão terrena?
– Sim, é possível o erro na apreciação do que vemos nesses mundos, e para o evitar necessitamos de fazer o seu estudo minucioso. Então conseguiremos com maior felicidade que a que temos aqui, adquirir conhecimento dos mundos superiores. Mas necessitamos de maior rigor na observação, do que no mundo terreno.
– Como poderemos saber se as observações feitas por outro são corretas?
– Os clarividentes devem estar muito bem exercitados antes que as suas observações possam ter algum valor. E quanto mais conscientes estiverem desses mundos, tanto mais simples e modestos se mostrarão ao falar do que veem, e mais complacentes serão para com as versões dos demais, pois percebem quanto há que aprender e quão pouco pode abarcar um só investigador acerca de todos os incidentes e dos numerosos detalhes de toda esta investigação em conjunto.
– É justificada a diversidade de versões?
– Sim. E porque estas versões diferem umas das outras, pessoas superficiais creem ser esta uma razão contra a existência dos chamados mundos superiores. Asseveram mesmo que, se esses planos de vida existissem, os que podem chegar a eles deveriam dar idênticas versões ou descrições dos mesmos.
– Há alguma lógica neste conceito?
– Não! Se um jornal envia vinte repórteres a uma cidade, para que façam uma crónica das suas impressões acerca da mesma, nem dois desses relatos seriam exatamente iguais, pois cada um deles escreveria usando o seu próprio ponto de vista a respeito do que viu. E seria este facto um argumento contra a existência da cidade que os repórteres viram de maneiras diferentes?
Certamente que não.
– A que atribuiremos estas divergências?
– Ao desenvolvimento intelectual de cada um dos cronistas. Pois todos nós vemos em harmonia com a luz ou cultura que temos. Assim, os jornalistas viram a mesma cidade sob aspectos diferentes. O que interessou muito a um pode ter passado à observação de outro. Mas tais crônicas, longe de lançarem a confusão prejudicial ao conjunto, deram uma visão mais ampla e perfeita da cidade, tornando esse trabalho de conjunto muito superior ao de um só.
– E nos mundos invisíveis sucede o mesmo que no caso anterior?
– Sim. Pois segundo um antigo aforismo ocultista, “como é em cima, é em baixo; como é em baixo, é em cima”. Cada um tem o seu modo de ver e fará uma observação à sua maneira.
O relato que faz um pode ser muito diferente do que fazem outros, mas todos serão igualmente verdadeiros sob o ponto de vista de cada um dos observadores. E é por esta razão que a verdade há de ser sempre relativa ao estado evolutivo de cada um de nós.